sábado, 31 de dezembro de 2016

O CASTELO DOS MISTÉRIOS (You'll Find Out, EUA, 1940)


DIREÇÃO : David Butler

ELENCO
Kay Kyser                 Kay Kyser
Peter Lorre                Prof. Karl Fenninger
Boris Karloff   Juiz Spencer Mainwaring
Bela Lugosi              Príncipe Saliano
Helen Parrish          Janis Bellacrest
Dennis O'Keefe       Chuck Deems
Alma Kruger             Tia Margo Bellacrest
Joseph Eggenton   Jurgen, o mordomo
Kay Kyser Band      eles mesmos
Ginny Simms           Ginny Simms
Harry Babbitt           Harry Babbitt
M.A. Bogue              Ish Kabibble
Sully Mason             Sully Mason






SINOPSE

A doce Janis Bellacrest contrata o KOLLEGE OF MUSICAL KNOWLEDGE para tocar em seu aniversário de 21 anos no castelo do falecido pai. Kay Kyser e toda a sua trupe, que incluem, Ish Kabibble, Sully Mason, Harry Babbit e a bela Ginny Simms chegam à estranha mansão cercada de peças exóticas que o falecido pai de Jane colecionava pelos confins do mundo, até ser esquartejado por uma tribo indígena que o acusou de profanar seu templo. Mas a irmã do falecido, a tia Margo, acredita poder falar com os mortos e contrata o médium Príncipe Saliano (BELA LUGOSI), para poder conduzir sessões espíritas com a ajuda de seu advogado e amigo da família, o juiz Spencer Mainwaring (BORIS KARLOFF). Porem Janis não acredita no tal médium e convida o pf. Karl Fenninger (PETER LORRE)para desmascará-lo. Mas estranhos acidentes fazem com que a jovem filha do milionário acredite que alguem esteja querendo assassiná-la por algum motivo desconhecido.

COMENTÁRIOS
POR CARTWRIGTH

RECOMENDO AOS AMIGOS DO SPACE MONSTER QUE LEIAM ESTES COMENTÁRIOS, ANTES OU DEPOIS DE ASSISTIREM AO FILME, PARA QUE CONSIGAM ENTENDER ALGUMAS PASSAGENS CÔMICAS.

