Philip K. Dick é conhecido como o autor de Blade Runner eou de Minority Report,
dois grandes filmes inspirados em obras assinadas por ele. O escritor
americano, contudo, é mais, bem mais, do que a dupla de títulos citada.
Prolífico, criativo e transtornado, K. Dick criou uma grande quantidade de
mundos, personagens e desfechos, difíceis de serem listados. Falou sobre
realidades paralelas, viagens no tempo (e entre planetas), consumismo,
paranoias de guerra e tecnologias inimagináveis entre os anos 1950 e 70, quando
atingiu seu auge na escrita.
Tamanha
variedade foi abraçada pela série PHILIP K DICK'S ELETRIC DREAMS , que chega ao Brasil nesta sexta-feira pelo
serviço de streaming Amazon. Em formato antológico, em que os episódios são
independentes entre si, o seriado adapta dez contos do autor, em tramas de 50
minutos de duração cada.
Um time
de atores, diretores e roteiristas de peso foi convocado pela produção, que
teve total liberdade na adaptação dos textos do escritor, atualizando algumas
tramas ou viajando na “moral da história”. Estão no
elenco nomes como Bryan Cranston (Breaking Bad),
Timothy Spall (Harry Potter), Greg Kinnear (Pequena Miss Sunshine), Liam Cunningham (Game of Thrones), Anna Paquin (X-Men), entre outros.
E sim, é
difícil não comparar Electric Dreams com Black Mirror, da concorrente Netflix. Além do
formato parecido e de temáticas futuristas, os seriados dividem entre si o
nascimento – ambos foram concebidos inicialmente pelo canal britânico Channel 4
antes de encontrarem um lar no streaming. Na série inspirada em K.
Dick, contudo, os roteiros dos episódios são mais irregulares do que o
programa tecnológico da Netflix. Em contrapartida, Electric Dreams se diverte sem amarras na vasta e
interessante imaginação do autor.
A seguir,
VEJA apresenta os episódios e propõe comparações com outros títulos da ficção
científica. Confira:
Real Life
Episódio
sugerido para fãs de:
Black Mirror, Minority
Report, A Origem e Vanilla Sky
A vida
real e o mundo virtual se confundem no episódio estrelado por Anna Paquin
(de X-Men e True Blood),
Terrence Howard (Empire) e Rachelle Lefevre (Saga Crepúsculo). Após um trauma, a policial Sarah
(Anna) ganha da esposa (Rachelle) um dispositivo de realidade virtual para
tirar férias de sua vida durante algumas horas por noite. Do outro lado, ela é
George (Terrence), um empresário que lida com o luto da perda da mulher (também
vivida por Rachelle). Começa então a dúvida: qual dos dois mundos é o
verdadeiro e qual é simulação? A trama é inspirada no conto Exhibit Piece, de 1954, em que George é um homem que
transita entre duas vidas, uma no passado e outra no futuro. Confuso, ele
precisa decidir qual dos dois tempos é o real, para se estabelecer.
Autofac
Episódio
sugerido para fãs de:
Westworld, Blade
Runner, Ex Machina: Instinto Artificial e Mad Max
Após uma
guerra que destruiu quase todo o mundo como conhecemos, um grupo de pessoas
tenta resistir contra uma grande fábrica que é operada apenas por máquinas e
que envia produtos constantemente à população, mesmo que ela não queira ou não
precise deles. Preocupados com o consumismo e a poluição causada pela fábrica,
os ativistas armam um plano para acabar com o lugar, mas antes precisam lidar
com o androide Alice (Janelle Monáe, de Estrelas Além do Tempo e Moonlight: Sob a Luz do Luar), enviada pela empresa
para lidar com os rebeldes. A premissa é bastante parecida com a história
criada pelo escritor em 1955, mas o final vai por um caminho novo, explorando
mais a questão robótica e o que significa ser humano.
