Direção: Ridley Scot
Roteiro: David Mamet, Steven
Zaillian (baseado no livro de Thomas Harris)
Produção: Dino de Laurentiis, Martha
de Laurentiis, Ridley Scott; Terry Needham (Produtor Associado); Branko Lustig
(Produtor Executivo)
Elenco: Anthony Hopkins, Julianne
Moore, Gary Oldman, Ray Liotta, Frankie Faison, Giancarlo Giannini, Francesca
Neri, Zeljko Ivanek
Tenho
que confessar que tenho uma sensação dúbia com relação a Hannibal, principalmente a cada revisitada, e ainda mais
agora depois da absurdamente boa série injustamente descontinuada. É certo que
grande parte de público e crítica metem o pau no trabalho grosseiro de Ridley
Scott. É o problema da história fraca que relega o brilhante Hannibal a
psicopata qualquer e quase um anti-herói, é toda a densidade e diálogos afiados
de O Silêncio dos Inocentes que
foram para o saco, é a falta total de química dos protagonistas, uma Julianne
Moore, que apesar de incrível atriz, não convenceu como Clarice Starling (sdds
Jodie Foster) e até hoje é estranho vê-la nas telas no papel, e o maldito crush do Dr. Hannibal “Canibal”
Lecter, que não está lá em sua melhor forma perto do primeiro e do terceiro
filme (e hoje em dia, poxa vida Hopkins, prefiro Mads Mikkelsen, desculpa aé),
com a agente do FBI. Tudo isso eu concordo em gênero, número e grau. Mas tem lá
o outro lado da moeda. O filme é brutal, sujo, sem o mínimo da classe do longa
de Jonathan Demme, mas com uma boa dose de gore e selvageria (tipo o cara sendo enforcado com o peito
aberto e as tripas caindo no chão e aqueles porcos selvagens comedores de
gente) e beleza, é nisso que eu tento me apegar para conceber algum motivo para
assistir e defender a fita. E claro, no Mason Verger de Gary Oldman,
irreconhecível sob pesada maquiagem, que está ótimo. Fato é que apesar da
banalização de Lecter, livre, leve e solto na Itália, renegado a um assassino
comum sem o mínimo de frieza, refinamento e gosto peculiar, que nos acostumamos
a ver em Mikkelsen nos últimos três anos, a primeira metade de Hannibal ocorre até que de forma razoável,
principalmente a investigação do Inspetor Rinaldo Pazzi (Giancarlo Giannini,
excelente) que almeja levar uma grana preta de recompensa por entregar o bom
doutor. O duro mesmo é a metade final quando todos os envolvidos tentam forçar
a barra e coloca-lo como herói, alçando-o a protagonista (sendo que ele sempre
foi coadjuvante nos dois livros anteriores e nas adaptações cinematográficas,
por conseguinte), quando ele, um dos 10 criminosos na lista dos mais procurados
do FBI, milagrosamente consegue entrar nos EUA e parte em busca de seu rabo de
saia preferido, perseguido pelos capangas de Verger. E claro, a forçada de
barra monumental do Ray Liotta comendo o próprio cérebro, numa cena que deveria
ser chocante, mas é patética na real e provoca risos e da mó vergonha alheia do
veterano ator. Nessa segunda metade, só o jantar dos porcos selvagens se salva
pela sangreira e insanidade. Sem contar a súbita, não mais que repentina crise
de consciência do médico de Verger que num estalar de dedos joga o patrão de
anos para virar lavagem. Além de tudo o que mais impressiona é a inépcia de
Clarice Starling, brilhante e promissora agente do FBI de outrora, responsável
por pegar o famigerado Buffalo Bill, transformando-se em uma personagem
relegada a segundo plano, que fica boa parte do filme no porão do Bureau
ouvindo as fitas das conversas entre ela e Lecter, gravadas clandestinamente
pelo Dr. Chilton, como uma adolescente apaixonada, e ficamos com a impressão de
que ela não serve para absolutamente nada, não tem o menor tino de agente
federal (e ainda se encrenca no início por conta de um desastrado tiroteio) e
está lá apenas para ser o par romântico do canibal. Um verdadeiro ultraje que
Foster sabiamente evitou, assim como Jonathan Demme não quis retomar a
continuação, aguardadíssima depois de O Silêncio dos Inocente abocanhar
as cinco principais categorias do Oscar dez anos antes. Aliás, o roteiro
chegou a ser reescrito QUINZE VEZES, para tentar ganhar a aprovação de todos os
envolvidos no primeiro longa, e sabemos que falhou miseravelmente. Até Hopkins
titubeou em voltar a viver o canibal e os produtores chegaram a considerar Tim
Roth para seu lugar. Não sei mesmo o que pensar dessa notícia. Pelo menos o
tosquíssimo final do livro de Thomas Harris, por Jeová, foi modificado na
película. Voltando a falar um pouco da série, durante a segunda e a metade da
terceira temporada, alguns elementos do livro foram utilizados, e ajuda até um
pouco a entender alguns subplots jogados
ao vento em Hannibal, como por exemplo, o citado caso de “Il Monstro”, investigado por Pazzi e
que envolvia a estada de Lecter na Itália, e outros que nem foram utilizados,
como a presença de Margot Verger, a irmã de Mason, completamente removida da
trama. Bom, Hannibal só não leva o posto de ser o pior da
cinesérie, incluindo aí também o não-oficial Caçador de Assassinos, por que anos mais tarde os produtores
tiveram a infâmia de cometer o horrendo Hannibal – A Origem do Mal.
Mesmo se redimindo com o ótimo Dragão
Vermelho em seu ínterim.
FONTE: http://101horrormovies.com/2015/09/16/721-hannibal-2001/
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