Direção: John
Gilling
Roteiro: John
Gilling, Leon Griffiths
Produção:Robert
S. Baker, Monty Berman
Elenco: Peter
Cushing, June Laverick, Donald Pleasence, George Rose, Renee Houston
A Carne e o
Diabo é mais uma das adaptações de um dos episódios mais
mórbidos e macabros da história da medicina, conhecido como os Assassinatos de
Burke e Hare, dupla responsável por matarem 16 pessoas na Edimburgo do Século
XIX, para vender seus corpos ao Dr. Robert Knox, que os utilizava em
dissecações nas aulas de anatomia que ministrava na Universidade de Medicina. Diversos
outros filmes já se basearam neste fato chocante, que na verdade é um tema
bastante recorrente no cinema de horror: práticas médicas nefastas e roubo de
cadáveres. Além de A Carne e o Diabo, o mais famoso (e primeiro) longa que
nos traz esta trama é O Túmulo Vazio, clássico estrelado por Boris Karloff e
dirigido por Robert Wise, com produção de Val Lewton para a RKO Pictures,
lançado em 1945. O filme não é uma adaptação literal, como é o caso deste aqui,
mas sim, baseado no conto homômino de Robert Louis Stevenson, que traz desdobramentos
de bastidores da história. Além destes dois, também inspirados pelo caso,
temos O Maquiavélico William Hart, de 1948 e Corredores de Sangue,
também com Boris Karloff no elenco, ao lado de Christopher Lee, de 1958. Em
2010, John Landis ainda dirigiu uma comédia de humor negro sobre o caso,
chamada Burke & Hare, com Simon Pegg (o Shaun de Todo Mundo Quase
Morto) e Andy Serkins (famoso por dar vida aos traços digitais do Gollum
em O Senhor dos Aneis e O Hobbit) no elenco. A figura do
proeminente e respeitado médico, Dr. Robert Knox, é interpretada pelo
onipresente Peter Cushing, segundo o próprio ator, seu papel preferido em toda
sua carreira cinematográfica, que de forma impecável (como de costume) dá vida
ao médico, brilhante, mas ao mesmo tempo arrogante e dissimulado. Sua
importância na história da medicina é inegável, mesmo sendo condescendente dos
crimes cometidos pela famigerada dupla de imigrantes irlandeses, nunca se
importando com a verdadeira origem dos cadáveres. William Burke é vivido por
George Rose e William Hart, por Donald Pleasence (famoso pelo papel do Dr.
Loomis, de Halloween – A Noite do Terror). Ambos igualmente ótimos,
diga-se de passagem. Para conseguir uma grana fácil, ambos começaram a
desenterrar cadáveres para vendê-los ao médico pela fortuna de sete libras o
corpo. Para depois em seguida, querendo evitar a fadiga, começar a assassinar
pessoas. Sabe, nada como o trabalho honesto, não é? No final das contas, ambos
acabaram sendo presos, mas apenas Burke foi condenado pelo júri e executado,
enforcado pouco tempo depois, assistido por uma multidão de pessoas.
Interessante que no devido momento do filme, vemos um pintor local criando “ao
vivo” um famoso retrato do seu enforcamento, que pode ser visto aqui.
Hare foi inocentado, mas foi perseguido e depois e teve seus olhos queimados
por uma tocha. O clamor popular também queria a condenação do Dr. Robert Knox,
algo que não aconteceu. Na vida real, o caso foi o suficiente para arruinar sua
carreira, fazendo inimigos em Edimburgo, principalmente na junta médica, e
obrigando-o a se mudar para Londres, onde começou a escrever artigos em jornais
médicos e outras publicações, pois não conseguia encontrar um trabalho como cirurgião.
Falando um pouco de aspectos técnicos do filme, A Carne e o Diabo é
dirigido por John Gilling, que também escreveu o roteiro, de forma hábil e
precisa. Ao assistir a fita, que deriva dos anos 60, parece que estamos
assistindo aos clássicos do gênero da década de 40. A ambientação precisa de
uma decadente Edimburgo de 1827, com suas ruas infestadas de marginais, bêbados
e prostitutas e a fotografia austera em preto e branco, consegue traduzir toda
a atmosfera lúgubre e sinistra que permeia o longa, de forma competente e
aterrorizante. Gilling também foi responsável pela direção de alguns famosos
filmes da Hammer, como A Serpente, Epidemia de
Zumbis e A Mortalha da
Múmia. Além disso, há um certo grau de violência e crueldade maior
do que estávamos acostumados a ver na época, pensando que aqui estamos apenas
no primeiro ano da década de 60, recém saídos de toda uma fase inteira de
filmes de ficção científica que exploravam a paranoia comunista e o medo
nuclear. Na versão sem cortes, vemos assassinatos brutais, por estrangulamento
ou pessoas sendo esfaqueadas, sem o menor pudor e arrependimento dos dois
malignos vilões, e até diversas cenas de nudez feminina, com direito a vários
peitinhos de fora nas cenas dentro dos cabarés. A Carne e o Diabo (que no
Brasil também ficou conhecido como O Monstro da Morgue Sinistra) é um
excelente filme. Envolvente, macabro e atmosférico. Retrata um momento funesto
da história escocesa e da própria história da medicina, que apesar de todo o
horror e blasfêmia, teve sua importância para as descobertas e avanços do
estudo da anatomia humana.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/04/05/128-a-carne-e-o-diabo-1960/
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