Human Is
Episódio
sugerido para fãs de: Interestelar, A Chegada e Star
Trek
Em 2520,
quando o planeta oferece cada vez menos condições para a sobrevivência humana,
Silas (Bryan Cranston, de Breaking Bad) é um
militar de alta patente muito competente em seu trabalho como líder de missões
pela galáxia na busca por suprimentos. Em casa, porém, é rude e abusivo com a
mulher, Vera (Essie Davis, de O Babadook e Assassin’s Creed). Silas parte em uma missão para obter
hidrogênio em outro planeta e, quando volta, como um dos únicos sobreviventes
após um ataque sofrido por sua nave, está completamente diferente: torna-se
gentil, dedicado e amoroso com a mulher, que estranha o comportamento do
marido. A história contada no episódio é muito parecida com aquela idealizada
por Philip K. Dick em 1955, com apenas alguns detalhes diferentes – no conto, o
militar volta para casa empregando uma linguagem arcaica para falar e o final é
um pouco mais simples.
Crazy Diamond
Episódio
sugerido para fãs de:
Westworld, O Preço do Amanhã, Ela e O
Show de Truman
Em um
futuro bastante organizado, os humanos enfrentam adversidades juntamente com
avanços tecnológicos variados. Os continentes sofrem com constantes erosões,
que impedem a agricultura e causam devastação, derrubando vilas inteiras mar
adentro. Mulheres lidam com problemas de fertilidade. E manipulações genéticas
são capazes de criar seres híbridos, entre eles, humanos sintéticos, apelidados
de Jack (homens) e Jill (mulheres), que, assim como os androides de Blade Runner, possuem prazo de validade. Ed Morris
(Steve Buscemi, de Cães de Aluguel) e a
esposa Sally (Julia Davis, de Nighty Night) vivem
neste cenário, enquanto ele almeja entrar em seu barco e viver no mar. Tudo
muda com a chegada de uma Jill (Sidse Babett Knudsen, de Westworld), que precisa de ajuda. Pouco restou do conto
original de 1954, Sales Pitch, na melancólica trama
da TV. Na literatura, Morris e Sally vivem em um mundo com viagens
interplanetárias tomadas por propagandas invasivas. Ele sonha em se mudar para
outro planeta, menos habitado, para viver em paz.
The Hood Maker
Episódio
sugerido para fãs de:
X-Men, Heroes, O
Exterminador do Futuro e Blade Runner
O
episódio se passa em um futuro distópico em que os computadores já não existem
mais e a tecnologia, em vez de avançar, parece ter regredido. Para controlar a
parcela da população que se levanta contra o governo totalitário e suas medidas
que ameaçam a privacidade, a polícia recruta mutantes que são capazes de ler a
mente das pessoas – e portanto, determinar quem são os insurgentes. O agente
Ross (Richard Madden, de Game of Thrones)
trabalha junto com a mutante Honor (Holliday Grainger, de The Borgias), mas as coisas começam a ficar complicadas
quando eles veem circulando na cidade uma touca capaz de bloquear a leitura dos
pensamentos. No conto original de 1955, a história é contada pela perspectiva
de outro personagem e o tom é diferente – na trama de Philip K. Dick, há menos
sutileza em relação a quem é o mocinho e quem é o vilão da história.
Safe and Sound
Episódio
sugerido para fãs de: Jogos Vorazes, 1984, Ela e Gattaca
No conto
satírico Foster, You’re Dead! (1955), pai e filho lidam com
a paranoia do início da Guerra Fria, imaginando um futuro em que todo americano
teria o próprio abrigo antibomba. Após muita insistência do adolescente, eles
compram um e, em seguida, descobrem que o modelo está desatualizado — já que a
União Soviética criou bombas que podem destruí-lo. Na adaptação para a TV, o
medo é voltado para ataques terroristas, que seriam promovidos entre os
próprios cidadãos americanos em um rearranjo geográfico. Uma capital, fechada e
superprotegida, vive em função de ter medo do que existe fora de seus limites,
estados chamados de bolhas. É neste cenário que entra Foster Lee (Annalise
Basso, de Capitão Fantástico), uma
adolescente que vai passar um tempo na capital com a mãe e coloca em xeque tudo
que sabe até então.