Segundo dos sete filmes que a banda de KAY KYSER fez para o cinema, depois do enorme sucesso de seu programa de rádio Kay Kyser's Kollege of Musical Knowledge, quando estreou na MUTUAL em 33 e atingiu o maior índice de audiência a partir de 38, ao se transferir em caráter nacional para a NBC. Chegou a ser registrado cerca de 20 milhões de aparelhos ligados o que foi uma marca imbatível, considerando o ano e população vigente. Kay Kyser foi um inovador, sempre adicionando recursos eletrônicos como o SONOVOX, que o cantor HARRY BABBIT usava e causava um enorme encanto no público.
Após KAY, esse recurso eletrônico passou a fazer parte de muitos projetos de cinema, animação e discos. DISNEY usou o aparelho para fazer a voz do trenzinho no longa DUMBO e em "The Reluctant Dragon". Um dos projetos mais mais conhecido da criançada em 47 foi WHIZZER THE TALKING AIRPLANE, que também usava os recursos do SONOVOX. Mas Kay seria sempre lembrado como o pioneiro na adição de eletrônica na música popular do país. Kay também criava gags e cenas cômicas com sua orquestra, que pegavam o público de surpresa. Sua característica principal no programa de rádio eram as famosas sabatinas em que convidados respondiam perguntas e se não soubessem ele gritava: STUDENTS! para a platéia que respondia. Isso está bem mostrado no inicio de YOU'LL FIND OUT, que pra mim é o melhor dos sete longas da banda. Além do que, reuniu um trio da pesada em termos de terror clássico, que foram BORIS KARLOFF, BELA LUGOSI e PETER LORRE. Foi a única vez que os três participaram num mesmo filme, mais pelo fato de que PETER LORRE e BELA LUGOSI, apesar de conterrâneos originais da HUNGRIA, nunca haviam atuado juntos e não voltariam mais a fazê-lo. Mas o filme tem várias insinuações entre eles, de gozação, como quando BELA menciona sobre o INVISIBLE RAY, um filme que ele e KARLOFF atuaram. O filme tem gags terríveis (que seriam de pouca compreensão no Brasil) como quando KAY fala em BING CROSBY, que tinha na verdade 4 filhos e havia um um filme no mesmo ano de YOU'LL FIND OUT, chamado My Son, My Son dirigido por CHARLES VIDOR. Assim KAY diz que CROSBY faria um filme chamado MY SON, MY SON, MY SON, MY SON. Há outras referências, como THE SPIRIT OF '76, um famoso quadro de Archibald Willard, conhecido como YANKEE DOODLE, pintado em 1875, quando uma das amigas da Janis, menciona não querer ver espíritos. É mencionado a rede de lojas HOBBY LOBBY fundada em Oklahoma City, quando KAY entra no quarto do falecido, repleto de estátuas bizarras e toda a sorte de peças exóticas indígenas. Depois pergunta se quem decorou o quarto foi Robert LeRoy Ripley, criador das tiras ACREDITE SE QUISER. Tem algumas piadas e trocadilhos que seriam impossíveis de se fazer uma tradução pé-da-letra, por isso eu fiz algumas adaptações para torná-las mais cômicas em nossa língua. KAY KYSER foi um ídolo máximo para os americanos, sua vida foi exemplo para muitas gerações e ao  abandonar a carreira e a banda em 1950, voltou para sua terra natal, em CHAPEL HILL na CAROLINA DO NORTE e lá começou uma campanha para a melhoria do atendimento de saúde, considerado um dos piores dos ESTADOS UNIDOS. Com suas campanhas, em que até incluiu uma gravação com FRANK SINATRA e DINAH SHORE chamada "It's All Up To You", tornou a sua cidade Número Um em qualidade de saúde pública. Sua atuação deu grande resultado e a CAROLINA DO NORTE passou a ser um dos mais importantes centros médicos do país. KAY teve um tórrido romance com a cantora GINNY SIMMS, mas em 43, ela deixou a orquestra para se dedicar à carreira solo, quando então em seu lugar surgiu GEORGIA CARROLL, que ele conheceu durante suas apresentações para os soldados durante a 2ª Guerra, em 44, quando ela tinha apenas 17 anos e era uma modelo que aparecia nas capas das principais revistas como VOGUE. Logo ela assumiria o lugar de GINNY e então se casaram, vivendo com KAY até a morte dele em 85. Seu memorial é um dos lugares mais visitados e homenageados de CHAPEL HILL, quando após sua retirada, passou a atuar como um grande arrecadador de fundos para diversos projetos do estado da CAROLINA DO NORTE, entre os quais, a North Carolina Symphony, North Carolina Safe Driving Program e também para a Playmaker's Theater, sendo tido como o responsável pelo erguimento desses projetos. Ele passou os anos finais de sua vida, ao lado de GEORGIA CARROL em sua casa simples, que ele havia herdado dos pais em CHAPEL HILL, o qual reformou pois ela quase foi demolida pela cidade, que havia condenado o imóvel. KAY lançou um grande número de discos que em um deles continha a música indicada ao OSCAR neste filme, "I'd Know You Anywhere", maravilhosamente interpretada por GINNY SIMMS e que foi usado na série PERDIDOS NO ESPAÇO, como tema para PENNY (interpretado pela minha amada priminha ANGELA CARTWRIGHT). GINNY foi considerada uma das mais belas vozes do país(e de rosto também) e quando rompeu seu romance com KAY, saindo da banda, participou de um filme da dupla ABBOTT e COSTELLO, "Hit the Ice" em 43 e continuou brilhando até que o chefão da MGM, LOUIS B. MAYER a pediu em casamento, o que ela recusou, tendo desde então, dificuldades em seguir carreira, vendo sempre as portas se fechando para ela. Mas além do excelente HARRY BABBIT, SULLY MASON( que foi o co-fundador da orquestra de KAY KYSER )e de tantos instrumentistas de talento, o maior destaque a banda fica por conta do engraçadíssimo, MERWIN BOGUE, exímio trumpetista, que adotou o nome de ISH KABIBBLE, uma denominação iídiche(a língua  falada pelos judeus) que significa: "Quem, eu me preocupar?". O sucesso de ISH foi tão grande que até a revista Mad, criou seu personagem principal, ALFRED E NEWMAN, usurpando a idéia original de MERWIN. ISH e seu cabelo franjinha, foi um símbolo marcante durante o período de grande sucesso da KAY KYSER'S KOLLEGE OF MUSICAL KNOWLEDGE, sendo que apesar de seu personagem gaiato, ISH era o empresário da banda até ela terminar e foi um dos maiores amigos pessoais de KAY, que o considerava um gênio intelectual e sério homem de negócios. Para o filme YOU'LL FIND OUT, os efeitos especiais, poucos mas aplicados com eficiência, ficaram a cargo do mestre VERNON L WALKER, que entre tantos trabalhos, foi o diretor de fotografia de KING KONG de 1933, além de outros dos filmes da KAY KYSER'S KOLLEGE OF MUSICAL KNOWLEDGE. Mas acreditem que apesar dos hits de KAY KYSER terem atingindo uma média de 11 canções em primeiro lugar nas paradas americanas, durante os anos 40, o que era um feito raro, só ultrapassado recentemente por MADONNA com 12 hits e por MICHAEL JACKSON com 13 hits, um dos seu maiores êxitos, foi quando interpretou pela primeira vez, "The Woody Woodpecker Song" em 48, ficando no topo absoluto de vendas e foi indicado ao OSCAR de melhor canção. A canção foi feita para o cartoon, WET BLANKET POLICY de 48, interpretada por GLORIA WOOD com o riso feito por HARRY BABBIT. O sucesso foi tão grande para o personagem criado por BUGS HARDAWAY, que o produtor WALTER LANTZ, a partir desse cartoon, passou a usar a canção como tema do pássaro biruta.

