TERROR 2017 27 2017 ALIEN: COVENANT
Marcos Brolia em 10/05/2017
Muito Prometheus, pouco O Oitavo Passageiro
Há de se levar em
consideração que MUITA gente gosta de Prometheus e tem lá seus
motivos. Em contrapartida, o filme de Ridley Scott acabou por decepcionar
também uma galera, incluindo o grosso dos fãs da franquia Alien, gerando
até aquela famosa piada jocosa em PT-BR com o título, sobre o não cumprimento
da promessa do veterano diretor inglês. Depois de cinco anos e muita
expectativa sobre a volta de Scott ao universo que ele dera origem há quase 40
anos, a grande dúvida na cabeça do público é: mas esse será
mais Prometheus, ou mais Alien? E principalmente: o cineasta teria
aprendido com os próprios erros e críticas a seu filme anterior, e focar nos
acertos de seu seminal horror espacial, pedra angular do subgênero? Com a
estreia de Alien: Covenant nos cinemas brasileiros, as respostas são
as mais deprimentes possíveis… O filme que conta a tão aguardada origem do
xenomorfo, que deveria saudar os fãs de longa data e introduzir a barata
espacial para uma nova geração – pavimentando caminho para a ideia sem noção de
uma nova hexalogia (!!!) – nada é mais que uma continuação canhestra de um
antecessor fraco, que se preocupa muito mais em seguir explorando uma ideia que
desagradou geral ao invés de uma simples e certeira “volta ao básico”,
entregando um terror espacial claustrofóbico focado na criatura, e não, mais
uma vez, nas desventuras de um sintético afetado, elucubrações sobre a origem
da vida, e uma tripulação repleta de imbecis, além de ignorar completamente a
mitologia a seu bel prazer. Sério, como em pleno século XXII, a Weyland Corp.
consegue juntar um grupo tão grande de astronautas ineptos, que deveriam ser os
melhores em suas especialidades, afinal, a Covenant está partindo em uma
importante missão de colonização? A série de pataquadas que selam a sorte
daquele grupo é inadmissível, tal qual os personagens fraquíssimos que
tripularam a Prometheus dez anos antes, e deu no que deu. A saudades de Ellen
Ripley chega a bater forte no peito. O roteiro é cheio de clichês, recursos
pobres, tudo demasiadamente previsível e soluções baseadas em coincidências ou
pura cabacice do tipo: “sujeito senta para fumar bem ao lado de esporos que irá
infectá-lo” ou “nego cutuca uma forma botânica alienígena sem a menor
parcimônia” ou “ciclana fica desnecessariamente desesperada e atira em um
tanque de combustível explodindo a dropship e deixando todo mundo preso no
planeta”, tudo praticado por um conjunto de personagens rasos que nem um pires,
que só estão ali para a contagem de cadáveres, que você nem dá a mínima por não
conseguir criar empatia por nenhum deles. Não obstante, a primeira uma hora do
filme poderia ter sido jogada na LATA DO LIXO da sala de edição. Nisso, estou
falando desde o acidente que a Covenant sofre, que faz o novo capitão carola
decidir pousar em um planeta não escaneado, contendo as mesmas condições
biológicas e atmosféricas da Terra, ao invés de voltar a entrar em estado de
animação suspensa e acordar só daqui a sete anos quando chegar ao seu
destino junto dos dois mil colonos que a nave carrega, até a eclosão do chamado
neomorfo, a irritante nova criatura feita totalmente em CGI, toda
descompassada, sem a menor necessidade de existir, nem mesmo para o bestiário
do cânone. Só que o GRANDE problema de tudo é a ineficácia de Ridley Scott em
construir a atmosfera do filme e sua direção burocrática, parecendo incapaz de
repetir o sucesso que obteve de forma tão assertiva em Alien, o Oitavo Passageiro, ao criar um clima
de crescimento exponencial do medo e ameaça na presença de uma forma de vida
terrível e indestrutível que espreita na sombra. Pior é que ao sermos
apresentados à Covenant nos primeiros minutos de filme, há nela um quê de
Nostromo, com seus ambientes escuros e corredores apertados captados em ângulos
fechados, perfeitos para o clima de clausura e claustrofobia. Scott, mais uma
vez, perde tempo dando continuidade a todos os problemas do longa anterior,
preferindo campos abertos e cavernas, dando destaque para uma série de
devaneios criacionistas de David e sua motivação questionável, seus diálogos
cafonas com Walter (papel duplo de Michael Fassbender, único que se salva), o
sintético da Covenant – uma versão downgrade de si mesmo – incluindo aí uma
insuportável sequência de SEIS MINUTOS onde ele ensina o robô-irmão a TOCAR
FLAUTA DOCE, e decide voltar à espaçonave e mergulhar nos confins do espaço
desconhecido apenas no terceiro ato. Mas verdade seja dita: os últimos vinte
minutos são realmente muito interessantes, a cereja de um bolo qualquer nota,
salvo aquela VERGONHOSA cena do chuveiro, que parece saída de um slasher de
quinta. Isso porque aqui, é feito o arroz com feijão ao tentar emular o
original, além do fanservice em prestar uma baita homenagem ao visual
da Ripley em Aliens, o Resgate. Exatamente o que eu, você, e todo
mundo, imagino, queria ver desde que o longa fora anunciado, ainda mais
contando com a direção do pai do xenomorfo, monstro que safadamente deve
contabilizar no máximo uns trinta minutos de duração em uma projeção de mais de
duas horas. Obviamente há uma deixa para o próximo filme, com uma premissa bem
das boas, e muitas perguntas ainda sem resposta, mas, talvez seja a hora de
Ridley Scott largar o osso – uma vez que ele já não é o mesmo há um BOM tempo –
e as sequências serem entregues para novos diretores que tragam suas visões
particulares, como feito com muito sucesso na série até então (James Cameron,
David Fincher e Jean-Pierre Jeunet estão aí para não me deixar mentir) ou o que
vem acontecendo, por exemplo, com outras franquias espaciais como Star
Wars ou Star Trek. Nem precisa ir tão longe, já que é Denis
Villeneuve, o nome mais quente da ficção científica da atualidade, quem
comandará a sequência de Blade Runner, outro clássico de Scott. No
frigir dos ovos, você me pergunta se ele é melhor que Prometheus. Eu
respondo: sim! Mas pelo menos o antecessor é mais honesto e não frustra ninguém
colocando ALIEN em letras garrafais no título, só para meter a barata espacial
em cena por um período tão curto de tempo, completamente subaproveitado em um
longa mediano e sem a mínima capacidade de construção do horror sufocante.
Tentou misturar os dois filmes, e a receita não funcionou. Pior ainda, fica
aquele gosto ruim na boca por esta produção, junto de um Ridley Scott agindo
tipicamente como “o dono da bola”, ter sido a responsável pela Fox enterrar o
promissor Alien 5 de Neil Blomkamp…
2,5
neomorfos para Alien: Covenant
FONTE: http://101horrormovies.com/2017/05/10/review-2017-27-alien-covenant/
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