sexta-feira, 17 de abril de 2015

#124 1959 PLANO 9 DO ESPAÇO SIDERAL (Plan 9 from Outer Space, EUA)


Direção: Edward D. Wood Jr.
Roteiro: Edward D. Wood Jr
Produção: Edward D. Wood Jr., Charles Bug e Hugh Thomas Jr. (Produtores Associados), J. Edward Reynolds (Produtor Executivo)
Elenco: Gregory Walcott, Mona McKinnon, Duke Moore, Tom Keene, Tor Johnson, Vampira, Bela Lugosi

O pior filme de todos os tempos. Essa é a honraria que Plano 9 do Espaço Sideral, do emblemático Ed Wood, frequentemente carrega consigo. A verdade é que essa gema do cinema é uma pérola de valor incalculável do sci-fi trash. É objeto de idolatria e responsável pelo enorme sucesso que o diretor (também considerado o pior de todos) teria pós morte, quando seu longa viraria cult, influenciando pencas de cineastas, como o próprio Tim Burton, que dirigiu seu filme biográfico tempos depois. Na verdade existe um fila interminável de filmes que poderiam ser considerados o pior de todos os tempos. Coloque aí nessa conta Manos: The Hands of Fate (esse sim para mim é o pior MESMO), Robot Monster, e por aí vai. O fato é que o anti-marketing de Plano 9 do Espaço Sideral é o que lhe rende o sucesso eterno, até os dias de hoje. Essa é a aura que ele carrega. Afinal, quem não tem curiosidade em ver o pior filme do mundo? Plano 9 nunca soou pretensioso. Nunca se levou a sério. Ed Wood era apenas um homem que amava o cinema. E tentou ao máximo, com seus orçamentos mixórdios (este foi de parcos 60 mil dólares), grande dose de simpatia e criatividade, fazer aquilo que mais gostava na vida: dirigir filmes. Claro, as atuações são toscas, os cenários de papelão, os discos voadores são controlados por barbantes amarrados em varas de pescar, o roteiro é uma bizarrice só. Mas quer saber, e daí? Melhor que muitos filmes de terror da geração feito-direto-para-o-DVD de hoje em dia que se levam a sério. Por mais lixo, Plano 9 do Espaço Sideral é uma declaração de amor ao cinema de horror e ficção científica. Afinal quem faria um filme financiado pela congregação batista local, sendo até batizado nessa religião, e recebendo vários pitacos na sua obra, como Ed Wood fez? Além disso, Plano 9 é a última aparição de Bela Lugosi nas telas. Seu indiscutível legado, como Drácula original perpetua-se eternamente no cinema de horror. Aqui, velho, cansado, decadente, sem dinheiro e viciado em morfina, ele aparece em poucas sequências do filme, tento morrido durante as filmagens. E é emblemática, triste, melancólica e cheio de pesar a cena em que ele está parado em frente à casa, recolhendo a pétala de flor do jardim, lamentando a morte de sua esposa, antes da sua morte em cena, e de sua morte de verdade. Mas aí vem um daqueles motivos pelos quais Plano 9 é execrado. Lugosi morreu, mas Wood teve a cara de pau de colocar um outro artistas em seu lugar, nitidamente mais novo e mais alto, cobrindo o rosto com a capa de Drácula, para ninguém perceber que não era Lugosi contracenando? E ainda tem takes em que aparece Lugosi, corta, aparece o Dr. Tom Mason, não creditado, substituindo-o (no IMDB o personagem tem o nome de Ghoul Man With Cape Over Face), que era na verdade o médico quiroprático (careca, usando uma peruca no longa) da atual namorada de Eddie. Todos os personagens são caricatos. Não dá para levar nenhum sequer a sério. Tor Johnson, o ex-lutador de luta livre, que faz Lobo em A Noiva do Monstro, interpreta o inspetor Clay, que morre e volta à vida também. Vampire Girl, a esposa do Velho (nome do personagem de Lugosi) é interpretada por uma subcelebridade falida da televisão naqueles tempos, Vampira, que não tem uma fala o longa inteiro e fica andando para lá e para cá com sua expressão estática e braços duros, carregada de maquiagem. Os policiais são estúpidos. O piloto Jeff Trent (Gregory Walcott) é um canastrão de mão cheia, líder do coro da igreja que financiou o filme (e impôs a presença do sujeito à Wood). O coronel Edwards (Tom Keene) é outro tosco. Os alienígenas Eros, Tanna e seu líder ((John “Bunny” Beckinridge, velho amigo transex de Wood) então nem se fala. E os cenários? O que falar daquele cemitério com as cruzes feitas de papelão, que balançam com o vento? E o interior da nave espacial? Que é um simples quartinho com uma escada e uma mesa com uma parafernalha em cima? Fora o figurino de festa à fantasia dos visitantes do espaço. E o interior do avião que Jeff pilota, então? Alguém me explique o que é aquele manche? Isso sem contar as filmagens dos discos voadores sobrevoando as cidades com seus já famosos barbantes, ou as cenas do exército em que Wood utiliza filmagens de arquivo que adquiriu de um estúdio que tinha feito vários tomadas ao acaso. E quando os canhões do exército americano disparam contra os discos voadores, estalidos e bombinhas pipocam na tela como se estivessem sendo atingidos. Coloque também nessa conta os erros crassos de continuidade. O roteiro é uma besteira sem tamanho. Uma quase paródia trash de O Dia em que a Terra Parou. Um bando de alienígenas viajam anos luz para utilizar suas armas de elétrodos com raios e ressuscitar nossos mortos, enquanto tentam destruir a humanidade antes que os cientistas terráqueos consigam descobrir a bomba Solaronite, que imitaria partículas dos raios solares e se fosse usada, colocaria todo o universo em risco. Claro que cabe aos heróis enfrentar os zumbis, os alienígenas e salvar o mundo. Ed Wood piora muito em todos os sentidos, com relação ao seu longa anterior, A Noiva do Monstro, que é tosco, mas um verdadeiro Cidadão Kane (por sinal, filme preferido de Wood) perto de Plano 9 do Espaço Sideral. Se tivesse nascido uma década antes, seu nome seria figurinha carimbada no Poverty Row de Hollywood com certeza. Triste saber que sua fama post-mortem foi infinitamente maior do que a que teve em vida, pois com Plano 9 do Espaço Sideral, sua “obra prima”, não ganhou um níquel sequer pois os direitos do filme ficaram retidos pela igreja. Depois disso, Wood entrou em franca decadência. Crossdresser assumido, Wood passou a dirigir pornografia sob o pseudônimo de Akdov Telmig (Vodka Gimlet lido de trás para frente), escrever bizarros contos e novelas sexuais sobre travestis nos anos 70, até morrer por conta de complicações do alcoolismo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/01/124-plano-9-do-espaco-sideral-1959/


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