Direção:
Orson Welles
Produção:
Sam Spiegel
Roteiro:
Anthony Veiller, Victor Tivas, Decia Dunning
Fotografia:
Russell Metty
Música:
Bronislau Kaper
Elenco:
Edward G. Robinson … Sr. Wilson
Loretta Young ………… Mary Longstreet
Orson Welles …………. Professor Charles Rankin
Philip Merivale ……….. .Juíz Adam Longstreet
Richard Long …………..Noah Longstreet
Ainda: Konstantin Shayne, Byron Keith, Billy House, Martha Wentworth
Indicação
ao Oscar: Victor Trivas (roteiro)
Festival
de Veneza: Orson Welles (Indicação - Leão de Ouro)
O filme
menos conhecido de Orson Welles como diretor, O estranho foi um projeto de médio
orçamento que ele aceitou do produtor Sam Spiegel para provar que conseguiria fazer
um "filme dentro dos padrões, comercial". Representante de uma série
de thrillers realizados imediatamente após a guerra sobre a perseguição de
criminosos nazistas (dentre outros exemplos estão Acossado [1945] e Interlúdio
[1946]), este filme remete à reputação antifascista conquistada por Welles com
sua famosa montagem de Júlio César e chega até a encontrar eco em um romance
que ele considerou filmar antes de decidir que Cidadão Kane (1941) seria seu
projeto de estreia: The Smiler With a Knife, o livro de mistério anterior à
guerra de Nicholas Blake sobre o fascismo inglês. Wilson (Edward G. Robinson),
designado como investigador do governo, persegue o carismático nazista Franz Kindler
- que é supostamente o inventor dos campos de extermínio - até uma pequena
cidade universitária em Connecticut. Kindler está fingindo ser o professor de
história Charles Rankin e acaba de se casar com Mary (Loretta Young), a filha
de um juiz da Suprema Corte. Menos complicado do que o triângulo político-amoroso
de Interlúdio, o filme se estrutura sobre um tema parecido, à medida que Wilson
tenta persuadir Mary a delatar seu marido cruel, antes de se tornar uma
variante daqueles thrillers populares na década de 40 (como À meia-luz [1944] e
Inspiração trágica [1947]), no qual um esposo malvado planeja assassinar sua
mulher inocente. Welles interpreta um vilão übermensch convincente entregando-se
em um diálogo em que afirma que "Marx não era alemão, ele era judeu",
sua podridão destilando-se no mundo insignificante da cidadezinha pitoresca à
medida que dá vazão a seu hobby obsessivo, consertando um relógio antigo. O
estranho ainda tem a força visual de Welles, porém, em 1946, os filmes noir já
haviam absorvido seu amor pelas sombras e pelo grotesco, de modo que ele acaba
se misturando ao outras representantes do gênero. O filme se torna
especialmente melodramático no clímax, que se dá no topo de uma escada sabotada
na torre do relógio. Kindler é encurralado como King Kong e morto por um boneco
mecânico das engrenagens do relógio, que o empala com sua espada estendida - o
tipo de violência explícita justificável em um filme hollywoodiano de 1946, se
o vilão fosse um nazista não-arrependido. Antecipando David Lynch por décadas, Welles
estabelece uma atmosfera amigável de cidadezinha do interior e a subverte, com
filósofos de farmácia que roubam no jogo de damas e rainhas do baile que se
casam com fascistas. KN
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE
MORRER 187)
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