quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
domingo, 25 de fevereiro de 2018
MEU AMIGO DAHMER (My Friend Dahmer, EUA, 2018)
TERROR 2018 07 MEU AMIGO DAHMER
Precisamos falar
sobre Dahmer
O fascínio
provocado por serial killers é um mistério inexplicável para mim.
Pesquisadores certamente defendem suas próprias teorias sobre o tema, mas ainda
parece estranho que assassinos cruéis tenham filas intermináveis de seguidores
e entusiastas. Muito menos explica a imensidão de mulheres que se
tornam groupies de homens que possivelmente teriam as matado, se
tivessem a chance. Ou então, homens que, em sã consciência, colecionam
memorabilias macabras que outrora pertenceram a esses monstros. Dentre esse notório
grupo se figuras grotescas, já há algum tempo passei a ter especial curiosidade
por Jeffrey Dahmer, a quem considero o sujeito mais mentalmente perturbado já
registrado na história moderna. Duas características o tornam peculiar, entre
os seus colegas de “profissão”. É comum entre os assassinos em série, que seus
crimes reflitam, em alguma instância, sua própria infância, mesmo que com
violência elevada a enésima potência. Dahmer foge dessa regra, apesar de
oriundo de um lar muito problemático. O próprio Jeffrey defendeu, em
entrevista, que seus pais não tiveram culpa alguma sobre seu comportamento.
Outra característica que o distingue da maioria, é o não interesse pelo sadismo
como objetivo. Apesar de suas ações figurarem facilmente entre algumas das
maiores atrocidades já registradas, tortura nunca foi um objeto de prazer para
esse homem, que pouco se assemelha a um ser humano, salvo a aparência física. Meu
Amigo Dahmer explora esse aspecto, ao retratar a adolescência do “Canibal
de Milwaukee”. O filme é baseado na revista em quadrinhos homônima escrita
por Derf Backderf, que foi “amigo” de Dahmer no último ano de colégio. Ainda
não tive a oportunidade de ler os quadrinhos, lançados por aqui pela DarkSide,
mas fica perceptível o fator “adaptação” no filme de Marc Meyers. A história
encaixa-se em um subgênero conhecido como “coming-of-age”, em que um jovem
passa por transformações decorrentes da idade. Dahmer é continuamente atormentado
pelos próprios desejos homossexuais, aflorados pela puberdade, enquanto lida
com um ambiente escolar e humano do qual não faz parte, e um lar problemático.
A performance magistral de Ross Lynch transmite a sensação de que Jeffrey é um
indivíduo que existe em outra sintonia, bem diferente da nossa. Frente ao
tormento puramente psíquico, ele manifesta diversos comportamentos doentios e
que não se encaixam nas regras do convívio social. Os sintomas mais notáveis
são o interesse mórbido por animais mortos, o alcoolismo precoce e os espasmos
e sons estranhos que reproduzia continuamente dentro e fora da escola. Falta,
no entanto, um enfoque narrativo mais elaborado. Mesmo com uma duração
mediana, Meu Amigo Dahmer explora uma quantidade enorme de momentos distintos,
sem nunca dar a devida atenção às passagens profundamente incômodas
e creepy, como o alcoolismo, a solidão e a violência contra os animais. O
único aspecto de sua loucura que é destrinchado é a mania de reproduzir os
espasmos em público. Da mesma forma, por várias vezes a história parece dar
mais ênfase à perspectivas de terceiros, como a do próprio Derf, o que faz todo
sentido, dado o título do filme. Mesmo assim, essas mudanças de foco não são
exatamente orgânicas, de maneira que o filme como um todo padeça de um tom
inconstante. Para os que desejam viajar para dentro da mente de Jeffrey Dahmer,
recomendo uma sessão dupla entre Meu Amigo… e Dahmer, filme de
2002 estrelado por um então desconhecido Jeremy Renner. O primeiro é
tecnicamente melhor e explora um momento bem particular da vida do canibal.
Enquanto isso, o último é quase uma continuação direta, tem uma estética de
filme de televisão que não colabora, mas independente disso, a retratação do
personagem em si é deveras mais poderosa e uma experiência de gelar os ossos. De
certa forma, ambos se complementam, criando uma experiência pra lá de deturpada
e bizarra.
3.5 ossos de
animais mortos para Meu Amigo Dahmer
FONTE:
http://101horrormovies.com.br/review-2018-07-meu-amigo-dahmer/
sábado, 24 de fevereiro de 2018
A PELE FRIA (Cold Skin, Espanha - França, 2018)
Em 1914,
logo após o assassinato de Franz Ferdinand que eventualmente causou a Primeira
Guerra Mundial, um navio a vapor se aproxima de uma ilha desolada à beira do
Círculo Antártico. Um jovem está preparado para assumir o cargo de observador
do clima, para viver na solidão nos confins da Terra por um ano inteiro, até a
chegada do seu substituto. Nos próximos doze meses, seu mundo consistirá em uma
cabana deserta, no mar circundante e em seres perigosos e estranhos que ele
descobre e que compartilham a ilha.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
THE STRANGE ONES (EUA, 2017)
Eventos
misteriosos rondam a viagem de dois irmãos enquanto eles seguem caminho em meio
a uma paisagem remota dos Estados Unidos. A princípio, tudo parece normal, mas
o que parecia ser uma simples viagem acaba se tornando uma complexa teia de
acontecimentos sombrios.