Father Thing
Episódio
sugerido para fãs de: Stranger Things, ET, Alien e Super
8
Um dos
episódios mais fiéis ao conto original, de 1954, a trama acompanha as tensões
entre pai e filho apimentadas, por assim dizer, por um ingrediente
extraterrestre. Charlie (Jack Gore, de Roda Gigante) tem um
bom relacionamento com o pai, vivido por Greg Kinnear (de Pequena Missa Sunshine). Tudo muda quando ele
testemunha uma possessão do progenitor por um ser misterioso. Logo, Charlie
percebe que o homem em casa não é mais seu pai e ele tenta, com dificuldade,
salvar sua mãe (Mireille Enos, de Guerra Mundial Z).
Impossible Planet
Episódio
sugerido para fãs de: Battlestar Galactica, Doctor Who e Star
Trek
No ano de
2673, o planeta Terra implodiu. Duzentos anos antes, já não era habitado. Sendo
assim, a dupla de guias turísticos interstelares Andrews (Benedict Wong,
de Doutor Estranho) e Norton (Jack Reynor, de Transformers: A Era da Extinção) fica espantada com o
pedido de Irma (Geraldine Chaplin, de O Orfanato). A
mulher de mais de 300 anos quer conhecer o planeta natal de seus antepassados
antes de morrer. Acompanhada de um robô, ela oferece uma grande quantia em
dinheiro aos guias, que, apesar de saberem que a Terra não existe mais, aceitam
o pagamento e a levam a um planeta parecido. Bem próximo do conto de 1953, o
roteiro da trama, que apostou em uma estética exagerada na TV, fala sobre
raízes, envelhecer e a passagem para morte – ou um novo recomeço. O final
surpreende.
Commuter
Episódio
sugerido para fãs de:
Melancolia,
Efeito Borboleta, A Casa do Lago eDoctor Who
Um dos
melhores episódios da série, Commuter acompanha
a vida ordinária de Ed Jacobson (Timothy Spall, Harry
Potter), funcionário da estação de trem que, em casa, lida com o
filho violento Sam (Anthony Boyle, de Z: A Cidade Perdida).
Certo dia uma mulher pede passagem para uma estação que não existe. A
personagem misteriosa desaparece do nada, para voltar em outra ocasião e
continuar pedindo pela viagem impossível. Curioso, Jacobson segue a trilha
deixada por ela e descobre uma cidade que não existe no mapa, onde todos
parecem felizes e sem problemas. Quando volta para casa, uma realidade paralela
se instaurou, e ele vive feliz com a esposa, enquanto seu filho problemático
nunca existiu. O conto de mesmo nome foi lançado por Philip K. Dick em 1953 e
segue roteiro parecido, com a distinção de separar as realidades alternativas
com viagem no tempo.
Kill All Others
Episódio
sugerido para fãs de:
Black
Mirror, The
Handmaid’s Tale, 1984 eAdmirável Mundo Novo
Philbert
Noyce (Mel Rodriguez, de Getting On e The Last Man on Earth) é um homem que não se sente
muito confortável no mundo em que vive, dominado pela tecnologia. Odeia os
anúncios holográficos invasivos – que aparecem até no banheiro – e prefere ir
de transporte público a utilizar um carro automatizado. Na política, também não
vê muita esperança, principalmente depois de ver a única candidata a presidente
(Vera Farmiga, de Amor Sem Escalas e Bates Motel) dizer durante um programa de TV que
durante sua gestão vai “matar todos os outros”. Philbert fica atônito: como
pode a candidata dizer uma barbaridade dessas para todos verem e por que
ninguém mais parece preocupado com essa afirmação? O episódio é inspirado no
conto The Hanging Stranger, de 1953, que também trata da
indiferença das pessoas diante de absurdos impostos por um cenário político
pouco democrático, mas as duas histórias têm detalhes diferentes, apesar de
chegarem a conclusões similares.
FONTE:
https://veja.abril.com.br/entretenimento/electric-dreams-quando-black-mirror-encontra-philip-k-dick/
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