TERROR 2017 49 LEATHERFACE
Daniel Rodriguez 09/10/2017
A mais nova “nova história de origem” de O Massacre
da Serra Elétrica
Leatherface e
Chucky retornaram ao cinema praticamente na mesma semana no final de
setembro/2017. Um dando continuidade à um universo, outro tentando reiniciar
mais uma vez uma história que já há muito tem girado sem sair do lugar. Os
escolhidos para tentar dar nova vida ao assassino da serra elétrica foram os
franceses Alexandre Bustillo e Julien Maury, por quem tenho grande admiração. A
filmografia da dupla vai de A Invasora até,
mais recentemente, um dos segmentos de ABCs da Morte 2, que por sinal é um dos
meus curtas favoritos. Como característica básica de seus trabalhos, vejo um
apreço pela violência extrema e suja e pela destruição das instituições. Ora,
afinal estamos falando de dois dos maiores expoentes do New French
Extremity! Se bem me lembro essa é a oitava incursão cinematográfica no
universo criado pelo recém falecido Tobe Hooper, lá nos idos anos 70, incluindo os
dois remakes. O foco central recai sobre a origem de Leatherface, cujo
nome real é Jedidiah Sawyer, deixando o resto dos loucos canibais um pouco de
lado. Bem, quase todos! Datado em algum período supostamente anterior ao filme
de 74, temos um jovem Jedidiah e sua família perturbada deixando um rastro de
sangue que cruza o caminho de um xerife linha dura. Graças à maldade pura dos
Sawyer, o tal policial perde a própria filha, fato que o leva a querer destruir
a família caipira utilizando-se de todo um aparato legal, separando Jed
judicialmente de sua mãe. A matriarca, Verna Sawyer, já havia aparecido no
assombroso O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua, lá
interpretada por ninguém mais ninguém menos que Marilyn Burns, aquela mesma do
filme original, uma das primeiras final girls do horror. A relação
entre Verna e Jed é pulverizada no início e fim do filme e parece bem inspirada
na dinâmica materna dominadora de Norma e Norman Bates, da série Bates
Motel – afinal ambos os personagens bebem da mesma fonte, o serial
killer Ed Gein – especialmente por meio da sua
performance, mas com aquele toque caipira chegado em carne humana. Ah, pra ser
honesto, e para a tristeza geral da nação, não há qualquer menção ao
canibalismo e quase nenhum outro Sawyer que nós conhecemos. Boa parte da
história é situada no período de internação de Jed, durante a adolescência. Uma
das melhores escolhas do roteiro foi ocultar a identidade do assassino nessa
faixa etária, deixando o público com diferentes opções, uma delas até bem
óbvia. É só quando as pontas soltas vão sendo aparadas que a identidade do
personagem fica clara. Até lá temos uma jornada bem… maçante. Salvo os dois
primeiros longas e quiçá o remake, O Massacre da Serra
Elétrica não é uma série lá tão notável. Leatherface não faz
absolutamente nada para melhorar o panorama, apesar de ter se alçado um pouco
mais para cima na tabela de qualidade, em comparação com seu predecessor 3D
(Desgraçado, Defeituoso e Desvirtuado). A trama abarca uma quantidade muito
grande de personagens que, obviamente, terminam subdesenvolvidos dentro do
pouco tempo de projeção. Como essa se trata de uma história de origem, fazer
com que os personagens sejam relacionáveis e interessantes é mais que
obrigação, mas isso não é algo presente por aqui. Um dos jovens candidatos a
Leatherface até desperta curiosidade, assim como o policial de Finn Jones
e sua revolta mega passiva, mas apenas o primeiro tem um arco realmente bom. Apesar
da maioria dos personagens serem do tipo “não-fede-não-cheira”, um casal em
especial conquistou o prêmio de Rei e Rainha da chatice. Os louquinhos
psicóticos Ike e Clarice são meramente caricaturas de rednecks doentios.
Tanto em atuação quanto em personagem, parece que temos uma tentativa sofrível
de replicar os duos perversos de Assassinos por Natureza ou Rejeitados Pelo Diabo. Algumas sequências são de uma forçada
de barra tão grande que a vergonha alheia domina. Talvez essa seja a sensação
mais poderosa que o filme provoca, o que realmente entristece, dada a
visceralidade do trabalho de Maury e Bustillo. A câmera tremida é constante no
filme e muitas vezes se distancia da violência gráfica. A impressão passada é
de que os diretores queriam trazer o gore em peso, mas toda vez que
se aproximavam de tal momento, algum produtor aparecia para puxar as rédeas. Vale
sempre lembrar que o primeiro O Massacre da Serra Elétrica nunca foi um filme tão
sangrento quanto sempre pensamos, mas a violência extrema tornou-se marca
registrada da série ao longo do ano. Existem algumas cenas bem brutais por
aqui, mesmo com essa pequena censura, além de um alto número de mortes e finais
inesperados para vários personagens. Os efeitos práticos são um ponto alto,
como sempre. Infelizmente o prequel só engata de verdade no último
ato, com a revelação do Leatherface e sua metamorfose em um monstro perturbado
e impiedoso. A sequência final reforça essa relação de dominância estilo
Norma/Norman e nos apresenta um desfecho bem sórdido. Se em um filme de super
heróis a história de origem termina com um grande ato de heroísmo e uma
compensação positiva por tais atos, há uma relação bem parecida aqui, apesar de
diametralmente oposta. Lembrei-me, inclusive, das palavras do cineasta Adam
Green, que colocou os ícones do horror no patamar de “heróis”, do ponto de
vista da cultura pop e da idolatria que nós, fãs do gênero, temos por essas
figuras macabras. Aos aficionados pela série e horror em geral, recomendo
assistirem com parcimônia. No final das contas o longa existe em algum lugar
que flutua entre melhor que os pessimistas esperavam, pior do que os otimistas
desejavam. Uma sequência mostrando os anos que se seguiram ao final talvez seja
um lugar interessante para se visitar no futuro. Sabemos muito bem que esse
osso não será solto tão facilmente pelos produtores, então que ao menos algo
legal apareça disso tudo.
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para Leatherface
Fonte: https://101horrormovies.com.br/review-2017-49-leatherface/
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