Castlevania:
um mundo animado sombrio
Daniel Rodriguez 12/07/2017
Inspirada na já trintona série de jogos
de videogame, produção de Warren Ellis para a Netflix peca pela sua curtíssima
temporada
Geralmente, antes de escrever sobre
algo, gosto de dar uma boa pesquisada no tema, se ele for minimamente interessante.
Diria até que um dos meus hobbies favoritos é mergulhar em um universo,
buscando conhecê-lo mais a fundo e coisas do tipo. Infelizmente, não foi
possível fazer o mesmo com a nova série da Netflix, Castlevania. O motivo?
A franquia de jogos existe há mais de trinta anos. Ah, e eu nem sequer tenho
videogame… Pois bem, resolvi abraçar essa ignorância (com um tiquinho assim de
pesquisa), e escrever essa crítica do ponto de vista de um espectador comum,
que nunca jogou nada dessa franquia, mas que adora uma boa história de
vampiros. Chama atenção na série sua curta duração: a primeira temporada
inteira não passa dos 100 minutos, divididos entre quatro episódios. O lado bom
é que uma segunda temporada já foi encomendada para o ano que vem, contendo o
dobro de episódios. Aparentemente, o projeto inicial desenvolvido pelo icônico
quadrinista Warren Ellis, que data ainda na década passada, pretendia ser uma
série de filmes animados inspirados no jogo Castlevania III, que traz
o caçador de monstros Trevor Belmont e seu embate de proporções bíblicas contra
o Vampiro dos vampiros, o Conde Vlad “Drácula” Tepes. Aqui, irei me referir ao
desenho como anime, dada a clara influência artística oriunda das animações
sequenciais japonesas. Entendo que alguns podem discordar dessa definição,
exatamente por se tratar de uma obra ocidental mas, segue o jogo. Ao contrário
do que vemos nos desenhos nipônicos, Castlevaniafalha em um ponto
crucial, chamado: personalidade. Esteticamente, o anime se parece com todos os
outros produzidos por companhias americanas, ao passo que, lá do outro lado do
mundo, as particularidades dos autores estão sempre em evidência.
Episódio 1: Garrafa da Bruxa
O primeiro episódio nos apresenta Lisa,
uma cientista que é atraída ao castelo de Drácula por conta de seus vários
avanços tecnológicos. Essa perspectiva de um Conde largamente interessado e
investido em artes misteriosas e experimentação é semelhante ao que vemos no
seriado Dracula (2013), que infelizmente foi cancelado. A moça
conquista o coração morto de Vlad Tepes graças ao seu intelecto e personalidade
ousada. Não só ela conquista o vampirão, como ainda amolece seu coração o
suficiente para ele pegar leve com a humanidade e encerrar sua atividade
favorita de empalamento. Anos depois, já com o relacionamento dos dois bem
estabelecido, Drácula está viajando pelo mundo como um mortal, ampliando seus
horizontes. Lisa continuou com suas práticas científicas até que a Igreja
Católica tomou nota de sua presença, levando o poder da inquisição até ela. Por
sua ciência e atuação como médica, ela foi condenada à fogueira como bruxa. A
suposta ligação da moça com o capeta acabou provando-se verdadeira, mesmo que da
forma errada, quando um Drácula vingativo se manifesta na forma de um rosto
gigante infernal feito de fogo, para ameaçar todo o povo que matou sua amada. A
construção do episódio inicial é inteiramente intencionando a fomentar Drácula
como um vilão simpático, cujos motivos não nos pareça vilanesco demais, do tipo
“dominação do mundo”. Apesar disso, a introdução de Lisa é apressada, de forma
que toda a afinidade que supostamente deveríamos sentir por ela simplesmente
não aparece, o que afeta diretamente no resultado almejado. O episódio é cheio
de informação e tem um ritmo demasiado acelerado. É difícil dizer aonde que a
história ou o personagem em si se encaixa em relação a mitologia dos jogos, mas
aqui temos uma das formas mais overpower do personagem que já
vi. É algo como a versão do Dark Universe, ou Drácula: A História Nunca
Contada ou até com o Alucard do anime Hellsing (nunca
viu, então vá ver agora!). Acredito que quem curte uma versão mais contida do
personagem pode não ficar tão feliz com essa versão bombada. Mas os poderes são
interessantes o suficiente para nos conquistar.
