Direção: Erie
C. Kenton
Roteiro: Waldemar Young,
Phillip Wyla (baseado na obra de H.G. Wells)
Produção: Erie
C. Kenton
Elenco: Charles
Laughton, Richard Areln, Leila Hyams, Bela Lugosi, Kathleen Burke, Arthur Hohl
A Ilha das
Almas Selvagens é a primeira adaptação livre para o cinema do
famoso livro de H.G. Wells, A Ilha do Dr. Moreau, publicado em 1896. E com
certeza, é a melhor das três adaptações que o filme já recebeu, sendo que as
duas mais famosas são de 1977 e 1996. Acredito que todo mundo deve já
conhecer o conceito básico da história, principalmente por sua versão mais
recente, estrelando um caricato e deprimente Marlon Brando: Um náufrago
acidentalmente vai parar em uma ilha no pacífico sul, onde Moreau, um brilhante
cientista extraditado por suas técnicas não usuais de vivissecção animal,
começa a desenvolver uma pesquisa horrenda para transformar animais em homens,
gerando assim um exército de criaturas deformadas, que não são nem humanas, nem
animais. O tal náufrago é Edward Parker, resgatado em alto mar por um navio que
estava a caminho da ilha, levando uma série de espécimes animais para o local.
Lá ele conhece o Sr. Montgomery, lacaio de Moreau, que cuida de sua saúde até
sua plena recuperação. Após envolver-se em uma confusão com o capitão alcoolatra
do navio, que destratou um dos bestiais ajudantes de Montgomery, M’Ling, Parker
é largado a sua própria sorte na ilha, permanecendo como hóspede forçado de
Moreau. Lá ele conhece a principal criação do cientista que quer brincar de
Deus: Lota, a Mulher Pantera (interpretada por Kathleen Burke, detentora de uma
exótica e estranha beleza). Diferente das demais monstruosidades, Lota, a única
mulher em toda a ilha, é o mais próximo que o doutor conseguiu chegar de um ser
humano, e a intenção de Moreau é que ela e Parker se envolvam romanticamente,
para dar frutos a uma nova raça. E quase dá certo, não fosse pela noiva de
Parker aparecer na ilha para resgatá-lo. O Moreau de Charles Laughton é uma
espécie de déspota cruel e presunçoso, tomado por uma gigantesca vaidade, que
não mede esforços para conseguir seu objetivo. Alguns das suas criações são
usadas como serviçais, como o caso de M’Ling. Outras, vivem em bandos no meio
da floresta tropical, vivendo sob a rígida Lei, conjunto de regras criadas pelo
autoritário cientista para tentar socializar as criaturas. Entre as principais
leis, estão: “Não andar de quatro”, “Não comer carne” e “Não matar”, para dar
uma noção de civilização e para que as feras não deixem se levar por seus
instintos. O responsável por ditar essas
leis é o Mestre da Lei, personagem de Bela Lugosi, com um rosto todo peludo,
que recita as leis de Moreau em voz alta e pergunta o que eles são, senão
homens, com aquele seu característico sotaque húngaro. Quem desobedecer a essas
leis, será levado para a Casa da Dor, mais conhecido como o laboratório de
Moreau, onde será torturado e sofrerá dores indescritíveis, na tentativa de
continuar retardando o processo de regressão à forma animal. Claro que com
todos esses elementos misturados, uma hora a coisa ia dar merda, e o bando de
criaturas iria dar início a uma insurreição contra o totalitário cientista /
ditador. E durante essa revolta somos apresentados a uma das cenas mais
chocantes do cinema de terror até então, quando Moreau finalmente é capturado e
é vivissecado pelas bestas ensandecidas (claro que off screen), pagando na
mesma moeda o que fazia com os pobres animaizinhos. A Ilha das Almas
Selvagens tem vários pontos para colocá-lo como um clássico do gênero.
Primeiro pela bem sucedida utilização da maquiagem do não creditado maquiador
Wally Westmore, para criar as feras, que no ano anterior, tinha sido
responsável pelo visual simiesco do Mr. Hyde em O Médico e o Monstro. Segundo pela fotografia expressionista
que sempre passa a impressão de confinamento (no caso representando o cárcere
de Parker), mesmo havendo uma ilha tropical inteira à disposição para o doutor
e seus animais. Terceiro pelo uso de forma precisa e aterrorizante do som,
tanto dos gritos de dor vindo da Casa da Dor, quanto dos uivos e grunhir dos
animais. Mas de todos esses elementos citados, o mais importante de todos é o
fato de A Ilha das Almas Selvagens levantar temas polêmicos em plena
década de 30, como bestialismo, miscigenação, ética científica e colonialismo.
Afinal as mensagens chaves da obra de Wells são sua crítica ao imperialismo
europeu, que tentava ascender os povos nativos do seu status de “animal” para o
de “ser humano”, representados pelo homem branco; crítica a religião, já que
Moreau também faz as vezes de “Deus” criando mandamentos muito parecidos com os
bíblicos e há até um sumo sacerdote que prega as Leis à exaustão em uma espécie
de semi-culto, muito parecido com os pastores evangélicos e sua lavagem
cerebral que vemos hoje em dia; e a pesquisa científica desenfreada e desumana,
principalmente se tratando do mal trato em animais. Tanto por isso, A Ilha
das Almas Selvagens foi proibido na Inglaterra e em partes dos EUA até o
começo da década de 50. E apesar de sua extensiva campanha de marketing para
levar os americanos ao cinema para conhecer a estonteante e misteriosa Mulher
Pantera, o filme fracassou de forma retumbante nas bilheterias, e somente muito
tempo depois atingiu seu lugar merecido no panteão dos mais importantes filmes
de terror da década de 30.
FONTE: http://101horrormovies.com/
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