quinta-feira, 31 de julho de 2014
quarta-feira, 30 de julho de 2014
terça-feira, 29 de julho de 2014
segunda-feira, 28 de julho de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
sábado, 26 de julho de 2014
sexta-feira, 25 de julho de 2014
sábado, 19 de julho de 2014
STAR CRASH (SCONTRI STELLARI, Itália, 1979)
Sinopse:
Épico de ficção
científica às margens do sucesso de Star Wars a respeito da batalha de um
Imperador contra a ira de um Conde que sequestrou seu filho e quer dominar a
Galáxia.
País: Itália
Idioma: Inglês
Produção:
Roger Corman
Direção:
Luigi Cozzi
Elenco:
Christopher
Plummer,
Caroline Munro,
Marjoe Gortner,
David Hasselhoff,
Joe Spinell
Comentários site Boca do
Inferno:
Vasculhando as
profundezas obscuras de minha sofisticada cultura de fungos (também conhecida
como "minha coleção de fitas VHS"), encontrei Star Crash, uma
impagável pérola esquecida de 1979. Ficção trash rodada na Itália e sem nenhum
escrúpulo, o filme veio na cola quase que imediatamente de Star Wars, que
George Lucas havia dirigido menos de dois anos antes, revolucionando o cinema
de aventura e ficção científica e arrecadando milhões. Seu congênere, por outro
lado, dispôs de um orçamento pra lá de modesto e, por isso, tudo o que
conseguiu em seus 92 minutos de oportunismo bruto, foi criar um dos mais
hilariantes e descarados plágios de que se tem notícia. E o que o torna ainda
mais engraçado é o fato de se levar a sério.
A galáxia (o filme não
especifica qual, mas supomos que seja a nossa) passa por um momento turbulento,
com a crescente dominação do Conde Zarth Arn (Joe Spinell, de uma canastrice
irretocável), que pretende derrotar o Imperador (Christopher Plummer, levando a
coisa a sério) para assegurar seu total domínio e estender a Liga dos Mundos
Obscuros para o restante do universo. Para impedir o avanço cada vez mais
rápido do Conde e resgatar seu filho desaparecido, Simon (David Hasselhoff,
aquele cara que estrelava o seriado A Super Máquina), o Imperador decide
contratar os serviços de dois foras da lei espaciais: Stella Star (Caroline
Munro, mais bela do que nunca) e Akton (Marjoe Gortner, mais songo mongo do que
nunca). Resta a eles descobrir o esconderijo do Conde e sua arma secreta e
devolver o equilíbrio galáctico para o bem do universo.
quarta-feira, 16 de julho de 2014
035 1927 O CANTOR DE JAZZ (THE JAZZ SINGER, EUA)
Direção: Alan Crosland
Roteiro: Alfred A. Cohn, Jackjarmuth
Fotografia:
Hal Mohr
Música:
Ernie Erdman, James V. Monaco, Louis Silvers, Irving Berlin
Elenco: Al Jolson, May McAvoy,Wliner Oland, Eugenie
Besserer, Otto Lederer, Bobby Cordon, Richard Tucker, Cantor Joseff Rosenblatt
Oscar:
Alfred A. Cohn, Jack Jarmuth (prémio especial pelo pioneirismo no cinema
falado)
Indicação
ao Oscar: Alfred A. Cohn (roteiro)
Na
história do cinema, alguns filmes foram alvo de uma atenção especial, se não
por sua estética, certamente pelo seu papel no desenvolvimento da arte
cinematográfica como nós a conhecemos. O cantor de jazz, de Alan Crosland, é
sem dúvida uma das obras que marcaram a trajetória dos filmes tanto como forma
de arte quanto como uma indústria lucrativa. Lançado cm 1927 pela Warner
Brothers e estrelado por Al Jolson, um dos mais famosos cantores da sua época,
O cantor de jazz é considerado, por unanimidade, o primeiro longa-metragem
sonoro. Embora se limite a números musicais e aos poucos diálogos que antecedem
e se seguem a eles, o uso do som introduziu mudanças inovadoras na indústria,
destinadas a revolucionar Hollywood como praticamente nenhum outro filme
conseguiu fazê-lo. Com sua mistura de vaudeville e melodrama, a trama é
relativamente simples. O adolescente Jakie (Jolson) é o único filho do devoto
solista de sinagoga Rabinowitz (Warner Oland), que o encoraja a seguir o mesmo
caminho de gerações de solistas na família. Embora profundamente influenciado
por suas raízes judaicas, a paixão de Jakie é o jazz e ele sonha com uma plateia
inspirada pela sua voz. Quando um amigo da família conta a Rabinowitz ter visto
Jakie cantando em um café, o pai castiga o filho num acesso de fúria, fazendo-o
fugir de casa e de sua inconsolável mãe Sara (Eugénie Besserer). Anos depois,
Jakie, também conhecido comojack Robin, volta como um consagrado cantor de jazz
em busca de reconciliação. Ao encontrar o pai ainda irascível e doente, Jack é
forçado a decidir entre sua carreira e sua identidade judaica. Um marco que
representa um passo decisivo em direção a um novo tipo de cinema e um novo tipo
de entretenimento, O cantor de jazz é mais do que o primeiro filme falado.
