quarta-feira, 16 de maio de 2018

EL CHARRO DE LAS CALAVERAS (MÉXICO, 1965)


Direção:  Alfredo Salazar

Elenco:
Dagoberto Rodríguez, David Silva, Alicia Caro, Pascual García Peña, Laura Martínez, Rosario Montes, Carlos del Muro e Jose Luis Cabrera.

SINOPSE:

No México rural, um pistoleiro mascarado conhecido apenas como "O Cavaleiro das Caveiras" combate ameaças sobrenaturais, como lobisomens, vampiros, mortos-vivos, bruxas e o cavaleiro sem-cabeça.

Curiosidade:
Este foi o primeiro filme, escrito e dirigido por Alfredo Salazar, irmão de Abel Salazar, dois nomes de importância fundamental para o cinema fantástico Mexicano, foram responsáveis por clássicos cultuados e com fãs em todo o mundo como, El Vampiro, El Ataúde del Vampiro, El Mundo dos Vampiros, El Hombre y el Monstruo, Brainiac, La Nave de los Monstruos, varios filmes dos Luchadores mascarados Santo e Blue Demon, entre outras inúmeras pérolas do Terror e Sci Fi.

COMENTÁRIOS POR FELIPE M GUERRA (retirado de seu blog FILMES PARA DOIDOS)

