domingo, 23 de março de 2014

#106 1958 OS DEVORADORES DE CÉREBROS (The Brain Eaters, EUA)


Direção: Bruno Vesota
Roteiro: Gordon Urquhart (baseado na obra de Robert A. Heinlein – não creditado)
Produção: Edwin Nelson, Stanley Bickman (Produtor Associado), Roger Corman (Produtor Executivo/não creditado)
Elenco: Edwin Nelson, Alan Frost, Jack Hill, Joanna Lee, Jody Fair

“Há algumas semanas, Riverdale, Illinois, era apenas uma tranquila cidade pequena, mas naquele sábado, após a meia-noite, um pesadelo começou”. Promissora narração de abertura de Os Devoradores de Cérebro, mais um filme com a marca registrada de Roger Corman como produtor, mesmo que não creditado, para a American International Pictures. E quando eu digo marca registrada, é que vem por aí mais um sci-fi de baixíssimo orçamento, feito à toque de caixa, com muita criatividade em seu roteiro (até demais), empenho de todos os envolvidos e efeitos especiais toscos e divertidos. Produzido e protagonizado pelo ator Ed Nelson, que já havia atuado para Corman antes em Um Balde de Sangue e Ataque das Sanguessugas Gigantes e dirigido pelo escudeiro de Corman, Bruno Vesota, Os Devoradores de Cérebro é um filme curto, funcional e extremamente interessante. Porém em seu lançamento, Os Devoradores de Cérebro sofreu de uma pendenga judicial e teve vida curta nas telonas, pois Corman foi processado pelo escritor Robert A. Heinlein, por plágio, alegando que o roteiro do filme havia sido copiado de seu livro, The Puppet Master. Corman tentou se defender dizendo que desconhecia o livro quando a produção foi rodada, mas acabou admitindo a imensa similaridade e em um acordo com Heinlein fora dos tribunais, pagou 5 mil dólares ao escritor e ficou tudo por isso mesmo, com Heinlein dispensando o uso do seu nome nos créditos. Somente na década de 60 é que o filme se tornou um favorito nas reprises da televisão e passou a ser cultuado pelos fãs de ficção científica. E antes que você ache que Os Devoradores de Cérebro tenha alguma ligação com zumbis, por conta de A Volta dos Mortos-Vivos, a resposta é não. A ameaça ao nosso status quo dessa vez são parasitas que são capazes de se atarracar em suas vítimas e dominar seus cérebros, controlando-as, retirando sua individualidade em prol de uma consciência coletiva maior e tornando-as agressivas (qualquer semelhança com a forma como os americanos viam o comunismo, é mera coincidência, tá?). Como se não bastasse, esses parasitas ainda liberam um fluído letal no sistema nervoso do hospedeiro, que faz com que o portador seja morto em até 48 horas após o verme ser retirado de seu corpo. E de onde surgiram esses tais parasitas mortais? Bom, na verdade um estranho cone de origem desconhecida surge misteriosamente em Riverdale, sem nenhuma explicação aparente, feito de um material indestrutível, trazendo essas terríveis criaturas. Mortes e desaparecimentos começam a acontecer na pacata cidadezinha, até que o senador Walter K. Powers (Cornelius Keefe, que usa o pseudônimo de Jack Hill no filme) vai de Washington até o local para investigar a origem do cone e tentar desmascarar uma possível fraude. Lá ele encontra o cientista Paul Kettering (Ed Nelson), que estudou o objeto levantando a hipótese de ser de origem extraterrestre. Auxiliando Kettering, está o filho do prefeito da cidade, Glen Cameron (que narra os acontecimentos do filme em primeira pessoa), sua esposa Elaine, o Dr. Wyler e a secretária do prefeito, Alice Summers (que vira o par romântico de Kettering). O prefeito que havia sido dado como desaparecido, retorna à prefeitura extremamente agressivo e travando uma verdadeira batalha interna consigo mesmo. Quando tenta atacar Powers, Kettering e os demais, é que o grupo descobre a iminente invasão dos parasitas, brinquedos de pilhas cobertos com pedaços de casacos velhos e varetas de limpar cachimbo como antenas. Imagine a beleza! História vai, história vem, Riverdale outrora sossegada começa a ter seus habitantes pouco a pouco tornando-se escravos dos parasitas devoradores de cérebro, um complô começa a se formar, os heróis precisam lutar por suas vidas, quando é descoberto um moribundo que aparentemente saiu do cone vazio (o qual Kettering já havia entrado e não encontrada nada em seu interior), que trata-se do Prof. Helsingman, especialista em bioquímica, dado como desaparecido em uma expedição científica fazia cinco anos. Obviamente ele tinha uma criatura presa em seu pescoço. Ao ser levado ao hospital antes de morrer, o velho já com o pé na cova só diz uma palavra: carboníferos. O período carbonífero ocorreu entre 359 e 245 milhões de anos, e foi quando se deu a proliferação dos animais terrestres, com o surgimento dos primeiros répteis e insetos. Ou como dizem no filme, é a Era dos Insetos, “com libélulas gigantes com asas de meio metro” e  “todo tipo de insetos do tamanho de um mamute”. E aqui que fica desvendado que não há nenhuma ameaça alienígena em vista, e sim terrena, com parasitas de mais de 200 milhões de anos que vieram do interior da terra para reclamar seu domínio sobre o planeta. Ah vá! Decididos em adentrar o cone para resolver essa pendenga de uma vez por todas, Kettering e Cameron descobrem então no interior do veículo o Prof. Cole, que havia desaparecido na mesma expedição junto com Helsingman. Cole é interpretado por um irreconhecível Leonard Nimoy, que está mais parecendo o Matusalém. Controlado pelos parasitas, ele dá voz às criaturas revelando seu terrível plano de controlar cada mente da terra e utilizar os homens para trazer todos de volta a superfície, oferecendo em troca para a humanidade uma vida utópica em perfeita harmonia, em paz e sem guerra, cobrando o pequeno custo da vontade e do livre arbítrio. Segue então a tentativa de destruir os parasitas antes que eles saiam do cone e comecem seu ataque em massa. Agora pelo que você leu, fale para mim se esse roteiro não é espetacular? Haja criatividade! E isso sem contar o charme dos parasitas / baratinhas feitos com apenas alguns trocados e a presença ilustre do Dr. Spock parecendo o Edin, pai do Jaspion. Os Devoradores de Cérebro é mais um exemplo de que não é preciso muito para fazer um filme ser divertido e cultuado. E também foi o pioneiro nesse quesito “parasitas terríveis” tendo muito outros exemplares de filmes que abordaram esse tema, de formas diferentes, mas igualmente bem sucedidos, como o apavorante Calafrios de David Croneneberg ou os divertidos A Noite dos Arrepios na década de 80 e Seres Rastejantes mais recentemente.
FONTE:


AS BRUXAS DE ZUGARRAMURDI (ESPANHA FRANÇA, 2013)


O JARDIM DOS ESQUECIDOS (EUA, 2014)




segunda-feira, 10 de março de 2014

VOCÊ É PRÓXIMO (EUA, 2011)


019 1923 A RODA (LA ROUE, França)


Direção: Abel Gance
Produção: Abel Gance, Charles Pathé
Roteiro: Abel Gance
Fotografia: Gaston Brun, Marc Bujard, Léonce-Henri Burel, Maurice Duverger
Música: Arthur Honegger
Elenco:
Séverin -Mars ……… Sisif
Ivy Close …………… Norma
Gabriel de Gravone . Elie
Pierre Magnier ……. Jacques de Hersan
Georges Térof …… Machefer
Ainda: Gil Clary, Max Maxudian,

A roda, do visionário cineasta francês Abel Gance, começa com um espetacular acidente de trem em cortes rápidos, tão revolucionário para os espectadores em 1922 quanto o trem dos irmãos Lumière chegando a uma estação em 1895. O ferroviário Sisif (Severin-Mars) salva Norma (Ivy Close) do acidente e a cria como sua filha. Ele e seu filho Elie (Gabriel de Gravone) se encantam por ela, de modo que Sisif a casa com um homem rico. Norma e Elie acabam se apaixonando e tanto seu marido quanto seu amante morrem em uma briga. Sisif fica cego e morre, depois de ser cuidado por Norma. Desde a época em que foi feito até hoje, este filme, que originalmente teria nove horas de duração, gera controvérsias. A trama melodramática de A roda foi combinada com as mais diversas referências literárias. Incluindo a tragédia grega, conforme sugerido pelo nome de Sisif (Sísifo) e pela associação de sua cegueira com o desejo incestuoso (Édipo). Intelectuais consideraram que essas "pretensões" entravam em conflito com as extraordinárias técnicas cinematográficas do filme (como a montagem acelerada e as sequências baseadas em ritmos musicais), que relacionavam a obra às preocupações vanguardistas com um cinema "puro" e o interesse dos cubistas nas máquinas como símbolo da modernidade. As contradições do filme se juntam de forma admirável em torno da sua metáfora central: a roda do destino (a íngreme ferrovia leva Sisif/Sísifo a subir e descer o Mont Blanc), a roda do desejo, a roda do próprio filme com seus diversos padrões cíclicos. PP
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 019)