TERROR 2018 05 THE CLOVERFIELD PARADOX
Daniel Rodriguez 05/02/2018
Solução do
mistério ou mais peças do quebra-cabeça?
Há uma década, a
Rede Mundial de Computadores foi infectada por um vírus peculiar e poderoso,
chamado Cloverfield:
Monstro. Fruto das mentes de J.J. Abrams e Matt Reeves, esse vírus
manifestou-se primeiramente como um filme misterioso em found
footage sobre um monstro gigante (leia-se Kaiju) destruindo Nova
Iorque e, depois, por meio de vários sites e informações espalhadas
na web, revelando uma grande conspiração eco-industrial por trás dessa
aberração, então batizada de Clover. Apesar de minha memória ter liquidado
parte das informações, lembro-me com clareza de adentrar a fundo nesse universo,
lendo cada pedaço do quebra-cabeça deixado online e ajudando outros internautas
a criarem teorias. Uma das mais divertidas (e possivelmente BEM REAL), que me
recordo com clareza, dizia que o kaiju era apenas um filhote e que
haveria um ser ainda mais colossal espreitando nas profundezas. Na época,
referências como o logotipo das corporações Dharma e a bebida Slusho! pareciam
até conectar o filme aos seriados Lost e Heroes,
respectivamente. Muitos de nós acreditaram que a solução desse mistério
aparecia em Rua
Cloverfield 10, de 2016. Eis que o tal filme se mostrou um completo
engodo, sendo apenas um suspense sci-fi que recebeu o título
Cloverfield, posteriormente, para lucrar em cima do nome. Na época de seu
lançamento, os criadores anunciaram uma série de longas de ficção científica,
possivelmente ambientados no mesmo mundo ou universo, com um toque de Além
da Imaginação, e já anunciaram um terceiro longa. Surge então O Paradoxo
Cloverfield. Não bastasse todo o mistério por trás de seu antecessor, o novo
longa, dirigido por Julius Onah, foi ainda mais longe. A campanha de lançamento
do filme reteve toda e qualquer informação até a fatídica noite de 04 de
fevereiro, durante a final do Super Bowl, onde não apenas revelaram o trailer,
mas também a data de lançamento: imediatamente após o fim do evento mais
esperado pelo público americano, NA NETFLIX! A trama
do Cloverfield original era bem simples. O jovem adulto Rob está
prestes a se mudar para o Japão, onde começará a trabalhar em uma companhia de
mineração e perfuração de petróleo chamada Tagruato. Durante a festa de
despedida do mesmo, um monstro colossal surge na cidade, destruindo tudo e
todos. Todas as teorias indicavam um mundo relativamente semelhante ao nosso,
com o acréscimo de bestas colossais residindo no fundo do mar, longe da
humanidade. A aparição do kaiju teria sido em decorrência de dois
possíveis fatores: um objeto que caiu do céu (um satélite ou fragmento de estação
espacial) ou perfurações em regiões abissais. Os primeiros minutos de The
Cloverfield Paradox já bagunçam essa ideia. Ao invés de um planeta Terra
semelhante com adição de monstros, essa versão apresenta uma ordem social bem
diferente e tecnologias futurísticas. Com os recursos naturais à beira da
extinção, as nações se mobilizam para uma guerra por restos, enquanto uma
empreitada espacial busca sanar de vez o problema. Na estação especial
Cloverfield, uma máquina de hádrons pode ser a solução para a crise energética
mundial. No entanto, diversas pessoas temem a utilização da máquina, dita poder
gerar energia ilimitada. Um pesquisador em específico cita algo chamado
“Paradoxo Cloverfield”, que descreve a possibilidade de uma alteração da
realidade em escala multidimensional. A quase totalidade do filme se passa
dentro da estação espacial, o que é uma benção para os amantes da
ficção-científica, mas já deixa os fãs do monstro gigante (tipo eu), com o
pé-atrás. Logo nos primeiros momentos dentro da estação, fica aparente uma
certa pobreza criativa. Os astronautas são distribuídos e escritos da forma
mais clichê possível, podendo facilmente serem substituídos pelas equipes da
nave de Alien:
Covenant ou da Estação Espacial Internacional de Vida,
só pra mencionar filmes de 2017. Esteticamente, o visual não faz feio, mas
também não impressiona, encaixando-se claramente no padrão Netflix atual. O
mesmo pode ser dito sobre a direção e fotografia que não dispõem de nenhuma
