TERROR 2018 07 MEU AMIGO DAHMER
Precisamos falar
sobre Dahmer
O fascínio
provocado por serial killers é um mistério inexplicável para mim.
Pesquisadores certamente defendem suas próprias teorias sobre o tema, mas ainda
parece estranho que assassinos cruéis tenham filas intermináveis de seguidores
e entusiastas. Muito menos explica a imensidão de mulheres que se
tornam groupies de homens que possivelmente teriam as matado, se
tivessem a chance. Ou então, homens que, em sã consciência, colecionam
memorabilias macabras que outrora pertenceram a esses monstros. Dentre esse notório
grupo se figuras grotescas, já há algum tempo passei a ter especial curiosidade
por Jeffrey Dahmer, a quem considero o sujeito mais mentalmente perturbado já
registrado na história moderna. Duas características o tornam peculiar, entre
os seus colegas de “profissão”. É comum entre os assassinos em série, que seus
crimes reflitam, em alguma instância, sua própria infância, mesmo que com
violência elevada a enésima potência. Dahmer foge dessa regra, apesar de
oriundo de um lar muito problemático. O próprio Jeffrey defendeu, em
entrevista, que seus pais não tiveram culpa alguma sobre seu comportamento.
Outra característica que o distingue da maioria, é o não interesse pelo sadismo
como objetivo. Apesar de suas ações figurarem facilmente entre algumas das
maiores atrocidades já registradas, tortura nunca foi um objeto de prazer para
esse homem, que pouco se assemelha a um ser humano, salvo a aparência física. Meu
Amigo Dahmer explora esse aspecto, ao retratar a adolescência do “Canibal
de Milwaukee”. O filme é baseado na revista em quadrinhos homônima escrita
por Derf Backderf, que foi “amigo” de Dahmer no último ano de colégio. Ainda
não tive a oportunidade de ler os quadrinhos, lançados por aqui pela DarkSide,
mas fica perceptível o fator “adaptação” no filme de Marc Meyers. A história
encaixa-se em um subgênero conhecido como “coming-of-age”, em que um jovem
passa por transformações decorrentes da idade. Dahmer é continuamente atormentado
pelos próprios desejos homossexuais, aflorados pela puberdade, enquanto lida
com um ambiente escolar e humano do qual não faz parte, e um lar problemático.
A performance magistral de Ross Lynch transmite a sensação de que Jeffrey é um
indivíduo que existe em outra sintonia, bem diferente da nossa. Frente ao
tormento puramente psíquico, ele manifesta diversos comportamentos doentios e
que não se encaixam nas regras do convívio social. Os sintomas mais notáveis
são o interesse mórbido por animais mortos, o alcoolismo precoce e os espasmos
e sons estranhos que reproduzia continuamente dentro e fora da escola. Falta,
no entanto, um enfoque narrativo mais elaborado. Mesmo com uma duração
mediana, Meu Amigo Dahmer explora uma quantidade enorme de momentos distintos,
sem nunca dar a devida atenção às passagens profundamente incômodas
e creepy, como o alcoolismo, a solidão e a violência contra os animais. O
único aspecto de sua loucura que é destrinchado é a mania de reproduzir os
espasmos em público. Da mesma forma, por várias vezes a história parece dar
mais ênfase à perspectivas de terceiros, como a do próprio Derf, o que faz todo
sentido, dado o título do filme. Mesmo assim, essas mudanças de foco não são
exatamente orgânicas, de maneira que o filme como um todo padeça de um tom
inconstante. Para os que desejam viajar para dentro da mente de Jeffrey Dahmer,
recomendo uma sessão dupla entre Meu Amigo… e Dahmer, filme de
2002 estrelado por um então desconhecido Jeremy Renner. O primeiro é
tecnicamente melhor e explora um momento bem particular da vida do canibal.
Enquanto isso, o último é quase uma continuação direta, tem uma estética de
filme de televisão que não colabora, mas independente disso, a retratação do
personagem em si é deveras mais poderosa e uma experiência de gelar os ossos. De
certa forma, ambos se complementam, criando uma experiência pra lá de deturpada
e bizarra.
3.5 ossos de
animais mortos para Meu Amigo Dahmer
FONTE:
http://101horrormovies.com.br/review-2018-07-meu-amigo-dahmer/
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