MOM AND DAD (EUA, 2018)
TERROR 2018 11 MOM AND DAD
Pais e filhos: uma
relação conturbada, psicótica e alucinada
Nicolas Cage foi,
em um passado não muito distante, um ator renomado e promissor. Nos últimos
anos, em decorrência dos excessos de sua vida privada, sua carreira tornou-se
um show de horrores, emplacando uma série de atrocidades cinematográficas. Em
meio a esse trágico destino, o figurão de Hollywood ainda consegue lançar
algumas obras notáveis, como é o caso de sua recente colaboração com Brian
Taylor, Mom and Dad. Ecoando O Exército do Extermínio, de George
Romero, o longa de Taylor apresenta um universo em que pais são tomados por uma
fúria assassina direcionada à seus filhos, por um motivo misterioso. A premissa
de uma psicose coletiva regrada a violência entre membros de uma mesma
comunidade não é novidade, por mais que exista uma delimitação maior dos
afetados pela loucura – somente pais e mães tentando destruir seus próprios
filhos. O que torna o filme em questão notável é a forma e a estética
introduzidas por Taylor. Para quem não é familiarizado com o cineasta, ele é um
dos responsáveis pelos filmes de ação Adrenalina, ao lado de Mark
Neveldine. A dupla ainda trabalhou em conjunto em Gamer e Motoqueiro
Fantasma: Espírito da Vingança, esse igualmente protagonizado por Cage.
Característica primordial no trabalho da dupla é o frenesi que perpassa todos
os âmbitos cinematográficos, da narrativa acelerada até a montagem e estética
alucinadas. Mom and Dad é a primeira empreitada solo de Taylor, ao passo
que seu colega já havia se aventurado, também no horror, com o burocrático e
maçante Exorcistas do Vaticano, de 2015. Fica difícil saber se Neveldine
quis explorar outro estilo de cinema com sua fita sobre possessão demoníaca ou
se o diferencial da dupla realmente reside em seu parceiro aqui. A trama se
passa em um típico subúrbio americano, aqueles bairros residenciais isolados,
com casas imensas e belos jardins de grama sempre aparada e cercas brancas. A
família Ryan parece ser tão pacata quanto qualquer outra. O pai, Brent Ryan
(Nic Cage), trabalha em um escritório, enquanto a mãe, Kendall Ryan (Selma
Blair) se dedica aos afazeres domésticos. Os filhos Josh (Zackary Arthur) e
Carly (Anne Winters) são jovens ordinários. Exceto que as coisas não vão tão
bem quanto parecem. Brent lamenta-se incansavelmente por ter perdido o vigor e
o ímpeto da juventude em prol de um trabalho rotineiro e apático, ao passo em
que sua esposa Kendall também lamenta ter abdicado de uma carreira profissional
em detrimento do lar e dos filhos. Em meio a essas crises emocionais, um surto
psicótico de origem misteriosa toma conta dos pais e mães pelo mundo (ou pelo
menos nos Estados Unidos), dotando-os de uma fúria assassina contra seus
rebentos. Iniciado o surto, Taylor não poupa esforços para representar a
situação da forma mais delirante possível, com os parentes literalmente se
jogando no pescoço das crianças, em uma cena hilária que se passa no interior
da escola local. O senso de humor negro e nonsense está totalmente atrelado a obra devido aos excessos
que permeiam o filme. Nicolas Cage, que frequentemente atua de maneira
descomedida e afetada, encontra aqui um ambiente perfeito para uma overdose de
caras e bocas, em meio aos seus acessos de raiva. Mom and Dad é pura e
simples diversão cinematográfica para pessoas com um senso de humor levemente
perturbado, do tipo que não tem a menor pretensão de ser politizado, artístico
ou revolucionário e que cumpre com maestria aquilo que se propõe.
4 facadas
para Mom and Dad
Fonte: http://101horrormovies.com.br/review-2018-11-mom-and-dad/
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
QUEM BATE À MINHA PORTA (Who's That Knocking At My Door, EUA, 1967)
Direção: Martin
Scorsese
Sinopse:
J.R (Harvey
Keitel) é um típico jovem ítalo-americano católico de Nova York. Mesmo adulto,
ele continua se encontrando com um grupo de amigos para beber e fazer farra.
Certo dia, conhece uma moça por quem se apaixona e, decidido a se tornar um
homem sério e responsável, a pede em casamento. Ele se recusa a fazer sexo com
ela, pois prefere aguardar até o dia da lua de mel. Porém, o sonho do casamento
perfeito vai por água abaixo quando o rapaz descobre que a namorada foi
estuprada no passado.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
HELLRAISER JUDGEMENT (EUA, 2018)
TERROR 2018 06 HELLRAISER:
JUDGEMENT
E Jesus chorou,
mais uma vez…
Dentre as
franquias que compõem o panteão do horror
contemporâneo, Hellraiser talvez seja a mais díspar no quesito
potencial e qualidade. A obra de Barker é dotada de uma mitologia fantástica e
grotescamente brilhante, muito além em profundidade do que qualquer
outro slasher ou assombração.
