TERROR 2017 37 2017 ANNABELLE 2: A CRIAÇÃO DO MAL
Nada de novo no front
Imagino se, ao lançar
seu Invocação do Mal, James Wan já imaginava que Annabelle roubaria a
atenção da vilã principal de seu filme. Passados quatro anos, poucos se lembram
da bruxa Batsheba Sherman que atormentava a família Perron. A boneca possuída,
em compensação, volta aos cinemas em seu segundo filme solo, assustando novos espectadores
com truques velhos. Annabelle 2: A Criação do Mal é a quarta parte
do Conjuring-verse, universo compartilhado de terror criado por Wan, tendo
como base os casos investigados pelo casal Ed e Lorraine Warren e inspirado no
conceito estabelecido pela Marvel Studios e seus filmes de super-herói.
Voltamos ainda mais no passado com essa sequência, característica recorrente
dentro desse mundo em que temos apenas filmes de época. O novo longa é dirigido
por um dos novos nomes do nosso amado gênero na atualidade, David F. Sandberg,
que ganhou espaço com seu curta Lights Out, recém transformado no
longa Quando as Luzes se Apagam. Com críticas
favoráveis, parece que há um consenso de que a sequência é superior ao
original. Apesar de concordar em partes, apresentarei uma opinião quiçá
polêmica sobre o tema, pois acredito que Annabelle e a segunda
parte são igualmente medíocres, mas ainda melhores do que o que está por
vir nos próximos anos. Na ocasião de seu lançamento, Annabelle trazia
nas costas o peso de dar sequência a Invocação do Mal e a necessidade
de ter que aproveitar o hype alçado pelo dito cujo. A popularidade da
boneca sacramentou a demanda por um filme que, muito provavelmente, já havia
sido pensado antes, dada a predileção de Wan por coisas do tipo, mas ainda
assim, o tempo urgia. Não é de se surpreender que tenhamos no trabalho de John
R. Leonetti uma fita ultrabásica, trabalhada em cima de preceitos mais que comuns
ao gênero, um roteiro clichê da cabeça aos pés e com um espiritualismo barato
inserido em seu texto. A ideia de tratar esses filmes como universo
compartilhado facilita um pouco a classificação dos mesmos, caso contrário
teríamos em Annabelle 2, um prequel de um spin-off que
também era um prequel. Sandberg nos leva até a origem da boneca maldita
para que possamos entender um pouco mais de seu funcionamento. Aparentemente,
Annabelle não era o nome da boneca e sim da primeira dona que ela teve, uma
garotinha de quatro anos. Supostamente retornada dos mortos, se apossa da
boneca “fofa”, transformando-a na boneca sinforosa que todos conhecemos. Uma
das vantagens de um tempo de produção mais longo é a atenção ao roteiro, que
consegue se livrar de algumas banalidades presentes no anterior. Mesmo assim,
não consegue (e nem tenta) fugir da estrutura formulaica pré-estabelecida pelo
próprio James Wan. Não apenas a narrativa segue o mesmo padrão básico, como a
construção do medo existe da mesma maneira a que estamos tão acostumados. Claro
que, se essa repetição continua a render frutos, é por ser bem-sucedida em
algo. Longas que tratam de espíritos, assombrações, possessões e afins, tão
característicos da mitologia judaico-cristã, costumam encontrar terreno fértil
em um público que, muito provavelmente, cresceu temente a essas coisas. É senso
comum que uma boneca que olha para o dono por conta própria é algo assustador e
obra do Coisa-Ruim. É bem fácil observarmos que essa ideia da boneca viva, de
objetos se movendo no escuro e vultos em corredores vazios são efetivas formas
de causar medo. Assim como em todo o cinema de Wan, Sandberg utiliza desse
mesmo aparato para tentar nos amedrontar. Vale dizer que esse jovem astro é um
diretor melhor e mais confiante que Leonetti e se aproxima mais de seu mentor,
para o bem e para o mal, especialmente com o recorrente jogo de vai-e-volta da
câmera, que salta de plano em contra plano até nos pegar desprevenidos com um
baita susto, além de outras movimentações. Apesar de melhor nesses
aspectos, Annabelle 2 banalizou a figura do demônio, revelando-o em
excesso, de maneira boçal e com efeitos pouco impressionantes. No primeiro
longa, Leonetti soube como dosar a manifestação de Satanás com mais habilidade,
fazendo-se valer da lógica do “menos é mais” ao invés de colocar uma garotinha
com cara de diabo falando “EU QUERO SUA ALMA”. Lembro-me com clareza do momento
em que o demônio apareceu, ameaçador, por detrás da boneca, ainda no primeiro
filme e também da cena do depósito do prédio, que deve ser a melhor sequência
de todos os longas do Conjuring-Verse. Aqui, o capeta parece mais
interessado em atentar a vida alheia do que realmente causar algum mal. Até o
objetivo do cramunhão era mais claro, até então. No mais, a experiência final ainda
é bem pouco memorável. Não há nada de realmente marcante ou de arrepiar os
cabelos, além dos sustos passageiros, que o faça se destacar do longa anterior.
Mirando o mesmo público que Invocação do Mal, é uma fita que deve causar
um alvoroço no público de terror mais genérico. Basicamente, não é um filme
ruim, mas também não é um filme bom, é apenas medíocre. Particularmente, não
sou um grande fã do Conjuring-verse. Esse universo tem seus méritos e é
bem melhor construído que, digamos, o Dark Universe ou até o DC
Cinematic Universe, que são outras franquias nos mesmos moldes, porém o
moralismo cristão barato e a estrutura enlatada não me convencem. Independente
disso, o pior de tudo é a iminente chegada de A Freira, longa anunciado
pouco depois do sucesso de Invocação do Mal 2 e mencionado duas vezes
em Annabelle 2. No momento em que vi essa personagem pela primeira vez,
nos trailers, tive certeza de que era uma figura desenvolvida com o intuito de
gerar um novo filme e expandir a série. Trata-se, obviamente, de um produto
visual criado sob encomenda para ser vendido e não um personagem bem
construído. Annabelle ao menos possui toda uma história (real) e uma mítica ao
seu redor. É ainda mais bizarro se considerarmos que, no segundo longa de
Wan, Lorraine diz que o demônio assumiu aquela forma para atacar e distorcer
sua própria fé. Então por que diabos o tal do Valak ia continuar sendo uma
freira para aterrorizar pessoas diferentes? Se é possível prever o fim ou a
queda desse império do Conjuring-verse, diria que ele começará com a tal
freira do mal.
3 bonecas
para Annabelle 2: A Criação do Mal
Nenhum comentário:
Postar um comentário