TERROR 2017 41 DEATH NOTE
Eis o pior “filme” de 2017
No período que
compreende o anúncio da versão norte-americana de Death Note ao seu
fatídico lançamento, fui um ferrenho defensor da mesma. Discordei
fundamentalmente dos comentários que apontavam o filme como um caso
de whitewashing (transformar personagens de etnias diferentes em
pessoas brancas) e que diziam que esta era uma história japonesa e que não
funcionaria no ocidente. Isso sempre me pareceu uma crítica vazia e que
desconhece a própria história do cinema.
A trama de Death
Note, apesar de fundamentada em elementos culturais japoneses, como
os shinigami, é sim universal. Invoco aqui o Shinigami Ryuk
em pessoa (demônio, ou sei lá) para corroborar essa teoria: no primeiro
episódio do anime (não me lembro se no mangá também), o deus da morte conta que
deixou o livro cair por acaso na terra e que por isso mesmo escreveu as regras
de seu funcionamento em inglês, para que houvesse maior chance dele ser
utilizado por quem quer que o encontrasse. Além disso, um dos outros deuses que
aparece no episódio possui um visual inspirado em índios norte-americanos. Mais
que isso, os próprios temas abordados pela série, que vão de investigação,
jogos mentais, vigilantismo, conceitos deturpados de ética e moral e muito mais
são sim, perfeitamente aplicáveis nos Estados Unidos ou em qualquer país
ocidental. Para terminar, contamos com a direção de Adam Wingard, puta nome do
cinema de gênero atual e produção da queridíssima Netflix que até detêm os
direitos de exibição do anime. Com o perdão de vocês, leitores, é hora de
quebrar o decoro, pois eu fui enganado por estes malditos…
Death Note É UM
LIXO TOTAL E ABSOLUTO.
Parafraseando
um youtuber que não lembro quem, este é o Dragonball
Evolution da Netflix. E este último é o filme que mais odeio na vida.
Enquanto adaptação, o longa de Wingard DEFECA impiedosamente sobre o original.
Enquanto filme independente com liberdade criativa, é a maior atrocidade cinematográfica
do ano. E ainda tiveram a audácia de fazer a animação do título igual a
de O Enigma de Outro Mundo! Na obra original de Tsugumi
Ohba, o entediado Shinigami (deus da morte) Ryuk decide
emprestar seu caderninho para um humano para, no melhor estilo Coringa, ver o
mundo pegar fogo. O humano escolhido é o japonês Light Yagami, estudante de
intelecto brilhante que, muito provavelmente, era fã de Taxi Driver,
devido ao seu discurso de indignação frente a miséria e fracasso humanos. De
posse do caderno, Light só precisaria escrever o nome de alguém e o método da
morte, que logo se concretiza. Assumindo a alcunha Kira, Light começa a limpar
o país de criminosos e, durante sua aventura, cruza o caminho com a jovem
louquinha Mia e o detetive gênio excêntrico L. Em linhas gerais, o longa de
Adam Wingard não foge disso. Porém, de alguma forma, mesmo com o material
pronto nas mãos, o time de roteiristas conseguiu criar uma aberração textual
tão grande, que me impressiona algum estúdio ter topado embarcar nesse barco
furado. Um dos principais responsáveis por isso é o tal do Jeremy Slater,
infeliz encarregado pelo roteiro do último Quarteto Fantástico, Renascida do Inferno e da série de O Exorcista. Foge da minha compreensão como alguém
desse naipe consegue seguir adiante com projetos de calibre considerável, com
uma bagagem tão podre. Uns anos atrás assisti a um filme sul-coreano
chamado Iris, que me incomodou profundamente. Parecia uma colcha de
retalhos, não havia continuidade nas cenas e saltos temporais grandes,
desenvolvimento zero de personagens, narrativa ou trama. Posteriormente
descobri que este filme era uma condensação de uma série homônima de dez
episódios de uma hora de duração cada. Basicamente, alguém achou boa ideia
espremer dez horas de conteúdo em uma hora e trinta minutos. O resultado foi
atroz. A impressão que tenho hoje é de que fizeram o mesmo com Death Note.