a canção THE WOODY WOODPECKER SONG, um dos maiores sucessos de venda de KAY KYSER.

Eis a letra completa da composição de GEORGE TIBBLES e RAMEY IDRISS:

Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
Oh, that's the Woody Woodpecker song
Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
Yeah, he's a-peckin' it all day long

He pecks a few holes in a tree to see
If a redwood's really red
And it's nothing to him, on the tiniest whim
To peck a few holes in your head

Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
Oh, that's the Woody Woodpecker's tune
Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
Makes the other woodpeckers swoon

Though it doesn't make sense to the dull and the dense
And the lady woodpeckers long for
Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
That's the Woody Woodpecker song

Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
Woody Woodpecker's serenade
Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
On the woodpecker hit parade

Though he can't sing a note, there's a frog in his throat
All his top notes come out blurred
He's the ladies' first choice, with a laugh in his voice
He gives all his rivals the bird

Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
He'll be settlin' down some day
Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
He'll be hearin' the preacher say

For the rest of your life, you'll be woody and wife
And the choir will sing along with
Ho-ho-ho ho ho, ho-ho-ho ho ho
The Woody Woodpecker song 

O MONSTRO DO INFERNO VERDE (Monster From Green Hell, EUA, 1957)


DIREÇÃO: Kenneth G. Crane

ELENCO:
Jim Davis          Dr. Quent Brady
Robert Griffin     Dan Morgan 
Joel Fluellen      Arobi
Barbara Turner   Lorna Lorentz
Eduardo Ciannelli  Mahri
Vladimir Sokoloff  Dr. Lorentz

SINOPSE:
Antes de lançar o primeiro voo tripulado ao espaço, o governo dos EUA está conduzindo uma série de experiências sobre os efeitos da radiação cósmica nos seres vivos. Animais e insetos são enviados ao espaço, deixados em órbita por um breve período de tempo e quando retornam são estudados para ver se continuam saudáveis. Numa dessas experiências, um foguete contendo vespas permanece no espaço mais tempo do que o planejado. O radar não consegue acompanhar sua trajetória, mas computador do centro espacial calcula que o foguete deverá cair numa determinada região da África. Meses depois, um dos cientistas responsáveis pelas pesquisas lê uma reportagem sobre estranhos acontecimentos na África Central. Desconfiado que isso possa ter alguma ligação com as vespas que receberam uma dose excessiva de radiação cósmica, ele organiza uma expedição até o local.

