Direção:
King Vidor
Produção:
Irving Thalberg
Roteiro: Harry Behn, Joseph Farnham
Fotografia: John Arnold
Música: William Axt, Maurice Baron, David Mendoza
Elenco:
John Gibert ……… James Apperson
Renée Adorée ……Melisande
Hobart Bosworth …Sr. Apperson
Claire McDowell …Sra. Apperson
Claire Adams ……Justyn Reed
Robert Ober ………Harry
Ainda: Tom O'Brien, Karl Dane, Rosita Marstini George
Beranger, Frank Currier
Baseado
em uma história de Laurence Stallings, que escreveu o sucesso da Broadway Whats
price glory?, o épico cinematográfico de King Vidor sobre a experiência
americana na Primeira Guerra Mundial acompanha as aventuras de três soldados de
origens diferentes que vão parar na França. O filhinho de papai Jim (John
Gilbert), incentivado pela noiva a se alistar, conhece uma bela francesa (Renéc
Adoréc) na vila escolhida para sua unidade. Em uma das mais comoventes cenas de
O grande desfile, ela se abraça à bota que ele lhe deixou enquanto os soldados
se encaminham para a frente de batalha. Assim que chegam às trincheiras, a
batalha da floresta de Belleau dois amigos de Jim morrem e ele é ferido durante
um ataque de metralhadora. Buscando abrigo em um buraco feito por uma bomba, Jim
encontra um soldado moribundo já dentro dele e os dois dividem um cigarro. Por
fim, ele é encontrado e levado para um hospital de campanha. Lá, perde os
sentidos e não consegue retornar à casa de fazenda da francesa. De volta à
América, Jim reencontra a família, mas sente-se muito infeliz por ter perdido
uma perna. Independentemente disso, sua noiva está apaixonada por seu irmão.
Jim acaba aceitando o conselho da mãe e volta para a França, onde, na passgem mais
emocionante do filme, encontra sua paixão perdida ajudando a mãe a arar o
campo. Com sua primorosa mistura de comédia física (especialmente nas cenas na
casa de fazenda) e ação bem encenada, O grande desfile fez um enorme sucesso –
o que ratificou o zelo do produtor Irving Thalberg com a produção e é uma das
pérolas do fim da era do cinema mudo. Gilbert desempenha bem o papel de Jim, demonstrando
o charme que atraía o público aos cinemas e que o tornou um dos maiores astros
da sua era, enquanto Adoreé mostra-se adequadamente sedutora como seu par
amoroso. Por mostrar os horrores da guerra, O grande desfile foi muitas vezes
considerado um tratado pacifista, embora seja, na verdade, apolítico. Como queria
Thalberg, o filme é muito mais uma comédia romântica, sendo a guerra apenas o
meio pelo qual Jim se torna um homem e descobre o tipo de vida que de fato quer
viver. RBF
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 029)Uma obra-prima sobre o ridículo do homem
Por Paulo Santos
Lima
No
cinema americano dos anos 20, a câmera fixa já era, grosso modo, um
procedimento da convenção, servindo justamente à fluência narrativa, à
invisibilidade do aparato, pura adoção de um fazer mais que bem sucedido. Em
1925, King Vidor, sem trair a gramática do cinema narrativo, utiliza planos
fixos e a devida concatenação entre os mesmos para subverter e transtornar
certos códigos comumente decifrados nos filmes comerciais. Mistura um humor
negro, quase cômico, temperado com romantismo, para então tratar dos efeitos
medonhos da guerra e sua estupidez homicida.
O
Grande Desfile, obra-prima do cinema americano, teve seu DNA nas fórmulas dos
filmes de guerra feitos desde então, mas seu valor está realmente nos efeitos
revolucionários que uma obra de cunhagem mainstream pode fazer
espraiar. O plano fixo, no caso, é de orgânica importância num filme que, mais
que apedrejar a guerra, atira contra a hipocrisia do lado de cá,ou seja, na
platéia de civis que legitimam o heroísmo. Portanto, O Grande Desfile é
uma questão de campo e contracampo. De um lado, o que seria chamado de
glorioso; do outro, pernas decepadas, vidas estilhaçadas. Nesse jogo, King
Vidor começa o filme mostrando seu protagonista, Jim (John Gilbert), visto por
família e noiva como um dândi alienado num momento “em que todos têm de ser
úteis” até o instante em que ele decide, tolamente, se alistar para lutar na 1ª
Guerra Mundial. A seqüência seguinte mostrará Jim e seus colegas de batalhão,
todos proletários rudes, numa igualdade suprema, à espera da batalha e tirando
esterco da praça, lavando cuecas e afins. Jim se apaixonará sem o menor freio
por uma aldeã francesa e passará amargos momentos nas trincheiras, que, humor
sempre à vista, faz da desgraça algo ridículo, patético, estrambótico.
Ainda
que seja formidável uma cena como a do alemão baleado por Jim que, por sua vez,
acolhe o rapaz em seus últimos instantes, dando-lhe cigarro e o ombro para o
tombo derradeiro, mais complexo e total é o plano que dá início à seqüência da
guerra na história, intitulada “o grande desfile”: uma estrada longitudinal à
tela, coalhada de caminhões militares e sobrevoada por aeroplanos, em estatura
de megaprodução. Logo vemos, numa estrada lateral, vários soldados feridos
retornando do front, fazendo contracampo no mesmo enquadramento aos soldados
protagonistas. mas é mesmo no plano-espelho que virá mais tarde, avesso ao
plano introdutório do “grande desfile”, que estará toda a riqueza formal de O
Grande Desfile. O aparato de guerra, visivelmente diminuído e exaurido, ganha
tal leitura sobretudo pela experiência que tivemos na longa e dura seqüência da
batalha. Vidor coloca à nossa frente pranchas de imagem e, pelas brechas entre
uma e outra, traz o inferno total.
Não
é à toa a situação de Jim que, revisitando aqueles que julgavam aquela barbárie
como um campo de glórias e flores, opta por retornar à França e encontrar a sua
francesinha Melisande. O final feliz está na tela, mas o corajoso Jim, que
lutou bravamente e um tanto equivocadamente, perdeu uma perna. Sua silhueta,
chegando ao encontro da amada, é o desengonço total, um homem cuja imagem a
guerra tornou ridícula, fora do prumo. Obedecendo ao cinema de gênero que já
dava largos passos nesse ano de 1925, com narrativa de transparência total e
final feliz, King Vidor subverte na disposição de elementos e assuntos trazidos
pela imagem. Na soma dos planos e ações, temos em princípio um galã em
primeiríssimo plano que se torna, ao final, um espectro no fundo do quadro, uma
quase inserção gráfica de andar curto-circuitado.
Honrando
o cinema fundado na tradição de Griffith, o grande desfile não é um ou outro
momento, mas o conjunto de todos os momentos filmados e projetados na tela, de
todos os desfiles, grandes ou pequenos, subterrâneos ou evidentes, idealizados por
King Vidor para este seu longa. Grande filme. Grande obra-prima. O Grande
Desfile.
FONTE: http://www.revistacinetica.com.br/jornadabigparade.htm
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