Descritos de forma
simples e eficiente na frase “anjos para uns, demônios para outros”, a
existência dos cenobitas carrega consigo possibilidades incomensuráveis de
horrores e estórias. Essa potencialidade foi muito bem explorada nos quadrinhos originais,
dos anos oitenta, que apresentavam outros cenobitas, além dos tradicionais que
compõem o bestiário cinematográfico da série, mas também traz um apanhado de
proposições filosóficas diferenciadas sobre essas figuras e o que elas tem de
oferecer a humanidade e vice-versa. Hellraiser: Judgement é a décima parte
dessa saga que já ultrapassa os 30 anos de vida. O roteiro e direção são
assinadas por Gary J. Tunnicliffe, figurão dos efeitos especiais e maquiagem
com uma grande bagagem no nosso amado gênero. Tunnicliffe foi responsável pelo
trabalho de maquiagem de Pinhead e seus amigos desde Hellraiser III: Inferno na Terra.
Tamanha proximidade com o material garantiu a ele um ponto de vista único que é
refletido no enredo de seu filme. Ao mesmo tempo em que se distancia bastante daquilo
que foi exposto até então, acrescenta um frescor mais que necessário para dar
sobrevida a uma franquia que tem rolado ladeira abaixo do terceiro filme em
diante. O enredo consistente em duas tramas paralelas que se cruzam. No âmbito
mundano, três detetives investigam um assassino em série prolífico e criativo
que assistiu Seven – Os Sete Crimes Capitais em
excesso. Já no âmbito profano, um Pinhead cada vez mais meditativo e um outro
cenobita chamado Auditor confabulam sobre a ineficiência dos quebra-cabeças de
madeira em uma época tomada pela tecnologia e cientificidade. A ideia de um
Hellraiser sem Pinhead já tem sido discutida e defendida há algum tempo, desde
a aposentadoria definitiva de Doug Bradley de seu papel mais
icônico. Judgment demonstra que é possível trazer uma nova entidade
para o protagonismo, com o próprio diretor ocupando esse lugar. O Auditor não
apenas tem uma aparência marcante, como também uma personalidade bem incomum,
quando comparado com seus iguais. Somente nos quadrinhos personagens
semelhantes ganharam algum destaque. Mesmo assim, a presença do magnânimo
cabeça de pregos se faz imponente e fundamental para a conclusão do filme. A
audácia do poderoso Pinhead, interpretado de forma soturna por Paul T. Taylor,
tem um resultado pra lá de inesperado para quem não é familiarizado com os
quadrinhos mais recentes, por se tratar de uma ideia explorada por lá. Até aqui
fiz parecer que um milagre recaiu sobre nós, fãs do horror, e o décimo filme da
interminável franquia Hellraiser foi bom. Lamentavelmente, não é para
tanto. O orçamento baixíssimo que dá um aspecto antigo, datado e de quinta
categoria exerce um impacto muito negativo. O descaso absoluto dos detentores
dos direitos autorais da obra de Barker fica evidente nos miseráveis 500 mil
dólares de orçamento. Impossível não estar a mercê das limitações técnicas e
estéticas com um valor tão irrisório (em se tratando de cinema, claro). Para
critério de comparação, um dos filmes mais recentes do brinquedo
assassino, A Maldição de Chucky teve um orçamento cinco vezes maior.
Dentro da própria franquia, esse foi o menor orçamento por uma larga distância.
Dentro das condições porcas oferecidas e o terrível histórico, Tunnicliffe
merece aplausos por conseguir criar um filme decente, com cenas muitíssimo
grotescas, um Pinhead digníssimo, um novo cenobita que já garante um lugar nos
anais do inferno e uma trama bem pensada.
PS* A atriz
Heather Langenkamp, a eterna Nancy de A Hora do Pesadelo,
faz uma pontinha irrisória no filme. Sequer a notei da primeira vez, tão
marcante sua presença.
2.5 correntes
para Hellraiser: Judgemen
FONTE http://101horrormovies.com.br/review-2018-06-hellraiser-judgement/
A CASA TORTA (Crooked House, 2017)
Direção: Gilles
Paquet-Brenner
No
roteiro adaptado por Julian Fellowes e Tim Rose Price, somos
apresentados à família Leonides e à vasta mansão na Inglaterra onde eles moram.
Quando o patriarca Aristide, imigrante grego rico e octogenário, é morto com
uma injeção de barbitúricos, todas as suspeitas recaem sobre a sua esposa, 50
anos mais jovem. comanda produção.
Elenco: Glenn Close, Christina Hendricks,
Gillian Anderson,
Terence
Stamp e Max Irons.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
TRAMA FANTASMA (Phantom Thread, EUA, 2017)
Direção: Paul
Thomas Anderson
Sinopse:
No glamour de
Londres dos anos 50, o renomado costureiro Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis)
e sua irmã Cyril (Lesley Manville) estão no centro da moda britânica, vestindo
a realeza, estrelas de cinema, herdeiros, socialites, debutantes e damas com o
distinto estilo da Casa de Woodcock. Mulheres vem e vão na vida de Woodcock,
entregando inspiração e companhia ao solteiro, até que ele encontra a jovem e
opiniosa Alma (Vicky Krieps), que logo se torna um acessório em sua vida como
sua musa e amante. Uma vez “controlado”, ele vê sua vida minuciosamente
planejada ser interrompida pelo amor.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
LADY BIRD É HORA DE VOAR (Lady Bird, EUA, 2017)
Direção: Greta
Gerwig
Sinopse:
Sacramento,
Califórnia, 2002. A estudante Lady Bird (Saoirse Ronan) está no último ano do
colégio e não faz ideia do que fazer depois que se formar. A convivência com
sua mãe, uma enfermeira, é sufocante. Tudo o que vai acontecendo na vida de
Lady Bird só a deixa cada vez mais desnorteada.