COMENTÁRIOS: POR CARLOS SOLRAC
Antes de decidir se vale a pena ler esses comentários ou assistir a essa “superprodução”, um aviso importante: numa avaliação feita por 534 usuários no site do IMDb (Internet Movie Database) esse filme recebeu uma nota média de 3,3 pontos (numa escala vai de 0 a 10). O Monstro do Inferno Verde foi lançado nos Estados Unidos em 17 de maio de 1957. É um filme do gênero ficção científica e terror. Foi dirigido por Kenneth G. Crane. O filme começa mostrando o que é para ser uma base de lançamento de foguetes em algum lugar do oeste americano. Logo em seguida, uma narração em off nos esclarece que antes de lançar o primeiro voo tripulado ao espaço é preciso saber se a vida “permanece saudável e intacta após os voos espaciais”. Essa pesquisa está sendo conduzida pelo Dr. Quent Brady (Jim Davis – esse Jim Davis não é o mesmo Jim Davis criador do gato Garfield) e seu colega Dan Morgan (Robert Griffin). Animais e insetos são enviados ao espaço por breves períodos de tempo e quando retornam, são observados para verificar se continuam saudáveis após a exposição à radiação cósmica. E para dar mais credibilidade ao assunto, o narrador é o próprio Dr. Brady. Então, numa das salas do centro espacial, vemos os nossos pesquisadores próximos de algumas gaiolas contendo, segundo o Sr. Morgan, um macaco, vespas e um caranguejo-aranha, além de um porquinho-da-índia. Ele propõe embarcar os “passageiros” e logo em seguida vemos um foguete sendo preparado para o lançamento. Até aqui, nenhuma surpresa. Logo depois, dentro de um bunker onde está localizado o centro de controle, o Sr. Morgan diz ao seu colega Dr. Brady que já está chegando a hora de lançar os foguetes. Lançar os foguetes? Eles vão lançar mais de um foguete? Eles mostram um foguete sendo preparado e vão lançar dois? Será que o Sr. Morgan não se enganou? Após uma rápida contagem regressiva vemos um foguete sendo lançado, e logo depois um segundo foguete. Mas, espere… Um terceiro foguete foi lançado? Três foguetes foram lançados quase que simultaneamente? Ou será que é o mesmo lançamento sendo mostrado três vezes em ângulos diferentes para a cena ficar mais detalhada e emocionante? Ou será que um dos foguetes era para o macaco e o porquinho-da-índia, o outro para as vespas e mais um outro para o caranguejo-aranha? Isso é muito estranho! Ainda no centro de controle, o Dr. Brady e o Sr. Morgan estão jogando conversa fora quando um dos técnicos avisa que o segundo foguete não está retornando. Nesse momento são mostrados três monitores, sendo que no segundo as formas de ondas são diferentes das mostradas no primeiro e no terceiro. E, de repente, a imagem da segunda tela desaparece e a conclusão deles é que o segundo foguete está fora do alcance do radar. Agora ficou claro que realmente eles lançaram três foguetes! Todos ficam preocupadíssimos. O Sr. Morgan, depois de conferir alguns dados do voo com um outro técnico, olha seriamente para o Dr. Brady e diz: “Quent, let's go ask the computer a few questions.” (“Quent, vamos fazer algumas perguntas ao computador.”). Será que ele está desconfiado que o computador tem alguma coisa a ver com o sumiço do segundo foguete e irá interrogá-lo? Eles vão até a sala onde está o computador, que é a mesma sala onde estavam as gaiolas com os bichos. Agora podemos ver que esse computador não passa de simples painéis instalados sobre o que parece ser um “moderno gabinete de cozinha de aço de boa marca e ótima qualidade a venda nas melhores casas do ramo”. O Sr. Morgan pega um microfone, lê em voz alta os dados que ele havia anotado numa prancheta, aciona alguns dos botões e o computador começa a fazer uns barulhos estranhos. Depois, ele pega um fone de ouvido, coloca-o junto ao ouvido e começa a escrever alguma coisa na prancheta. Não seria mais prático se ele tivesse uma impressora ou que lesse a resposta num monitor do que ter que anotar com uma caneta a resposta que o computador cochichou em seu ouvido? Mesmo com dados insuficientes o computador informa que o foguete, depois de orbitar a terra, cairá em algum lugar próximo da costa africana. E o Sr. Morgan nos mostra num globo terrestre o provável local da queda. O maior receio era de que o foguete caísse sobre alguma área habitada. Nesse caso, eles teriam sérios problemas. Algum tempo depois surgem “problemas” na África. Mas não porque um foguete caiu sobre uma área habitada. É que corria um boato que alguns monstros apareceram por lá. E então conheceremos o Dr. Lorentz e sua filha Lorna, além de seu fiel escudeiro Arobi. Depois de permanecer embrenhado nas selvas africanas dedicando boa parte de sua vida aos nativos, o nosso bom Dr. Lorentz tornou-se sujeito meio confuso. Isso pode ser comprovado quando ele afirma enfaticamente que uma coisa tem certa semelhança com outra, mas que ao mesmo tempo é completamente diferente.

