terça-feira, 5 de julho de 2016

#641 1993 TRAUMA (Itália, EUA)


Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, T.E.D. Klein
Produção: Dario Argento; T. David Pash, Andrea Tinnirello (Produtores Executivos)
Elenco: Christopher Rydell, Asia Argento, Piper Laurie, Frederic Foster, Laura Johnson, Dominique Serrand, James Russo, Brad Dourif

Trauma é a primeira produção do diretor italiano Dario Argento no mercado americano, depois de ter construído uma carreira reputadíssima na sua Itália natal, lançando alguns dos mais importantes filmes de terror de todos os tempos, como Prelúdio para Matar eSuspiria, sua obra prima, lá nos anos 70. E só porque Argento é o diretor que essa produção fica um pouco acima da média. Na verdade, o diretor já estava no começo de sua decadência, pois durante mesmo os anos 80, não conseguiu atingir o mesmo status de suas películas anteriores e tendo realizado filmes bem medianos ou abaixo da crítica, como PhenomenaTenebre e Terror na Ópera. Chegar a Hollywood (ainda de forma tão tardia) fatalmente faria com que seu filme se enquadrasse em alguns conceitos já estabelecidos e certas limitações implícitas, torandoTrauma um suspense burocrático, com potencial de exibição no Supercine, muito aquém dos incríveis gialli já dirigido por Argento. Na verdade, Trauma parece grosso modo uma cópia em carbono do cinema de Brian De Palma, obviamente por conta de pitacos dos produtores para que ficasse mais comercial e próximo do público americano possível, já acostumado com esse tipo de thriller. Se você por um acaso não souber quem é Argento, e prestar atenção em toda a forma como o filme se desenvolve, alguns jogos de câmera, travellings seguindo os atores e planos sequência, isso sem contar a trilha sonora de Pino Donaggio (parceiro habitual de De Palma) – outra imposição dos produtores, pois a escolha de Argento havia sido a banda Goblin, óbvio – haverá momentos certeiros em que passará por sua cabeça que ele foi dirigido por De Palma. Mas o que verdadeiramente o diferencia do suspense habitual hollywoodiano é exatamente o enxerto de características específicas do giallo, como a ultraviolência estilizada ao máximo, doses cavalares de sangue e um assassino misterioso voyeur utilizando luvas pretas de couro e claro, as viradas rocambolescas do roteiro em seu final, outra marca registrada do cinema de Argento, que já não impressiona mais a essa altura do campeonato e, além disso, estraga absurdamente com todo o timing do filme, que deveria ter acabado uma ou duas cenas antes. Trauma se inicia logo com uma cena extremamente gráfica, outro cartão de visita de Argento, onde uma enfermeira é decapitada por um serial killer que vem sendo batizado pela imprensa de Caçador de Cabeças, por cortar a cabeça de suas vítimas com uma traquitana com um cabo de aço afiadíssimo, em noites chuvosas e coleciona-las. A morte dessa enfermeira e dos demais pobres infelizes no decorrer do longa irá se interligar com a história de Aura Petrescu (vivida por Asia Argento, filha do diretor, apontada por muitos como a VERDADEIRA obra prima do Dario!), jovem problemática que sofre de anorexia e é salva do suicídio pelo jornalista David Parsons (Christopher Rydell). A moçoila acabara de fugir da clínica do Dr. Judd (Frederic Foster), um especialista em anorexia, e ao ser capturada, é levada de volta para os pais romenos, Adriana (Piper Laurie) e Stefan (Dominique Serrand). A mãe na verdade é uma médium, e durante uma sessão espírita, descobre a identidade do assassino, presente no local, e acaba sendo perseguida e também decapitada por ele, depois de um pandemônio. Então Parsons e Aura, agora também um par romântico, começam aquela intrincada investigação pessoal, amparados pelo Capitão Travis (James Russo), para descobrir quem é o Caçador de Cabeças, e como sua história os levará a uma conspiração envolvendo médicos, enfermeiras, eletrochoques e um infanticídio acidental (RIDÍCULO, por sinal) de um recém-nascido (naquele plot twist da sequência final que praticamente esculhamba o filme todo de tão improvável, absurdo e tosco – só perdendo em boçalidade para uma cabeça arrancada fora do seu corpo que consegue falar com Parsons e dá uma dica do assassino). Mas claro que se tu curte mortes gráficas, há excelentes momentos, cortesia do mestre Tom Savini, responsável pela maquiagem. Afinal, estamos falando de um sujeito que curte arrancar a cabeça dos outros. E quando a coisa não funciona com seu instrumento preferido de assassinato, ele usa outros métodos nada ortodoxos, como o emblemático momento em que mete o pobre diabo do Brad Dourif no fosso de um elevador, parcialmente paralisado após um violento golpe de marreta em sua coluna, para que o elevador se encarregue de decapitá-lo. Fato é que Argento entrou em uma espiral de declínio, que nunca mais conseguiu sair, assim como a maioria dos grandes diretores de terror da sua geração (Tobe Hooper e Wes Craven estão aí que não me deixam mentir) e Trauma é um medíocre atestado de seu trabalho. É inspirado em certos e cheio de boas intenções, mas burocrático e sem nada que acrescente à sua filmografia, faltando a pujança tanto estética quanto artística, quase artesanal (e muito por ser uma produção americana, diga-se de passagem) com a qual ele nos deslumbrou em outros tempos.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/04/10/641-trauma-1993/

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