Não existe nada que se pareça com desenvolvimento aqui, só uma aglutinação de
fatos e decisões imediatas sem embasamento por parte de personagens vazios e
desinteressantes. Como se alguém tivesse comprimido 10 horas de filme em menos
de 2 horas, de forma que sobrassem apenas lampejos e trechos pequenos de algo
maior. É inconcebível levar um filme adiante dessa maneira. Não para a Netflix,
aparentemente. Dentro dos primeiros 35 minutos da fita, Light encontra o death
note, conhece Ryuk, utiliza o livro para vingança pessoal, conhece Mia, conta
para ela que consegue matar pessoas usando um livro, começa a namorá-la, cria
uma identidade secreta para si mesmo e torna-se famoso mundialmente por matar
centenas de criminosos misteriosamente. L ainda é introduzido e já descobre de
qual cidade do mundo Light opera. Nessa altura do campeonato, considerei
abandonar o filme pela metade e me lembrei de Esquadrão Suicida. Nessa outra
monstruosidade da DC, ocorre um fenômeno bem similar. Ao invés de desenvolver
personagens, o longa simplesmente nos diz quem é quem e o que devemos sentir
por eles. Qualquer filme da Xuxa nos anos 90 possui uma progressão narrativa
melhor e mais elaborada que Death Note e afirmo isso sem qualquer
ironia. Os personagens são vazios, suas ações sem sentido e as consequências
não existem. Logicamente, a trama que deveria ser inteligente e elaborada,
revela-se boçal e sem sentido. As alterações para com o original, do tipo,
tornar Light um vacilão juvenil e L um sujeito emocionalmente desbalanceado,
seriam perfeitamente aceitáveis (mentira, não seria porra nenhuma, as mudanças
são vergonhosas!) se existisse aqui um MÍNIMO de investimento em um elemento
básico do cinema: narrativa. Como isso não acontece, temos um somatório de
fatores negativos cujo resultado é um produto ainda mais negativo. No começo,
apesar do incômodo com o ritmo, me interessei pela aproximação das mortes e do
belíssimo gore com a franquia Premonição. Light decide que
alguém deve ser decapitado, então temos uma confluência de ações aleatórias e
acidentais, influenciadas pela entidade morte/Ryuk, para que tudo ocorra como
descrito no caderninho. Outro elemento visualmente interessante é o frenesi de
cores pulsantes neon, que o deixam com um aspecto cool. Considerando a
obra como um todo, me parece um caso de puro cinismo artístico de Adam Wingard,
diretor que decepciona pela segunda vez seguida, após o fraquíssimo Bruxa de Blair. Até mesmo as qualidades de Death
Note parecem desonestas e somem dentro de seu fracasso como adaptação e
como peça própria. Chega a ser difícil me referir a este como “filme”.;
Mega-trailer ou compilado-de-cenas talvez sejam títulos mais apropriados. Para
piorar, as “mentes criativas” por trás dessa bagaceira chata e sem noção tem
esperanças de fazer uma sequência. Por vezes até acredito no potencial das
sequências em melhorar o original, mas aqui o caso é tão complicado, que é
melhor deixar essa ideia de lado. O desgraçamento cinematográfico que recaiu
sobre essa obra tão fenomenal me deixou curioso em assistir os live-action japoneses, por simples
critério comparativo. Fez-me pensar também nos rumos tomados pela
Netflix nos últimos dois anos. Claramente o serviço
de streaming está sendo incapaz de manter o alto nível de produção,
dada a massificação absoluta das mesmas. Quantidade parece ter tomado o lugar
da qualidade e até mesmo projetos com grande potencial tem se estatelado. Recomendo
fortemente, para todos os interessados no conceito desse compilado-de-cenas,
que assistam ao anime, também disponível na nossa locadora virtual favorita.
Apesar de animação, possui um tom bem sóbrio e é fácil de assistir, como
qualquer outra série.
1 nome escrito no
caderninho para Death Note.
Fonte;
http://101horrormovies.com.br/review-2017-41-death-note/
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