sábado, 17 de fevereiro de 2018
O SACRIFÍCIO DO SERVO SAGRADO (The Killing of a Sacred Deer, Reino Unido, Irlanda, 2017)
TERROR 2018 10 O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO
Bizarrice da vez
de Yorgos Lanthimos disfarçada de thriller psicológico de vingança
Sem muito alarde,
um dos melhores filmes do ano passado entrou na programação das salas de cinema
brasileiras na última quinta-feira, pré-Carnaval. O
Sacrifício do Cervo Sagrado é mais uma das
bizarrices cinematográficas intensas de um dos mais quentes diretores cult do
momento, o grego Yorgos Lanthimos, aquele mesmo de Dente Canino, Alpes e O
Lagosta. Primeiro de tudo vale um bom e velho sinal de
AFASTE-SE, caso você não esteja familiarizado com a filmografia do
sujeito. O Sacrifício… é um filme perturbador e perturbado, contido,
esquisitíssimo, pungente e metódico, daqueles que só vai te desgraçando mais e
mais até o seu final indigesto. O pior é que você fica atordoado por um mix de
sentimentos devido a tamanha bizarrice nonsense em
tela, sem saber de verdade se é para rir das situações extravagantes repletas
humor negro ou para chorar de desespero. A especialização de Lanthimos no
absurdo e a forma como ele joga pessoas normais (pero no
mucho) em situações aparentemente sem nenhuma explicação
lógica onde eles precisam tomar algumas decisões morais (questionáveis ou não)
salta aos olhos mais uma vez, assim como fizera em seus trabalhos anteriores. Aqui,
sua satírica metáfora crítica a condição humana, a instituição familiar e
relacionamentos disruptivos é voltada para o terror psicológico com pitadas de thriller de
vingança, mas de uma forma que dá um giro de 360º nos conceitos
pré-estabelecidos de ambos os subgêneros.
Steven Murphy,
papel de um Colin Farrel que exala uma monotonia resignada que chega a dar
raiva, é um proeminente cirurgião que tem uma vida quase perfeita, casado com a
belíssima Anna, interpretada por Nicole Kidman (ótima!) e tem dois filhos
adolescentes apaixonantes, Kim (Raffey Cassidy) e Bob (Sunny Suljic). Porém ele
esconde um relacionamento, um tanto quanto desconcertante e incômodo, com um
introvertido adolescente, Martin (vivido por Barry Keoghan, o azarado Georgie
de Dunkirk), cujo pai morrera na mesa de cirurgia.
Desde o primeiro encontro entre os dois, onde ele lhe compra um caríssimo
relógio de pulso, vemos uma nuvem negra de culpa velada sob a cabeça do
respeitado médico, e por isso, a intenção de se aproximar do garoto. Tudo está
prestes a desmoronar quando o comportamento de Martin se torna cada vez mais
obsessivo e Steven resolve se afastar. Mas esqueça o comportamento psicopata
padrão da parte de Martin. A consequência é um cruel plano de vingança onde Bob
e depois Kim, misteriosamente – e o melhor de tudo, sem a menor intenção em dar
qualquer explicação plausível – ficam paralisados da cintura para baixo,
seguido da recusa em comer e os próximos estágios consistem em sangrar pelos
olhos e finalmente morrer. A única forma de dar cabo dessa situação é se
qualquer um dos Murphy for morto pelo patriarca, incluindo a si mesmo. O
Sacríficio… vai levando esse horror familiar de forma
minimalista e nauseante até a escalada da violência gráfica, tudo capturado com
uma finesse sadística de Lanthimos, ecoando na cabeça dos
protagonistas e do público estupefato atrás da tela: o que você faria e quem
você sacrificaria em últimos casos? Tudo captado pelas lentes de seu parceiro
diretor de fotografia de costume, Thimios Bakatakis, colocando a família sobre
estado constante de vigilância e dúvida enquanto o jovem continua incólume
desprovido de remorso, em cada construção de personagem e cena auxiliado pela
intensidade da trilha sonora. Um coquetel poderoso sinestésico que vai te
sufocando cada vez mais até a explosão dramática que aguarda os Murphy numa
típica tragédia grega anunciada. Aliás, o próprio título do filme é inspirado
no final da tragédia de Ifigênia em Áulide de Eurípedes, onde Agamenon, líder
da coalização grega durante a Guerra de Troia decide sacrificar sua filha para
cativar a deusa Artemisa a ajudar a liberar os ventos para a navegação de sua
tropa. A dramaturgia grega emprestando a ironia trágica em doses cavalares para
efeitos dramáticos no cinema moderno de Lanthimos. A experiência de assistir
a O Sacrifício do Cervo Sagrado é daquelas
coisas que fazem o cinema ser uma avassaladora experiência de sentimentos
díspares, e, despertar cada um desses sentimentos, da repulsa ao alívio, do
estranhamento ao riso de nervoso, do horror ao cômico exagerado, é uma das
grandes habilidades de Lanthimos.