Conforme afirmou o renomado cientista político Michael Rogin, o filme pode ser
visto como um típico exemplo da transformação dos judeus na sociedade
americana: sua assimilação racial pela América branca, sua conversão religiosa
a um dogma espiritual menos rígido e sua empreendedora integração à indústria
cinematográfica americana durante a época da chegada do som.
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 035)
sexta-feira, 11 de julho de 2014
206 1948 RIO VERMELHO (RED RIVER, EUA)
Director Howard Hawks, Arthur Rosson
Produção: Charles K. Feldman, Howard Hawks
Roteiro:
Borden Chase, Charles Sliner
Fotografia:
Russell Harlan
Música:
Dimitri Tiomkin
Elenco:
John Wayne ……...Thomas Dunson
Montgomery Clift …Matthew ‘Matt’ Garth
Joanne Dru ………Tess Millay
Walter Brennan …..Groot’ Nadine
Harry Carey ………Sr. Melville
Harry Carey Jr. ……Dan Latimer
Ainda: Paul Fix, Hank, Worden, Mickey Kuhn, Ray Hyke,
Willv Wales
Oscar: Borden Chase (Roteiro), Christian Nyby (edição)
Uma
refilmagem em forma de faroeste de O grande motim (1935), este é um filme consideravelmente
mais profundo do que o original, apresentando a relação entre Bligli e
Christian em termos de um conflito pai/filho. O astro John Wayne - um dos mais bonitos
protagonistas masculinos da década de 30, interpretando um personagem mais velho
do que ele próprio com uma aspereza autêntica e circunspecta - é contrastado de
forma interessante por Hawks com o fotogênico Montgomery Clift, a síntese do
tipo de neurose sensível e masculina que entraria em moda na década seguinte. Depois
de um longo prólogo que se passa durante as consequências de um ataque de índios
em 1851, no qual vemos o empobrecido Tom Dunson (Wayne) e o órfão Matthew Garth
(Clift) juntarem seus rebanhos para formar um império do gado, somos
apresentados à Red River D - como o personagem de Wayne chama sua propriedade –
na depressão econômica pós-Guerra Civil. Conduzindo um rebanho até o Missouri,
o inflexível Dunson se torna cada vez mais tirânico, levando Matt a se rebelar
e conduzir a boiada para o Oeste através de uma rota mais segura até Abilene.
Dunson admira a coragem do rapaz, mas, ainda assim, jura ira seu encalço para
matá-lo, o que leva a um clímax que é dos mais emotivos do gênero, no qual dois
homens que se amam duelam em meio ao gado nas ruas de Abilene. Hawks, o grande
cronista das sagas masculinas do cinema, encena aqui a ópera de caubóis
definitiva, ofuscando todos os outros faroestes de condução de gado com sequências
belas, líricas e empolgantes de estouro de boiada, clima árido, vaquejadas e conflitos
com os índios. Os protagonistas estão no auge, com Wayne surpreendentemente
rivalizando Clift em termos de sutileza. Temos ainda coadjuvantes excelentes,
como Walter Brennan como o tolo desdentado; John Ireland como um pistoleiro
magricela; Joanne Dru como a garota pioneira que é capaz de levar uma flechada
no ombro quase sem cambalear. Embora seja conhecido por seus faroestes, Hawks
fez, surpreendentemente, poucos filmes do gênero. Este parece ser um tributo
carinhoso a John Ford, realizado com uma certa atitude de
também-posso-fazer-isso, uma vez que Hawks escalou vários membros da trupe do
colega; Harry Carey e Harry Carey Jr., Hank Worden e até o próprio Wayne. O diretor
usa uma abordagem fordiana dos esplendores perigosos da paisagem do Oeste, assim
como uma trilha à Ford de Dimitri Tiomkin, baseada em canções folclóricas. KN
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 206)
terça-feira, 8 de julho de 2014
034 1927 OUTUBRO (OKTYABR, URSS)
Direção:
Grigori Aleksandrov, Seigei M. Eisenstein
Roteiro:
Grigori Aleksandrov, Sergei M. Eisenstein
Fotografia:
Vladimir Nilsen, Vladimir Popov, Eduard Tisse
Música:
Alfredo Antonini, Edimund Meisel
Elenco:
Vladimir
Popov ……Aleksandr Kerensky
Vasili
Nikandrov …..V.I. Lenin
Layaschenko ………Konovalov
Chibisov ……………Skobolev
Boris Livanov ………Terestsenko
Mikholyev …………..Kishkin
Ainda: N. Podvoisky, Smelsky, Eduard Tisse
Em
1926, Sergei M. Eisenstein foi para a Alemanha apresentar seu novo filme, O
encouraçado Potemkin. Partiu como um promissor jovem cineasta, mas retornou
como um superastro da cultura internacional. Uma série de importantes produções
cinematográficas estava sendo planejada para a comemoração do 10º aniversário
da vitória bolchevique. Eisenstein aceitou avidamente o desafio de apresentar
na tela o processo revolucionário na Rússia - ou seja, de que forma o país
passou do "governo provisório" de Aleksandr Kerensky, instaurado após
a abdicação do czar, para as primeiras vitórias de Lênin e seus seguidores. Não
foram poupados gastos. Imensas cenas de multidão foram organizadas e o tráfego da
cidade foi desviado para que Eisenstein pudesse filmar nos exatos locais em que
os incidentes retratados ocorreram. Ao contrário do que se pensa, o filme não
contém um só metro de cenas documentais. Cada tomada foi uma reconstituição.
