OSCAR MELHOR FILME 2017
TERROR 2018 04 A FORMA DA ÁGUA
Quando um clássico dá lugar à outro
Nos anos 50, um
grupo expedicionário embrenhou-se nos confins da selva amazônica com um
objetivo muito particular: investigar um possível elo perdido entre seres
marinhos e terrestres. Tal aventura levou a descoberta de um ser quase
mitológico, dotado de características mistas, uma espécie de homem-peixe,
conhecido desde então como Gill-man, igualmente aterrador e arrebatador.
Em O Monstro da Lagoa Negra,
o monstro humanóide é aniquilado por seus agressores em uma ação que, ainda no
campo da ficção, muito se assemelha ao destino de Kong. Passado mais de meio
século, Guillermo del Toro retoma a mesma história, sob uma nova ótica. A
Forma da Água beira uma sequência, porém partindo da captura bem sucedida
da criatura anfíbia pelas mãos dos pesquisadores americanos, sendo finalmente
transportado de seu habitat natural para uma base militar nos EUA. A partir
daí, estabelece-se uma história poética e romântica, de nuances imprevisíveis e
estonteantes, porém não livre de imperfeições. Del Toro é um cineasta
familiarizado com as permutas entre gênero, tendo mesclado fantasia, horror e
drama por diversas vezes. Aquele que permanece seu melhor trabalho até o dia de
hoje, O Labirinto do Fauno, é o ápice dessa combinação, mais uma vez
reproduzida aqui. Seu último trabalho busca no horror de monstro dos anos 50
inspiração para a composição de uma obra igualmente única. O monstro, referido
apenas como “A Forma”, mais uma vez trabalho da captura de imagem do ator Doug Jones,
cria um vínculo afetivo com uma faxineira muda. Em meio a tramas
conspiracionistas e dilemas pessoais, inclusão e amores incomuns se destacam. A
relação entre besta e mulher surge pela construção do diálogo de dois seres
desprovidos da fala. Perante esse fato excludente a faxineira Elisa (Sally
Hawkins) vê no monstro um igual, que aprende a amar. Em paralelo a esse amor
construído de forma gradual, uma trama de espionagem se desenrola. Em uma
dessas tramas que compõem o tecido costurado por Del Toro, há uma ênfase numa
deficiência incômoda no mesmo. Ao passo em que ocorre um desenlace afetivo
inusitado e cativante, temos um plot conspiracionista que pouco tem a
acrescentar àquilo que o longa parece se propor. Há um excesso de ideias
aplicadas em um contexto que deveria se entregar mais e mais à relação humana,
de maneira que ocorra uma inconstância notável na peça como um todo. É
observável que o autor tente misturar não apenas ideias próprias, como trabalhar
com referências e acenos constantes ao cinema clássico. Um exemplo disso é o
interesse pontual de Elisa por sapateado, que surge como um ponto de encontro
entre o filme a história do cinema. A filmografia de Del Toro contém peças
fantásticas que geralmente se destacam por conceitos visuais deslumbrantes e
assustadores. Se o cineasta mexicano destaca-se imensamente pela transcrição
brilhante de suas ideias para plano cinematográfico, suas mise-en-scenes não impressionam em
igual medida, assim como suas histórias frequentemente revelam-se de pouca
profundidade. Não obstante, certos planos, especialmente concentrados no último
ato do filme, traduzem de forma puramente visual uma história de amor e coragem
magistral. É particularmente encantador notarmos que essas duas palavras – amor
e coragem – também refletem claramente a existência do filme. Del Toro
mostra-se sempre apaixonado por cinema, por monstros, com um toque especial de
seu gênero favorito e o faz de maneira enérgica, impassível frente a qualquer tentativa
de racionalizar ou amarrar seu trabalho à realidade. A despeito de suas falhas
perceptíveis, A Forma da Água destaca-se pela ousadia em abordar os
diversos temas escolhidos de maneira tão peculiar e tocante. Em um ano em que o
cinema de gênero alcançou notado destaque, este possível vencedor do Oscar é
obrigatório nas listas de todos por sua experiência extasiante.
4.5 ovos cozidos para A Forma da Água
Fonte:
http://101horrormovies.com.br/review-2018-04-a-forma-da-agua/
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