TERROR 2018 24 EXORCISMOS E DEMÔNIOS
Produção com
exorcismos, demônios e possessões das mais ortodoxas
Em 2018 no Ano do
Nosso Senhor, aparentemente o senso comum, quando se trata do subgênero
exorcismo, demônios e possessões, é que já vimos absolutamente de tudo nas
telas, formatado dentro de um velho padrão maniqueísta e repleto de clichês
(corpos levitando, se contorcendo, vozes guturais, olhos com as pálpebras
negras sem pupila, boca suja, lascívia, etc.), quase nunca trazendo nenhum tipo
de novidade para o front. Quando, vez ou outra, algum sopro de frescor no
roteiro, ambientação ou narrativa é apresentado ao público, é sempre louvável,
exatamente por podermos assistir outros desmembramentos de um tema tão batido.
Como exemplos recentes, temos: O Último Exorcismo, sob o ponto de vista
protestante; Possessão, sob o ponto de vista judeu; A Possessão de
Deborah Logan, um mockumentary que traz a adoração do coisa-ruim por
uma seita oculta, ou Marcas da Possessão,
que enfoca com humor as consequências da vida de uma vítima pós-exorcismo. Exorcistas
e Demônios podia muito bem ser mais um desses casos, uma vez que sua trama
se passa em um vilarejo rural da Romênia e retrata as tradições da Igreja
Ortodoxa. Um aviso legal aqui: minha avó materna era romena, então eu sempre
paguei um pau para as missas ortodoxas, que frequentava quando criança junto
com a minha família na Igreja Santíssima Trindade, a primeira igreja russa
ortodoxa da cidade de São Paulo, na Vila Alpina, região que concentrava muitos
imigrantes do Leste Europeu na capital paulista e o qual morávamos próximos. Adorava
todo o ritual, o clima soturno – bem diferente da Igreja Católica Apostólica
Romana – as pinturas, afrescos e imagens com uma figura de Jesus moreno – que
não tinha aquele visual caucasiano bronzeado e sarado, loiro de olhos azuis,
que parece ter saído da mistura de um comercial da Banana Boat com a Wella – o
padre sisudo de longa barba negra e bata arrastando no chão que passava
defumando o ambiente revezando-se enquanto rezava a missa, grande parte cantada
em russo, de costas para os beatos e virado para o altar. A triste verdade é
que o novo filme de Xavier Gens, cria do new french extremity e
diretor dos absurdamente fodas (A) Fronteira e O
Abrigo, já é seríssimo candidato a um dos piores do ano,
infelizmente. Exorcistas e Demônios é um caminhão de situações
clichês, didatismo exacerbado que julga a inteligência do espectador (a ponto
de explicar passo a passo as etapas de um exorcismo segundo um antigo
livro whatever meu cu), jumpscare sem limites, personagens
fraquíssimos, um final mequetrefe e manjadíssimo e uma cacetada de
incongruências e falhas no roteiro que fica difícil de engolir. Talvez o pior
de todos seja o fato da protagonista que é praticamente uma jornalista foca
americana, com seus 20 e poucos anos (nada contra, tenho até amigas que são!),
viaja para a Romênia para investigar o caso de uma freira possuída que foi morta
durante um ritual de exorcismo, envolvendo sua crucificação, que deu
miseravelmente errado e o padre responsável preso, se manda para a paróquia que
fica em um vilarejo afastado no interior do país que parece não ter saído da
Idade Média, repleto de velhos religiosos, fazendeiros e ciganos, e consegue
facilmente acesso a toda informação que precisa com todos mega solícitos. E ah,
detalhe mais importante: TODO MUNDO LÁ FALA INGLÊS! Bom, pior que isso é só
aquela velha situação de terror forçadísisma enquanto a moçoila passa a ser
acossada pelas forças das trevas, sofrer altos tipos de tentações medíocres
(mosca aparecendo no copo de vinho e sonhos eróticos com o padre? Qualé?),
abusar de tudo quanto é tipo de expediente do gênero já visto à exaustão, uma
fácil e ridícula conclusão, e tudo regado a muito barulho abrupto ensurdecedor
para assustar, ao invés de investir em um longa completamente atmosférico,
abusando da linda paisagem medieval e sinistra do interior romeno, captada pela
excelente fotografia de Daniel Aranyó, única coisa que se salva do filme
inteiro. Exorcistas e Demônios é aquele exemplo perfeito de uma
oportunidade de ouro – a abordagem soturna dos rituais de exorcismo sob o ponto
de vista de uma dissidência da Igreja Católica, uma história baseada em um fato
real e comandada pelo diretor de dois dos melhores filmes dos últimos 11 anos –
completamente desperdiçada para entregar um engodo de um terror convencional e
bastante ortodoxo (no mal sentido!) que não vale nem a pipoca.
1 Igreja Ortodoxa
no interior da Romênia para Exorcismos e Demônios.
FONTE:
http://101horrormovies.com.br/review-2018-24-exorcismos-e-demonios/
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