Episódio 2: Necrópolis
Se o primeiro episódio nos introduziu a
um vilão não tão vilanesco, o segundo vai apresentar um herói não tão heróico,
Trevor Belmont, dublado por Richard Armitage (o Thorin de O Hobbit e
o Dragão Vermelho da série Hannibal), com sua poderosa voz. Trevor
é um anti-herói típico, que recusou abertamente seu papel de salvador, depois
que sua família, os Belmonts, foram excomungados da Igreja e acusados de heresia,
após anos dedicados ao combate de monstros.O país de Wallachia agora está
inteiramente sob as garras do mal, agora que Drácula começou a executar sua
vingança pela morte de sua esposa. O Conde libertou sobre aquela terra uma
horda de bestas infernais, mas Trevor permanece alheio a tudo isso, vivendo
como um bastardo, brigando bêbado em bar e coisas assim. Imediatamente
mostra-se como um personagem facilmente relacionável e divertido, com um
visual cool. Nesse episódio, ainda aparece pela primeira vez um
grupo conhecido como Speakers. Eles são uma força de
resistência, que acredita na paz, no auto-sacrifício e em ajudar o próximo
acima de tudo, sendo motivados puramente por altruísmo. O que parece ser um
grupo de velhotes monges é, na verdade, uma ordem antiga que domina vários
conhecimentos sobre o mundo e sobre magia. Eles são um elemento chave durante a
temporada, especialmente por serem o grande fator motivacional que levará
Trevor à combater Drácula.
Episódio 3: Labirinto
Trevor é bem mais explorado para além
de seu desprezo pelo mundo e também conhecemos mais a fundo a ordem dos
Speakers. Aparentemente, sob Gresit, a cidade em que se encontram, há um
soldado adormecido que, de acordo com as lendas, se juntaria na luta contra o
Conde. Um dos pontos altos dessa temporada ocorre na busca por esse guerreiro,
quando Trevor se vê em combate com um ciclope olho-de-pedra, criatura mítica
que emana um raio petrificante de seu único olho. A animação é bem fluída e a
ação bem retratada. Lá, ele conhece Sypha, a única integrante feminina dos
Speakers, que também é uma maga poderosa. Aparentemente, a lenda em que o
soldado adormecido é mencionado, dizia que ele seria encontrado por uma
feiticeira e um caçador. Fica claro nesse ponto que a intenção da primeira
temporada é de introduzir os espectadores ao mundo de Castlevania. A aparição
de Drácula fica restrita ao primeiro episódio, e vamos conhecendo mais e mais
de seu universo, na companhia de Trevor e, agora, de Sypha.
Episódio 4: Monumento
O episódio final me lembrou fortemente
do longa Van Helsing, aquele de 2004 estrelado por Hugh Jackman que
todo mundo odeia (e eu amo, me julguem). Na cidade de Gresit, incapazes de
encontrar o soldado, os Speakers se veem à mercê da população linchadora
furiosa, que foi convencida pela igreja dos males causados pelos sábios. Outro
mote fantástico da série é um desprezo notável pela Igreja Católica, colocada
aqui como uma entidade corrompida e egoísta, capaz de levar o mundo e a
humanidade à ruína. Antes que a fúria da população possa ser colocada em
prática, uma hoste de vampiros bestiais e criaturas do inferno atacam o lugar
em peso, forçando Trevor a agilizar uma reação imediata. Enquanto improvisa
água benta e organiza civis, ele é o primeiro que se põe contra as feras de
forma bem sucedida, ganhando o apoio da população, e motivação renovada. Um dos
elementos mais divertidos da série é o excesso de violência. Apesar dos
desenhos não serem gráficos no sentido de conter detalhes, há uma boa
quantidade de desmembramentos, vários litros de sangue, pedaços humanos,
crianças mortas e até um berço vazio cheio de sangue. Palmas para a Netflix
pela decisão, a última coisa de que precisávamos é outra obra sobre vampiros
sem sangue (Drácula: A História Nunca Contada, estou olhando para você).
Esse também é o episódio mais carregado de ação e o clímax da série, que é
ridiculamente curta, diga-se de passagem mais uma vez. Novamente, uma penca de
coisas acontecem ao longo dos capítulos, no sentido de resolver pontos da trama
que haviam sido estabelecidos até então. A breve temporada realmente terminou
de forma bem explosiva. Apesar de empolgante, não há como não se decepcionar
com a curta duração, já que temos, basicamente, um filme dividido em quatro
partes. Como mencionado antes, o próprio Drácula aparece bem pouco, de forma
que Trevor é o protagonista em tempo integral. Pelo pouco que já ouvi falar dos
jogos, essa parece ser uma abordagem fiel. É impossível eu dizer aonde o anime
se encaixa em meio aos jogos, ou se se mantém fiel. Mas se você é conhecedor da
série de videogame, só deixar seu comentário aí embaixo. Não obstante, como uma
série própria, ela funciona muito bem, sem depender de nenhum conhecimento
prévio. Apesar dos problemas, é um conteúdo que provavelmente agradará a
maioria dos fãs de horror ou quem curte uma diversão vampírica. Poderia
facilmente ter se aproveitado de um ou dois episódios a mais, para reduzir o
ritmo acelerado do começo e nos deixar imergir um pouco mais nesse mundo
sombrio e cheio de bestas. Como isso não aconteceu, fica com o título de série
mais maratonável da Netflix e a expectativa pela segunda temporada em 2018.
FONTE: http://101horrormovies.com.br/castlevania-um-mundo-animado-sombrio-e-cheio-de-bestas/
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