Trabalhando de modo febril, Eisenstein concluiu o filme bem a tempo para as
festividades de aniversário, porém as reações, oficiais ou não, não foram de
entusiasmo. Muitos consideraram o filme confuso e difícil de acompanhar. Outros
se perguntaram por que o papel de Lênin foi tão reduzido (o ator que o
interpreta, Vasili Nikandrov, aparece poucas vezes na tela). Muitos dos críticos
que apoiaram Potemkin sugeriram que Eisenstein voltasse para a sala de edição e
continuasse trabalhando. É inegável que Outubro seja uma obra-prima de algum
tipo, porém descobrir qual é esse tipo é um verdadeiro desafio. Como ferramenta
didática, uma maneira de "explicar" a revolução para as massas do
país e do exterior, o filme é simplesmente ineficaz. Para muitos espectadores,
suportar a projeção é um verdadeiro suplício. As caracterizações são todas
simplórias e qualquer pessoa com o mais rudimentar conhecimento histórico as reconhece
como uma grosseira propaganda. Ainda assim, a característica mais poderosa e
comovente de Outubro talvez seja simplesmente o nível da sua ambição. Sergei M.
Eisenstein foi sem dúvida a mais notável personalidade dos primeiros 50 anos de
existência do
cinema,
sendo absurdamente erudito e dono de uma crença ilimitada no potencial da arte
cinematográfica. No auge do seu delírio, Eisenstein imaginou que o cinema
poderia representar um "raciocínio visual" - não se limitando aos
argumentos, mas envolvendo o processo através do qual a mente os constrói. As
imagens fotográficas, a matéria-prima do cinema, tinham de ser
"neutralizadas" em sensações e estímulos para que um filme pudesse
revelar conceitos e não só pessoas ou coisas. O verdadeiro motor que
impulsionaria a máquina do cinema como Eisenstein a via era a montagem, a edição:
a interação "mística" que ocorre quando dois pedaços distintos de
filme são juntados. Outubro é o mais puro e convincente exemplo da teoria e
prática cinematográfica de Eisenstein. Ele possui várias sequências
absolutamente emocionantes: a derrubada da estátua do czar, a construção da
ponte e, especialmente, a muitas vezes citada sequência "Por Deus e pela
Pátria". Provas do frio engenheiro que Eisenstein se treinou originalmente
para ser podem ser encontradas na Intensa complexidade da montagem. Entretanto,
correndo sob a superfície do filme, pode-se sentir o ímpeto - e o toque de
loucura - de um artista às portas do que ele acreditava ser um admirável mundo
novo. RP
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 034)
033 1927 O MONSTRO DO CIRCO (THE UNKNOWN, EUA)
Direção: Tod Browning
Roteiro: Tod Browning, Waldemar Young
Fotografia:
Merritt B. Cerstad
Elenco:
Lon
Chaney ……Alonzo, o homem sem braços
Norman
Kerry .…Malabar, o poderoso
Joan
Crawford …Nanon Zanzi
Nick
De Ruiz …...Antonio Zanzi, pai de Nanon
John George ……Cojo, assistente de Alonzo
Frank Lanning …Costra
Ainda: Polly Moran
Embora
mais conhecido por ter dirigido Bela Lugosi em Drácula, o clássico de terror da
Universal de 1931, e famoso pelo bizarro Monstros (1932), o maior filme de Tod
Browning – um artista de circo que se tornou cineasta - é O monstro do circo. A
obra é um subestimado tesouro da era muda, estrelado pelo ator preferido (e
mais famoso) do roterista/escritor, o chamado "Homem de Mil Rostos",
Lon Chaney. Conhecido e altamente admirado pela dor física que suportava com
regularidade ao interpretar vilões ou anti-herois fisicamente incapacitados,
Chaney se supera como Alonzo, um criminoso com um dedo extra em uma das mãos
que tenta evitar ser capturado fingindo ser um atirador de facas sem braços em
um circo itinerante de ciganos. A armação, a princípio, tem um benefício extra,
uma vez que Nanon (Joan Crawford em um dos seus primeiros papéis), a bela
assistente de Alonzo, não suporta .In.içada por homens - especialmente pelo
principal rival de Alonzo na disputa por seu amor, o brutamontes levantador de
pesos Malabar, o Poderoso (Norman Kerry). Quando o pai de Nanon vê os braços
dele acidentalmente, Alonzo o assassina para manter seu segredo. Enquanto isso,
Nanon consegue ver o polegar duplo do assassino, mas não seu rosto. Obcecado
pela mulher e atormentado pela possibilidade de ela acabar descobrindo sua
verdadeira identidade, Alonzo ignora as objeções de Cojo (John George), seu
assistente anão, e faz uma cirurgia para amputar os braços. No entanto, em uma
das mais deliciosas e perturbadoras ironias de O monstro do circo, quando Alonzo
retorna ao circo depois de uma longa convalescença, ele descobre que Nanon superou
sua fobia de ser abraçada e se apaixonou por Malabar. Buscando justiça poética
(ou mera vingança) por essa cruel virada do destino, Alonzo tenta sabotar o novo
número de Malabar – no qual o brutamontes amarra os próprios braços a um par de
