Direção: Roscoe "Fatty" Arbuckle, Buster
Keaton
Produção:Joseph M. Schenck, Buster Keaton
Roteiro: Clyde Bruckman, Jean C. Havez
Fotografia: Byron Houck, Elgin Lessley
Música: Myles Boisen, Sheldon Brown, Beth Custer,
Steve Kirk, Nik Phelps
Elenco: Buster Keaton, Kathryn McCuire, Joe Keaton,
Erwin Connelly, Ward Crane
Embora
seja o menor longa-metragem de Buster Keaton, Sherlock Ir. é uma obra notável,
com uma trama bem amarrada, um Impressionante atletismo (Keaton fez todas as
acrobacias, quebrando o pescoço durante uma delas sem perceber), virtuosismo
artístico e uma exploração vanguardista da eterna dicotomia realidade versus
ilusão. Aqui, Keaton interpreta um projecionista e aspirante a detetive acusado
injustamente de roubar o pai da namorada. Vítima de uma armação de um pretendente
rival (Ward Crane), o jovem é expulso da casa da moça. Deprimido, adormece no
trabalho. No seu sonho, entra numa tela de cinema (em uma brilhante sequência
de efeitos óticos), onde é o garboso protagonista Sherlock Jr. - o segundo
maior detetive do mundo. Acrobacias inacreditáveis e gags complexas dão a este
filme de 44 minutos um ritmo febril. A princípio, a realidade do cinema se
recusa a aceitar este novo protagonista e a tensão entre os dois mundos é
apresentada de forma magnífica através de mudanças de cenário que jogam nosso
desnorteado protagonista numa cova de leões, num mar agitado e numa nevasca.
Aos poucos, ele é completamente assimilado pelo mundo dos filmes. Na narrativa
mise-en-abyme, o vilão (também interpretado por Ward Crane) tenta matar o herói
em vão, antes que Sherlock Jr. solucione o mistério das pérolas roubadas. Sherlock
jr. não apenas conta com as Incríveis acrobacias que tornaram Keaton famoso
como também apresenta uma série de questões. De uma perspectiva social, é uma análise
das fantasias sobre ascensão social na sociedade americana. No aspecto psicológico,
apresenta o tema do duplo tentando obter sucesso nos espaços imaginários, uma
vez que o protagonista não é capaz de alcançá-los na realidade comum, tangível.
Acima de tudo, o filme é um reflexo da natureza da arte, um tema que volta a surgir
em O homem das novidades (1928), no qual Keaton transfere o foco da mídia para o
espectador. Os filmes de Keaton continuam intrigantes até hoje, em parte por conta
do estoicismo quase sobrenatural do diretor-ator (comparado ao pathos de
Chaplin) e em parte pela sua natureza ocasionalmente surreal (admirada por Luis
Bunuel e Federico Garcia Lorca) e por mergulharem na natureza do cinema e da
própria existência. Chuck Jones, Woody Allen, Wes Craven, Jackie Chan e Steven
Spielberg estão entre os cineastas que prestam homenagem à irresistível travessura
de Keaton, e seus filmes continuam sendo, talvez, os mais acessíveis de todos
os filmes mudos.
(1001 FILMES PARA VER
ANTES DE MORRER 023)
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