Quando as notícias sobre os estranhos acontecimentos chegam aos jornais, o Dr. Brady informa sobre suas suspeitas ao “Alto Comando”, em Washington, que aprova sua viagem até aquela região africana para verificar o que realmente está acontecendo por lá. Já na África, o Dr. Brady entra em contato com o Agente Territorial em Libreville (a cidade de Libreville é a capital do Gabão, que de 1910 até 1959 fez parte da África Equatorial Francesa). Esse agente diz que vai organizar um safari (o termo correto não seria uma expedição?) para que eles cheguem até uma região que os nativos chamam de “Inferno Verde”. Mais tarde saberemos que terão à sua disposição o melhor guia da região, um árabe chamado Mahri. Mas o Dr. Brady começa a ficar impaciente com a demora e diz ao seu amigo Sr. Morgan que já faz “uma semana e três dias” que eles estão parados ali, em Libreville, e nada do safari começar. Uma semana e três dias? Não seria muito mais fácil dizer que são dez dias? Mas, segundo o Sr. Morgan, o motivo dessa demora é que se leva muito tempo para conseguir as bijuterias e os espelhinhos para se oferecer aos nativos hostis. Até que finalmente o safari tem início. A previsão é de 27 dias de caminhada pelas savanas africanas. Mahri, o experiente guia, é um sujeito muito corajoso pois a única arma que ele precisa para enfrentar os terríveis perigos daquela região é um simples chicote. E também é muito esperto, pois mesmo sendo o guia do tal safari ele nunca vai na frente liderando o grupo. Mas... eles não estavam na era dos foguetes, dos jatos, da energia atômica, quando o homem se preparava para alcançar as estrelas? Não foi o “Alto Comando” em Washington que aprovou a viagem deles até a África? Eles pousam em Libreville num voo da TWA, mas não tinham à sua disposição um simples helicóptero? Como é que o governo americano permite que dois de seus renomados especialistas e responsáveis pelo futuro dos voos tripulados ao espaço fiquem zanzando semanas pelas savanas africanas quando um simples helicóptero poderia levá-los até o local desejado em questão de horas? A partir de agora, os interessados em continuar nesse “safari” para saber como termina essa fantástica aventura já devem estar cientes dos riscos envolvidos caso decidam juntar-se a esse grupo de homens valorosos e destemidos. Mesmo assim, recomendo pensar bastante antes de tomar a decisão de prosseguir nessa jornada. Só lembrando: em Riders to the Stars (1954) também houve um lançamento triplo quase que simultâneo com uma diferença de alguns segundos entre cada lançamento. Mas em cada foguete havia um astronauta e a missão deles era capturar um meteoro de tamanho razoável e trazê-lo intacto para a Terra antes que ele se desintegrasse ao entrar em nossa atmosfera. De acordo com Riders to the Stars os raios cósmicos cristalizavam e pulverizavam os metais e minerais fora da proteção da atmosfera terrestre. Os foguetes não resistiam ao forte bombardeamento dos raios cósmicos, e que também por essa mesma razão a lua estava se transformando numa “bola de poeira”. Usar o chumbo como proteção era inviável, porém sabia-se que os meteoros viajavam intactos através do espaço por milhares de anos queimando-se apenas quando entravam em nossa atmosfera, e que portanto eles deviam estar protegidos de alguma forma. A ideia era justamente capturar, nos limites da atmosfera terrestre, algum meteoro para descobrir que tipo de proteção natural eles possuíam.


