Direção: Ray Kellog
Roteiro: Jay Simms, Ray
Kellog (história original)
Produção: Ken Curtis, B.R.
McLendon, Gordon McLendon (Produtor Executivo)
Elenco: Don
Sullivan, Fred Graham, Lisa Simone, Shug Fisher, Bob Thompson
O Monstro
Gigante de Gila é o filme mais safado que eu já assisti. Sério.
É um nível de truque tão grande, uma picaretagem tão descarada, e um podreira
tão imensurável, que não dá para não se divertir com essa pérola do final dos
anos 50. Para começo de conversa, os realizadores dessa façanha cinematográfica
são os mesmo de O Ataque dos Roedores. O diretor Ray Kellog, o roteirista Jay
Simms, os produtores Ken Curtis e Gordon McLendon. Então só por isso já dá para
ter uma ideia do que esperar de O Monstro Gigante de Gila. No caso de
Kellog, se nota certa evolução na direção, o que é pior, com relação ao seu
longa anterior. Não que isso queira dizer muita coisa. E pelo menos, eles
usaram um monstro de gila de verdade nas filmagens, e não uma solução
alternativa, como vestir cachorros de musaranhos geneticamente alterados. Para
também situar o leitor zoologicamente, o monstro de gila é um lagarto venenoso,
de cor preta e rosa, que vive no sudoeste dos EUA e norte do México. Segundo a
narração introdutória do filme, o tamanho que o monstro gila pode chegar nenhum
homem pode prever. Mentira, pode sim. Até 60 cm de comprimento, o que já faz dele
o maior lagarto norte-americano. Aqui, ele vira uma ameaça descomunal, pesando
toneladas e sendo maior do que um caminhão.A trama é como se Loucuras de
Verão encontrasse Godzilla. Embalados pelo rock ‘n’ roll dos anos 50,
a história foi filmada nas áridas paisagens do Texas, e voltado para o público adolescente,
juventude transvidada da época, que só queria saber de festas, badernas,
namoros e andar por aí com seus carros envenenados e tirar rachas. Logo no
começo, um casal de jovens está dando um amasso na estrada, quando só vemos a
patinha do monstro se aproximando em close e fazendo-os rolar ribanceira
abaixo. Depois, outro casal de namorados também desaparece misteriosamente,
vítima da criatura que come humanos como se fossem moscas (como diz no
excelente trailer do filme). Coloque na conta do monstro de gila também o dono
da mecânica onde o jovem aspirante a astro de rock, Chase Winstead, trabalha.
Ele está dirigindo um caminhão de combustível pela estrada à noite, quando
surge o lagartão, e… bem vou descrever exatamente como é a cena: o caminhão está
na estrada, corta para a face do animal, colocando sua língua para fora, corta
para o motorista gritando em pânico, corta para um caminhão de brinquedo saindo
da estrada, empurrado por um barbante, e explodindo. Eu juro que não estou
brincando. Cabe ao heroico Chase, que tem tempo de compor baladas para a
irmãzinha deficiente, namorar uma francesinha, gravar um compacto com o DJ
Steamroller Smith, o mais famoso disc-jóquei das redondezas,
trabalhar guinchando os carros acidentados pelo monstro de gila e ainda
organizar uma festa de arromba em um celeiro, salvar o dia da ameaça réptil,
junto com o xerife Jeff, clone do Mazzaropi. E é nesta festa que o gilão (tá,
foi infame) vai dar às caras para toda a população, já que antes ficava tudo só
em um ineficiente clima de mistério, com uma contundente e repetitiva trilha
sonora de tambores. Agora por que eu disse que é o filme mais salafrário já
feito? Porque o monstro de gila NUNCA aparece junto com os atores na mesma
cena. Não há nenhum efeito de trucagem, sobreposição de imagem, nada. As cenas
são: atores/ corte/ close do monstro de gila/ atores/ corte/ close do monstro
de gila. É hilário. E quando o animal “contracena” com outros objetos, é uma
explosão de risos. Ele se rasteja sobre um cenário em maquete, e quando ele
quebra um galho pisando sobre ele, sobe o efeito sonoro de um tronco sendo
destruído. Arbustos fazem papel de árvores e morrinhos, papel de colinas. Mas é
MUITO mal feito. Em uma fatídica cena do descarrilamento do trem, vemos o pobre
do bicho se rastejando todo sobre uma ponte de mentira, de um Ferrorama
qualquer, e passa por ela destruindo-a, fazendo com que o trem (de brinquedo,
lógico), caia e pegue fogo. Ouvimos o grito desesperado de DOIS passageiros
diferentes. No ataque do gila ao celeiro onde está rolando a balada, colocaram
o réptil para arrebentar uma casa da Barbie, com carrinhos Hot Weels
estacionados ao lado, para dar a impressão de profundidade do tamanho colossal
do lagarto. Se você ainda assistir a versão colorizada (competentemente
colorizada, por sinal), as tosquices ficam ainda mais evidentes que a versão em
preto e branco. Um filme desses é uma afronta. Aula de tudo que não fazer no
cinema. Mas por isso ele é tão singular para os fãs das bagaceiras. Não posso
esquecer-me de mencionar os cenários. O orçamento foi de 140 mil dólares (o
dobro de algumas produções de Roger Corman, por exemplo), mas só há uma
locação, que se reveza como bar, oficina, delegacia, casa do Chase. Só mudar as
mobílias de lugar. E como se não bastasse isso tudo, há algumas cenas musicais
com Chase destilando seu rock ‘n’ roll. A mesma em que ele está cantando
para a irmãzinha, só no fast forward mesmo para aguentar. A sensação
de enganação de assistir O Monstro Gigante de Gila, ou O Gigante Monstro
Gila como foi lançado aqui em DVD (incluindo aí a versão colorizada) é imensa.
Algo parecido com assistir Tubarão Cruel do falsário Bruno Mattei,
onde não se vê também o tubarão atacando os atores, por ter sido roubadas cenas
de outros filmes de tubarão (incluindo aí do Spielberg e a maioria de O
Último Tubarão de Enzo G. Castellari). É um dos piores filmes já feitos. Mas o
problema é que uma tranqueira como essa, acaba se tornando adorável.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/28/122-o-monstro-gigante-de-gila-1959/
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