4,5 relógios de
pulso para O Sacrifício do Cervo Sagrado
FONTE:
https://101horrormovies.com.br/review-2018-10-o-sacrificio-do-cervo-sagrado-2/
O IDIOTA (Idiot, RUSSIA, 1958)
Direção: Ivan
Pyryev
Sinopse:
O príncipe Míchkin
retorna a Rússia após 4 anos em solo suíço. Dotado de espírito humanista,
impulsionado por fortes sentimentos passionais terá seus conceitos e valores
pessoais confrontados por figuras como Nastácia Filíppovna, possuidora de uma
beleza perturbadora e forte personalidade, e com o mundanismo desenfreado de
Rogójin. Desse encontro, situações que beiram ao absurdo darão a tópica do
enredo. Nessa adaptação para o cinema da primeira parte do romance de Fiódor
Dostoiévski, Ivan Pyryev capta com maestria as paixões e contradições de um dos
personagens mais complexos da extensa lista do romancista russo, o Idiota,
tentativa de fusão da figura do Cristo com Dom Quixote. Além de marcantes
atuações, o cenário com requinte e a bela música completam as virtudes desse
que é um verdadeiro clássico do cinema.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
NO SILÊNCIO DE UMA CIDADE (While the City Sleeps, EUA, 1956)
Direção: Fritz
Lang
Sinopse:
A morte do magnata
da imprensa Amos Kyne (Robert Warwick) provoca uma acirrada disputa de poder em
suas empresas, quando o herdeiro de Kyne, seu filho Walter (Vincent Price),
resolve promover uma corrida entre seus principais editores, Mark Loving
(George Sanders), John Day Griffith (Thomas Mitchell) e Harry Kritzer (James
Craig). Enquanto estes se valem de todos os recursos ao seu alcance para vencer
a disputa, a cidade de Nova Iorque vive aterrorizada com os ataques de um
serial killer conhecido como “assassino do batom”. O repórter Edward Mobley
(Dana Andrews) precisa capturar o assassino, evitar que as empresas Kyne caiam
nas mãos erradas e ainda, tentar salvar seu relacionamento com a doce Nancy
(Sally Forrest).
O RITUAL (The Ritual, Reino Unido, 2017)
TERROR 2018 09 THE RITUAL
Uma das criaturas
mais interessantes e originais do cinema de terror recente
Sua carne NÃO é de
Carnaval, você é do “Unidos dos Sem Bloquinho” e você está no conforto do
descanso do seu lar durante o feriado prolongado procurando colocar aquela
lista interminável de filmes para assistir em dia. Quando se depara que na
última sexta-feira entrou no catálogo da Netflix uma nova “produção original” de
terror do streaming (assim, entre aspas mesmo, porque para quem ainda
não sabe, a empresa de Los Gatos não produz absolutamente nada, só comprar e
distribui na sua plataforma) dirigida por David Bruckner. Para quem não liga o
nome à pessoa, Bruckner é um dos pioneiros do mumblegore, movimento indie
do horror americano que meio que moldou a forma de se fazer cinema independente
de gênero no final da década passada até meados dos anos 2010, e deu um novo
sentido para as antologias. Ele é um dos diretores/roteiristas de O Sinal, espécie de
protogênese do subgênero, e também de V/H/S/ (é o responsável pelo
segmento “Amateur Night”, que depois deu origem ao longa metragem Siren)
e Southbound (segmento
“The Accident”). Esse fato, o incomum crédito de produtor executivo para Andy
Serkis, e a sinopse, que apesar de clichê, traz alguns elementos queridinhos
como: “grupo de pessoas perdidas em uma viagem na floresta encontram uma
presença ameaçadora os perseguindo”, foi o suficiente para despertar o
interesse. Quando eis que, descubro que The Ritual não entrou no catálogo
da Netflix brazuca, apenas na gringa. Não que isso seja um impeditivo para a
Rede Mundial de Computadores. Não sei explicar o porquê, mas é uma pena, uma
vez que The Ritual foi uma excelente surpresa, e cravo aqui sem
pestanejar: traz uma das criaturas mais interessantes e originais do cinema de
terror recente. Você nunca terá visto nada igual (e nem parecido), e vou poupar
os detalhes de seu visual para não entrar no campo do SPOILER. Uma espécie de “Abismo do Medo”
dos homens, o longa britânico, baseado no livro de Adam Nevill, parte do
diferencial que não estamos falando de uma trip com adolescentes ou
jovens de seus 20 e poucos anos bêbados e tarados indo parar no meio de uma cabana
na floresta, enredo tipicamente slasher,
mas sim, de um grupo de homens 30+, o que já rola uma identificação imediata.
