terça-feira, 8 de julho de 2014

034 1927 OUTUBRO (OKTYABR, URSS)


Direção: Grigori Aleksandrov, Seigei M. Eisenstein
Roteiro: Grigori Aleksandrov, Sergei M. Eisenstein
Fotografia: Vladimir Nilsen, Vladimir Popov, Eduard Tisse
Música: Alfredo Antonini, Edimund Meisel
Elenco:
Vladimir Popov ……Aleksandr Kerensky
Vasili Nikandrov …..V.I. Lenin
Layaschenko ………Konovalov
Chibisov ……………Skobolev
Boris Livanov ………Terestsenko
Mikholyev …………..Kishkin
Ainda: N. Podvoisky, Smelsky, Eduard Tisse

Em 1926, Sergei M. Eisenstein foi para a Alemanha apresentar seu novo filme, O encouraçado Potemkin. Partiu como um promissor jovem cineasta, mas retornou como um superastro da cultura internacional. Uma série de importantes produções cinematográficas estava sendo planejada para a comemoração do 10º aniversário da vitória bolchevique. Eisenstein aceitou avidamente o desafio de apresentar na tela o processo revolucionário na Rússia - ou seja, de que forma o país passou do "governo provisório" de Aleksandr Kerensky, instaurado após a abdicação do czar, para as primeiras vitórias de Lênin e seus seguidores. Não foram poupados gastos. Imensas cenas de multidão foram organizadas e o tráfego da cidade foi desviado para que Eisenstein pudesse filmar nos exatos locais em que os incidentes retratados ocorreram. Ao contrário do que se pensa, o filme não contém um só metro de cenas documentais. Cada tomada foi uma reconstituição. Trabalhando de modo febril, Eisenstein concluiu o filme bem a tempo para as festividades de aniversário, porém as reações, oficiais ou não, não foram de entusiasmo. Muitos consideraram o filme confuso e difícil de acompanhar. Outros se perguntaram por que o papel de Lênin foi tão reduzido (o ator que o interpreta, Vasili Nikandrov, aparece poucas vezes na tela). Muitos dos críticos que apoiaram Potemkin sugeriram que Eisenstein voltasse para a sala de edição e continuasse trabalhando. É inegável que Outubro seja uma obra-prima de algum tipo, porém descobrir qual é esse tipo é um verdadeiro desafio. Como ferramenta didática, uma maneira de "explicar" a revolução para as massas do país e do exterior, o filme é simplesmente ineficaz. Para muitos espectadores, suportar a projeção é um verdadeiro suplício. As caracterizações são todas simplórias e qualquer pessoa com o mais rudimentar conhecimento histórico as reconhece como uma grosseira propaganda. Ainda assim, a característica mais poderosa e comovente de Outubro talvez seja simplesmente o nível da sua ambição. Sergei M. Eisenstein foi sem dúvida a mais notável personalidade dos primeiros 50 anos de existência do
cinema, sendo absurdamente erudito e dono de uma crença ilimitada no potencial da arte cinematográfica. No auge do seu delírio, Eisenstein imaginou que o cinema poderia representar um "raciocínio visual" - não se limitando aos argumentos, mas envolvendo o processo através do qual a mente os constrói. As imagens fotográficas, a matéria-prima do cinema, tinham de ser "neutralizadas" em sensações e estímulos para que um filme pudesse revelar conceitos e não só pessoas ou coisas. O verdadeiro motor que impulsionaria a máquina do cinema como Eisenstein a via era a montagem, a edição: a interação "mística" que ocorre quando dois pedaços distintos de filme são juntados. Outubro é o mais puro e convincente exemplo da teoria e prática cinematográfica de Eisenstein. Ele possui várias sequências absolutamente emocionantes: a derrubada da estátua do czar, a construção da ponte e, especialmente, a muitas vezes citada sequência "Por Deus e pela Pátria". Provas do frio engenheiro que Eisenstein se treinou originalmente para ser podem ser encontradas na Intensa complexidade da montagem. Entretanto, correndo sob a superfície do filme, pode-se sentir o ímpeto - e o toque de loucura - de um artista às portas do que ele acreditava ser um admirável mundo novo. RP
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 034)

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