Direção: William Wyler
Roteiro: John Kohn, Stanley
Mann, Terry Souther (não creditado) (baseado na obra de John Fowles)
Produção: Jud
Kinberg, John Kohn
Elenco:Terence
Stamp, Samantha Eggar, Mona Washbourne, Maurice Dallimore
Depois de Psicose,
lançado no ano de 1960, ter chocado as plateias do mundo todo deixando de lado
a ideia do terror que nas décadas anteriores era representada por monstros ou
alienígenas, e investindo em uma maldade mais real e humana, também pavimentou
o caminho para um novo tipo de thriller e deixou a dúvida de quem seria
o próximo Norman Bates do cinema. Coube ao grande diretor William Weyler nos
apresentar este personagem em O Colecionador. Wyler já tinha três Oscars na sua bagagem
nesta altura do campeonato, por Rosa
da Esperança, Os Melhores Anos
de Nossas Vidas e pelo arrasa-quarteirão Ben-Hur, e resolveu contar a história do tímido, reservado,
introspectivo e antissocial colecionador de borboletas Freddie Clegg,
interpretado magnificamente por Terence Stamp, que rapta a bela e jovem
estudante de artes Miranda Grey (Samantha Eggar) para deixá-la em cativeiro no
porão de sua casa de campo isolada. É até interessante ver o quanto Freddie se
parece com Norman Bates, e até o típico físico de Stamp lembrava o de Anthony Perkins
no clássico de Hitchcock. Obviamente há grandes diferenças entre os dois, mas
há uma mesma espécie de caráter psicológico entre eles, afinal ambos eram
tímidos, reclusos, com pouco tato social, obsessão por uma garota em especial
(aqui muito maior e mais bem trabalhada do que a queda de Bates por Marion
Crane) e alguns parafusos à menos. Baseado na obra de John Fowles, a história
cruel de sequestro, cárcere privado e tortura psicológica é habilmente filmada
por Wyler e conta com duas interpretações magistrais de Stamp e Samantha (ambos
ganhadores do prêmio de melhor ator e atriz no Festival de Cannes e Samantha
ainda levou uma indicação ao Oscar® de Melhor Atriz e faturou um Globo de
Ouro). Todo o relacionamento psicológico entre os dois, unindo a verdadeira
falta de jeito de Freddie com as mulheres, e sua enorme vontade de ser aceito
pela cativa e que ela se apaixone por ele o tanto quanto é apaixonado por ela,
paixão platônica obsessiva e vigiada há tempos, quanto a personalidade forte de
Miranda, jovem, descolada, que é obrigada a manter-se submissa e reprimida pelo
seu captor, é um deleite que sustenta o filme inteiro, que só tem esses dois
personagens em cena praticamente em toda a fita, como uma dinâmica de peça de
teatro. Mas Miranda é somente mais uma “borboleta” da coleção de Freddie (como
na fantástica cena em que ele a leva até seu escritório e ela olha uma das
redomas contendo seus espécimes, com sua imagem refletida no vidro). Por mais
que o rapaz tente agradá-la, com jantares, livros, discos, roupas e material
para que ela possa pintar, ele nunca conseguirá tocar o coração da garota que
está sendo obrigada a conviver naquela terrível situação e, logicamente, o ato
do sequestro em si torna impossível algum tipo de reciprocidade de sentimentos.
Mas Freddie, diferente de muitos outros psicopatas, é extremamente
contido e nunca abusa de violência ou tortura fisicamente a garota, mantendo
todo seu charme inglês. Isso também é fruto de sua imaturidade e vida sem
afeto, claramente escancarada no seu jeito pausado de falar, na sua expressão
corporal tímida, ao ficar quase sempre de cabeça baixa, sem olhar diretamente a
garota, andar trôpego e dificuldade de entender as ideias subjetivas das
pessoas e da própria musa, como no caso sobre a discussão do quadro de Picasso.
Enquanto isso há toda uma enorme tensão, principalmente sexual, no ar toda vez
que eles estão juntos. O desejo reprimido fetichista de Freddie entra em
contraponto com o liberalismo de Miranda, garota de faculdade que
frequenta pubs e tem romances casuais (algo que desperta um ciúmes
doentio em seu raptor). Ele mesmo sabe que nunca se encaixaria em um grupo de
amigos da garota se eles vivessem juntos em Londres e tivessem um
relacionamento normal. E isso a mantém presa e sem esperanças, mesmo com o
psicótico tendo prometido libertá-la dentro de um mês. E os contatos físicos
entre os dois acontecem somente nas tentativas frustradas de Miranda escapar do
confinamento, recorrendo até a um fracassado cortejo sexual por parte da
garota, desprezado por Freddie, alegando que aquilo ele pode conseguir por
alguns trocados nas ruas de Londres. Mas tanto tempo de convívio com o monstro
de fala contida e olhar penetrante, e com o aumento da fragilidade da moça,
inevitavelmente ela começa a criar sintomas da Síndrome de Estocolmo, que
precisa se esforçar para querê-lo, ou continuará ali por mais tempo, talvez
indefinidamente ou até que seja morta em uma crise psicótica de Freddie. Tanto
que após mais uma tentativa fracassada de fuga, e quase tendo morto o rapaz,
Miranda vê-se caindo em um espiral de impotência, sentindo-se sozinha, carente
e vulnerável sem seu captor, implorando por sua companhia, até ficar
extremamente doente, no tempo em que ele foi obrigado a ficar no médico se
tratando do um golpe de pá que levou na cabeça.
ALERTA DE SPOILER. Pule esse parágrafo ou leia por sua conta e risco.
O final de O
Colecionador é impactante, e talvez isso tenha sido um dos responsáveis
por todo o furor que o filme causou na época e o tornado em um excelente exemplar
de suspense. Além do fato de não haver uma investigação policial para
encontrá-lo, subterfúgio extremamente comum neste tipo de filme, no final a
garota acaba morrendo doente, enquanto Freddie buscava ajuda. E passado um
tempo, sem nenhum tipo de remorso pelo acontecido, e acreditando ter feito uma
escolha errada e sonhado alto demais, decide procurar outra vítima para
“colecionar”, desta vez alguma mulher mais simples e menos intelectual e
refinada. Antes do corte final vemos o maníaco novamente em sua perua vigiando
e seguindo uma enfermeira ao sair de seu trabalho alheia de qual poderá ser seu
macabro destino. Para finalizar, uma curiosidade mórbida em O
Colecionador. Certa altura do campeonato Miranda está lendo O Apanhador nos
Campos de Centeio, de J.D. Sallinger, que diz ser um livro o qual adora, e
Freddie fica interessado em lê-lo. Como se bem sabe, é o mesmo livro que Mark
Chapman estava lendo antes de assassinar John Lennon em frente ao Edifício
Dakota em 1980, quinze anos mais tarde, que segundo ele, trazia informações
subliminares para que ele matasse o ex-Beatle. A publicação obviamente é
umhit entre os psicopatas.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/06/11/184-o-colecionador-1965/
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