Você sabe que está testemunhando um daqueles momentos mágicos da sétima arte quando topa com um filme como o obscuro western mexicano EL CHARRO DE LAS CALAVERAS, aka "The Rider of the Skulls" - em bom português, "O Cavaleiro das Caveiras". Não porque é um filme maravilhoso, nem porque é algum clássico perdido da cultura mundial, mas simplesmente porque ele resgata um tipo de mágica e de ingenuidade cinematográficas que parecem ter se perdido há décadas. Topei com EL CHARRO DE LAS CALAVERAS por puro acaso. Estava procurando alguma outra coisa no Google e a busca indicou este filme. A descrição era fantástica: "Weirdest western ever!". Sempre pensei que o western mais esquisito de todos os tempos fosse o fantástico "Matalo", de Cesare Canevari, então resolvi dar uma conferida nesse outro. Fiquei hipnotizado. Sabe o Dylan Dog, aquele personagem italiano de histórias em quadrinhos que investiga ameaças sobrenaturais? Pois o herói aqui, o tal "Charro de las Calaveras" do título, pode ser considerado uma espécie de avô cucaracha do Dylan Dog, igualmente combatendo monstros e fantasmas na zona rural mexicana - apesar da aparência de western, com pequenas vilas e pessoas a cavalo, o filme não se passa no século 19, mas sim numa cidadezinha dos anos 1960. Interpretado por Dagoberto Rodríguez, El Charro é um cavaleiro misterioso, todo vestido de preto e com três crânios bordados na camisa. Esconde o rosto com uma máscara porque, segundo ele, "a justiça não tem face". (Mais tarde descobrimos que seus pais foram mortos pelos bandidos e ele vingou-se de cada um deles, jurando sobre seus cadáveres que combateria todo o mal e injustiça do mundo. Enfim, um plágio disfarçado do Fantasma do Lee Falk, misturado com o visual do Zorro/Lone Ranger!). O primeiro e único filme do personagem na verdade não é um filme, mas a união de três episódios de um daqueles velhos seriados exibidos nos cinemas de antigamente antes que começasse a atração principal. O cartaz anuncia até o título dos episódios: "El Lobo Humano", "El Vampiro Sinistro" e "El Jinete sin Cabeza". Assim, a cada 25 ou 30 minutos, nosso herói inicia uma nova aventura fechada e auto-conclusiva com outros personagens e monstros. Não quer dizer, entretanto, que El Charro algum dia foi exibido como seriado. Inclusive nunca foram produzidas outras aventuras: só existem mesmo estes três episódios unidos em forma de longa. Eu li certa vez, em algum lugar, que esta prática era comum no México da época, pois havia muito mais incentivos para a produção de seriados do que para longas. Por isso, realizadores espertinhos filmavam dois ou três episódios de uma suposta futura série e depois juntavam todo o material para lançar como se fosse um único longa-metragem! EL CHARRO DE LAS CALAVERAS começa com a viciante canção-tema do herói, cantada a plenos pulmões pelo "TRIO CALAVERAS". Como os menestréis da Idade Média, eles celebram os feitos do personagem ("Amigo del justo / Y con los canallas / Fue por sus hazañas / Un gran paladín"), dando todo o clima do espetáculo que virá pela frente! EL CHARRO DE LAS CALAVERAS é o primeiro filme dirigido pelo célebre roteirista Alfredo Salazar, que faz uma ponta como a primeira vítima do vampiro. Nascido em 1922, durante quatro décadas ele foi responsável por escrever roteiros que mais pareciam histórias em quadrinhos ou "pulp fictions" (aqueles livrinhos de rodoviária), mais ou menos como o Rubens Francisco Luchetti fez aqui no Brasil (escrevendo primeiro os roteiros do Mojica, depois do Ivan Cardoso). Salazar costumava escrever aventuras absurdas juntando criaturas fantásticas de maneira surreal, em títulos como "La Momia Azteca Contra el Robot Humano", de Rafael Portillo, "Las Luchadoras Contra la Momia", de René Cardona, e até uma versão feminina do Batman, "La Mujer Murciélago", também dirigido por Cardona. Também foi Salazar quem mais colocou o lutador mascarado El Santo para combater ameaças sobrenaturais, escrevendo as aventuras "Santo y Blue Demon vs Drácula y el Hombre Lobo", "Santo en La Venganza de la Momia", "Santo en El Tesoro de Drácula", e muitas outras. Ou seja, o negócio do sujeito era fazer crossover entre todos esses monstros e heróis mascarados, mas sem muito compromisso com a lógica nem muita explicação (usando a velha estratégia "se colar, colou")!  Tanto que ninguém perde tempo explicando a origem do lobisomem e do vampiro em EL CHARRO DE LAS CALAVERAS, e a história por trás do cavaleiro sem cabeça é narrada em três minutinhos. Salazar joga no lixo até as convenções clássicas dos personagens, pois o lobisomem é morto sem a necessidade de balas de prata! Roteiro e direção do filme também lembram muito uma história em quadrinhos, em seu desenvolvimento, narrativa e até composição das imagens (há uma cena em que ele mostra tiros em primeira pessoa décadas antes de isso ficar popularizado nos videogames). Salazar não enrola e dá ao público exatamente o que ele quer, inclusive repetindo numerosas vezes as cenas fantásticas (transformação de homem em lobisomem e de morcego em vampiro), mesmo que os efeitos não sejam lá grande coisa. Salazar não é erudito, é econômico: seu vampiro não fica lamentando a vida imortal, e seu lobisomem não fica choramingando a maldição de virar fera na Lua Cheia, como é moda no cinema fantástico atual. O mais perto disso que o filme chega é no último episódio, quando o cavaleiro sem cabeça discute com Deus (!!!), reclamando que não vai descansar em paz. Ainda assim, é uma cena curta e que não está ali só para encher linguiça. É uma pena, portanto, que esse seja o primeiro e único filme de El Charro de las Calaveras, pois, além de ser muito divertido, o personagem teria grande potencial para continuar varrendo o México de ameaças sobrenaturais. Se bem que depois de vampiros, lobisomens e mortos-vivos, não sobraram muitas criaturas poderosas para o herói detonar numa futura aventura... Bem que alguém podia criar um "Cavaleiro das Caveiras" brasileiro, para livrar o interior do país de criaturas igualmente ameaçadoras como a Mula Sem Cabeça, o Chupa-cabras, o ET de Varginha (ou, agora, ET Bilú) e o zumbi Oscar Niemeyer! 

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