Alemanha
(Nero-Film AG) 117 min.
Direção:
Fritz Lang
Produção:
Seymour Nebenzal
Roteiro:
Egon Jacobson, Fritz Lang
Fotografia:
Fritz Arno Wagner
Música
não original: Grieg
Elenco: Peter Lorre, Ellen Widmann, Inge Landgut, Otto
Wernicke, I heodor Loos, Gustaf Gründgens,
Friedrich Gnaß, Fritz Odemar, Paul Kemp, Theo Lingen,
Rudolf Blümner, Georg John, Franz Stein, Ernst Stahl-Nachbaur, Gerhard Bienen
No
começo da década de 30, Irving Thalberg, o gênio da produção da MGM, convoca todos
os seus roteiristas e diretores para uma exibição de M, o vampiro de
Dusseldorf, o thriller alemão de Fritz Lang, e então os critica em
massa por não fazerem filmes tão inovadores, empolgantes, profundos e
comerciais como este. É óbvio que, como admitiu Thalberg, se alguém tivesse
tentado vender ao estúdio uma história sobre um serial killer de crianças (que,
no fim das contas, é uma vítima e acusa a sociedade de uma corrupção mais
profunda do que a sua psicose), teria sido expulso aos pontapés imediatamente. Enquanto,
em um primeiro momento, Hollywood considerava os filmes sonoros mais propícios
a musicais e adaptações teatrais, uma geração de cineastas europeus viu o
potencial da nova mídia para gerar emoções fortes e efeitos psicológicos. Inspirado
talvez no tema de O pensionista, o filme mudo de 1927 de Alfred Hitchcock, e nas
técnicas do seu filme falado Chantagem e confissão, de 1929, Lang - que havia terminado
sua carreira no cinema mudo com Metrópolis (1927) e A mulher na Lua (1929), ambos
considerados dispendiosos fracassos antes de terem seus valores reconhecidos -
dedicou-se a se restabelecer como artista popular. Não obstante, M é incomum em
sua estrutura narrativa, apresentando uma série de cenas de montagem (muitas
vezes com narração, um recurso novo) que ajudam a compor o retrato de uma
cidade alemã aterrorizada. A causa da comoção é Franz Becker (Peter Lorre), um
jovem gorducho que assobia compulsivamente uma ária de "No salão do rei da
montanha", de Edvard Grieg, enquanto se aproxima das crianças que
assassina (e, subentende-se, molesta). Seus crimes são representados através de
imagens Impactantes mas simples, como a de um balão solto subindo contra cabos
telefônicos ou a de uma bola abandonada. Estabelecendo convenções que ainda são
usadas em filmes de serial killers, Lang e o cenógrafo Thea von Harbou intercalam cenas da vida
patética do assassino com o frenesi da investigação policial sobre os crimes
chocantes, dando atenção também a questões secundárias, como a cobertura da
imprensa, a ação de vigilantes - como na cena em que um inocente informa as
horas para um grupo de crianças e é subitamente cercado por uma multidão
enfurecida - e a pressão política que incentiva mas, ao mesmo tempo, atrapalha
a polícia. Em um toque de cinismo, a polícia reprime todas as atividades
criminosas para pegar o assassino, levando os bandidos profissionais à margem
da sociedade a também caçá-lo como um animal. No poderoso final, Becker é
julgado pelo submundo e se defende com o surpreendentemente tocante argumento
de que as pessoas apenas escolheram cometer seus crimes, enquanto ele é forçado
a cometê-los. Embora o filme apresente o Inspetor Karl "Fatty"
Lohmann (Otto Wernlcke) – que voltaria em O testamento do Dr. Mabuse (1932) para
enfrentar o arquivilão do título (Rudolf Klein-Rogge) - e o rei do crime de
luvas pretas Schranker (Gustaf Gründgens) como os tradicionais antagonistas
policial/bandido, o assassino desesperado, lúcido e dono de uma impulsividade
animal de Lorre é a voz final de M, forçando seus perseguidores (e a nós) a
olharem para dentro de si mesmos em busca das sementes de uma psicose
equivalente à dele. Enfatizando com criatividade os avanços tecnológicos do som
no cinema, Lang faz com que o assassino seja ouvido antes de ser visto (diz-se
que o diretor dublou o assobio de Lorre) e identificado por uma testemunha
cega. KN (1001 FILMES PARA VER ANTES DE
MORRER 059)
#018 1931 M, O VAMPIRO DE DUSSELDORF (M, Alemanha)
Direção: Fritz Lang
Roteiro: Fritz Lang, Thea Von Harbou
Produção: Seymour Nebenzal (não creditado)
