Direção: Edward D. Wood Jr.
Roteiro: Edward D. Wood Jr
Produção: Edward D. Wood Jr., Charles Bug e Hugh
Thomas Jr. (Produtores
Associados), J. Edward Reynolds (Produtor Executivo)
Elenco: Gregory Walcott, Mona McKinnon, Duke
Moore, Tom Keene, Tor Johnson, Vampira, Bela Lugosi
O pior filme de todos os tempos.
Essa é a honraria que Plano 9 do Espaço Sideral, do emblemático Ed Wood,
frequentemente carrega consigo. A verdade é que essa gema do cinema é uma
pérola de valor incalculável do sci-fi trash. É objeto de idolatria e
responsável pelo enorme sucesso que o diretor (também considerado o pior de
todos) teria pós morte, quando seu longa viraria cult, influenciando
pencas de cineastas, como o próprio Tim Burton, que dirigiu seu filme
biográfico tempos depois. Na verdade existe um fila interminável de filmes que
poderiam ser considerados o pior de todos os tempos. Coloque aí nessa conta Manos: The Hands of Fate (esse sim para mim é o pior
MESMO), Robot Monster, e por aí vai. O fato é que o anti-marketing de Plano
9 do Espaço Sideral é o que lhe rende o sucesso eterno, até os dias de
hoje. Essa é a aura que ele carrega. Afinal, quem não tem curiosidade em ver o
pior filme do mundo? Plano 9 nunca soou pretensioso. Nunca se levou a
sério. Ed Wood era apenas um homem que amava o cinema. E tentou ao máximo, com
seus orçamentos mixórdios (este foi de parcos 60 mil dólares), grande dose de
simpatia e criatividade, fazer aquilo que mais gostava na vida: dirigir filmes.
Claro, as atuações são toscas, os cenários de papelão, os discos voadores são
controlados por barbantes amarrados em varas de pescar, o roteiro é uma
bizarrice só. Mas quer saber, e daí? Melhor que muitos filmes de terror da
geração feito-direto-para-o-DVD de hoje em dia que se levam a sério. Por mais
lixo, Plano 9 do Espaço Sideral é uma declaração de amor ao cinema de
horror e ficção científica. Afinal quem faria um filme financiado pela
congregação batista local, sendo até batizado nessa religião, e recebendo
vários pitacos na sua obra, como Ed Wood fez? Além disso, Plano 9 é a
última aparição de Bela Lugosi nas telas. Seu indiscutível legado, como Drácula
original perpetua-se eternamente no cinema de horror. Aqui, velho, cansado,
decadente, sem dinheiro e viciado em morfina, ele aparece em poucas sequências
do filme, tento morrido durante as filmagens. E é emblemática, triste,
melancólica e cheio de pesar a cena em que ele está parado em frente à casa,
recolhendo a pétala de flor do jardim, lamentando a morte de sua esposa, antes
da sua morte em cena, e de sua morte de verdade. Mas aí vem um daqueles motivos
pelos quais Plano 9 é execrado. Lugosi morreu, mas Wood teve a cara
de pau de colocar um outro artistas em seu lugar, nitidamente mais novo e mais
alto, cobrindo o rosto com a capa de Drácula, para ninguém perceber que não era
Lugosi contracenando? E ainda tem takes em que aparece Lugosi, corta,
aparece o Dr. Tom Mason, não creditado, substituindo-o (no IMDB o personagem
tem o nome de Ghoul Man With Cape Over Face), que era na verdade o médico
quiroprático (careca, usando uma peruca no longa) da atual namorada de Eddie. Todos
os personagens são caricatos. Não dá para levar nenhum sequer a sério. Tor
Johnson, o ex-lutador de luta livre, que faz Lobo em A Noiva do Monstro, interpreta o inspetor Clay, que morre e
volta à vida também. Vampire Girl, a esposa do Velho (nome do personagem de
Lugosi) é interpretada por uma subcelebridade falida da televisão naqueles
tempos, Vampira, que não tem uma fala o longa inteiro e fica andando para lá e
para cá com sua expressão estática e braços duros, carregada de maquiagem. Os
policiais são estúpidos. O piloto Jeff Trent (Gregory Walcott) é um canastrão
de mão cheia, líder do coro da igreja que financiou o filme (e impôs a presença
do sujeito à Wood). O coronel Edwards (Tom Keene) é outro tosco. Os alienígenas
Eros, Tanna e seu líder ((John “Bunny” Beckinridge, velho amigo transex de
Wood) então nem se fala. E os cenários? O que falar daquele cemitério com as
cruzes feitas de papelão, que balançam com o vento? E o interior da nave
espacial? Que é um simples quartinho com uma escada e uma mesa com uma
parafernalha em cima? Fora o figurino de festa à fantasia dos visitantes do
espaço. E o interior do avião que Jeff pilota, então? Alguém me explique o que
é aquele manche? Isso sem contar as filmagens dos discos voadores sobrevoando
as cidades com seus já famosos barbantes, ou as cenas do exército em que Wood
utiliza filmagens de arquivo que adquiriu de um estúdio que tinha feito vários
tomadas ao acaso. E quando os canhões do exército americano disparam contra os
discos voadores, estalidos e bombinhas pipocam na tela como se estivessem sendo
atingidos. Coloque também nessa conta os erros crassos de continuidade. O
roteiro é uma besteira sem tamanho. Uma quase paródia trash de O
Dia em que a Terra Parou. Um bando de alienígenas viajam anos luz para utilizar
suas armas de elétrodos com raios e ressuscitar nossos mortos, enquanto tentam
destruir a humanidade antes que os cientistas terráqueos consigam descobrir a
bomba Solaronite, que imitaria partículas dos raios solares e se fosse usada,
colocaria todo o universo em risco. Claro que cabe aos heróis enfrentar os
zumbis, os alienígenas e salvar o mundo. Ed Wood piora muito em todos os
sentidos, com relação ao seu longa anterior, A Noiva do Monstro, que é
tosco, mas um verdadeiro Cidadão Kane (por sinal, filme preferido de
Wood) perto de Plano 9 do Espaço Sideral. Se tivesse nascido uma década
antes, seu nome seria figurinha carimbada no Poverty Row de Hollywood com
certeza. Triste saber que sua fama post-mortem foi infinitamente
maior do que a que teve em vida, pois com Plano 9 do Espaço Sideral, sua “obra
prima”, não ganhou um níquel sequer pois os direitos do filme ficaram retidos
pela igreja. Depois disso, Wood entrou em franca decadência. Crossdresser assumido,
Wood passou a dirigir pornografia sob o pseudônimo de Akdov Telmig (Vodka
Gimlet lido de trás para frente), escrever bizarros contos e novelas sexuais
sobre travestis nos anos 70, até morrer por conta de complicações do
alcoolismo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/01/124-plano-9-do-espaco-sideral-1959/
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