cavalos que puxam cm direções opostas - para que seu rival também fique
desmembrado. Contudo, seu plano é frustrado no último instante e o próprio
Alonzo morre ao salvar Nanon de ser pisoteada por um dos cavalos. Extraindo uma
extraordinária e assustadora interpretação de Chaney, enchendo a trama de viradas
surpreendentes e personagens inesquecíveis, Browning cria uma arrepiante obra-prima
do drama psicológico (e psicossexual). Nas palavras de Michael Koller: "O monstro
do circo é um filme verdadeiramente horripilante que nos conduz aos mais
sombrios recônditos da psique humana." SJS
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 033)
#012 1927 O MONSTRO DO CIRCO (The Unknown, EUA)
Direção: Tod Browning
Roteiro: Tod Browning
Elenco: Lon Chaney, Norman Kerry, Joan Crawford, Nick de Ruiz, John George
Dois grandes nomes do cinema de terror se encontram em O Monstro do Circo: Tod Browning, que mais tarde viria a dirigir os clássicos Drácula e Monstros, e Lon Chaney, o Homem das Mil Faces, estrela de O Corcunda de Notre Dame e O Fantasma da Ópera. E assim como em Monstros, Browning mais uma vez utiliza o universo do circo como pano de fundo para suas bizarrices. Em uma das suas mais importantes e marcantes interpretações no cinema, Chaney faz o papel de Alonzo, um exímio atirador de facas em uma trupe circense, que é conhecido como “Homem Sem Braços”, exatamente por não possuir os membros, e utilizar os pés em seus números, onde arremessa as facas e até utiliza armas de fogo, tendo a bela Nanon (Joan Crawford) como ajudante de palco. Acontece que Nanon é a cigana filha de Antonio, dono do circo, e por quem Alozono tem uma paixão escancarada, não correspondida. O detalhe é que Nanon tem uma espécie de fobia ao toque masculino, e simplesmente não suporta mãos masculinas e repele todos os caras que tentam tocá-la, colocando Alonzo como um dos mais bem sucedidos pretendentes ao coração da moça. Só que Alonzo tem concorrência de Malabar, o homem mais forte do circo, que também a ama e tenta de qualquer forma conquistá-la. Só que na verdade, o que ninguém sabe é que Alonzo é um vigarista, ex-criminoso que possui sim os braços, e utiliza aquele disfarce apenas para fugir da polícia. O único que sabe da verdade é seu anão comparsa, Cojo. Para piorar, quando Antonio vê o sem-braço dando em cima da sua filha, ele lhe dá uma surra, e como revide, Alonzo mata-o estrangulado, e aí descobre-se que além de ter os braços, o bandido também tem dois dedões, e isso facilmente o entregaria, já que Nanon é testemunha ocular do assassinato do pai, porém sem conseguir ver claramente quem foi o assassino. Para não ser identificado e para evitar que seu embuste seja descoberto ao pedir a mão da garota em casamento, Alonzo tem a mais brilhante ideia da história do cinema (só que não!): resolve fazer uma cirurgia para cortar os próprios braços. Gênio! Só que como uma boa mulher que não sabe o que quer, adivinhe se Nanon não começa a se engraçar com o fortão Malabar? Ela perde seu medo irracional e aceita se casar com ele. Ou seja, o tonto do Alonzo, por um rabo de saia arrancou os próprios braços e Nanon na maior trairagem resolve ficar com o outro cara. É muito azar. Ou estupidez. Mas claro que o criminoso não vai deixar isso barato e querer se vingar de Malabar, elaborando um plano para que ele seja morto durante um novo espetáculo com cavalos que eles estão preparando. Além do filme ser bastante divertido, e com a direção de Browning segura e eficaz, em seu auge criativo, o que mais marca O Monstro do Circo é a atuação de Chaney, que imprime uma grande carga dramática, utilizando de suas expressões faciaIs para transmitir seus sentimentos (sempre lembrando que é um filme mudo), principalmente quando descobre que foi trocado após ter perdido os braços à toa, em uma cena que chega a ser realmente trágica e comovente. O ator Burt Lancaster aponta a interpretação de Chaney nessa fita como a mais convincente de toda a história do cinema! E no final das contas, mesmo com todas as decisões extremas e exageradas, o personagem de Chaney é movido por um amor cego, até obsessivo, mas que não mede esforços para conseguir aquilo que quer. Mesmo colocando assassinato nessa conta. Outro fator positivo de O Monstro do Circo é a participação de Paul Demuske, ator que não possuía braços na vida real, e foi o dublê de pernas e pés de Chaney, utilizado nas cenas de lançamento de facas, ou quando Alonzo fumava um cigarro, em tomadas onde o ator era focalizado apenas da cintura para cima. Um dos melhores filmes de Browning e Chaney, parceria que poderia ter se repetido em Drácula três anos depois, se o Homem das Mil Faces não tivesse morrido de forma precoce, abrindo espaço para Bela Lugosi pegar o papel.
