domingo, 9 de fevereiro de 2014

014 1922 NANOOK, O ESQUIMÓ (NANOOK OF THE NORTH, EUA)


Direção: Robert J . Flaherty
Produção: Robert). Flaherty
Roteiro: Robert J . Flaherty
Fotografia: Robert J . Flaherty
Música: Stanley Silverman
Elenco: Nanook, Nyla, Cunayou, Allee, Allegoo, Berry Kroeger (narrador -1939, relançamento)

A história do cinema "documentário" - uma abordagem que geralmente imagina-se envolver o registro de uma realidade espontânea por parte do cineasta - começa, na verdade, com a invenção do próprio cinema. No entanto, o rótulo de "pai dos documentários" é habitualmente concedido a Robert J . Flaherty. Criado perto da fronteira EUA-Canadá, desde pequeno Flaherty adorava explorar as terras mais remotas e, depois de concluir os estudos, foi trabalhar como garimpeiro no extremo norte do Canadá. Antes de uma de suas viagens, alguém sugeriu que ele levasse uma câmera de cinema.No decorrer dos anos seguintes, Flaherty filmaria horas de material tanto sobre a terra como sobre seus habitantes e, em 1916, começou a mostrar suas gravações em exibições particulares em Toronto. As filmagens foram recebidas com entusiasmo, porém,quando Flaherty estava prestes a enviá-las para os Estados Unidos, deixou cair uma cinza de cigarro sobre o negativo e todo ele - mais de 9 mil metros - pegou fogo. Flaherty levou anos para arrecadar fundos para voltar ao norte e filmar novamente; quando conseguiu  (graças aos irmãos Revillon, peleteiros franceses), decidiu concentrar-se em Nanook. um famoso guerreiro inuíte. Baseando-se nas lembranças do que havia filmado de melhor, Flaherty "dirigiu" os acontecimentos que seriam incluídos no filme, entre eles algumas coisas que Nanook fazia com frequência, algumas que nunca fizera
antes e outras que costumava fazer, mas há muito não fazia. O resultado foi o profundamente influente - porém sempre controverso - Nanook, o esquimó.
Uma série de de vinhetas que detalham a vida de Nanook e sua família no decorrer de algumas semanas, o filme de Flaherty é uma espécie de ode romântica à coragem e resistências humanas diante de uma natureza esmagadora e essencialmente hostil, Apesar de Nanook ter a honra de dar nome ao filme, o que muitos espectadores guardam na lembrança é a fúria arbitrária da paisagem ártica. Na verdade, o filme ganhou um grande (para não dizer trágico) impulso publicitário quando foi revelado que Nanook e sua família haviam de fato morrido durante uma violenta nevasca pouco depois de o filme ser concluído, o que dá à extraordinária e já poderosa última sequência na qual a família procura abrigo de uma tempestade - uma terrível pungência. Muitos estudiosos de cinema contemporâneos criticam o filme por boa parte dele parecer encenada para a câmera - muitas vezes é quase possível ouvir Flaherty dando para Nanook e os demais -, porém os muitos defensores da obra no decorrer dos anos, entre eles André Bazin, apontam de forma inteligente que a mais notável conquista de Flaherty é a maneira como ele parece captar a textura da vida cotidiana daquelas pessoas. Os detalhes da caça à morsa - se são ou não usadas armas e quando parecem menos importantes do que a decisão do diretor de simplesmente acompanha em plano aberto o lento nado de Nanook em direção à sua presa. Se o rosto radiante de Nanook enquanto aquece a mão do filho é uma atuação, então ele é um dos maiores atores de cinema da história.
Independentemente de como você o classifique: documentário, ficção ou uma espécie de híbrido -, Nanook, o esquimó continua sendo um dos poucos filmes que merecem plenamente a alcunha de clássico. RP.

(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 014)

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