Direção: Taylor Hackford
Roteiro: Tony Gilroy (baseado no livro de Stephen
King)
Produção: Taylor Hackford, Charles Mulvehill; Gina
Blumenfeld, Michael Kelly (Produtores Associados)
Elenco: Kathy Bates, Jennifer Jason Leigh, Judy
Parfitt, Christopher Plummer, David Strathairn, John C. Reilly
Kathy Bates ganhou um Oscar pela sua atuação
visceral, assustadora, descontrolada e psicopata da enfermeira Annie Wilkes em Louca Obsessão, baseado em um livro de
Stephen King e sabidamente um dos melhores filmes inspirados em sua obra. A
atuação monstra da atriz chamou demais a atenção do escritor que se inspirou na
própria para criar a personagem Dolores Claiborne de seu livro homônimo,
levados às telas pelo diretor Taylor Hackford em Eclipse Total. Obviamente,
ninguém menos que Bates poderia viver a personagem título nesse intrigante
suspense, sem absolutamente nenhum toque sobrenatural, mesmo tendo King por
trás, que parece que vai ficando melhor com o tempo e a casa nova assistida. Eclipse Total nunca foi um de
meus favoritos, mas eu mesmo acabei me surpreendendo com ele ao revisitá-lo,
depois de um longo período em que o vi pela primeira vez. Claro que a atuação
de Bates é hors concours, e também estão muito bem a maiorias dos
coadjuvantes, como Jennifer Jason Leigh, Christopher Plummer, David Strathairn
e a excelente Judy Parfitt como Vera Donovan, indicada, vinda do teatro, pela
esposa de Hackford, Helen Mirren. Mas dois aspectos me chamaram demais a
atenção que dão um contorno todo especial ao longa: a trilha sonora impecável
de Danny Elfman e a ótima fotografia do mexicano Gabriel Beristain (que
pesquisando no iMDB tem dois filmes como diretor de fotografia que agora aqui
de cabeça me remeteram a esse seu trabalho: O Chamado 2 e Viagem
do Medo, e atualmente está na televisão, tendo trabalhado recentemente
na séries The Strain,
aquela do Guillermo Del Toro e Agent
Carter, da Marvel). Isso porque o filme é quase todo contado alternando
o presente e o passado, com uma fotografia azulada, sóbria, quase com total
ausência de cor durante a narrativa atual, e mais vívida quando em flashback. E isso sem contar a exímia
cena do tal eclipse total do título, quando todas essas partes envolvidas: a
atuação de Bates e Strathairn como seu marido abusivo, alcóolatra, molestador,
pedófilo e misógino, Joe; a fotografia de Beristain (lindíssima); a direção de
Hackford; e a trilha sonora de Elfman, funcionam poderosamente em uníssono. Pois
bem, na trama, a importante jornalista Selena St. George (Leigh) deixa Nova
York para voltar à sua terra natal, uma ilha no estado do Maine (ah, vá!) ao
saber que sua mãe, Dolores, estava sendo acusada do assassinato da mulher de
quem era criada e cuidava há 20 anos, Vera (em uma relação que de bate pronto
me lembrou de Bette Davis e Joan Crawford em O Que Terá Acontecido com
Baby Jane?) . O detetive John Mackey (Plummer) quer por que quer
colocá-la na cadeia, pois ainda acredita que ela foi a culpada pela morte do
marido há tantos anos, durante uma tarde onde aconteceu um eclipse total solar,
e escapou ilesa, sendo o único caso em que o mesmo não condenara um culpado. Esses
acontecimentos levaram a vida de todos para um caminho sem volta de amargura,
que será pontuado de forma carregada na conturbada relação entre Dolores e sua
filha, que volta cheia de mágoa e ressentimento com sua mãe, potencializados
pela perda de uma grande matéria que estava investigando e que lhe renderia um
livro, tomando remédios, viciada em bebida e com certa memória seletiva,
bloqueando diversas lembranças traumáticas de seu passado com seu pai. Dolores
mantém-se firme, forte, decidida a levar tudo até as últimas consequências e
tentar reconquistar a afeição da filha há tanto ausente. Apesar do suspense
água com açúcar, Eclipse Total consegue
te prender desde a primeira cena, que já é o suposto assassinato de Vera, até
sua bombástica revelação de como tudo transcorreu durante o eclipse, com as
ações de Dolores friamente calculadas, e principalmente, todas as somas dos
motivos que levaram até aquela situação. Bates e Parfitt então vociferam o girl
power dos anos 90, que culmina em um tema cada vez mais atual e
discutido em nossa sociedade, da mulher se levantar e agir contra problemas
extremamente comuns e destrutivos em várias famílias: alcoolismo, abuso,
machismo e incesto. Como Vera Donovan diz de boca cheia e instiga: “Às vezes,
ser uma vaca é tudo que resta a uma mulher”. É isso que a situação limítrofe e
maridos filhos da puta ao extremo levam essas mulheres de pedra a crer e agir
como tal. Eclipse Total é um
Stephen King acima da média (o que já é motivo de se louvar) onde o texto base
do escritor mais uma vez explora muito mais o drama oriundo do verdadeiro
terror das relações humanas, muito mais assustador do que monstros, fantasmas,
alienígenas e coisas do tipo.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/05/13/657-eclipse-total-1995/
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