TERROR 2018 06 HELLRAISER:
JUDGEMENT
E Jesus chorou,
mais uma vez…
Dentre as
franquias que compõem o panteão do horror
contemporâneo, Hellraiser talvez seja a mais díspar no quesito
potencial e qualidade. A obra de Barker é dotada de uma mitologia fantástica e
grotescamente brilhante, muito além em profundidade do que qualquer
outro slasher ou assombração.
Descritos de forma
simples e eficiente na frase “anjos para uns, demônios para outros”, a
existência dos cenobitas carrega consigo possibilidades incomensuráveis de
horrores e estórias. Essa potencialidade foi muito bem explorada nos quadrinhos originais,
dos anos oitenta, que apresentavam outros cenobitas, além dos tradicionais que
compõem o bestiário cinematográfico da série, mas também traz um apanhado de
proposições filosóficas diferenciadas sobre essas figuras e o que elas tem de
oferecer a humanidade e vice-versa. Hellraiser: Judgement é a décima parte
dessa saga que já ultrapassa os 30 anos de vida. O roteiro e direção são
assinadas por Gary J. Tunnicliffe, figurão dos efeitos especiais e maquiagem
com uma grande bagagem no nosso amado gênero. Tunnicliffe foi responsável pelo
trabalho de maquiagem de Pinhead e seus amigos desde Hellraiser III: Inferno na Terra.
Tamanha proximidade com o material garantiu a ele um ponto de vista único que é
refletido no enredo de seu filme. Ao mesmo tempo em que se distancia bastante daquilo
que foi exposto até então, acrescenta um frescor mais que necessário para dar
sobrevida a uma franquia que tem rolado ladeira abaixo do terceiro filme em
diante. O enredo consistente em duas tramas paralelas que se cruzam. No âmbito
mundano, três detetives investigam um assassino em série prolífico e criativo
que assistiu Seven – Os Sete Crimes Capitais em
excesso. Já no âmbito profano, um Pinhead cada vez mais meditativo e um outro
cenobita chamado Auditor confabulam sobre a ineficiência dos quebra-cabeças de
madeira em uma época tomada pela tecnologia e cientificidade. A ideia de um
Hellraiser sem Pinhead já tem sido discutida e defendida há algum tempo, desde
a aposentadoria definitiva de Doug Bradley de seu papel mais
icônico. Judgment demonstra que é possível trazer uma nova entidade
para o protagonismo, com o próprio diretor ocupando esse lugar. O Auditor não
apenas tem uma aparência marcante, como também uma personalidade bem incomum,
quando comparado com seus iguais. Somente nos quadrinhos personagens
semelhantes ganharam algum destaque. Mesmo assim, a presença do magnânimo
cabeça de pregos se faz imponente e fundamental para a conclusão do filme. A
audácia do poderoso Pinhead, interpretado de forma soturna por Paul T. Taylor,
tem um resultado pra lá de inesperado para quem não é familiarizado com os
quadrinhos mais recentes, por se tratar de uma ideia explorada por lá. Até aqui
fiz parecer que um milagre recaiu sobre nós, fãs do horror, e o décimo filme da
interminável franquia Hellraiser foi bom. Lamentavelmente, não é para
tanto. O orçamento baixíssimo que dá um aspecto antigo, datado e de quinta
categoria exerce um impacto muito negativo. O descaso absoluto dos detentores
dos direitos autorais da obra de Barker fica evidente nos miseráveis 500 mil
dólares de orçamento. Impossível não estar a mercê das limitações técnicas e
estéticas com um valor tão irrisório (em se tratando de cinema, claro). Para
critério de comparação, um dos filmes mais recentes do brinquedo
assassino, A Maldição de Chucky teve um orçamento cinco vezes maior.
Dentro da própria franquia, esse foi o menor orçamento por uma larga distância.
Dentro das condições porcas oferecidas e o terrível histórico, Tunnicliffe
merece aplausos por conseguir criar um filme decente, com cenas muitíssimo
grotescas, um Pinhead digníssimo, um novo cenobita que já garante um lugar nos
anais do inferno e uma trama bem pensada.
PS* A atriz
Heather Langenkamp, a eterna Nancy de A Hora do Pesadelo,
faz uma pontinha irrisória no filme. Sequer a notei da primeira vez, tão
marcante sua presença.
2.5 correntes
para Hellraiser: Judgemen
FONTE http://101horrormovies.com.br/review-2018-06-hellraiser-judgement/
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