quinta-feira, 31 de agosto de 2017

DEATH NOTE (EUA, 2017)


TERROR 2017 41 DEATH NOTE
Daniel Rodriguez 28/08/2017

Eis o pior “filme” de 2017
No período que compreende o anúncio da versão norte-americana de Death Note ao seu fatídico lançamento, fui um ferrenho defensor da mesma. Discordei fundamentalmente dos comentários que apontavam o filme como um caso de whitewashing (transformar personagens de etnias diferentes em pessoas brancas) e que diziam que esta era uma história japonesa e que não funcionaria no ocidente. Isso sempre me pareceu uma crítica vazia e que desconhece a própria história do cinema.
A trama de Death Note, apesar de fundamentada em elementos culturais japoneses, como os shinigami, é sim universal. Invoco aqui o Shinigami Ryuk em pessoa (demônio, ou sei lá) para corroborar essa teoria: no primeiro episódio do anime (não me lembro se no mangá também), o deus da morte conta que deixou o livro cair por acaso na terra e que por isso mesmo escreveu as regras de seu funcionamento em inglês, para que houvesse maior chance dele ser utilizado por quem quer que o encontrasse. Além disso, um dos outros deuses que aparece no episódio possui um visual inspirado em índios norte-americanos. Mais que isso, os próprios temas abordados pela série, que vão de investigação, jogos mentais, vigilantismo, conceitos deturpados de ética e moral e muito mais são sim, perfeitamente aplicáveis nos Estados Unidos ou em qualquer país ocidental. Para terminar, contamos com a direção de Adam Wingard, puta nome do cinema de gênero atual e produção da queridíssima Netflix que até detêm os direitos de exibição do anime. Com o perdão de vocês, leitores, é hora de quebrar o decoro, pois eu fui enganado por estes malditos…
Death Note É UM LIXO TOTAL E ABSOLUTO.
Parafraseando um youtuber que não lembro quem, este é o Dragonball Evolution da Netflix. E este último é o filme que mais odeio na vida. Enquanto adaptação, o longa de Wingard DEFECA impiedosamente sobre o original. Enquanto filme independente com liberdade criativa, é a maior atrocidade cinematográfica do ano. E ainda tiveram a audácia de fazer a animação do título igual a de O Enigma de Outro Mundo! Na obra original de  Tsugumi Ohba, o entediado Shinigami (deus da morte) Ryuk decide emprestar seu caderninho para um humano para, no melhor estilo Coringa, ver o mundo pegar fogo. O humano escolhido é o japonês Light Yagami, estudante de intelecto brilhante que, muito provavelmente, era fã de Taxi Driver, devido ao seu discurso de indignação frente a miséria e fracasso humanos. De posse do caderno, Light só precisaria escrever o nome de alguém e o método da morte, que logo se concretiza. Assumindo a alcunha Kira, Light começa a limpar o país de criminosos e, durante sua aventura, cruza o caminho com a jovem louquinha Mia e o detetive gênio excêntrico L. Em linhas gerais, o longa de Adam Wingard não foge disso. Porém, de alguma forma, mesmo com o material pronto nas mãos, o time de roteiristas conseguiu criar uma aberração textual tão grande, que me impressiona algum estúdio ter topado embarcar nesse barco furado. Um dos principais responsáveis por isso é o tal do Jeremy Slater, infeliz encarregado pelo roteiro do último Quarteto Fantástico, Renascida do Inferno e da série de O Exorcista. Foge da minha compreensão como alguém desse naipe consegue seguir adiante com projetos de calibre considerável, com uma bagagem tão podre. Uns anos atrás assisti a um filme sul-coreano chamado Iris, que me incomodou profundamente. Parecia uma colcha de retalhos, não havia continuidade nas cenas e saltos temporais grandes, desenvolvimento zero de personagens, narrativa ou trama. Posteriormente descobri que este filme era uma condensação de uma série homônima de dez episódios de uma hora de duração cada. Basicamente, alguém achou boa ideia espremer dez horas de conteúdo em uma hora e trinta minutos. O resultado foi atroz. A impressão