Elenco: Peter Lorre, Ellen Widmann, Otto Wernickle, Theodore Loss
No início da década de 30, o cinema falado era uma novidade entusiasmante e a indústria cinematográfica começava a se transformar graças a essa revolução. Enquanto Hollywood se detinha na ideia da realização de produções musicais ou adaptações teatrais (como foi o caso até de Drácula e Frankenstein, lançados no mesmo ano pela Universal, inspirados pelas peças em cartaz na Broadway e não nos livros originais), Fritz Lang nos apresenta uma história sobre um serial killer assassino de crianças em seu cultuado M, O Vampiro de Dusseldorf. Reza a lenda que Irving Thalberg, um dos principais produtores da MGM chamou todos os seus roteiristas e diretores para uma exibição de M, O Vampiro de Dusseldorf e ao término saiu enxovalhando todos, questionando porque ninguém fazia filmes tão inovadores, empolgantes e ao mesmo tempo com aspectos comerciais, como aquele. Mas claro, que se alguém apresentasse alguma ideia parecida com aquela aos grandes estúdios, seria vetada na hora. Após o fracasso retumbante de Metrópolis (que só mais tarde adquiriria o seu devido respeito e status quo), Lang resolveu que era hora de voltar a ser um diretor pop. Por isso, a estrutura narrativa, a fotografia, o jogo de luz e sombra, os planos sequência e os travellings inovadores e ousados de M, foram cuidadosamente pensados e esteticamente preparados, para que fossem realmente certeiros. Hans Beckert (habilmente interpretado por Peter Lorre) é um gordinho de olhos esbugalhados, com uma vida patética e entediante, que assovia compulsivamente um trecho de “In The Hall of the Mountain King” de Edvarg Grieg, e esconde um terrível monstro dentro de si. É na verdade um psicopata, assassino de meninas (subentende-se que também as molesta), que aterroriza a então pacata Dusseldorf. Não há nada explícito, nada gráfico em suas mortes, mas Lang deixa lá algumas imagens impactantes nas entrelinhas, que seria usado até hoje como referência nos filmes de serial killers, como um simples balão flutuando contra o poste telefônico, ou uma inocente bola rolando na grama, dando ao espectador a sombria sensação de que algo muito perverso foi feito. A cidade fica em polvorosa e a polícia começa uma mobilização insana para tentar encontrar o assassino, pressionada pela comoção popular (que chega a adquirir ares de paranoia, destacada em uma cena onde um senhor só vai dizer as horas para uma criança e começa a ser acusado ferozmente), pelo governo e pela imprensa. Com uma vigília incessante e batidas frequentes, eles começam a atrapalhar a saudável vida criminosa de Dusseldorf, que não tem nada a ver com o assassino e repudia as atitudes do psicótico. Isso faz com que o crime organizado, mostre-se mais organizado do que nunca, e reúna todo tipo de escroque, batedor de carteira, cafetão e mendigo, para uma caça alucinada atrás de Beckert, a fim de resolver o problema e fazer justiça com as próprias mãos. Ao ser capturado pelos criminosos, Beckert deve passar por uma julgamento “justo” que colocará em xeque sua sanidade mental, irá escancarar os sintomas da sua necessidade de matar criancinhas como um problema psicossomático, o qual necessita de ajuda médica e ainda jogará a culpa na sociedade que não vigia direitos seus filhos na última e marcante frase do filme, dita por uma mãe em luto. E é aí que Lang samba na cara da sociedade. Um dos principais pontos assertivos do filme, é que enquanto seus compatriotas e contemporâneos do expressionismo alemão apostavam na figura do fantástico e sobrenatural para meter medo, como em Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror, por exemplo, ou até mesmo no início do ciclo dos monstros da Universal, Fritz Lang dá um passo atrás e mostra que o verdadeiro mal pode se encontrar em nós mesmos. E que devemos tomar cuidado com os monstros que estão à solta aí fora. Tanto que o importante crítico de cinema americano Jonathan Rosenbaum definiu M, O Vampiro de Dusseldorf como “o melhor filme de serial killer de todos os tempos”.
FONTE: http://101horrormovies.com/
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