Amigos de colégio, planejam uma viagem de férias mas não tem mais idade para
ficar chapado em Amsterdã, tomar cerveja com 43% de teor alcoólico na Bélgica
ou curtir as festas cheias de MICHAEL DOUGLAS em Ibiza. Um dos amigos dá a
ideia de fazer hiking nas
montanhas da divisa entre a Suécia e a Noruega, porém na mesma noite, durante
um assalto a uma loja de bebida, ele é assassinado ao se recusar a entregar seu
anel de casamento. Luke foi testemunha e se escondera durante o crime, vendo o
amigo ser morto e não tomou nenhuma atitude. Sentindo-se culpado e covarde, ele
e os outros três colegas, Phil, Hutch e Don resolvem fazer a tal caminhada e
prestar uma homenagem póstuma. Bom, seguindo a cartilha de acidentes e escolhas
estúpidas de praxe, Don machuca o menisco, fica com o passo avariado e para
cortar caminho e chegar mais rápido ao chalé na cidade, eles têm a brilhante
ideia de atravessar por um atalho dentro de uma inóspita floresta. Acuados por
uma tempestade – e depois de ter visto um lobo eviscerado pendurado em uma
árvore – eles vão se proteger em uma casa abandonada no meio da floresta,
cercado por árvores com estranhas runas talhadas em seus troncos e uma espécie
de figura de madeira sem cabeça e com chifres nos lugares das mãos, objeto que
parece ser utilizado em algum tipo de bruxaria ou ritual pagão nórdico. Pronto,
a noite gasta naquele local, regada à pesadelos em todos, é o suficiente para
colocar em xeque o destino dos viajantes e botar na sua cola a tal “presença
ameaçadora” da sinopse, que passa a persegui-los. As três melhores coisas disso
tudo? A escalada do suspense, desespero e conflitos pessoais tomando conta
mesmo em homens adultos, a máxima hitchcockiana/ spielbergiana de nunca mostrar
a criatura até seu ato final (e que não desapontará, dado o diferencial do
monstro) e por fim, a quase completa falta de explicação detalhada, deixando tudo
no campo do místico folclore escandinavo, envolvendo até Loki. The
Ritual oferece 1h30 de entretenimento de terror
decente, com uma pegada inspirada no horror ritualístico dos anos 70,
valendo-se de um velho conceito mas incluindo aí uma notável adição bizarra ao
gênero “filmes de criaturas”, e tudo com a mão certa na direção de Bruckner, em
seu primeiro trabalho fora de antologia, de forma mais tradicional do que seus
longas anteriores.
3,5 sacrifícios
ritualísticos nórdicos para The Ritual
FONTE:
https://101horrormovies.com.br/review-2018-09-the-ritual/
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
A MORTE TE DÁ PARABÉNS (Happy Death Day, EUA, 2017)
TERROR
2017 53 A MORTE TE DÁ PARABÉNS
Há tempos que a morte não era tão teen!
O humor e o terror
andam lado a lado desde os primórdios. Desde Le Manoir du diable,
ou A Mansão do Diabo, considerado o primeiro filme de terror da história,
misturar o cômico com o trágico é uma válvula de escape, onde um sentimento vai
se revezando com o outro, cena a cena. Há anos que este “subgênero” vem se
popularizando, só que muitas vezes puxado demais para o pastelão. Confesso que
não sou muito fã do chamado splatstick, pois creio que o humor não deve
necessariamente te fazer rir até chorar, mas sim deixar o espectador mais à
vontade com a projeção, com um sorriso no rosto e se divertindo com as
pataquadas ali encenadas. Com produções recentes que vão desde Zumbilândia a
séries de TV como Ash vs. Evil Dead, o mais novo
exemplo da galhofa misturada com a tensão tem nome: A Morte te Dá
Parabéns. Digo logo de início: este longa acerta em cheio ao não se levar nada
a sério desde o início, emanando aquele clima juvenil onde toda situação é
motivo de risada e qualquer bola fora é pretexto para diversão e consequências
no mínimo estranhas, aqui no caso trágicas e mortais. Tree (Jessica Rothe) é
uma linda, mala e desprezível estudante que mora na fraternidade mais topzêra
do rolê e, no dia de seu aniversário, rotineiro como qualquer outro, se vê
perseguida por um assassino com uma fofinha máscara de bebê. O que ela não sabe
é que a cada vez que é assassinada por seu stalker misterioso, ela
retorna ao dormitório de Carter (Israel Broussard), seu ponto de partida, e
revive este seu último dia num looping interminável – ao melhor
estilo Feitiço do Tempo, de cara a maior influência para este filme –
passando por seus erros, pecados e talvez conseguindo um último perdão de quem
ela magoou – ou seja, TODOS à sua volta! O diretor Christopher Landon (o mesmo
de Como Sobreviver a um Ataque Zumbi) acerta em cheio ao emanar todo o
clima da juventude neste filme, com um humor desprovido de qualquer tipo de
maldade. Parafraseando a antiga canção da Cyndi Lauper, a “Tree só quer se
divertir” sem pensar no amanhã. Aquele espírito aventureiro, aquela molecada
que ainda não possui uma malícia em querer tirar proveito do outro, onde
literalmente fazer merda sem pensar no amanhã é algo a se louvar, está
presente. É muito bom poder assemelhar-se com um filme tão delicioso de ser
visto, onde o mais velho consegue sentir a nostalgia dos bons tempos e os mais
jovens conseguem se identificar com as situações das personagens. O peso da
idade chega para todos nós, e aqui a transição da vida adolescente para a vida
adulta é o martírio que a protagonista carrega. Ir dormir tranquilo e acordar
com os boletos pra pagar é algo definitivamente brutal, não é?! Outra
importante mensagem muito legal que o diretor implantou em sua obra foi de que
a intolerância para com gênero, raça, credo, opção sexual e afins é totalmente
nula. Não importa o que você é ou deixa de ser, mas seja sempre você mesmo (a).
