terça-feira, 21 de junho de 2016

#633 1993 CRONOS (México)


Direção: Guillermo Del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Produção: Arhtur Gorson, Bertha Navarro; Francisco Murguía, Bernard L. Nussbaumer; Alejandro Springall (coprodutores); Julio Solórzano, Jorge Sánchez, Rafael Cruz (Produtores Associados)
Elenco: Frederico Luppi, Ron Perlman, Claudio Brook, Margarita Isabel, Tamara Shanath

Dentre os filmes mais inventivos sobre vampiros ou vampirismo, com certeza Cronos tem um lugar de destaque, ainda mais por se tratar do debute cinematográfico de Guillermo Del Toro, o diretor mexicano que mais tarde tornar-se-ia um dos principais nomes do cinema fantástico. Aqui vemos um lampejo do gênio (sim, escrevo sem nenhum constrangimento) que Del Toro se tornaria, com suas contribuições para o gênero e para a cultura nerd, sci-fi e pop em geral. Só não se engane, pois ele possui participação em diversos outros filmes, como produtor ou roteirista, que não são dignos do sujeito, mas que tem seu nome grifado em letras garrafais em seus pôsteres para alardear seus espaço conquistado entre os fãs, com os péssimos Mama ou Não Tenha Medo do Escuro, e isso pode causar algum tipo de impressão errônea. Mas nada que um A Espinha do Diabo, O Labirinto do Fauno, O Orfanato ou mesmo Círculo de Fogo, não resolvam. Bem, Cronos é uma fábula com todo o trejeito de Del Toro. É poético e impactante, dotado de uma beleza ímpar em sua construção, fotografia e direção de arte. A trama, também escrita pelo diretor, é de uma baita inventividade, em que hoje vemos certas semelhanças com o elogiadíssimo Deixa Ela Entrar (que fora escrito por John Ajvide Lindqvist mais de dez anos depois) e até na própria trilogia Noturno, escrita por Del Toro e Chuck Hogan, que virara a série The Strain. Em seu prelúdio, o alquimista Humberto Oganelli (inspirado no famoso alquimista francês Fulcanelli) foge da Espanha para o México no ano de 1536, fugindo da inquisição, onde desenvolve um aparelho chamado “artefato cronos”, capaz de conceder vida eterna àquele que usá-lo. Quatro séculos se passa e em 1937, após um terremoto e consequentemente o desabar de um prédio, o alquimista é encontrado morto entre os escombros, com seu peito perfurado e com a pele acinzentada. Os objetos em sua antiga moradia são leiloados, e a estátua de um arcanjo chega ao antiquário de Jesus Gris (Frederico Luppi), onde em sua base, o artefato estava escondido. Jesus acaba por acidentalmente, sempre observado de perto por sua amada neta, Aurora (Tamara Shanath), usando o aparelho, que se abre no formato de um inseto, agarrando-se a sua mão e sugando parte do seu sangue, enquanto uma estranha criatura parasitária dentro do mecanismo injeta um líquido em sua corrente sanguínea. O processo fará Jesus tornar-se cheio de vitalidade e vigor, porém, com uma estranha sede de sangue. Ou seja, mesmo o termo nunca sendo usado na película, ele vira um vampiro, mas sem o estereótipo da capa e presas. Enquanto o nosso herói fica viciado naquela sensação maravilhosa que o dispositivo lhe proporciona, entram em cena os vilões, formados por De La Guardia (Claudio Brook) um sujeito vítima de uma doença terminal que encontrou o diário de Oganelli e busca pelo artefato para lhe garantir vida eterna, e seu famigerado sobrinho e capanga, Angel (vivido pelo ator fetiche de Del Toro, Ron Perlman). Após descobrirem que Jesus está de posso de cronos, Angel acaba causando sua morte na noite de ano novo, que irá dar início a sua transformação na verdadeira forma vampiresca, com sua pele cinza e ressecada, e, por conseguinte, sua busca por entendimento e vingança. Apesar do enredo com suas nuances de terror e essa ideia onírica do vampirismo, Cronostambém é um drama com detalhes profundamente enraizados na cultura latina e hispânica, principalmente no que tange a relação afetiva entre Jesus e sua neta, que não se importa dele estar se transformando em uma criatura sanguessuga de pele cinzenta, e está pronta para ajuda-lo, aceita-lo e acima de tudo amá-lo, como um bom dramalhão mexicano pede. Interessante também Del Toro virar a moeda no tratamento aos americanos. Enquanto nos filmes ianques, os mexicanos são todos mostrados como estereótipos, aqui o diretor fez questão de que Perlman e Brook interpretassem os vilões da forma mais caricata e maniqueísta possível, lembrando bastante a linguagem das HQs, outra das paixões e inspirações de Del Toro, que como bem sabemos, dirigiu dois personagens oriundos da oitava arte nos cinemas: Blade e Hellboy. Cronos custou dois milhões de dólares e foi até então o mais caro filme mexicano já realizado. Seu orçamento inicial de 1,5 milhão estourou e Del Toro, para terminar sua obra, foi em busca do restante, tirando de seu próprio bolso e pedindo empréstimos, além de ter de efetuar cortes nos salários dos atores, como o caso de Perlman (iniciando-se aí uma longa amizade). A bilheteria foi um fracasso faturando pouco mais de 600 mil dólares. Porém foi bem recebido e vencedor de prêmios em diversos festivais de cinema, como Cannes, Stiges na Espanha e Fantasporto em Portugal, além de um Saturn Awards. A benéfica exposição de Cronos abriu as portas para primeiramente, a Universal querer comprar os direitos para uma refilmagem americana, negado por Del Toro, e em seguida, ser convidado para dirigir Mutação para a Dimension Films/ Miramax, aí sim, seu primeiro sucesso comercial realizado nos EUA. O resto nós sabemos que é a história do cinema fantástico sendo escrita.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/03/26/633-cronos-1993/

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