quinta-feira, 7 de abril de 2016

#550 1988 CAMPO 731 BACTÉRIAS A MALDADE HUMANA (Hei tai yang 731 / Men Behind the Sun, Hong Kong, China)


Direção: Tun Fei Mou
Roteiro: Mei Liu, Wen Yuan Mou, Dun Jing Teng
Produção: Fu Chi; Hung Chu (Produtor Executivo)
Elenco: Gang Wang, Zhaohua Mei, Runsheng Wang, Jianxin Chen, Hsu Gou

Toda vez que se faz uma lista ou conversa-se sobre o bendito tema “filmes polêmicos” em algum botequim, o infame Campo 731 – Bactérias, A Maldade Humana (MAS CUSTAVA CHAMAR-SE APENAS CAMPO 731?) entra na roda. E não é para menos já que ele é (infelizmente) baseado em uma história verídica da mais pura e nefasta, hã, maldade humana. A primeira vez que tive contato com o filme foi no começo da década passada em um sebo no centro da cidade, onde olhando os DVDs e VHS antigos, me deparo com a fita lançada aqui no Brasil pela América Vídeo (SAUDOOOOOSA AMÉRICA VÍDEO) e todo seu alarde com letras garrafais em vermelho na contracapa (ATERRORIZANTE, VIOLÊNCIA E CARNIFICINA, EXPERIÊNCIAS E MORTE, LOUCURA E DESESPERO) e os cautelosos dizeres “ALERTA: ESTE FILME CONTÉM CENAS MUITO FORTES E CHOCANTES, PROIBIDO PARA CARDÍACOS”. Não tem como você não ficar curioso em assisti-lo. Logo ao chegar em casa o baixei no saudoso eMule com uma Internet velocíssima de 128kbps, levando dias e dias até o término do download. Na verdade praticamente todo esse exagero é verdade, mas como gato escaldado que sou (e muito de vocês devem ser também), não é pra tudo isso também. A verdade nua e crua é que Campo 731 – Bactérias, A Maldade Humana pode ser um baita sacal para a geração torture porn. E se você está a fim apenas da barbárie, o filme demora para engrenar quando os testes humanos com os prisioneiros do campo de concentração 731 começam de verdade, e até lá o que se mostra é um didático e quase documental longa sobre as atrocidades cometidas pelo exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial. E falando em tom documental, a pesquisa histórica do diretor Tun Fei Mou é de uma acurácia impressionante, uma vez que como locação foi usado o verdadeiro quartel general do 731 (que era uma escola na época), na província de Habin, na Manchúria e teve apoio do Exército de Libertação Popular que proveu recrutas e armamento para a realização do longa. Isso sem contar o uso de cadáveres REAIS em todas as cenas. A Unidade 731, comandada pelo crudelíssimo, demente e meticuloso Tenente General Shiro Ishii (Gang Wang) foi responsável por um sem número de crimes de guerra realizados pelo Exército Imperial Japonês, que se assemelhavam aos experimentos nazistas, onde prisioneiros civis chineses, soviéticos, filipinos e aliados – que eram chamados de “troncos”, ou pelo menos é o que diz a legenda – eram usados como cobaias para testes de armas bacteriológicas (levando aproximadamente DUZENTAS MIL PESSOAS à morte) e todo tipo de experiência sórdida. Nisso você coloca na conta vivissecções, onde todos os órgãos eram retirados da vítima ainda viva (!!!???), exposição a mudanças extremas de temperatura, aprisionamento em câmara de gás e câmaras de descompressão, onde pesquisadores analisavam quanto tempo demorava para a pessoa cagar o próprio intestino (como visto em uma das cenas mais chocantes do filme). Enquanto isso, jovens japoneses eram recrutados pelos membros da unidade para formar um  tropa jovem, que desde cedo vão aprendendo a desprezar os “troncos” e a assistir as terríveis experiências, passando por uma poderosa lavagem cerebral (mas que acaba não dando muito certo para todos tamanha a crueldade dos malfeitores). Nessa toada de assistir as experiências, outra cena fortíssima é quando uma jovem chinesa é colocada sobre temperaturas abaixo de zero e tem seus braços congelados. Ela então é levada para a “câmara experimental de congelamento”, ainda viva, mergulha sua mão em um tanque de água a 15ºC, após ficar exposta a 10 horas em uma temperatura de -35 ºC. Depois o sujeito simplesmente arranca com as mãos a pele de seus membros atrofiados, deixando apenas o esqueleto (nesta cena também foram usados braços de cadáveres humanos). Outra cena deplorável para aqueles que têm estômago forte é quando um garoto chinês mudo é levado para uma mesa de operação e vivissecado, tendo seus órgãos completamente removidos, onde mais uma vez um cadáver de uma criança morta em um acidente que casava perfeitamente com o ator mirim é usado (o que é claramente perceptível, uma vez que eles abrem o bucho do moleque e nenhuma gota de sangue esguicha) e nos momentos em close foi feita uma “autópsia” em um suíno. Mas nada é mais odioso que a cena onde um gato é jogado em um ninho infestado de ratos e é devorado vivo pelos roedores. Apesar da precariedade do orçamento e da inexistência de uma indústria de efeitos especiais na China, o realismo grotesco da cena impressiona e muita gente até hoje acha que o “método italiano de crueldade animal” foi usado, mas na verdade, o gato foi coberto de mel e os ratos apenas deram algumas lambidinhas, sendo entregue depois são e salvo a seu dono. Mas ao final, quando os japoneses estão prestes a perder a guerra e obrigados a encerrar a Unidade 731, e devem explodir e destruir todas as evidências, nos mesmos ratos é ateado fogo de verdade. Nem Bruno Mattei foi tão desalmado assim. O maior absurdo de tudo é que apesar de vermos uma dramatização, imaginar que todas as aberrações que aconteceram no 731 são verdadeiras e os japoneses fizeram de tudo para esconder a sua existência, com o Tenente General Ishii chegando a se safar com a ajuda dos americanos, que lhe deu anistia em troca de dados de pesquisa, sendo que os crimes de guerra mantiveram-se em segredo. Mou inclusive por muito tempo quis fazer o filme como uma forma de mostrar ao mundo aquele período monstruoso da história asiática, porém encontrou resistência do governo da República Popular da China (ah, vá!) que tinha medo de atrapalhar o relacionamento comercial e econômico com os japoneses. Inclusive por isso a citação logo no começo, que você não entende o porque, é “Amizade é amizade, história é história”. Exatamente o fato de Campo 731 – Bactérias, A Maldade Humana ser tão fidedigno que te dá aquela sensação terrível e um embrulho no estômago ao assistir. E esses filmes “baseado em fato reais”, principalmente quando se trata da II Guerra Mundial, um passado tão recente e tão negro da humanidade, refutam mais uma vez aquela máxima que os piores monstros somos nós mesmos, e não aqueles da ficção do cinema de terror.
FONTE: https://101horrormovies.com/2014/10/23/550-campo-731-bacterias-a-maldade-humana-1988/

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