TERROR 2017 48 JOGO PERIGOSO
A adaptação do livro de Stephen King vai te prender…
O recém septuagenário Stephen
King não tem do que reclamar do ano de 2017. Tá, ele pode reclamar da
série The Mist, que durou uma mísera temporada e já foi cancelado
e de A Torre Negra, a talvez mais aguardada adaptação cinematográfica
de uma obra do escritor do Maine, que foi um verdadeiro flop nos
cinemas. Mas o autor pode considerar um ano prolífico tendo em vista todas as
adaptações transmídia de suas histórias – uma avalanche que era comum durante
as décadas de 80 e 90 -, incluindo aí o caminhão de dinheiro que It: A Coisa está faturando, a aclamada série Mr.
Mercedes e agora, Jogo Perigoso, produção original da Netflix que
entrou no catálogo do serviço de streaming na última sexta-feira de
setembro. Dirigido pelo competente Mike Flanagan – que para mim tem 100% de
aproveitamento em seus filmes, mesmo sem tanta badalação – e que já havia
entregado o excelente Hush – A Morte Ouve para a Netflix, Jogo Perigoso pega
um dos livros maomeno de King e consegue transportar para às telas um
baita de um thriller, que, com o perdão do trocadilho, prende o
público, segurado inteiramente pela ótima Carla Gugino, numa crescente de
suspense, paranoia, medo primal e traumas do passado. Jessie é casada com
Gerald (vivido pelo também ótimo Bruce Greenwood), em uma matrimônio que anda
mal das pernas, e para tentar apimentar a relação, ele propõe uma viagem para
sua casa na floresta, onde quer realizar um jogo sexual fetichista, algemando a
moça na cama. Problema é que Gerald acaba sofrendo um ataque cardíaco e cai
duro no chão, mortinho da silva, deixando a viúva naquela situação
desesperadora, sem conseguir se livrar das algemas. Pior ainda, ela fica presa
ali naquele local a mercê de um cachorro desgarrado faminto, que passa a se alimentar
do seu marido defunto, e passa a sofrer uma série de alucinações, desidratação
e fome. Como desgraça pouca é bobagem, Jessie precisa também se vê obrigada em
seus devaneios e apagões em confrontar alguns fantasmas de sua infância que
foram enterrados profundamente, lhe trazendo memórias reprimidas de abuso. Quer
mais? Sua mente passa a vislumbrar uma estranha presença dentro da casa, uma
espécie de gigante deformado espreitando nas sombras, impossível de distinguir
se é algo real ou imaginário, fruto da privação do cárcere e da situação
limítrofe. Nessa mecânica simples de poucos cenários e atores, que se dividem
entre a situação complicada de Jessie no quarto e flashback de seu
passado durante um eclipse solar em sua adolescência (mesmo evento já narrado
por King em Eclipse Total), Flanagan, com total suporte da atuação de
Gugino, vai pouco a pouco despertando a tensão no espectador, amparada por sua
mente disfuncional que cria armadilhas mentais, e ao mesmo tempo, desenvolve
tentativas de sobreviver e bolar um jeito de escapar. O que culmina, sem dúvida
nenhuma, na cena mais agoniante do cinema de terror no ano, daquelas digna de
virar o rosto de lado. Bastante fiel às páginas, tirando alguns pequenos
detalhes, Jogo Perigoso segue sem novidades para quem o leu, mas para
o resto do público, é capaz de gerar uma certa decepção, principalmente quando
jogada luz a um específico elemento em seu final, ao trazer à tona a verdade
sobre a criatura que espreitava no escuro. Enquanto King trabalhou muito bem
essa sensação arrepiante de paranoia e impotência, algo que deu certo dentro do
contexto literário, no roteiro de Flanagan e Jeff Howard, esse elemento fica um
tanto jogado, mal aproveitado na totalidade de sua construção para alcançar o
fechamento do terceiro ato. Mesmo que o filme habilmente vá se mantendo durante
aqueles 90 minutos de atmosfera habilmente controlada pelo diretor,
infelizmente uma cena específica de sua conclusão, aquela do tribunal para ser
mais preciso, põe as coisas a perder. Enquanto tenta parecer emporderadora,
acaba soando caricata, momento de mais puro ridículo e entorna o caldo numa
experiência que poderia ser completa. Se terminasse uma mísera sequência antes,
talvez tivesse uma sorte melhor em seu encerramento. O Troféu Golden já teve
inúmeras obras adaptadas de formas vexatórias e medianas nas telonas e
telinhas, e Jogo Perigoso, tal qual sua contraparte de papel, pode não ser
nenhuma Brastemp, mas cumpre seu propósito de uma honesta produção Made
for Netflix, com lampejos geniais em alguns momentos, mas que acaba por figurar
sem grandes pretensões e com um final um tanto desgostoso, tudo por causa de
uma única cena.
3 algemas para Jogo Perigoso
Fonte: https://101horrormovies.com.br/review-2017-48-jogo-perigoso/
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