domingo, 12 de abril de 2015

#120 1959 OS HORRORES DO MUSEU NEGRO (Horrors of the Black Museum, Reino Unido)


Direção: Arthur Crabtree
Roteiro: Herman Cohen, Aben Kandel
Produção:Samuel Z. Arkoff, Herman Cohen, Jack Greenwood
Elenco: Michael Gough, June Cunningham, Graham Curnow, Shirley Anne Field, Geoffrey Keen

Horrores do Museu Negro, é um clássico exemplo dessa mudança de ares do gênero, muito influenciado pela Hammer, que ditou um novo rumo para o cinema de horror, trazendo para a tela cenas mais violentas, com sangue e abusando de cores vivas para chocar os espectadores. Não precisa ir até o expressionismo alemão da década de 20, por exemplo, para se traçar um paralelo. Podemos pegar o começo da própria década de 50 e sua enxurrada de filmes de ficção científica, o medo nuclear e a paranoia comunista, principalmente tratando-se do cinema americano. Enquanto isso, os ingleses, são responsáveis por alguns dos melhores filmes de terror dos anos 50, mesmo aqueles que tinham o sci-fi como ponto de partida. Só da Hammer, entra nessa lista britânica: Terror que MataX, O Monstro RadioativoA Maldição de Frankenstein e O Vampiro da Noite, isso sem esquecer do obscuro The Trollenberg Terror e do ótimo e gosmento O Horror Vem do Espaço, do diretor Arthur Crabtree. E esse mesmo senhor é o responsável pela direção do igualmente ótimo Horrores do Museu Negro, uma sádica história de assassinato, trazendo um impiedoso serial killer, ajudando a pavimentar uma nova fórmula e estética no gênero, que remete descaradamente ao Grand Guignol, e que depois reverberaria em clássicos como o próprio Psicose de Alfred Hitchcock, A Tortura do Medo de Michael Powell e Os Olhos Sem Rosto de Georges Franju, por exemplo. E por falar nisso, Horrores do Museu Negro é o primeiro filme da chamada Sadian Trilogy, nome dado pelo crítico de cinema David Pirie à sequência de três filmes britânicos do final dos anos 50 e começo dos anos 60, relacionados por uma premissa com forte ênfase na violência, crueldade, sadismo e conotações sexuais. Seguem-se a ele o já citado A Tortura do Medo e Circo dos Horrores, de Sidney Hayers. Horrores do Museu Negro é a primeira produção em Cinemascope da lendária AIP de Samuel Z. Arkoff, e co-produzido pela Anglo-Amalgamated, de Nat Cohen e Stuart Levy. Chamou muita atenção na época de seu lançamento por apresentar antes do início do filme, um curta de 13 minutos chamado de Hipno-Vista, que chocava a plateia com cenas reais de hipnose e agulhas sendo enfiadas no corpo de pessoas. Isso gerou diversos protestos tanto na Inglaterra quanto nos EUA, mas como toda boa polêmica sempre ajuda um filme, acabou transformando a fita em um sucesso absoluto de bilheteria. Na trama diabólica, Edmond Bancroft, interpretado brilhantemente por Michael Gough (o Alfred dos filmes do Batman de Tim Burton e Joel Schumacher) é um escritor de artigos e livros sobre crime em Londres, que vive fazendo troça com a ineficácia da Scotland Yard em resolver certos casos, e que tem como sadio passatempo, manter um museu de horrores, retratando os mais famosos crimes cometidos na Inglaterra, cheio de aparelhos de tortura medievais e modernas, no porão de sua casa. Uma série de terríveis assassinatos vem assolando Londres. O primeiro, no prólogo do filme já é sensacional, com uma armadilha preparada em um binóculo enviado sem remetente para uma bela jovem, que ao colocar sobre os olhos, aciona dois pregos que furam os olhos da pobre coitada. Logo de cara sacamos que Bancroft é um sujeito psicótico, até pelo seu terrível hobby, e que ele é o serial killer, auxiliado por seu assistente Rick (Graham Curnow), a quem mais tarde descobrimos que é cobaia de uma fórmula que Bancroft injeta no rapaz para transformá-lo em uma besta sádica e violenta, causando até alterações em suas feições e um aumento exponencial de adrenalina, parecida com a poção de O Médico e o Monstro, clássico de Robert Louis Stevenson. O motivo que Bancroft realiza seus assassinatos, que no começo são aleatórios, só depois as vítimas passam a ser pessoas abelhudas que começam a interferir em seu trabalho, é dos mais sublimes: poder escrever sobre eles com toda clareza de detalhes e vender centenas de livros, ajudando-o a ser conhecido como um dos mais prolíficos escritores sobre crimes, uma espécie de autoridade do assunto. Entre seus métodos nada ortodoxos de assassinatos, ele e seu comparsa se utilizam de guilhotinas, facas, choques elétricos, e por aí vai. Gough, sempre acostumado a papeis de coadjuvante, dá uma aula de interpretação no filme. Seus trejeitos, a forma como manquitola apoiando em sua bengala, seu temperamento bipolar e sua homossexualidade implícita (em determinado momento do filme ele solta a pérola misógina: “nenhuma mulher consegue segurar sua língua. Elas são uma raça viciosa, não confiável”) são incríveis. Sua presença nas cenas decerto eleva o nível da produção. O grande problema de Horores do Museu Negro é seu final, apressado, com uma solução canhestra e que acaba deixando muito a desejar, faltando por um triz que a obra fosse impecável. Uma pena, mas não prejudica o conjunto. Horrores do Museu Negro é o último filme de Crabtree na direção, antes de se envolver em um processo judicial por violentar sua filha adotiva, que também desencadearia um séria de problema de saúde que levaria o diretor à morte. O que fica como seu legado, e do filme em si, é uma espécie de começo do fim da inocência do cinema de horror, que seria brevemente explorado durante toda a década seguinte, até chegar de vez nos obscuros anos 70 com suas produções pessimistas, sangrentas e a explosão do cinema grindhouse.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/03/26/120-horrores-do-museu-negro-1959/



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