#031 1933 KING KONG (King Kong, EUA)
Direção: Merian C. Cooper, Ernest B. Schoedsack
Roteiro: James Creelman, Ruth Rose (de uma ideia de Merian C. Cooper e Edgar Wallace)
Produção: David O. Selznick
Elenco: Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot, Frank Reicher
King Kong é um filme impressionante. Tão grandioso quanto o gorila gigante que dá título ao filme. Atrevo-me a dizer que é o filme mais importante de todo o cinema fantástico. E revendo-o, mesmo com toda sua limitação de época, fica muito claro que já poderia se prever que chegaríamos ao nível de efeitos especiais que vemos hoje nas grandes produções. Mesmo que depois de 80 anos os efeitos especiais em stop-motion estejam datados, ainda mais depois da versão setentista produzida por Dino de Laurentiis e o arrasa-quarteirão de Peter Jackson de 2005, com efeitos impressionantes criados pela sua empresa Weta Digital (responsável também pela trilogia Senhor dos Aneis, Avatar e outros), você facilmente consegue se imaginar em uma plateia de cinema no ano de 1933 e ver nitidamente o público embasbacado encarando aquele símio poderoso enfrentando dinossauros na selva, destruindo Nova York e escalando o edifício Empire State com a bela garota amada na sua pata. Visualmente deve ter sido um choque de realidades assistir a King Kong. Uma versão primata de A Bela e a Fera, com um final deveras trágico para os padrões Hollywoodianos daquela época, King Kong conseguiu como nenhum outro criar uma espécie de sentimento dúbio nos espectadores, que no começo temem a criatura selvagem, mas que com o passar da fita, o papel de vilão inverte-se para um personagem incompreendido que só busca pelo amor da bela Ann Darrow (interpretação definitiva de Fay Wray) e é capaz de se sacrificar por ela, como diz a antológica e eterna frase final de efeito: “Foi a bela que matou a fera”. Essa capacidade de mexer com a plateia seria a marca indelével do sucesso de King Kong, tornando-o um ícone até hoje, reservando a majestade definitiva ao gorila gigante como o rei de todos os monstros, e porque não, o mais humano entre todos eles. O motivo dessa coroação incontestável é a “interpretação” de Kong, que através de técnicas de animação quadro-a-quadro de William O’Brien, conseguiu fazer com que o filme de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack escapasse de ser apenas um filme B (o que ele é na verdade, se pararmos para analisar friamente) para tornar-se um ícone do cinema. A trama provavelmente já é de conhecimento de todo mundo. O incansável e ganancioso diretor de cinema Carl Denham (Robert Armstrong) parte com um navio junto com uma imensa tripulação para a Ilha da Caveira, uma península perdida no meio do oceano, onde quer filmar seu novo e impressionante filme, inspirado pelas lendas que habitam o local inóspito. Como naqueles anos, a crítica e o público só gostavam de histórias de romance, Denham precisa de uma personagem feminina no elenco, daí então surge a personagem de Darrow, salva pelo diretor ao tentar roubar uma maçã em uma barraca de frutas para aplacar sua fome, enquanto vaga desempregada pelas ruas em plena Depressão. Durante a viagem, Darrow acaba se apaixonado pelo tipo durão, mas de coração mole, John Driscoll (Bruce Cabot). Ao chegarem na ilha, a garota é raptada pelos selvagens locais que a oferecem em sacrifício para aplacar a ira de Kong. O que se segue é uma aventura desenfreada pela floresta tropical, com toda a equipe sendo dizimada ou por terríveis dinossauros que vivem naquele mundo perdido (inclusive com um erro paleontológico grotesco, com um braquiossauro atacando-os no rio e devorando alguns homens, sendo que ele é um animal herbívoro) ou pelo próprio Kong, que não mede esforços para “proteger” a loura, tanto dos humanos quanto de um terrível tiranossauro, em uma das sequências de luta mais incríveis e violentas do filme (quiçá do cinema até então), e outros animais jurássicos. Denham consegue capturar o macaco utilizando bombas, após Driscoll resgatar a moça de suas mãos simiescas, e resolve levá-lo para NY para apresentá-lo ao público em um show em plena Times Square, como a oitava maravilha do mundo. Claro que o gorila escapa e começa a desencadear uma onda de destruição sem precedentes na cidade, até encontrar Ann e levá-la ao topo do maior prédio da cidade, onde é infernizado por aviões que acabam por lhe tirar a vida. Uma das cenas mais memoráveis do cinema, repetida e parodiada à exaustão em diversas mídias durante todos esses anos (e muitos mais por vir, creio eu). OK, King Kong deixou para sempre seu legado no cinema fantástico e de ficção científica. E seu papel nos filmes de terror, que afinal, é o mote desse blog? Dois recursos visuais também serviram para inspirar para sempre futuros diretores do gênero: primeiro, seres humanos sendo devorados, pisoteados e trucidados por animais ou outras criaturas de forma violenta, explícita e sem a menor piedade. Claro que são bonecos de massinha comendo outros bonecos de massinha. Mas deu para entender? Segundo, é a incrível cena onde Fay Wray vê pela primeira vez a criatura espreitando na floresta, antes de ser mostrada a nós, reles espectadores, e dá um grito de pavor, nos mostrando que realmente há algo terrível por ali, real, porém invisível a nós. Essa cena definiu toda uma experiência no gênero e fundaria uma das principais bases do cinema de horror: a noção de que aquilo que não vemos pode ser muito mais assustador e o quão terrível isso pode ser mensurado pelo simples grito primal de uma protagonista (feminina, óbvio). Além disso, há muitas mensagens subentendidas em King Kong, para aqueles que queiram encará-la dessa forma. Primeiro de tudo, é claro, é o eterno conflito entre as selvas: a cidade e a floresta. A natureza não pode ser domada. É terrível e implacável e os seres humanos devem saber se por no seu lugar. A outra é o capitalismo mordaz. Sem querer ser marxista ou nada do tipo, mas aqui se escancaram as feridas abertas pela Depressão e os motivos que levaram uma garota desesperada a uma experiência de quase morte, sujeitando-se ao que for necessário e a ganância de um homem em busca da fama e dinheiro, onde não importa a segurança da plateia contra uma fera revolta, e sim que eles paguem para isso. Fora isso há a questão da opressão, do homem ao animal, ou do homem a outras culturas, do cárcere forçado, e mais que tudo isso, a força opressiva do amor, que pode nos levar a consequências terríveis. Longa vida a nossa majestade. Longa vida a King Kong!
FONTE: http://101horrormovies.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário