TERROR 2017 42 2017 IT: A COISA
Niia Silveira 06/09/2017
Caso raro de uma adaptação que deu certo é, quiçá,
o melhor filme de terror do ano
Se você se lembra da
minha contagem regressiva para a estreia de It: A Coisa você sabe que
eu estava alimentando altas expectativas para o filme. Porém, mesmo sabendo de
coração que essa nova versão tinha tudo para dar certo, devido a todos os
fatores positivos envolvendo a obra, ainda assim rolava aquele medo do negócio
dar errado. Sacomé, gato escaldado tem medo de água fria e, depois de quebrar a
cara um sem número de vezes me empolgando com filmes – principalmente baseados
na obra de Stephen King – que no final eram bem ruins, era normal uma pontada
de desconfiança, mesmo que pequena. Apesar de todo esse otimismo para com a
história, essa sensação de desconfiança cresceu de maneira absurda assim que
entrei na sala do cinema. Eu já estava pensando na maneira como eu viria, com o
rabo entre as pernas, dar as más notícias para os leitores do 101HM e
dizer que, mais uma vez, nos empolgamos a toa. Ledo engano. FELIZMENTE, É UM
FILMÃO DA P...! Há tantas qualidades aqui que eu nem sei por onde começar a
falar, mas juro que tentarei ser o menos fangirl possível, ok?
Confesso que foi muito difícil para eu analisar o filme de maneira mais
técnica, pois a cada minuto eu tinha um mini ataque cardíaco enquanto assistia,
afinal, cês já sabem que A Coisa é meu livro favorito da vida, tanto que eu já
o li sete vezes (não me julgue!). No entanto, o filme funciona muito bem até
mesmo para quem nunca leu a Bíblia de Stephen King, justamente pela direção
certeira de Andrés Muschietti e pelo desenrolar preciso da narrativa. O filme
já começa com a emblemática cena em que Georgie (Jackson Robert Scott) recebe
de seu irmão mais velho, Bill (Jaeden Lieberher) o famigerado barquinho de
papel e sai para as ruas de Derry, no Maine, para brincar nas enxurradas
formadas por uma forte chuva. Lá, como já sabemos, ele tem o fatídico encontro
com Pennywise, o Palhaço Dançarino (Bill Skarsgård), numa cena bem diferente da
apresentada em It – Uma Obra Prima do Medo,com um desfecho bem
mais violento... Passado um tempo, Bill ainda não desistiu de encontrar seu
irmão desaparecido. Pesquisando com uma planta roubada do escritório de seu
pai, ele acredita que o irmão pode ter ido parar no Barrens, uma área verde
afastada do centro, onde todos os esgotos da cidade desembocam. Nesse meio
tempo, ele reúne seus amigos Richie Tozier (Finn Wolfhard, o Mike de Stranger Things) o desbocado da turma, Eddie Kaspbrak
(o excelente Jack Dylan Grazer) frágil e sempre assustado, o meticuloso Stan
Uris (Wyatt Oleff), e juntos passam boa parte do tempo no córrego, aproveitando
o começo das férias de verão. Também conhecemos Ben Hanscom (Jeremy Ray Taylor)
que sofre nas mãos do valentão da escola, Henry Bowers (Nicholas Hamilton) e
sua trinca de amigos Belch, Victor e Patrick, que aterrorizam o pobre Ben por
ser, além do extrapeso, é o novato na cidade. Junta-se aos garotos a bela
Beverly Marsh (Sophia Lillis), que também tem uma vida conturbada, pois além de
lidar com o slut-shaming das meninas do colégio, que inventam coisas
absurdas sobre sua vida sexual, ainda vive com o pai abusador e agressivo e Mike
Hanlon (Chosen Jacobs), um garoto negro e humilde que vive numa fazenda com seu
avô, e aí está formado o Clube dos Otários. Juntos, começam a perceber que há
algo muito estranho na cidade, pois, além de Georgie, uma série de crianças e
jovens estão desaparecendo sem deixar vestígios. Ben, estudioso como ele só,
fez uma mega pesquisa sobre a cidade de Derry, e descobre que há alguns eventos
violentos na cidade, que acontecem esporadicamente (a cada vinte e sete anos),
e que sempre envolvem acidentes, chacinas e muitas mortes. Decidem, então,
investigar essa entidade misteriosa que parece morar nos esgotos subterrâneos
da cidade, e que está ceifando a vida de muitas crianças, o que culminará num
embate entre o Clube dos Perdedores e a Coisa.
Os atores do núcleo
infantil do filme são excelentes, e conseguem transmitir exatamente a sintonia
que o Clube dos Otários tem no livro de King. Além de entrosados, eles dão um
show de interpretação. Por falar em interpretação, quem surpreende
positivamente é Skarsgård, que está assustador no papel do temido palhaço.
Claro que sempre vai rolar uma comparação com Tim Curry, que interpretou o
Pennywise na primeira adaptação, mas pra mim esse novo palhaço vai realmente
assombrar a mente dos coulrofóbicos de plantão. Mesmo gostando muito do
resultado final, também consigo enxergar alguns pontos negativos na película,
como por exemplo, as discrepâncias em relação ao livro e uma certa quantidade
de liberdades poéticas. O trio de roteiristas responsáveis pela adaptação,
Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman, também optou por modificar a
cronologia da história: ao contrário do livro, que se passa no verão de 58,
aqui a infância dos Otários se passa em 1989, então se prepare para mais um
filme com um clima de total throwbacks, puramente oitentista, cheio
de referências da cultura pop da época, como posters de filmes, camisetas,
letreiros de cinema dos filmes da época, além da excelente trilha sonora, que
vai de The Cult a New Kids On The Block. Apesar do clima divertido e dos alívios
cômicos, não desaponta no quesito horror. Com quase nenhum jumpscare, fato
raro no cinema comercial do gênero na atualidade, o lado assustador do filme é
calcado nas cenas gráficas a construção de atmosfera, onde você fica realmente
tenso com o que se vê nas telas. A conclusão do filme, num primeiro momento,
foi um pouco decepcionante para mim, mas, depois analisando com calma, pude
notar que foi muito condizente com o filme, mais pé no chão, ao contrário do
final da primeira adaptação, que é um banho de água fria que destoa de todo o
resto. De um modo geral, acredito que o filme vá agradar tantos os fãs do
escritor ganhador dos Troféus Golden, quanto quem gosta de um bom filme de terror
num geral. Aliás, até mesmo quem nunca ouviu falar de King (o que acho
imperdoável, mas sei que acontece…) talvez fique interessado no trabalho do
autor, pois o burburinho que tem causado é enorme, com livrarias fazendo
eventos temáticos, uma pesada campanha de marketing da Warner e até mesmo
virando pegadinha do Silvio Santos. Pra nossa sorte, o estardalhaço é
proporcional à qualidade do filme. Caso raro de uma adaptação que deu certo,
entrando inclusive no ranking das melhores versões de uma obra do escritor para
as telonas, It: A Coisa é, quiçá, o melhor filme de 2017. Saí do
cinema com uma enorme sensação de satisfação, e já planejo ver novamente, pois
se até o próprio King, que é bem crítico com as adaptações (vide a birra que
ele tem com O Iluminado de Kubrick) já viu mais de uma
vez, é porque realmente vale a pena. Agora, só me resta flutuar enquanto espero
ansiosamente pela segunda parte, prevista para estrear em 2019. Provavelmente,
você flutue também…
5 balões flutuantes
para It: A
Coisa
Fonte:
http://101horrormovies.com.br/review-2017-42-it-a-coisa/
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