grandiosidade, aparentando serem pensados para exibição doméstica ao invés de
cinemas. Como esperado, o paradoxo se prova real e tudo vira de cabeça para
baixo assim que a máquina é utilizada. Situações extremamente bizarras e
inexplicáveis começam a pipocar, deixando os astronautas com as calças nas
mãos. Até esse ponto, não havia nada de minimamente notável sobre o filme. Então,
em um arroubo de inspiração, The Cloverfield Paradox incorpora seu
melhor O
Enigma do Horizonte com um pouquinho assim de Alien:
O Oitavo Passageiro (e até Uma
Noite Alucinante!) e tudo sobre o filme melhora de uma hora pra
outra. Um mistério envolvente toma conta da narrativa e uma dose boa de horror
é inserida na mistura. Enquanto isso, lá no nosso amado planetinha azul, o
marido de uma das astronautas se depara com uma destruição em larga escala em
Nova Iorque, causada por sabe-se lá o quê. Há uma constante mudança de pontos
de vista, passando da nave para a terra. Essa alteração funciona e é uma de
suas partes mais provocantes, especialmente para os fãs do original, ainda mais
quando o cientista que cita o paradoxo, em uma das cenas mais didáticas,
menciona que o cruzamento interdimensional poderia trazer ou despertar
monstros, demônios e criaturas das profundezas, dando um gostinho ainda maior
do que está por vir.
Com a mesma
facilidade que se transformou em um filme mais empolgante, logo retorna para o
clichê com força total, abusando de todos os tropos existentes sobre desastres
em viagens espaciais, com eventos ocorrendo de maneira idêntica ao que vemos em
todos os filmes do tipo nos últimos anos,
de Prometheus a Interestelar, passando pelos filmes já
mencionados anteriormente e chegando até aquela onda sci-fi do final
dos anos 90 e começo do ano 2000, tipo Planeta Vermelho, Super
Nova e etc. Apesar do conceito do paradoxo oferecer possibilidades
incalculáveis, o roteiro é incapaz de explorar o que tem em mãos, de forma que
a maioria das alterações causadas são mega esquemáticas, somente atendendo as
necessidades do roteirista para continuar a trama da forma desejada. A
originalidade passa longe, mas existe um certo charme nesse enredo espacial que
ainda faz com que o filme seja divertido. Para os mais atentos, referências de
todos os tamanhos apontam para o longa de 2008, como a presença de um
bonequinho da Slusho! e um painel da Tagruato dentro da nave. Já no campo das
teorias, não há uma resposta exata para a origem do monstro, muito pelo contrário.
As interações dimensionais abrem ainda mais o leque de possibilidades, assim
como a presença da Tagruato dentro da nave indica que a empresa japonesa tem um
papel muito mais complexo nesse mundo que apenas perfuração e produção de
bebidas populares. Sua extensão continua indecifrável, já que sequer temos um
japonês entre a tripulação internacional, mas é possível conjecturar. O mais
interessante dessas novas teorias é a possibilidade do Colisor de Hádrons
Shepard ter desencadeado mudanças não apenas no espaço, mas também no tempo,
como esperado. Dessa forma, é possível pensarmos que, durante o filme de 2008,
um filhote Clover apareceu na superfície por causa de uma alteração temporal
causada pelo experimento do futuro. Nessa linha de pensamento, é ainda possível
imaginarmos que a empresa Tagruato já sabia sobre o monstro e o explorava de
alguma forma ao longo dos anos. Mesmo com tantas possibilidades, não há
qualquer ligação direta com Rua Cloverfield 10, tornando-o ainda mais
embuste. A única possibilidade viável de conexão é que aquele seja um mundo em
que invasores alienígenas apareceram no planeta por conta da interferência no
multiverso. As revelações e teoria são grande parte do que tornam o filme
assistível, por tanto me abstive por completo de spoilers. Quer saber se o
Clover aparece? Assista e se surpreenda com a resposta! E boas notícias para
quem está interessado nessa franquia: a parte quatro sai ainda esse ano, e se
passará na Segunda Guerra Mundial!
3 Slushos
para The Cloverfield Paradox
FONTE:
http://101horrormovies.com.br/reivew-2018-05-the-cloverfield-paradox/
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