Vidas ao
Vento
Animação do mestre Hayao Miyazaki
celebra a inventidade e lamenta o uso que se faz dela
Por: Érico Borgo (27 de Fevereiro de 2014)
Hayao Miyazaki, o mestre responsável por filmes
como A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado faz em Kaze
Tachinu (no Brasil, Vidas ao Vento)
a animação mais adulta e romântica de sua carreira.
Trata-se da cinebiografia de Jiro Horikoshi,
o designer que criou o famoso avião de combate japonês
Mitsubishi A6M Zero, um dos mais mortíferos usados na Segunda Guerra Mundial.
Desde os dias da infância do engenheiro, ao papel fundamental no esforço de
guerra, o longa acompanha Horikoshi nos tempos difíceis que antecederam o
conflito, passando pelo grande terremoto que devastou Tóquio em 1923.
Vidas ao Vento é diferente dos filmes anteriores de
Miyazaki, já que não emprega elementos fantásticos na história (as únicas
sequências com elementos irreais são as em que Jiro sonha). Claro que seus longas passados
também exploram a natureza sombria da humanidade, mas neste, a exploração é
literal, já que narra a vida de um fabricante de armas.
Criticada por humanizar um personagem que criou
tanta destruição (o filme deve ser mal recebido nos EUA, já que Pearl Harbor
foi devastado pelos Zeros), a animação tem uma mensagem clara, de pacifismo, um
tema recorrente na obra do veterano realizador japonês. Fala-se de
frequentemente nele de que voar é um "sonhoamaldiçoado" e Jiro é atormentado
pela corrupção em armas de guerra de seus desejos de criar algo belo.
As partes da cinebiografia que retratam o inventor
em sua vida privada, porém, são completamente fabricadas. Elas adaptam
parcialmente o romance The Wind Has Risen(1937), de Hori
Tatsuo, que se passa em um sanatório para tuberculosos em Nagano, Japão. O
resultado, a mistura de ficção e fatos, é arrebatador e extremamente romântico.
Como é comum na obra de Miyazaki, a arte do filme é
deslumbrante. Dos fundos pintados às retratações dos aviões e ao carinho
especial como são mostrados os projetos e cálculos, tudo é belíssimo. A
sonoplastia é igualmente brilhante, com os sons das aeronaves lembrando
lamentos de criaturas - um pequeno eco das fantasias épicas do currículo do diretor
- e complementa a bela trilha sonora baseada em acordeons de Joe
Hisaishi, que volta a trabalhar com o diretor depois de colaborações em
filmes como Princesa Mononoke e A Viagem de Chihiro.
Ao final, Vidas ao Vento é uma
celebração da criatividade e engenhosidade humanas, uma que lamenta nossa
capacidade para a destruição da maneira mais poética possível. Se realmente
este for o último filme de Miyazaki, que anunciou sua aposentadoria
recentemente, ao menos ele deixa o cinema com uma de suas obras-primas.
Vidas ao Vento (Kaze Tachinu)
Japão , 2013 - 126 min
Animação adulta / Biografia
Direção: Hayao Miyazaki
Roteiro: Hayao Miyazaki
Elenco: Hideaki Anno, Miori Takimoto, Hidetoshi Nishijima, Masahiko Nishimura, Jun Kunimura, Shinobu Otake, Mansai Nomura
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