FONTE: http://101horrormovies.com/2012/11/13/12-o-monstro-do-circo-1927/
032 1927 A GENERAL (THE GENERAL, EUA)
Direção: Clyde Bruckman, Buster Keaton
Produção: Buster Keaton, Joseph M. Schenck
Roteiro:
Al Boasberg, Clyde Bruckman
Fotografia:
Bert Haines, Devereaux Jennings
Música:
Robert Israel, William P. Perry
Elenco:
Buster Keaton …………Johnny Gray
Charles Henry Smith …Sr. Lee
Marion Mack ……………Annabelle Lee
Glen Cavender ………..Capitão Anderson
Jim Farley …………….. General Thatcher
Frederick
Vroom ………Um General do Sul
Ainda: Richard Allen, Joe Keaton, Mike Donlin, Tom
Nawn
Keaton
fez vários filmes - Nossa hospitalidade (1923), Sherlock Jr. (1924), Marinheiro
de encomenda (1928) - que podem ser incluídos entre os melhores (e mais
engraçados) de toda a produção cômica do cinema, porém nenhum deles é mais
forte candidato ao primeiro lugar do que esta obra-prima atemporal. Isso não se
dá apenas pelo fluxo constante de ótimas gags, tampouco pela maneira como elas
derivam totalmente das situações e do personagem, em vez de existirem isoladas
da trama do filme. Em vez disso, o que torna A general tão extraordinário é o
fato de ele ser superlativo em todos os aspectos: em termos de humor, suspense,
reconstituição histórica, estudo de personagens, beleza visual e precisão técnica.
Pode-se argumentar que ele chega mais perto da total perfeição do que qualquer
outro filme já feito, seja ele comédia ou não. Boa parte desse prazer vem da
própria narrativa, inspirada em um livro sobre as proezas reais de um grupo de
soldados do Norte que, durante a Guerra Civil, se disfarçaram de sulistas para
roubar um trem, que conduziram ao Norte para se reunirem aos seus camaradas
unionistas até serem capturados e executados. Já que estava fazendo uma
comédia, Keaton deixou de fora as execuções e mudou a perspectiva heroica para a
de um sulista, Johnny Gray, um maquinista que, de forma estoica, se não algo absurda,
decide perseguir sozinho os espiões unionistas quando eles roubam sua locomotiva
- "A General" - e, dentro dela, Annabelle Lee (Marion Mack), o outro
amor de sua vida. A primeira metade do filme acompanha a rejeição de Johnny
pelo Exército e sua caça à locomotiva, que ele recupera além das linhas
inimigas; a segunda metade retrata sua fuga (com Annabelle) das tropas da União
até sua cidade natal, onde - depois de entregar a garota, a General e um legítimo
general do Exército do Norte que trouxe consigo por acaso - é aclamado como
herói. Esse enredo de elegante simetria, além de admirável em sua forma, é a
fonte do suspense e das gags; porém a viagem também confere ao filme um tom
épico que, aliado à costumeira atenção aos detalhes históricos de Keaton, o transforma,
talvez, no melhor filme sobre a Guerra Civil já feito. Por fim, há o Johnny de
Buster: sisudo, porém belo em sua determinação corajosa e ligeiramente ridícula
- que é o ápice desta obra-prima ao mesmo tempo séria e cômica -, e o herói
mais humano que o cinema já nos ofereceu. CA
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 032)
sábado, 5 de julho de 2014
031 1927 AURORA (SUNRISE, EUA)
Direção:
F. W. Murnau
Produção:
William Fox
Roteiro:
Hermann Sudermann, Carl Mayer
Fotografia:
Charles Rosher, Karl Struss
Música:
Timothy Brock, Hugo Riesenfeld
Elenco:
George
O’Brien ………… O marido
Janet
Gaynor …………… A esposa
Margaret
Livingston …… A mulher da cidade
Bodil
Rosing …………….A babá
J.