que tenho hoje é de que fizeram o mesmo com Death Note. Não existe nada que se pareça com desenvolvimento aqui, só uma aglutinação de fatos e decisões imediatas sem embasamento por parte de personagens vazios e desinteressantes. Como se alguém tivesse comprimido 10 horas de filme em menos de 2 horas, de forma que sobrassem apenas lampejos e trechos pequenos de algo maior. É inconcebível levar um filme adiante dessa maneira. Não para a Netflix, aparentemente. Dentro dos primeiros 35 minutos da fita, Light encontra o death note, conhece Ryuk, utiliza o livro para vingança pessoal, conhece Mia, conta para ela que consegue matar pessoas usando um livro, começa a namorá-la, cria uma identidade secreta para si mesmo e torna-se famoso mundialmente por matar centenas de criminosos misteriosamente. L ainda é introduzido e já descobre de qual cidade do mundo Light opera. Nessa altura do campeonato, considerei abandonar o filme pela metade e me lembrei de Esquadrão Suicida. Nessa outra monstruosidade da DC, ocorre um fenômeno bem similar. Ao invés de desenvolver personagens, o longa simplesmente nos diz quem é quem e o que devemos sentir por eles. Qualquer filme da Xuxa nos anos 90 possui uma progressão narrativa melhor e mais elaborada que Death Note e afirmo isso sem qualquer ironia. Os personagens são vazios, suas ações sem sentido e as consequências não existem. Logicamente, a trama que deveria ser inteligente e elaborada, revela-se boçal e sem sentido. As alterações para com o original, do tipo, tornar Light um vacilão juvenil e L um sujeito emocionalmente desbalanceado, seriam perfeitamente aceitáveis (mentira, não seria porra nenhuma, as mudanças são vergonhosas!) se existisse aqui um MÍNIMO de investimento em um elemento básico do cinema: narrativa. Como isso não acontece, temos um somatório de fatores negativos cujo resultado é um produto ainda mais negativo. No começo, apesar do incômodo com o ritmo, me interessei pela aproximação das mortes e do belíssimo gore com a franquia Premonição. Light decide que alguém deve ser decapitado, então temos uma confluência de ações aleatórias e acidentais, influenciadas pela entidade morte/Ryuk, para que tudo ocorra como descrito no caderninho. Outro elemento visualmente interessante é o frenesi de cores pulsantes neon, que o deixam com um aspecto cool. Considerando a obra como um todo, me parece um caso de puro cinismo artístico de Adam Wingard, diretor que decepciona pela segunda vez seguida, após o fraquíssimo Bruxa de Blair. Até mesmo as qualidades de Death Note parecem desonestas e somem dentro de seu fracasso como adaptação e como peça própria. Chega a ser difícil me referir a este como “filme”.; Mega-trailer ou compilado-de-cenas talvez sejam títulos mais apropriados. Para piorar, as “mentes criativas” por trás dessa bagaceira chata e sem noção tem esperanças de fazer uma sequência. Por vezes até acredito no potencial das sequências em melhorar o original, mas aqui o caso é tão complicado, que é melhor deixar essa ideia de lado. O desgraçamento cinematográfico que recaiu sobre essa obra tão fenomenal me deixou curioso em assistir os live-action japoneses, por simples critério comparativo. Fez-me pensar também nos rumos tomados pela Netflix nos últimos dois anos. Claramente o serviço de streaming está sendo incapaz de manter o alto nível de produção, dada a massificação absoluta das mesmas. Quantidade parece ter tomado o lugar da qualidade e até mesmo projetos com grande potencial tem se estatelado. Recomendo fortemente, para todos os interessados no conceito desse compilado-de-cenas, que assistam ao anime, também disponível na nossa locadora virtual favorita. Apesar de animação, possui um tom bem sóbrio e é fácil de assistir, como qualquer outra série.
1 nome escrito no caderninho para Death Note.
Fonte; http://101horrormovies.com.br/review-2017-41-death-note/

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