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A BRUXA DE BLAIR (Blair Witch, EUA, 2016)


SINFONIA DA NECRÓPOLE (Brasil, 2014)

Ópera do cemitério


Já há alguns anos, o cenário teatral de Rio de Janeiro e São Paulo conta com uma infinidade de musicais. Alguns derivados de sucessos da Broadway, outros biografias de músicos renomados e alguns poucos baseados em canções originais, criadas para os palcos. Talvez seja este o trabalho mais complexo, pela difícil tarefa de compôr músicas que se adéquem à história e, ao mesmo tempo, tragam uma sonoridade que conquiste o público. Pois no cinema brasileiro há um caso destes, ainda pouco conhecido: Sinfonia da Necrópole.
Primeiro trabalho solitário de Juliana Rojas na direção – ela já havia comandado Trabalhar Cansa, ao lado de Marco Dutra -, Sinfonia da Necrópole é, acima de tudo, um filme ousado. Não apenas por ser um musical com canções originais, algo raríssimo no cinema brasileiro, mas também pelo fato de sua históra girar em torno de um... cemitério! Ao invés do esperado tom fúnebre, pode-se ver uma história inspirada e divertida, ambientada por canções de vários estilos, sem jamais perder o tom respeitoso.
O personagem principal é um insólito coveiro medroso, Deodato (o competente Eduardo Gomes), que precisa trabalhar ao lado de Jaqueline (Luciana Paes, bem em cena), funcionária do serviço funerário, na tarefa de remodelar o cemitério de forma que o local abrigue mais jazigos. Nesta reforma agrária às avessas impulsionada pelo capitalismo, uma boa quantidade de túmulos precisa ser transferida para um cemitério vertical, cuja capacidade de abrigar ossadas é bem maior – ou seja, mais dinheiro à vista.
Trilha sonora à parte, há dois achados no filme: a sensibilidade de Deodato em confronto permanente com a decidida Jaqueline, que rende toda uma parábola envolvendo um possível romance entre os dois,  e a fauna do cemitério. Do administrador ao padre local, passando pelo hipocondríaco e a dona da loja que vende flores para enterros, o filme oferece coadjuvantes que dão um charme extra pela naturalidade com a qual estão inseridos na trama principal. Mérito do roteiro, escrito pela própria diretora, que com habilidade inclui elementos típicos do ambiente de um cemitério de forma leve, provocando um contraponto delicioso.
Sinfonia da Necrópole - FotoEntretanto, é impossível falar de Sinfonia da Necrópole sem mencionar a proeza de seus números musicais. O primeiro deles, um sambinha que começa com o batucar das pás dos coveiros, é de uma naturalidade desconcertante, já que até então o filme sequer insinua qualquer compromisso com o musical. As letras, compostas por Juliana e Marco Dutra, são sempre de acordo com o momento do filme e, em vários casos, conduzem a própria história, no melhor estilo Os Produtores. Impressiona também a qualidade de canto do elenco como um todo, e a diversidade de estilos musicais. Por exemplo: a canção que anuncia o cemitério vertical, protagonizada por Hugo Villavicenzio, remete às músicas cantadas por David Tomlinson em Mary Poppins, pelo timbre de voz. Da mesma forma, nas canções mais lentas, o timbre de Eduardo Gomes lembra o de Chico Buarque – o timbre de voz, é importante ressaltar!
Divertido e surpreendente, Sinfonia da Necrópole é um filme que entretém e traz, como pano de fundo, os interesses comerciais existentes no mundo atual. Por mais que tenha um final um tanto quanto brusco, trata-se de um filme corajoso como proposta e pelo que entrega ao espectador. Atenção especial para duas sequências: a canção dentro do carro, iniciada com o tilintar das gotas de chuva, e a participação afetiva de Sara Silveira, produtora do longa-metragem, no karaokê. Muito bom.
Filme visto durante a cobertura do 42º Festival de Gramado, em agosto de 2014.