Farrell MacDonald …...O fotógrafo
Ralph
Sipperly …………. O barbeiro
Ainda: Jane, Winton, Arthur Housman, Eddie Poland,
Barry Norton
Oscar:
William Fox (produção artística e notável), Janet Gaynor (atriz). Charles
Rosher, Karl Struss (fotografia)
Indicação
ao Oscar: Rochus Gilese (direção de arte)
Os
fanáticos por curiosidades talvez notem que, embora muitos livros geralmente
citem Asas como o primeiro ganhador do Oscar de Melhor Filme, a honra, na
verdade, foi para dois filmes: Asas, de William Wellman, recebeu o prêmio de
"Produção" e Aurora, de F. W. Murnau, o de "Produção Artística e
Notável". Se a segunda categoria impressiona mais do que a primeira, isso
explica em parte por que Aurora, e não Asas, continua sendo um dos filmes mais
reverenciados de todos os tempos. Inicialmente, William Fox trouxe Murnau para
os Estados Unidos com a proposta de um grande orçamento e total liberdade
criativa, e o fato de Murnau ter se aproveitado ao máximo disso nesta formidável
obra-prima ratifica sua incomparável reputação de gênio do cinema. A
simplicidade do filme é enganosa. Com o subtítulo um tanto enigmático de Uma canção
de dois humanos, Aurora se concentra em um casal do interior cujas vidas são destruídas
por uma sedutora mulher da cidade. Contudo, Murnau retira ondas de emoção do
que poderia ser melodrama corriqueiro, enriquecendo-o com uma série de inovadoras
técnicas cinematográficas. A mais notável delas é o uso de efeitos sonoros, deixando
o cinema um passo mais próximo da era falada - uma conquista injustamente ofuscada
por O cantor de jazz, lançado posteriormente também em 1927, Murnau também
manipula com criatividade o uso e o efeito dos intertítulos (três anos antes,
dirigira A última gargalhada sem intertítulo algum). O mais fascinante aspecto de
Aurora é o trabalho de camera. Trabalhando com dois fotógrafos. Charles Rosher
e Karl Struss, Murnau baseou-se na sua própria experiência com o expressionismo
alemão, assim como nas pinturas bucólicas dos mestres holandeses, especialmente
Jan Vermeer. Ligadas por graciosos e inventivos movimentos de câmera e
realçadas por truques de fotografia (como múltiplas exposições), as cenas de
Aurora parecem um primoroso still. Por mais mágicas que sejam as imagens, a
própria simplicidade da história confere a Aurora um peso dramático formidável.
George O'Brien, ponderando o assassinato de sua inocente esposa (Janet Gaynor),
é consumido pela culpa e a mulher reage com terror quando suas intenções ficam
claras. A viagem de barco em direção à sua planejada morte é carregada de
suspense e de uma estranha tristeza, à medida que o bom O'Brien luta para levar
suas monstruosas intenções a cabo. Margaret Livingston, no papel de sedutora
urbana, parece, em muitos aspectos, o equivalente feminino do vampiro de
Murnau, conde Orlok (do filme Nosferatu, de 1922), atormentando sem piedade a alma
do pobre O'Brien. Em uma cena, ele chega a ser assombrado por imagens
espectrais dela, que o cercam, encurralam e provocam com desejos homicidas. Infelizmente,
o filme se mostrou um fracasso de bilheteria e Murnau morreu em um acidente de
carro poucos anos depois. Entretanto, Aurora continua sendo um marco que serve
de medida para todo e qualquer filme, seja ele mudo ou não. Numa era mais primitiva,
é um apogeu artístico cuja sofisticação contradiz os recursos da época. Sua
sombra se projeta sobre diversas grandes obras subsequentes, de Cidadão Kane
(1941), de Orson Welles, a A bela e a fera (1946), de Jean Cocteau, porém, ao
mesmo tempo, seu próprio brilho é inimitável. JKI
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 031)
030 1927 METRÓPOLIS (METROPOLIS, ALEMANHA)
Direção:
Fritz Lang
Produção:
Erich Pommer
Roteiro:
Fritz Lang, Thea von Harbou
Fotografia:
Karl Freund, Günther Rittau
Música:
Gottfried Huppertz
Elenco:
Alfred Abel ………………Joh Fredersen
Gustav Fröhlich …………Freder Fredersen
Brigitte Helm ……………..Maria
Rudolf Klein-Rogge ……C.A. Rotwang
Fritz
Rasp ………………O homem magro
Theodor
Loos …………Josaphat
Ainda: Heinrich George
Com
uma duração original de mais de duas horas, Metropolis, de Fritz Lang, é o
primeiro épico de ficção científica, com cenários imensos, centenas de
figurantes, efeitos especiais de ponta para a época, muito sexo e violência,
uma moral nada sutil, atuações grandiosas, um quê de goticidade alemã e
inovadoras sequências de fantasia. Financiado pela UFA, o gigante
cinematográfico alemão, o filme foi controverso e se revelou um desastre de
bilheteria que quase levou o estúdio à falência. O enredo é quase tão simplista
