quarta-feira, 21 de maio de 2014

#721 2001 HANNIBAL (Hannibal, EUA, Reino Unido)


Direção: Ridley Scot
Roteiro: David Mamet, Steven Zaillian (baseado no livro de Thomas Harris)
Produção: Dino de Laurentiis, Martha de Laurentiis, Ridley Scott; Terry Needham (Produtor Associado); Branko Lustig (Produtor Executivo)
Elenco: Anthony Hopkins, Julianne Moore, Gary Oldman, Ray Liotta, Frankie Faison, Giancarlo Giannini, Francesca Neri, Zeljko Ivanek

Tenho que confessar que tenho uma sensação dúbia com relação a Hannibal, principalmente a cada revisitada, e ainda mais agora depois da absurdamente boa série injustamente descontinuada. É certo que grande parte de público e crítica metem o pau no trabalho grosseiro de Ridley Scott. É o problema da história fraca que relega o brilhante Hannibal a psicopata qualquer e quase um anti-herói, é toda a densidade e diálogos afiados de O Silêncio dos Inocentes que foram para o saco, é a falta total de química dos protagonistas, uma Julianne Moore, que apesar de incrível atriz, não convenceu como Clarice Starling (sdds Jodie Foster) e até hoje é estranho vê-la nas telas no papel, e o maldito crush do Dr. Hannibal “Canibal” Lecter, que não está lá em sua melhor forma perto do primeiro e do terceiro filme (e hoje em dia, poxa vida Hopkins, prefiro Mads Mikkelsen, desculpa aé), com a agente do FBI. Tudo isso eu concordo em gênero, número e grau. Mas tem lá o outro lado da moeda. O filme é brutal, sujo, sem o mínimo da classe do longa de Jonathan Demme, mas com uma boa dose de gore e selvageria (tipo o cara sendo enforcado com o peito aberto e as tripas caindo no chão e aqueles porcos selvagens comedores de gente) e beleza, é nisso que eu tento me apegar para conceber algum motivo para assistir e defender a fita. E claro, no Mason Verger de Gary Oldman, irreconhecível sob pesada maquiagem, que está ótimo. Fato é que apesar da banalização de Lecter, livre, leve e solto na Itália, renegado a um assassino comum sem o mínimo de frieza, refinamento e gosto peculiar, que nos acostumamos a ver em Mikkelsen nos últimos três anos, a primeira metade de Hannibal ocorre até que de forma razoável, principalmente a investigação do Inspetor Rinaldo Pazzi (Giancarlo Giannini, excelente) que almeja levar uma grana preta de recompensa por entregar o bom doutor. O duro mesmo é a metade final quando todos os envolvidos tentam forçar a barra e coloca-lo como herói, alçando-o a protagonista (sendo que ele sempre foi coadjuvante nos dois livros anteriores e nas adaptações cinematográficas, por conseguinte), quando ele, um dos 10 criminosos na lista dos mais procurados do FBI, milagrosamente consegue entrar nos EUA e parte em busca de seu rabo de saia preferido, perseguido pelos capangas de Verger. E claro, a forçada de barra monumental do Ray Liotta comendo o próprio cérebro, numa cena que deveria ser chocante, mas é patética na real e provoca risos e da mó vergonha alheia do veterano ator. Nessa segunda metade, só o jantar dos porcos selvagens se salva pela sangreira e insanidade. Sem contar a súbita, não mais que repentina crise de consciência do médico de Verger que num estalar de dedos joga o patrão de anos para virar lavagem. Além de tudo o que mais impressiona é a inépcia de Clarice Starling, brilhante e promissora agente do FBI de outrora, responsável por pegar o famigerado Buffalo Bill, transformando-se em uma personagem relegada a segundo plano, que fica boa parte do filme no porão do Bureau ouvindo as fitas das conversas entre ela e Lecter, gravadas clandestinamente pelo Dr. Chilton, como uma adolescente apaixonada, e ficamos com a impressão de que ela não serve para absolutamente nada, não tem o menor tino de agente federal (e ainda se encrenca no início por conta de um desastrado tiroteio) e está lá apenas para ser o par romântico do canibal. Um verdadeiro ultraje que Foster sabiamente evitou, assim como Jonathan Demme não quis retomar a continuação, aguardadíssima depois de O Silêncio dos Inocente abocanhar as cinco principais categorias do Oscar dez anos antes. Aliás, o roteiro chegou a ser reescrito QUINZE VEZES, para tentar ganhar a aprovação de todos os envolvidos no primeiro longa, e sabemos que falhou miseravelmente. Até Hopkins titubeou em voltar a viver o canibal e os produtores chegaram a considerar Tim Roth para seu lugar. Não sei mesmo o que pensar dessa notícia. Pelo menos o tosquíssimo final do livro de Thomas Harris, por Jeová, foi modificado na película. Voltando a falar um pouco da série, durante a segunda e a metade da terceira temporada, alguns elementos do livro foram utilizados, e ajuda até um pouco a entender alguns subplots jogados ao vento em Hannibal, como por exemplo, o citado caso de “Il Monstro”, investigado por Pazzi e que envolvia a estada de Lecter na Itália, e outros que nem foram utilizados, como a presença de Margot Verger, a irmã de Mason, completamente removida da trama. Bom, Hannibal só não leva o posto de ser o pior da cinesérie, incluindo aí também o não-oficial Caçador de Assassinos, por que anos mais tarde os produtores tiveram a infâmia de cometer o horrendo Hannibal – A Origem do Mal. Mesmo se redimindo com o ótimo Dragão Vermelho em seu ínterim.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/09/16/721-hannibal-2001/

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