sexta-feira, 20 de junho de 2014

023 1924 SHERLOCK JR. (SHERLOCK JR., EUA)




Direção: Roscoe "Fatty" Arbuckle, Buster Keaton
Produção:Joseph M. Schenck, Buster Keaton
Roteiro: Clyde Bruckman, Jean C. Havez
Fotografia: Byron Houck, Elgin Lessley
Música: Myles Boisen, Sheldon Brown, Beth Custer, Steve Kirk, Nik Phelps
Elenco: Buster Keaton, Kathryn McCuire, Joe Keaton, Erwin Connelly, Ward Crane

Embora seja o menor longa-metragem de Buster Keaton, Sherlock Ir. é uma obra notável, com uma trama bem amarrada, um Impressionante atletismo (Keaton fez todas as acrobacias, quebrando o pescoço durante uma delas sem perceber), virtuosismo artístico e uma exploração vanguardista da eterna dicotomia realidade versus ilusão. Aqui, Keaton interpreta um projecionista e aspirante a detetive acusado injustamente de roubar o pai da namorada. Vítima de uma armação de um pretendente rival (Ward Crane), o jovem é expulso da casa da moça. Deprimido, adormece no trabalho. No seu sonho, entra numa tela de cinema (em uma brilhante sequência de efeitos óticos), onde é o garboso protagonista Sherlock Jr. - o segundo maior detetive do mundo. Acrobacias inacreditáveis e gags complexas dão a este filme de 44 minutos um ritmo febril. A princípio, a realidade do cinema se recusa a aceitar este novo protagonista e a tensão entre os dois mundos é apresentada de forma magnífica através de mudanças de cenário que jogam nosso desnorteado protagonista numa cova de leões, num mar agitado e numa nevasca. Aos poucos, ele é completamente assimilado pelo mundo dos filmes. Na narrativa mise-en-abyme, o vilão (também interpretado por Ward Crane) tenta matar o herói em vão, antes que Sherlock Jr. solucione o mistério das pérolas roubadas. Sherlock jr. não apenas conta com as Incríveis acrobacias que tornaram Keaton famoso como também apresenta uma série de questões. De uma perspectiva social, é uma análise das fantasias sobre ascensão social na sociedade americana. No aspecto psicológico, apresenta o tema do duplo tentando obter sucesso nos espaços imaginários, uma vez que o protagonista não é capaz de alcançá-los na realidade comum, tangível. Acima de tudo, o filme é um reflexo da natureza da arte, um tema que volta a surgir em O homem das novidades (1928), no qual Keaton transfere o foco da mídia para o espectador. Os filmes de Keaton continuam intrigantes até hoje, em parte por conta do estoicismo quase sobrenatural do diretor-ator (comparado ao pathos de Chaplin) e em parte pela sua natureza ocasionalmente surreal (admirada por Luis Bunuel e Federico Garcia Lorca) e por mergulharem na natureza do cinema e da própria existência. Chuck Jones, Woody Allen, Wes Craven, Jackie Chan e Steven Spielberg estão entre os cineastas que prestam homenagem à irresistível travessura de Keaton, e seus filmes continuam sendo, talvez, os mais acessíveis de todos os filmes mudos.
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 023)

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