As homenagens que Landon presta aqui também são louváveis. Com um clima
característico dos 80’s e seus slashers de
respeito, a famosa faca e máscara são praticamente uma marca registrada dos
famigerados assassinos e seus mais inventivos métodos para matar, desde a clássica
estrebuchada até a explosão de carro. De referências e homenagens a Eles Vivem, Pânico, Zumbilândia e
até à inacabável saga de Jogos Mortais são
claras e muito bem feitas. Até o Bill Murray – como amam esse cara, não é?! –
entra na roda de homenagens. Assim como Pânico serviu como porta de
entrada para que os adolescentes da época – e nesta me incluo – conhecessem
mais sobre o horror em geral, não há dúvidas de que A Morte Te Dá
Parabéns, mais uma bola dentro da Blumhouse, também o será. Além de ser um
filme ágil e divertido, ele também te deixa intrigado com um roteiro bem
amarrado, onde o espectador acompanha a protagonista em seu caminho para que
encontre a verdade ou a morte de vez.
4 facadas
para A Morte Te Dá Parabéns
FONTE:
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
sábado, 10 de fevereiro de 2018
NASCIDA ONTEM (Born Yesterday, EUA, 1950)
Direção: George
Cukor
Sinopse:
Harry Brock
(Broderick Crawford) é um empresário que prosperou negociando ferro-velho. Ele
chega em Washington com a amante, Emma “Billie” Dawn (Judy Holliday), uma
inculta ex-corista que não tem noção do que acontece nem está envolvida nas
negociatas do marido. Harry teme que ela fale muita besteira enquanto “negocia”
com políticos, assim contrata um repórter, Paul Verrall (William Holden), para
deixá-la esperta. Mas professor e aluna se apaixonam e ela aprende a pensar
sozinha, causando problemas inesperados ao namorado.
MISTER ROBERTS (Mister Roberts, EUA, 1955)
Direção: John Ford
Sinopse:
Em pleno auge da
Segunda Guerra Mundial, Mister Roberts é um oficial da Marinha dos Estados Unidos
trabalhando a bordo de um navio responsável apenas por distribuir mantimentos a
outros navios maiores. Querendo participar da ação de verdade, Roberts deverá
convencer o tirano capitão, enquanto gerencia uma tripulação problemática.
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
O PARADOXO CLOVERFIELD (The Cloverfield Paradox, EUA, 2018)
TERROR 2018 05 THE CLOVERFIELD PARADOX
Daniel Rodriguez 05/02/2018
Solução do
mistério ou mais peças do quebra-cabeça?
Há uma década, a
Rede Mundial de Computadores foi infectada por um vírus peculiar e poderoso,
chamado Cloverfield:
Monstro. Fruto das mentes de J.J. Abrams e Matt Reeves, esse vírus
manifestou-se primeiramente como um filme misterioso em found
footage sobre um monstro gigante (leia-se Kaiju) destruindo Nova
Iorque e, depois, por meio de vários sites e informações espalhadas
na web, revelando uma grande conspiração eco-industrial por trás dessa
aberração, então batizada de Clover. Apesar de minha memória ter liquidado
parte das informações, lembro-me com clareza de adentrar a fundo nesse universo,
lendo cada pedaço do quebra-cabeça deixado online e ajudando outros internautas
a criarem teorias. Uma das mais divertidas (e possivelmente BEM REAL), que me
recordo com clareza, dizia que o kaiju era apenas um filhote e que
haveria um ser ainda mais colossal espreitando nas profundezas. Na época,
referências como o logotipo das corporações Dharma e a bebida Slusho! pareciam
até conectar o filme aos seriados Lost e Heroes,
respectivamente. Muitos de nós acreditaram que a solução desse mistério
aparecia em Rua
Cloverfield 10, de 2016. Eis que o tal filme se mostrou um completo
engodo, sendo apenas um suspense sci-fi que recebeu o título
Cloverfield, posteriormente, para lucrar em cima do nome. Na época de seu
lançamento, os criadores anunciaram uma série de longas de ficção científica,
possivelmente ambientados no mesmo mundo ou universo, com um toque de Além
da Imaginação, e já anunciaram um terceiro longa. Surge então O Paradoxo
Cloverfield. Não bastasse todo o mistério por trás de seu antecessor, o novo
longa, dirigido por Julius Onah, foi ainda mais longe. A campanha de lançamento
do filme reteve toda e qualquer informação até a fatídica noite de 04 de
fevereiro, durante a final do Super Bowl, onde não apenas revelaram o trailer,
mas também a data de lançamento: imediatamente após o fim do evento mais
esperado pelo público americano, NA NETFLIX! A trama
do Cloverfield original era bem simples. O jovem adulto Rob está
prestes a se mudar para o Japão, onde começará a trabalhar em uma companhia de
mineração e perfuração de petróleo chamada Tagruato. Durante a festa de
despedida do mesmo, um monstro colossal surge na cidade, destruindo tudo e
todos. Todas as teorias indicavam um mundo relativamente semelhante ao nosso,
com o acréscimo de bestas colossais residindo no fundo do mar, longe da
humanidade. A aparição do kaiju teria sido em decorrência de dois
possíveis fatores: um objeto que caiu do céu (um satélite ou fragmento de estação
espacial) ou perfurações em regiões abissais. Os primeiros minutos de The
Cloverfield Paradox já bagunçam essa ideia. Ao invés de um planeta Terra
semelhante com adição de monstros, essa versão apresenta uma ordem social bem
diferente e tecnologias futurísticas. Com os recursos naturais à beira da
extinção, as nações se mobilizam para uma guerra por restos, enquanto uma
