A
Vastidão da Noite
Por Barbara Demerov 19 de mai. de 2020.
Fonte: http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-154352/
Com ótima
dupla de protagonistas, novo filme do Prime Video traz originalidade dentro de
uma fórmula já conhecida.
1958.
Dois jovens protagonistas, uma cidade do interior dos Estados Unidos e uma
noite cheia de mistérios a serem resolvidos. The Vast of Night é uma produção que
impressiona pela simplicidade com que conta uma história em tempo real, sem
pausas, distribuída em longos planos e diálogos. Aparentemente com orçamento
reduzido, o filme se aproveita de elementos inicialmente sem muitas
complexidades para entregar uma narrativa que se desenrola naturalmente,
aprofundando-se aos poucos no que está escondido no escuro. É a escuridão que
dá toda a base da narrativa, destacando uma sensação incômoda na jornada de
dois jovens destemidos.
A
estrutura do enredo começa como uma espécie de episódio televisivo de um
programa de mistério, no estilo Twilight Zone. Em uma cena ou
outra, a tela de cinema tradicional se transforma em uma televisão da década de
50, com interferência e sons diferentes, enquanto os protagonistas Fay (Sierra
McCormick) e Everett (Jake Horowitz)
tentam desvendar um mistério que descobriram via rádio local. Juntamente com
esta adição visual, o belo trabalho de som e o uso de pouca luz em praticamente
todos os ambientes, somos transportados para aquela época sem delongas ou
explicações excessivas.
Enquanto
boa parte da pacata cidade está acompanhando a um jogo de basquete na quadra da
escola, a dupla está praticamente sozinha na investigação. Isso ajuda a compor
o cenário no qual The Vast of Night se encontra: o filme
acontece durante a Guerra Fria, logo no início da corrida espacial entre EUA e
URSS, com as pessoas divagando sobre inúmeras ideias tecnológicas para o
futuro. Muitas das dúvidas e devaneios dos jovens transparecem nas entrelinhas,
especialmente durante os divertidos e intensos diálogos.
ENREDO INTRIGANTE E PROTAGONISTAS CARISMÁTICOS
O
diretor Andrew
Patterson está estritamente interessado em colher o máximo de
seus dois protagonistas, e são eles quem dão vida a tudo o que está no entorno.
Desde quando Fay e Everett caminham pela rua por minutos e falam sem parar até
o momento em que colhem o depoimento de uma testemunha com potencial, Patterson
mantém o mesmo nível que emana a força de uma ideia desconhecida e ao mesmo
tempo estimulante. Trata-se de uma clássica história de fantasia nos moldes
de E.T, O Enigma de Outro Mundo, Stranger Things e Super
8. São obras muito distintas umas das outras, é claro, mas há algo
em comum que chama bastante a atenção.
E o que The
Vast of Night possui de semelhança com tais obras é a certificação de
que a urgência é a questão que mais funciona neste gênero. A sensação de ter de
correr para obter sucesso em algo que algumas pessoas ao redor podem não
acreditar está mais do que presente no filme. Portanto, é extremamente
envolvente acompanhar Fay e Everett em uma verdadeira corrida contra o tempo,
procurando por respostas para eles mesmos enquanto indivíduos.
A questão
mais interessante na história é a de que ambos mergulham na missão sem querer
provar nada a ninguém; eles fazem tudo isso para compreender melhor o mundo em
que vivem, tentando sair de uma caixinha para vislumbrar o futuro. The
Vast of Night pode não ser a reinvenção de um gênero amplamente
conhecido, mas sem dúvidas sabe como contar uma história direta - que poderia
recair em estereótipos - de forma original. Desta forma, a trama funciona muito
por conta de apoiar-se em um estilo mais simplificado; que, ironicamente, soa
mais surpreendente e intrigante do que se fosse o caso de inúmeros artifícios
visuais e tecnológicos.