Direção: Arthur
Crabtree
Roteiro: Herman
Cohen, Aben Kandel
Produção:Samuel
Z. Arkoff, Herman Cohen, Jack Greenwood
Elenco: Michael
Gough, June Cunningham, Graham Curnow, Shirley Anne Field, Geoffrey Keen
Horrores do
Museu Negro, é um clássico exemplo dessa mudança de ares do gênero,
muito influenciado pela Hammer, que ditou um novo rumo para o cinema de horror,
trazendo para a tela cenas mais violentas, com sangue e abusando de cores vivas
para chocar os espectadores. Não precisa ir até o expressionismo alemão da
década de 20, por exemplo, para se traçar um paralelo. Podemos pegar o começo
da própria década de 50 e sua enxurrada de filmes de ficção científica, o medo
nuclear e a paranoia comunista, principalmente tratando-se do cinema americano.
Enquanto isso, os ingleses, são responsáveis por alguns dos melhores filmes de
terror dos anos 50, mesmo aqueles que tinham o sci-fi como ponto de
partida. Só da Hammer, entra nessa lista britânica: Terror que Mata; X, O Monstro Radioativo; A Maldição de Frankenstein e O Vampiro da Noite, isso sem esquecer do obscuro The Trollenberg Terror e do ótimo e gosmento O Horror Vem do Espaço, do diretor Arthur Crabtree. E esse
mesmo senhor é o responsável pela direção do igualmente ótimo Horrores do
Museu Negro, uma sádica história de assassinato, trazendo um
impiedoso serial killer, ajudando a pavimentar uma nova fórmula e estética
no gênero, que remete descaradamente ao Grand Guignol, e que depois
reverberaria em clássicos como o próprio Psicose de Alfred Hitchcock, A Tortura do
Medo de Michael Powell e Os Olhos Sem
Rosto de Georges Franju, por exemplo. E por falar
nisso, Horrores do Museu Negro é o primeiro filme da
chamada Sadian Trilogy, nome dado pelo crítico de cinema David Pirie à
sequência de três filmes britânicos do final dos anos 50 e começo dos anos 60,
relacionados por uma premissa com forte ênfase na violência, crueldade, sadismo
e conotações sexuais. Seguem-se a ele o já citado A Tortura do
Medo e Circo dos
Horrores, de Sidney Hayers. Horrores do Museu Negro é a
primeira produção em Cinemascope da lendária AIP de Samuel Z. Arkoff, e
co-produzido pela Anglo-Amalgamated, de Nat Cohen e Stuart Levy. Chamou muita
atenção na época de seu lançamento por apresentar antes do início do filme, um
curta de 13 minutos chamado de Hipno-Vista, que chocava a plateia com cenas
reais de hipnose e agulhas sendo enfiadas no corpo de pessoas. Isso gerou
diversos protestos tanto na Inglaterra quanto nos EUA, mas como toda boa
polêmica sempre ajuda um filme, acabou transformando a fita em um sucesso
absoluto de bilheteria. Na trama diabólica, Edmond Bancroft, interpretado
brilhantemente por Michael Gough (o Alfred dos filmes do Batman de Tim Burton e
Joel Schumacher) é um escritor de artigos e livros sobre crime em Londres, que
vive fazendo troça com a ineficácia da Scotland Yard em resolver certos casos,
e que tem como sadio passatempo, manter um museu de horrores, retratando os
mais famosos crimes cometidos na Inglaterra, cheio de aparelhos de tortura
medievais e modernas, no porão de sua casa. Uma série de terríveis assassinatos
vem assolando Londres. O primeiro, no prólogo do filme já é sensacional, com
uma armadilha preparada em um binóculo enviado sem remetente para uma bela
jovem, que ao colocar sobre os olhos, aciona dois pregos que furam os olhos da
pobre coitada. Logo de cara sacamos que Bancroft é um sujeito psicótico, até
pelo seu terrível hobby, e que ele é o serial killer, auxiliado por seu
assistente Rick (Graham Curnow), a quem mais tarde descobrimos que é cobaia de
uma fórmula que Bancroft injeta no rapaz para transformá-lo em uma besta sádica
e violenta, causando até alterações em suas feições e um aumento exponencial de
adrenalina, parecida com a poção de O Médico e o Monstro, clássico de
Robert Louis Stevenson. O motivo que Bancroft realiza seus assassinatos, que no
começo são aleatórios, só depois as vítimas passam a ser pessoas abelhudas que
começam a interferir em seu trabalho, é dos mais sublimes: poder escrever sobre
eles com toda clareza de detalhes e vender centenas de livros, ajudando-o a ser
conhecido como um dos mais prolíficos escritores sobre crimes, uma espécie de
autoridade do assunto. Entre seus métodos nada ortodoxos de assassinatos, ele e
seu comparsa se utilizam de guilhotinas, facas, choques elétricos, e por aí
vai. Gough, sempre acostumado a papeis de coadjuvante, dá uma aula de
interpretação no filme. Seus trejeitos, a forma como manquitola apoiando em sua
bengala, seu temperamento bipolar e sua homossexualidade implícita (em
determinado momento do filme ele solta a pérola misógina: “nenhuma mulher
consegue segurar sua língua. Elas são uma raça viciosa, não confiável”) são
incríveis. Sua presença nas cenas decerto eleva o nível da produção. O grande
problema de Horores do Museu Negro é seu final, apressado, com uma solução
canhestra e que acaba deixando muito a desejar, faltando por um triz que a obra
fosse impecável. Uma pena, mas não prejudica o conjunto. Horrores do Museu
Negro é o último filme de Crabtree na direção, antes de se envolver em um
processo judicial por violentar sua filha adotiva, que também desencadearia um
séria de problema de saúde que levaria o diretor à morte. O que fica como seu
legado, e do filme em si, é uma espécie de começo do fim da inocência do cinema
de horror, que seria brevemente explorado durante toda a década seguinte, até
chegar de vez nos obscuros anos 70 com suas produções pessimistas, sangrentas e
a explosão do cinema grindhouse.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/26/120-horrores-do-museu-negro-1959/
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