Direção: Tun Fei Mou
Roteiro: Mei Liu, Wen Yuan Mou, Dun Jing Teng
Produção: Fu Chi; Hung Chu (Produtor Executivo)
Elenco: Gang Wang, Zhaohua Mei, Runsheng Wang,
Jianxin Chen, Hsu Gou
Toda vez que se faz uma lista ou conversa-se sobre
o bendito tema “filmes polêmicos” em algum botequim, o infame Campo 731 – Bactérias, A Maldade Humana (MAS CUSTAVA CHAMAR-SE APENAS
CAMPO 731?) entra na roda. E não é para menos já que ele é (infelizmente)
baseado em uma história verídica da mais pura e nefasta, hã, maldade humana. A
primeira vez que tive contato com o filme foi no começo da década passada em um
sebo no centro da cidade, onde olhando os DVDs e VHS antigos, me deparo com a
fita lançada aqui no Brasil pela América Vídeo (SAUDOOOOOSA AMÉRICA VÍDEO) e
todo seu alarde com letras garrafais em vermelho na contracapa (ATERRORIZANTE,
VIOLÊNCIA E CARNIFICINA, EXPERIÊNCIAS E MORTE, LOUCURA E DESESPERO) e os
cautelosos dizeres “ALERTA: ESTE FILME CONTÉM CENAS MUITO FORTES E CHOCANTES,
PROIBIDO PARA CARDÍACOS”. Não tem como você não ficar curioso em assisti-lo.
Logo ao chegar em casa o baixei no saudoso eMule com uma Internet velocíssima
de 128kbps, levando dias e dias até o término do download. Na verdade
praticamente todo esse exagero é verdade, mas como gato escaldado que sou (e
muito de vocês devem ser também), não é pra tudo isso também. A verdade nua e
crua é que Campo 731 – Bactérias,
A Maldade Humana pode ser um baita sacal para a geração torture
porn. E se você está a fim apenas da barbárie, o filme demora para engrenar
quando os testes humanos com os prisioneiros do campo de concentração 731 começam
de verdade, e até lá o que se mostra é um didático e quase documental longa
sobre as atrocidades cometidas pelo exército japonês durante a Segunda Guerra
Mundial. E falando em tom documental, a pesquisa histórica do diretor Tun Fei
Mou é de uma acurácia impressionante, uma vez que como locação foi usado o
verdadeiro quartel general do 731 (que era uma escola na época), na província
de Habin, na Manchúria e teve apoio do Exército de Libertação Popular que
proveu recrutas e armamento para a realização do longa. Isso sem contar o uso
de cadáveres REAIS em todas as cenas. A Unidade 731, comandada pelo
crudelíssimo, demente e meticuloso Tenente General Shiro Ishii (Gang Wang) foi
responsável por um sem número de crimes de guerra realizados pelo Exército
Imperial Japonês, que se assemelhavam aos experimentos nazistas, onde
prisioneiros civis chineses, soviéticos, filipinos e aliados – que eram
chamados de “troncos”, ou pelo menos é o que diz a legenda – eram usados como
cobaias para testes de armas bacteriológicas (levando aproximadamente DUZENTAS
MIL PESSOAS à morte) e todo tipo de experiência sórdida. Nisso você coloca na
conta vivissecções, onde todos os órgãos eram retirados da vítima ainda viva
(!!!???), exposição a mudanças extremas de temperatura, aprisionamento em
câmara de gás e câmaras de descompressão, onde pesquisadores analisavam quanto
tempo demorava para a pessoa cagar o próprio intestino (como visto em uma das
cenas mais chocantes do filme). Enquanto isso, jovens japoneses eram recrutados
pelos membros da unidade para formar um tropa jovem, que desde cedo vão
aprendendo a desprezar os “troncos” e a assistir as terríveis experiências,
passando por uma poderosa lavagem cerebral (mas que acaba não dando muito certo
para todos tamanha a crueldade dos malfeitores). Nessa toada de assistir as
experiências, outra cena fortíssima é quando uma jovem chinesa é colocada sobre
temperaturas abaixo de zero e tem seus braços congelados. Ela então é levada
para a “câmara experimental de congelamento”, ainda viva, mergulha sua mão em
um tanque de água a 15ºC, após ficar exposta a 10 horas em uma temperatura de
-35 ºC. Depois o sujeito simplesmente arranca com as mãos a pele de seus
membros atrofiados, deixando apenas o esqueleto (nesta cena também foram usados
braços de cadáveres humanos). Outra cena deplorável para aqueles que têm
estômago forte é quando um garoto chinês mudo é levado para uma mesa de
operação e vivissecado, tendo seus órgãos completamente removidos, onde mais
uma vez um cadáver de uma criança morta em um acidente que casava perfeitamente
com o ator mirim é usado (o que é claramente perceptível, uma vez que eles
abrem o bucho do moleque e nenhuma gota de sangue esguicha) e nos momentos em
close foi feita uma “autópsia” em um suíno. Mas nada é mais odioso que a cena
onde um gato é jogado em um ninho infestado de ratos e é devorado vivo pelos
roedores. Apesar da precariedade do orçamento e da inexistência de uma
indústria de efeitos especiais na China, o realismo grotesco da cena
impressiona e muita gente até hoje acha que o “método italiano de crueldade
animal” foi usado, mas na verdade, o gato foi coberto de mel e os ratos apenas
deram algumas lambidinhas, sendo entregue depois são e salvo a seu dono. Mas ao
final, quando os japoneses estão prestes a perder a guerra e obrigados a
encerrar a Unidade 731, e devem explodir e destruir todas as evidências, nos
mesmos ratos é ateado fogo de verdade. Nem Bruno Mattei foi tão desalmado
assim. O maior absurdo de tudo é que apesar de vermos uma dramatização, imaginar
que todas as aberrações que aconteceram no 731 são verdadeiras e os japoneses
fizeram de tudo para esconder a sua existência, com o Tenente General Ishii
chegando a se safar com a ajuda dos americanos, que lhe deu anistia em troca de
dados de pesquisa, sendo que os crimes de guerra mantiveram-se em segredo. Mou
inclusive por muito tempo quis fazer o filme como uma forma de mostrar ao mundo
aquele período monstruoso da história asiática, porém encontrou resistência do
governo da República Popular da China (ah, vá!) que tinha medo de atrapalhar o
relacionamento comercial e econômico com os japoneses. Inclusive por isso a
citação logo no começo, que você não entende o porque, é “Amizade é amizade,
história é história”. Exatamente o fato de Campo 731 – Bactérias, A Maldade Humana ser tão fidedigno que
te dá aquela sensação terrível e um embrulho no estômago ao assistir. E esses
filmes “baseado em fato reais”, principalmente quando se trata da II Guerra
Mundial, um passado tão recente e tão negro da humanidade, refutam mais uma vez
aquela máxima que os piores monstros somos nós mesmos, e não aqueles da ficção
do cinema de terror.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/23/550-campo-731-bacterias-a-maldade-humana-1988/
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