TERROR 2017 44 Mãe!
Mas que c... é esse
filme de Darren Aronofsky?
Sabe o que vai
representar para você a minha crítica sobre Mãe!, o pretensioso filme
de Darren Aronofsky que estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros e
está dividindo opiniões e gerando uma extrema controvérsia, a ponto da
manda-chuva da Paramount vir a público defendê-lo oficialmente? Nenhuma! Sabe
por quê? Mãe! é uma experiência cinematográfica totalmente
subjetiva, repleto de metáforas e cheio de simbolismo que será compreendido de
forma diferente por cada um sentado na sala de cinema. Assim como em
determinado momento da metragem um personagem extasiado pela obra do poeta
vivido por Javier Bardem diz que parece que a mesma fora escrito para ele. Ou
seja, cada um interpreta o poema de uma forma. É a deixa de Aronofsky sobre seu
mais novo longa. E no meio de tanta informação metafórica, uma em especial me
chamou a atenção: após gestada, sua obra não pertence mais à você. Ela pertence
ao mundo e isso dá direito a suas diversas interpretações e bem, cada um fazer
o que bem entender com ela. Tanto daquele que está assistindo, quanto do
departamento comercial de um grande estúdio, que muitas das vezes dá com os
burros n’água vendendo aquilo que de fato ele não é, soltando um trailer que é
uma arapuca errônea de público. O resultado: um F capital na nota do Metascore
e uma avalanche de queixume e rejeição. Mas o filme é ruim? Pelo contrário. Mas
foi vendido de forma equivocada, o que acaba por frustrar muita gente. E
acredite, quanto menos você souber sobre a trama, é melhor.
A verdade é que
durante quase toda duração eu me senti desconfortável, incomodado, dando
risadas de nervoso em diversos momentos cômicos de puro nonsense. Ele é
visceral, com uma entrega absoluta de Jennifer Lawrence, sempre acompanhada de
pertíssimo pelas invasivas lentes do diretor, e desanda na violência aterradora
(algumas das sequências finais são realmente pesadas) apoiada pela caótica
parafernália narrativa de guerrilha que o diretor arma em um espetáculo de
cacofonia. Mãe! é perturbado e bizarro aos borbotões e
escancara bem o uso do termo “horror psicológico”. Mas não da forma mainstream
e acessível como Cisne Negro, por exemplo, apesar
de ambos se jogarem fundo no campo das camadas da psique humana. Há também toda
uma comparação com a atmosfera de O Bebê de Rosemary, principalmente no
que tange a dubiedade das ações de Bardem, o crescimento da relação
passivo-agressiva de Lawrence e o entra e sai de personagens misteriosos e suas
atitudes incompreensíveis. Mas ao mesmo tempo, não tem absolutamente nada a
ver.
No decorrer de sua
exibição, a sensação de angústia é crescente, tal qual a crônica de uma
tragédia anunciada, num processo de slow burning de tensão absoluta que beira o
insuportável, conforme caminha para seu tresloucado terceiro ato – de uma
megalomania ímpar, diga-se de passagem, talvez o grande erro do diretor – que
te atinge direto no peito com seu surrealismo empírico.
Fato é que o filme
irá terminar e você ficará com aquele enorme WTF estampado bem na cara. A
cortina desce sem nenhuma explicação didática escarrada deixando cada um dos
espectadores a esmo. Algo que boa parte do público não vai engolir muito bem,
fato! Afinal, o processo de digestão do mesmo é longo, mas qual o problema
disso?
Quando uma obra, ao
acender as luzes, provoca uma enxurrada de dúvidas, questionamentos e
impressões, que provavelmente serão expostas na mesa de bar, nas discussões de
Facebook ou nas reuniões entre amigos cinéfilos, significa que de uma forma ou
de outra ela funcionou. A inocuidade é sempre o pior dos sentimentos em relação
a um filme.
E lembra da tal
subjetividade? Bem, com o que acabara de assistir ainda repassando em minha
cabeça febril voltando para casa, tocou no rádio do carro a música “We Don’t Deserve Love”, do Arcade Fire.
Will Butler canta que talvez não merecemos o amor. Pode ser que seja por aí… A
existência do sentimento, para alguns, está inexoravelmente ligada com as
implicações de sua perda. Talvez, perder o amor seja a forma de encontrar
inspiração. Uma maneira que nossa mente encontra para criar. Já passei por tal
experiência.
O amor é combustível
para a criação. Quando ele se quebra, aproveitando uma análise de
acontecimentos do próprio filme, há um bloqueio e é necessário uma força
cataclísmica, ou um conjunto de ações e reações, até tudo ser consumido em
chamas, transformar-se em cinzas, e só aí rolar um processo de interiorização e
tudo recomeçar. Só que nesse processo, estamos sujeitos a usar o outro para
isso.
Esse uso, surge
também em tela como uma crítica velada à sociedade patriarcal e machista. Não
interessa o verdadeiro desejo de suas esposa e seus esforços. Ela está ali como
muleta. O que importa é satisfazer suas próprias vontades, seu ego inflável. E
que a figura da mãe, a única pessoa no mundo responsável pela vida, a maior
criação de todas, não nos deixe cair no egoísmo e na destruição, amém.
Aliás, recorrente no
cinema de Aronofsky o tema “obsessão” também está lá. Fora, o contexto bíblico,
como uma recriação em menor escala do Antigo e Novo Testamento da Bíblia,
carregado de simbolismos e personagens religiosos, onde o diretor coloca a
figura de Lawrence como uma madona, de uma paciência e compaixão sobrehumana,
numa iconografia do sagrado materno e como nós idolatramos o messiânico. Um dos
pôsteres é a prova cabal disso. Buscamos a salvação em ícones e símbolos que
podem também gerar o caos e a guerra, e despertar o pior da humanidade só por
causa do fruto de vosso ventre, que igualmente podem nos levar à destruição
total, enquanto somos causa e consequência do nosso egoísmo e vaidade.
Mas claro, todo esse
ensaio é uma interpretação extremamente pessoal baseada nas minhas percepções
fílmicas e até de meu repertório pessoal. E a bem da verdade, isso NÃO é uma
resenha.
Fato é que cada um
que assistir a Mãe!, terá uma perspectiva diferente, algo para
acrescentar, comentar, ou que diabos, odiar. Mas recomenda-se cabeça muito
aberta, não cair nas armadilhas do marketing e tampouco sentar no bonde do
hype, e aproveitar uma experiência cinematográfica que é uma verdadeira força
centrífuga, nada usual aos padrões tanto do cinema de horror, quando
convencional.
4 poemas para Mãe!
Fonte:
http://101horrormovies.com.br/review-2017-44-mae/
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