empreitada espacial busca sanar de vez o problema. Na estação especial
Cloverfield, uma máquina de hádrons pode ser a solução para a crise energética
mundial. No entanto, diversas pessoas temem a utilização da máquina, dita poder
gerar energia ilimitada. Um pesquisador em específico cita algo chamado
“Paradoxo Cloverfield”, que descreve a possibilidade de uma alteração da
realidade em escala multidimensional. A quase totalidade do filme se passa
dentro da estação espacial, o que é uma benção para os amantes da
ficção-científica, mas já deixa os fãs do monstro gigante (tipo eu), com o
pé-atrás. Logo nos primeiros momentos dentro da estação, fica aparente uma
certa pobreza criativa. Os astronautas são distribuídos e escritos da forma
mais clichê possível, podendo facilmente serem substituídos pelas equipes da
nave de Alien:
Covenant ou da Estação Espacial Internacional de Vida,
só pra mencionar filmes de 2017. Esteticamente, o visual não faz feio, mas
também não impressiona, encaixando-se claramente no padrão Netflix atual. O
mesmo pode ser dito sobre a direção e fotografia que não dispõem de nenhuma
grandiosidade, aparentando serem pensados para exibição doméstica ao invés de
cinemas. Como esperado, o paradoxo se prova real e tudo vira de cabeça para
baixo assim que a máquina é utilizada. Situações extremamente bizarras e
inexplicáveis começam a pipocar, deixando os astronautas com as calças nas
mãos. Até esse ponto, não havia nada de minimamente notável sobre o filme. Então,
em um arroubo de inspiração, The Cloverfield Paradox incorpora seu
melhor O
Enigma do Horizonte com um pouquinho assim de Alien:
O Oitavo Passageiro (e até Uma
Noite Alucinante!) e tudo sobre o filme melhora de uma hora pra
outra. Um mistério envolvente toma conta da narrativa e uma dose boa de horror
é inserida na mistura. Enquanto isso, lá no nosso amado planetinha azul, o
marido de uma das astronautas se depara com uma destruição em larga escala em
Nova Iorque, causada por sabe-se lá o quê. Há uma constante mudança de pontos
de vista, passando da nave para a terra. Essa alteração funciona e é uma de
suas partes mais provocantes, especialmente para os fãs do original, ainda mais
quando o cientista que cita o paradoxo, em uma das cenas mais didáticas,
menciona que o cruzamento interdimensional poderia trazer ou despertar
monstros, demônios e criaturas das profundezas, dando um gostinho ainda maior
do que está por vir.
Com a mesma
facilidade que se transformou em um filme mais empolgante, logo retorna para o
clichê com força total, abusando de todos os tropos existentes sobre desastres
em viagens espaciais, com eventos ocorrendo de maneira idêntica ao que vemos em
todos os filmes do tipo nos últimos anos,
de Prometheus a Interestelar, passando pelos filmes já
mencionados anteriormente e chegando até aquela onda sci-fi do final
dos anos 90 e começo do ano 2000, tipo Planeta Vermelho, Super
Nova e etc. Apesar do conceito do paradoxo oferecer possibilidades
incalculáveis, o roteiro é incapaz de explorar o que tem em mãos, de forma que
a maioria das alterações causadas são mega esquemáticas, somente atendendo as
necessidades do roteirista para continuar a trama da forma desejada. A
originalidade passa longe, mas existe um certo charme nesse enredo espacial que
ainda faz com que o filme seja divertido. Para os mais atentos, referências de
todos os tamanhos apontam para o longa de 2008, como a presença de um
bonequinho da Slusho! e um painel da Tagruato dentro da nave. Já no campo das
teorias, não há uma resposta exata para a origem do monstro, muito pelo contrário.
As interações dimensionais abrem ainda mais o leque de possibilidades, assim
como a presença da Tagruato dentro da nave indica que a empresa japonesa tem um
papel muito mais complexo nesse mundo que apenas perfuração e produção de
bebidas populares. Sua extensão continua indecifrável, já que sequer temos um
japonês entre a tripulação internacional, mas é possível conjecturar. O mais
interessante dessas novas teorias é a possibilidade do Colisor de Hádrons
Shepard ter desencadeado mudanças não apenas no espaço, mas também no tempo,
como esperado. Dessa forma, é possível pensarmos que, durante o filme de 2008,
um filhote Clover apareceu na superfície por causa de uma alteração temporal
causada pelo experimento do futuro. Nessa linha de pensamento, é ainda possível
imaginarmos que a empresa Tagruato já sabia sobre o monstro e o explorava de
alguma forma ao longo dos anos. Mesmo com tantas possibilidades, não há
qualquer ligação direta com Rua Cloverfield 10, tornando-o ainda mais
embuste. A única possibilidade viável de conexão é que aquele seja um mundo em
que invasores alienígenas apareceram no planeta por conta da interferência no
multiverso. As revelações e teoria são grande parte do que tornam o filme
assistível, por tanto me abstive por completo de spoilers. Quer saber se o
Clover aparece? Assista e se surpreenda com a resposta! E boas notícias para
quem está interessado nessa franquia: a parte quatro sai ainda esse ano, e se
passará na Segunda Guerra Mundial!
3 Slushos
para The Cloverfield Paradox
FONTE:
http://101horrormovies.com.br/reivew-2018-05-the-cloverfield-paradox/
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