TERROR 2017 54 1922
Produção original da Netflix é um daqueles dramas
com pinceladas sobrenaturais de King
Sem dúvidas, 2017
é o ano que prova que um rei nunca perde a majestade! Afinal, o autor ganhador
do Troféu Golden nunca esteve tão em voga, na TV e nos cinemas, como neste ano.
É claro que, como o Marcos já observou em outro artigo, nas décadas de 80 e 90
tivemos dezenas de adaptações de suas obras, porém vocês vão concordar comigo
quando eu digo que a maioria era de natureza muito duvidosa. E é exatamente por
isso que King tem motivos de sobra para comemorar: o ano tem sido muito
generoso para ele e, consequentemente, para os fãs, em se tratando da qualidade
e fidelidade das obras adaptadas. Depois do sucesso estrondoso de crítica e
bilheteria de IT – A Coisa,
e também de Jogo Perigoso,
a bola da vez é a nova produção original da Netflix, 1922, que chegou
nessa última sexta-feira ao catálogo do serviço de streaming. Adaptado do
conto homônimo que integra o livro Escuridão Total Sem Estrelas, publicado
em 2010, foi dirigido por Zak Hilditch e é um daqueles dramas com nuances
sobrenaturais que King, vez ou outra, nos apresenta. Numa fazenda situada na
cidade de Hemingford Home, Nebraska (que alguns leitores fiéis vão reconhecer como
o lar de Mãe Abagail, de Dança da Morte) vive Wilfred James (Thomas Jane,
irreconhecível) e sua família, composta pela esposa Arlette (Molly Parker) e
seu filho adolescente Henry (Dylan Schmid). Apesar do clima tranquilo do campo,
os James não vivem como uma verdadeira família de comercial de margarina, pois
o casal disputa, internamente, pelo lugar em que moram. Wilfred herdou oitenta
acres de terras agrícolas, que são de sua família há gerações; já Arlette
possui uma propriedade de cem acres, porém ela não tem interesse algum em
continuar morando na roça e despreza a vida simples, ao contrário de Wilf, que
só pensa em seguir o legado e deixar uma boa quantia de terra para Henry. Os
conflitos começam a aumentar quando Arlette decide vender sua parte nas terras
para uma empresa e, com o dinheiro, abrir uma butique em Omaha. Já que nem
passa pela cabeça de Wilfred ir embora dali, ela cogita pedir o divórcio e
quer, como uma boa mãe, levar o filho consigo. A ideia de perder as coisas que
são mais preciosas o deixa desgraçado da cabeça, e começa, pouco a pouco,
a arquitetar um plano, juntamente com o filho, para matar Arlette e dar um
sumiço no corpo, jogando-o num poço abandonado. Vemos o filme todo sob a ótica
da confissão por escrito de Wilfred, que depois de consumar o ato, percebe que
as coisas nem de longe tomaram o rumo que ele planejou. Sozinho, acabado e
consumido pela culpa, vivendo num quarto de hotel, ele vai narrando numa carta
tudo o que se seguiu com ele e o filho após o assassinato da esposa. O ator
Thomas Jane, que já havia trabalhado anteriormente em outras obras do King para
o cinema (O Apanhador de Sonhos e O Nevoeiro)
tem uma atuação brilhante, carregando o filme nas costas, com seu sotaque
carregado, pele bronzeada, e seus trejeitos de homem simples, calejado pela
vida dura. Já a personagem de Molly Parker, no entanto, é um dos poucos pontos
negativos da obra. No conto, Arlette é uma mulher vil, astuta, manipuladora e
arrogante, que faz a vida dos homens da casa um inferno. Ao longo da história,
o próprio leitor tem vontade de entrar na jogada e matá-la com as próprias
mãos, tamanha a irritação que a personagem proporciona, o que torna a ideia de
Wilfred um pouco mais fácil de assimilar. Já no filme, a impressão que ficamos
é a de que o patriarca apenas se amedrontou com a ideia de ficar sozinho e sem
terras, quando na história original você vê o homem perdendo, aos poucos, o
juízo, nas mãos de uma esposa que faz de tudo para humilhá-lo. A história
é muito bem contada por Hilditch, numa adaptação bem próxima da original, porém
o andar arrastado do filme, com seus monólogos longos e poucas personagens,
podem entediar quem não tem muita familiaridade com os dramas de King, ou quem
espera um terror sobre fantasmas vingativos, ou nos moldes de tantos outras
obras do autor. Fato é que a sutileza do sobrenatural, ou seja, as poucas
aparições de Arlette depois de morta, deixa tudo ainda mais subentendido; em
boa parte do filme nos perguntamos se aquilo tudo não é imaginação, fruto do
sentimento de culpa de Wilfred, e essa sensação perdura até o final do filme,
quando vemos o fatídico desfecho do sujeito, diferente do final do conto que,
no entanto, denuncia a situação de loucura e remorso do personagem. De um modo
geral, 1922 é mais uma grata surpresa da Netflix, de fotografia
impecável e trilha sonora minimalista e sombria (assinada por outro rei, Mike
Patton), que dão o ar soturno necessário para o enredo. A carga dramática
presente pode não ser exatamente o que os fãs do horror esperam mas,
certamente, a maneira como o conto foi adaptado fielmente para a TV, vai
agradar em cheio os leitores assíduos de Stephen King.
4 ratazanas
famintas para 1922
FONTE;
http://101horrormovies.com.br/review-2017-54-1922-2/
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