TERROR 2017 39 2017 A TORRE NEGRA
Deixou os fãs pistola, mas funciona como filme
fechado e entretenimento sem compromisso para o resto dos mortais
Filme é filme, livro
é livro. E vice-versa! Tá escrito lá na pedra dos Dez Mandamentos, no
rodapé. Eu juro, pode procurar. Por isso abro a resenha de A Torre Negra, adaptação mais que
aguardada da magnum
opus de Stephen King, explicando que nunca li a série literária do
escritor do Maine, portanto, vou me ater apenas sobre sua versão
cinematográfica, sem compará-las, e já ciente de que os fãs fervorosos da saga
ficaram PISTOLA e acharam muito aquém para algo aguardado há tanto tempo e com
tamanha expectativa. Pois bem, munido de apenas algumas pinceladas de
informações sobre os livros, minha primeira conclusão sobre a sua versão nas
telas é que ela funciona muito bem em sua intenção de entretenimento pipoca
descartável para uma tarde de sábado no cinema e como obra independente, com
começo, meio e fim, sem a intenção de criar uma franquia interminável ou
universo conectado, como vem acontecendo com praticamente todo o cinemão da
cultura pop no momento. É até atípico – e louvável – assistir a um filme nesses
moldes.
Em contrapartida,
nesse fato também se encontra seu calcanhar de Aquiles, uma vez que sua duração
é MUITO curta, apenas 95 minutos, e a nítida impressão é que ficou faltando
metragem, resultando em um longa sem profundidade alguma ao apresentar todos os
ricos aspectos daquele mundo fantástico e desenvolver seus personagens, o que
desemboca em um terceiro ato apressadíssimo, culminando numa série de
atropelos, uma conclusão rápida e fácil demais, carecendo de mais tempo de
exibição para um filme que condensa uma trama que demorou trinta e três anos
para ser concluída em oito livros publicados. Talvez uma meia-horinha a
mais ou um roteiro melhor escrito, tivesse contornado pelo menos em parte
a problemática. Basicamente A Torre Negra se segura por
conta de dois incríveis atores no elenco, o que garante o passatempo
descompromissado: Idris Elba – esse negro maravilhoso! – como o Pistoleiro,
Roland Deschain, último da linhagem de Eld, cuja missão era proteger a Torre
Negra, estrutura que é um bastião de um multiverso, responsável por impedir a
entrada das forças das trevas, que abandonou sua altruísta tarefa em busca de
vingança contra Walter, vulgo O Homem de Preto, interpretado por Matthew
McConaughey, que dizimou todos os Pistoleiros, inclusive o pai de Roland, e rapta
crianças com poderes mediúnicos para extrair sua capacidade psicocinética a fim
de destruir a Torre e jogar todas as dimensões em um mundo sombrio governado
pelo próprio. Dois puta atores vivendo dois puta personagens, só que sem o
mínimo de complexidade ou aproximação com o espectador, meio que no automático,
apesar de McConaughey estar muito bem, mal até o osso. Confesso que adoraria
vê-lo num vilão melhor aproveitado, ou até mesmo estrelando uma nova adaptação
de A Dança
da Morte, encarnando Randall Flagg, um de seus muitos pseudônimos. O problema é
tudo ser tão raso, rápido, e tão jogado, num roteiro escrito a OITO mãos,
capitaneado por Akiva Goldsman – que também assina a produção ao lado de Ron
Howard, duplinha dinâmica responsável pelas adaptações dos livros de Dan Brown.
Mas se A Torre
Negra não tem interesse (ou finge não ter) em se tornar uma franquia e
tenta resolver tudo rapidão num filme solo, ela funciona, e muito bem, dentro
de um Kingverse, universo expandido
do Ganhador do Troféu Golden, conectado com diversos elementos de outras obras.
Essas referências vão muito além dos vários easter eggs espalhados
(daquele que deixam os fãs do escritor em polvorosa), e criam uma verdadeira
conexão com suas histórias, tendo o caso de Jake Chambers como o mais gritante,
já que seu poder é o mesmo que um tal Danny Torrance demonstrou possuir durante
sua estada em um certo hotel de veraneio no Colorado, apesar da comida de bola
federal da legendagem em traduzir SHINE como TOQUE, apesar de descobrir depois
que esse é o termo usado nos livros aqui em PT-BR, mas que ainda assim, a outra
tradução funcionaria muito mais para fãs do Mestre do Terror no geral e que não
leram a saga. O melhor é que nada disso parece oportunista e forçado, querendo
surfar na onda do momento, como outros dois recentes universos do horror que
pipocaram por aí nos últimos meses, uma vez que desde sempre, King trouxe em
seus livros esses elementos de interconectividade narrativa, ligando
personagens, locais e situações. E com a proximidade da estreia da primeira
parte de It – A
Coisa, é bem certo que esse universo referencial seja cada vez mais utilizado
e conectado. Bem, como disse, não tenho autoridade para falar de A Torre Negra como adaptação
das páginas para as telas, mas quanto filme, o que ele é de FATO, é uma
diversão mediana, um blockbuster menor, com uma baita falha de ritmo e sem muitas pretensões, que
pode agradar aquele que procura por uma sessão de cinema sem muita expectativa.
O que também tá valendo, né?
3 balas calibre 45
para A Torre
Negra
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