quanto um conto de fadas: Freder Fredersen (Gustav Fröhlich), o filho mimado do
Mestre de Metrópolis (Alfred Abel), descobre a miséria em que vive a horda de
trabalhadores que garante o funcionamento da luxuosa supercidade. Freder passa
a compreender o sistema através da angelical Maria (Brigitte Helm) - uma
pacifista que serve constantemente de mediadora entre disputas industriais - e
do trabalho secreto em uma das esmerilhadoras massacrantes durante 10 horas por
dia. O Mestre consulta o engenheiro louco Rotwang (Rudolf Klein Rogge), criador
de um robô feminóide que ele remodela para ser uma cópia má de Maria e solta na
cidade. A robotrix começa dançando nua em uma boate decadente e termina provocando
uma violenta rebelião, o que permite a Lang aproveitar ao máximo seus enormes cenários
fabris explodindo-os e/ou inundando-os. No entanto, Freder e a verdadeira Maria
salvam o dia resgatando as crianças da cidade de uma enchente. A sociedade se reconcilia
quando Maria decreta que o coração (Freder) precisa ser o mediador entre o cérebro
(o Mestre) e as mãos (os trabalhadores). Logo depois de lançado, a distribuição
do dispendioso filme foi interrompida e ele foi remontado contra a vontade de Lang:
essa versão truncada e simplificada continuou sendo a mais conhecida - inclusive
na sua forma remixada e colorizada por Giorgio Moroder na década de 1980 - até
o século XXI, quando uma restauração parcial (com sutis intertítulos de ligação
para substituir as cenas que continuam irreversivelmente perdidas) chegou bem
mais perto da visão original de Lang. Essa versão não só acrescenta várias
cenas que passaram décadas inéditas como também restaura a ordem delas na
versão original e acrescenta os intertítulos corretos. Até então considerado um
filme de ficção espetacular, porém simplista, essa nova-velha versão revela que
a ambientação futurista não tinha a intenção de ser profética, mas sim mítica,
com elementos da arquitetura, indústria, design e política da década de 1920 misturando-se
com o medieval e o bíblico para produzir imagens de uma arrebatadora
estranheza: um robô futurista queimado na fogueira: um cientista louco e
mão-de-ferro que é também um alquimista do século XV; os trabalhadores que se
arrastam em direção às mandíbulas de uma máquina que é também o antigo deus Moloch.
A interpretação de Fröhlich como o herói que representa o coração ainda é extremamente
exagerada, porém o engenheiro Rotwang de Klein-Rogge, o Mestre de Metropolis de
Abel e, principalmente, Helm, no papel duplo da angelical salvadora e da femme fatale de metal, estão magníficos.
Depois que boa parte da história foi restaurada a partir de um mergulho nas
motivações contraditórias dos personagens, a fantástica trama passa a fazer
mais sentido e podemos vê-la tanto como um bizarro drama familiar quanto como
um épico de repressão, revolução e reconciliação. KN
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 030)
quarta-feira, 2 de julho de 2014
029 1925 O GRANDE DESFILE (THE BIG PARADE, EUA)
Direção:
King Vidor
Produção:
Irving Thalberg
Roteiro: Harry Behn, Joseph Farnham
Fotografia: John Arnold
Música: William Axt, Maurice Baron, David Mendoza
Elenco:
John Gibert ……… James Apperson
Renée Adorée ……Melisande
Hobart Bosworth …Sr. Apperson
Claire McDowell …Sra. Apperson
Claire Adams ……Justyn Reed
Robert Ober ………Harry
Ainda: Tom O'Brien, Karl Dane, Rosita Marstini George
Beranger, Frank Currier
Baseado
em uma história de Laurence Stallings, que escreveu o sucesso da Broadway Whats
price glory?, o épico cinematográfico de King Vidor sobre a experiência
americana na Primeira Guerra Mundial acompanha as aventuras de três soldados de
origens diferentes que vão parar na França. O filhinho de papai Jim (John
Gilbert), incentivado pela noiva a se alistar, conhece uma bela francesa (Renéc
Adoréc) na vila escolhida para sua unidade. Em uma das mais comoventes cenas de
O grande desfile, ela se abraça à bota que ele lhe deixou enquanto os soldados
se encaminham para a frente de batalha. Assim que chegam às trincheiras, a
batalha da floresta de Belleau dois amigos de Jim morrem e ele é ferido durante
um ataque de metralhadora. Buscando abrigo em um buraco feito por uma bomba, Jim
encontra um soldado moribundo já dentro dele e os dois dividem um cigarro. Por
fim, ele é encontrado e levado para um hospital de campanha. Lá, perde os
sentidos e não consegue retornar à casa de fazenda da francesa. De volta à
América, Jim reencontra a família, mas sente-se muito infeliz por ter perdido
uma perna. Independentemente disso, sua noiva está apaixonada por seu irmão.
