sábado, 9 de julho de 2016

#648 1994 FRANKENSTEIN DE MARY SHELLEY (Frankenstein, EUA, Japão)


Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Steph Lady, Frank Darabont (baseado no livro de Mary Shelley)
Produção: Francis Ford Coppola, James V. Hart, John Veitch; Kenneth Branagh, David Parfitt (Coprodução); David Barron, Robert De Niro, Jeff Kleeman (Produtores Associados); Fred Fuchs (Produtor Executivo)
Elenco:Robert De Niro, Kenneth Branagh, Tom Hulce, Helena Bonham Carter, Aidan Quinn, Ian Holm

“Tem a cara da presunção e da cafonice dos filmes dos anos 90, na época de um arroubo de “superproduções” mequetrefes aspirantes a oscarizadas com estrelas de Hollywood”. Sabe, qual o problema dessa galera dos 90’s, hein? Qual diabo de status que eles queriam dar para o cinema de terror e seus monstros? Era mesmo pegar a ingenuidade e caracterização clássica criada pela Universal durante a Era de Ouro e depois pela competente britânica Hammer e transformar tudo numa paródia de si mesma, sem humanidade, cheia de pompa e megalomania? Foi assim com o Drácula de Bram Stokerdo Coppola e é assim com o Frankenstein de Mary Shelley, do shakespeariano Kenneth Branagh. Olha, eu vou contar aqui um causo pessoal sobre esse filme. Minha irmã mais velha é ligada ZERO em filmes de terror. Quando assisti algum tempo depois em VHS, achei um saco. E o pior foi que diabos era aquela criatura de Robert De Niro? Beleza, a caracterização dele está incrível, próximo da realidade, com uma excelente maquiagem (indicada ao Oscar®, diga-se de passagem), mas na minha cabeça o monstrengo era verde, tinha dois pinos no pescoço, cabeça quadrada e cabelo escovinha, como imortalizado por Boris Karloff. Bom, eu era bem jovem, vai. E o pior, era o sujeito falando, trocando ideia e toda aquela cretinice dele aprender a ler e falar com sua afeição por uma família camponesa. Cadê os grunhidos? Bom, isso era ignorância de quem apenas muitos anos depois teve a chance de ler o romance de Mary Shelley. Que por sinal, é uma porcaria, vai? Muito dos mal escritos, raso, sem profundidade. Certeza que ela perdeu a aposta feita entre ela, Stoker e Lorde Byron, em uma noite de tempestade, de quem criaria a história mais assustadora e tudo mais. Aí foi que eu percebi que havia sido injusto com essa pretensa adaptação fiel ao livro, pois isso de fato, ele é. O monstro realmente se envolveu com aquela família de camponeses, aprendeu a ler, a escrever, orquestrou uma vingança contra o Dr. Victor Frankenstein (papel de Branagh) que levara os dois aos confins gélidos do mundo. Também só mais tarde eu percebi o quanto A Noiva de Frankenstein é também mais próximo ao texto do que o original de 1931 de James Whale. Mas ainda assim, Frankenstein de Mary Shelley não me desce. E mais uma vez, é por conta da pompa, dos movimentos meticulosamente calculados que o afastam do cerne do cinema de terror para torná-lo um novelão, uma superprodução, um desbunde visual superficial, com grandes atores, grandes efeitos especiais, grandes orçamentos, para serem pretensos blockbusters e arrecadar milhões em bilheterias (tal qual a adaptação “literal” do Drácula de Coppola, que por sinal, é produtor deste aqui) enquanto o gênero cru e autêntico definhava em lançamentos de qualidade duvidosa, despejados diretos nas prateleiras das vídelocadoras. O cinema de terror sempre foi marginal, e Frankenstein de Mary Shelley é a antítese disso. Foi feito para levar a namorada incauta se maravilhar com a paixão e o romance entre Frankenstein e Elizabeth (Helen Bonham Carter pré-Tim Burton), com o figurino maravilhoso, os cenários majestosos, os efeitos especiais de última linha (na época), se impressionar com a atuação do De Niro com suas cicatrizes e boca torta pedindo uma companheira para aplacar sua solidão (que não evoca na real nem um pingo da dó que sentimos da incompreensão da criatura eternizada por Karloff há sessenta anos, mesmo que só com seus grunhidos). Ou seja, não dá para gostar. Ponto. E se você gosta, é pelos motivos errados. É pela estética e por ser um drama de época, e não por ser a transposição de um dos maiores clássicos da literatura gótica de todos os tempos, influentíssimo, o que nesse quesito, ele acerta. Mas não é o suficiente, porque querendo ou não, o livro é fraco, e resvala nas telas em um drama vitoriano, com um cientista louco que não convence nem um pouco, sem um pingo de horror. Tenta ser sujo, mas é asséptico. Deveria ser feio, mas quer ser belo, poético, soando patético ao contrário. Claro, eu não peço por um sujeito verde, todo quadradão com seus braços estendidos, casaco sujo, botas pesadas de construtor, como em Frankenstein da Universal. E nem a versão mais deformada que Christopher Lee viveu em A Maldição de Frankenstein da Hammer no final dos anos 50. A transposição do texto para as telas é crível, é real, De Niro dá conta do recado, mas Frankenstein de Mary Shelley é feito por pessoas erradas com intenções erradas. O bufante Kenneth Branagh entende de Shakespeare, mas não de um monstro clássico do cinema de terror (ou um Deus nórdico do trovão, falei aqui). Nitidamente queria-se fazer outro sucesso e jogar ao grande público o que fora feito emDrácula de Bram Stoker. Mas falta sombra, falta maldade, falta cadáveres sendo profanados de cemitérios e destroçados em prol de uma experiência terrível na tentativa de se ofender Deus e criar vida. Resumindo, falta o terror…
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/04/24/648-frankenstein-de-mary-shelley-1994/

Nenhum comentário:

Postar um comentário