REI ARTHUR (King Arthur, Reino Unido, Irlanda, 2004)





quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

EU VI QUE FOI VOCÊ (I Saw What You Did, EUA, 1965)


DIREÇÃO: WILLIAM CASTLE


Por: Rafael Polcaro Pereira
Carinhosamente apelidado de Alfred Hitchcock dos filmes B, William Castle foi um diretor, produtor e roteirista americano que deixou sua marca na história do cinema dos anos 40 aos 70, dirigindo e produzindo dezenas de filmes, dos mais variados gêneros. Porém se notabilizou no terror, tendo sido responsável por aterrorizar plateias mundo afora com grandes clássicos juntamente com os chamados movie gimmicks (truques promocionais), feitos nas salas de cinema para aumentar a experiência visual e sensorial, buscando potencializar a experimentação cinematográfica do espectador, além de claro, promover o filme.  
Em sua primeira empreitada como diretor, Castle teve de hipotecar a própria casa para financiar a produção “Macabro” (1958), que conta a história de um maníaco que sequestra a filha de um médico e a enterra viva em um caixão. Foi nessa primeira produção que ele começou a usar os tais truques que lhe deixariam famoso posteriormente. Em algumas sessões do filme ele distribuiu apólices de seguro para cada pessoa na plateia, para caso ela “morresse de medo” durante a projeção. Algumas outras exibições também tiveram pessoas vestidas em trajes cirúrgicos na sala de cinema e uma ambulância estacionada na entrada.
Um ano depois, em “Força Diabólica (1959), que acompanha a história de uma criatura que se anexa à medula espinhal humana, que é ativada pelo medo e só pode ser destruída através de gritos, Castle colocou campainhas debaixo de alguns dos bancos do cinema que eram ativadas em um certo ponto do filme, em que o monstro estava á solta. Nesse momento o personagem de Vincent Price falava diretamente com os espectadores, orientando-os a “gritarem por suas vidas”.
Já em “13 Fantasmas” (1960), que chegou a ganhar um remake mal sucedido em 2001, eram distribuídos óculos que eram chamados de “visualizadores de fantasmas/ removedores de fantasmas”, pois a produção havia sido filmada em uma tecnologia chamada Illusion-O, que permitia que em alguns momentos da produção as pessoas pudessem ver os fantasmas do filme usando os óculos, mas caso elas se assustassem demais poderiam retirá-los e assim não veriam nenhum dos fantasmas da trama.
Em “Máscara do Horror”, o diretor permitia que os espectadores escolhessem o destino do vilão. Durante o clímax, Castle aparecia em tela para explicar os dois possíveis finais para o personagem: a cura ou a morte. Cada espectador recebia um cartão que tinha um dedão fazendo sinal negativo e positivo, que brilhava no escuro. Curiosamente é dito que nenhuma plateia escolheu a cura do vilão, então o final alternativo nunca foi exibido.
Apesar de ter dirigido dezenas de produções de sucesso comercial, foi como produtor seu momento mais importante, produzindo um dos maiores clássicos do horror: “O Bebê de Rosemary”. De acordo com sua biografia, Castle teria hipotecado novamente a própria casa para obter os direitos do livro de Ira Levin antes que fosse publicado, esperando finalmente dirigir um filme “A” de prestigio. Porém a Paramount Pictures insistiu em contratar Roman Polanski para a direção, enquanto Castle ficou responsável pela produção. Assim como na maioria de seus filmes, ele também fez uma aparição, interpretando um senhor esperando para usar a cabine telefônica que Mia Farrow ocupa.
Todas essas características fizeram de William Castle uma figura notável na história da sétima-arte. Mesmo que muitas vezes seus truques fossem mais excitantes que seus filmes, ele nunca teve um fracasso de bilheteria, principalmente pela sua habilidade de apresentar e vender seu trabalho. Castle faleceu de infarto aos 63 anos, em 31 de Maio de 1977, em Los Angeles, Califórnia.

LA RESIDENCIA (ESPANHA, 1969)