Jim acaba aceitando o conselho da mãe e volta para a França, onde, na passgem mais
emocionante do filme, encontra sua paixão perdida ajudando a mãe a arar o
campo. Com sua primorosa mistura de comédia física (especialmente nas cenas na
casa de fazenda) e ação bem encenada, O grande desfile fez um enorme sucesso –
o que ratificou o zelo do produtor Irving Thalberg com a produção e é uma das
pérolas do fim da era do cinema mudo. Gilbert desempenha bem o papel de Jim, demonstrando
o charme que atraía o público aos cinemas e que o tornou um dos maiores astros
da sua era, enquanto Adoreé mostra-se adequadamente sedutora como seu par
amoroso. Por mostrar os horrores da guerra, O grande desfile foi muitas vezes
considerado um tratado pacifista, embora seja, na verdade, apolítico. Como queria
Thalberg, o filme é muito mais uma comédia romântica, sendo a guerra apenas o
meio pelo qual Jim se torna um homem e descobre o tipo de vida que de fato quer
viver. RBF
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 029)Uma obra-prima sobre o ridículo do homem
Por Paulo Santos
Lima
No
cinema americano dos anos 20, a câmera fixa já era, grosso modo, um
procedimento da convenção, servindo justamente à fluência narrativa, à
invisibilidade do aparato, pura adoção de um fazer mais que bem sucedido. Em
1925, King Vidor, sem trair a gramática do cinema narrativo, utiliza planos
fixos e a devida concatenação entre os mesmos para subverter e transtornar
certos códigos comumente decifrados nos filmes comerciais. Mistura um humor
negro, quase cômico, temperado com romantismo, para então tratar dos efeitos
medonhos da guerra e sua estupidez homicida.
O
Grande Desfile, obra-prima do cinema americano, teve seu DNA nas fórmulas dos
filmes de guerra feitos desde então, mas seu valor está realmente nos efeitos
revolucionários que uma obra de cunhagem mainstream pode fazer
espraiar. O plano fixo, no caso, é de orgânica importância num filme que, mais
que apedrejar a guerra, atira contra a hipocrisia do lado de cá,ou seja, na
platéia de civis que legitimam o heroísmo. Portanto, O Grande Desfile é
uma questão de campo e contracampo. De um lado, o que seria chamado de
glorioso; do outro, pernas decepadas, vidas estilhaçadas. Nesse jogo, King
Vidor começa o filme mostrando seu protagonista, Jim (John Gilbert), visto por
família e noiva como um dândi alienado num momento “em que todos têm de ser
úteis” até o instante em que ele decide, tolamente, se alistar para lutar na 1ª
Guerra Mundial. A seqüência seguinte mostrará Jim e seus colegas de batalhão,
todos proletários rudes, numa igualdade suprema, à espera da batalha e tirando
esterco da praça, lavando cuecas e afins. Jim se apaixonará sem o menor freio
por uma aldeã francesa e passará amargos momentos nas trincheiras, que, humor
sempre à vista, faz da desgraça algo ridículo, patético, estrambótico.
Ainda
que seja formidável uma cena como a do alemão baleado por Jim que, por sua vez,
acolhe o rapaz em seus últimos instantes, dando-lhe cigarro e o ombro para o
tombo derradeiro, mais complexo e total é o plano que dá início à seqüência da
guerra na história, intitulada “o grande desfile”: uma estrada longitudinal à
tela, coalhada de caminhões militares e sobrevoada por aeroplanos, em estatura
de megaprodução. Logo vemos, numa estrada lateral, vários soldados feridos
retornando do front, fazendo contracampo no mesmo enquadramento aos soldados
protagonistas. mas é mesmo no plano-espelho que virá mais tarde, avesso ao
plano introdutório do “grande desfile”, que estará toda a riqueza formal de O
Grande Desfile. O aparato de guerra, visivelmente diminuído e exaurido, ganha
tal leitura sobretudo pela experiência que tivemos na longa e dura seqüência da
batalha. Vidor coloca à nossa frente pranchas de imagem e, pelas brechas entre
uma e outra, traz o inferno total.
Não
é à toa a situação de Jim que, revisitando aqueles que julgavam aquela barbárie
como um campo de glórias e flores, opta por retornar à França e encontrar a sua
francesinha Melisande. O final feliz está na tela, mas o corajoso Jim, que
lutou bravamente e um tanto equivocadamente, perdeu uma perna. Sua silhueta,
chegando ao encontro da amada, é o desengonço total, um homem cuja imagem a
guerra tornou ridícula, fora do prumo. Obedecendo ao cinema de gênero que já
dava largos passos nesse ano de 1925, com narrativa de transparência total e
final feliz, King Vidor subverte na disposição de elementos e assuntos trazidos
pela imagem. Na soma dos planos e ações, temos em princípio um galã em
primeiríssimo plano que se torna, ao final, um espectro no fundo do quadro, uma
quase inserção gráfica de andar curto-circuitado.
Honrando
o cinema fundado na tradição de Griffith, o grande desfile não é um ou outro
momento, mas o conjunto de todos os momentos filmados e projetados na tela, de
todos os desfiles, grandes ou pequenos, subterrâneos ou evidentes, idealizados por
King Vidor para este seu longa. Grande filme. Grande obra-prima. O Grande
Desfile.
FONTE: http://www.revistacinetica.com.br/jornadabigparade.htm
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