Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, T.E.D. Klein
Produção: Dario Argento; T. David Pash,
Andrea Tinnirello (Produtores Executivos)
Elenco: Christopher
Rydell, Asia Argento, Piper Laurie, Frederic Foster, Laura Johnson, Dominique
Serrand, James Russo, Brad Dourif
Trauma é a primeira
produção do diretor italiano Dario Argento no mercado americano, depois de ter
construído uma carreira reputadíssima na sua Itália natal, lançando alguns dos
mais importantes filmes de terror de todos os tempos, como Prelúdio para Matar eSuspiria, sua obra prima, lá
nos anos 70. E só porque Argento é o diretor que essa produção fica um pouco
acima da média. Na verdade, o diretor já estava no começo de sua decadência,
pois durante mesmo os anos 80, não conseguiu atingir o mesmo status de suas
películas anteriores e tendo realizado filmes bem medianos ou abaixo da
crítica, como Phenomena, Tenebre e Terror na Ópera. Chegar a Hollywood (ainda de forma tão
tardia) fatalmente faria com que seu filme se enquadrasse em alguns conceitos
já estabelecidos e certas limitações implícitas, torandoTrauma um suspense
burocrático, com potencial de exibição no Supercine, muito aquém dos incríveis gialli já
dirigido por Argento. Na verdade, Trauma parece grosso modo uma cópia
em carbono do cinema de Brian De Palma, obviamente por conta de pitacos dos
produtores para que ficasse mais comercial e próximo do público americano
possível, já acostumado com esse tipo de thriller. Se você por um acaso
não souber quem é Argento, e prestar atenção em toda a forma como o filme se
desenvolve, alguns jogos de câmera, travellings seguindo os atores e
planos sequência, isso sem contar a trilha sonora de Pino Donaggio (parceiro
habitual de De Palma) – outra imposição dos produtores, pois a escolha de
Argento havia sido a banda Goblin, óbvio – haverá momentos certeiros em que
passará por sua cabeça que ele foi dirigido por De Palma. Mas o que
verdadeiramente o diferencia do suspense habitual hollywoodiano é exatamente o
enxerto de características específicas do giallo, como a ultraviolência
estilizada ao máximo, doses cavalares de sangue e um assassino misterioso
voyeur utilizando luvas pretas de couro e claro, as viradas rocambolescas do
roteiro em seu final, outra marca registrada do cinema de Argento, que já não
impressiona mais a essa altura do campeonato e, além disso, estraga
absurdamente com todo o timing do filme, que deveria ter acabado uma ou duas
cenas antes. Trauma se inicia logo com uma cena extremamente gráfica,
outro cartão de visita de Argento, onde uma enfermeira é decapitada por um serial
killer que vem sendo batizado pela imprensa de Caçador de Cabeças, por
cortar a cabeça de suas vítimas com uma traquitana com um cabo de aço
afiadíssimo, em noites chuvosas e coleciona-las. A morte dessa enfermeira e dos
demais pobres infelizes no decorrer do longa irá se interligar com a história
de Aura Petrescu (vivida por Asia Argento, filha do diretor, apontada por
muitos como a VERDADEIRA obra prima do Dario!), jovem problemática que sofre de
anorexia e é salva do suicídio pelo jornalista David Parsons (Christopher
Rydell). A moçoila acabara de fugir da clínica do Dr. Judd (Frederic Foster),
um especialista em anorexia, e ao ser capturada, é levada de volta para os pais
romenos, Adriana (Piper Laurie) e Stefan (Dominique Serrand). A mãe na verdade
é uma médium, e durante uma sessão espírita, descobre a identidade do
assassino, presente no local, e acaba sendo perseguida e também decapitada por
ele, depois de um pandemônio. Então Parsons e Aura, agora também um par
romântico, começam aquela intrincada investigação pessoal, amparados pelo
Capitão Travis (James Russo), para descobrir quem é o Caçador de Cabeças, e
como sua história os levará a uma conspiração envolvendo médicos, enfermeiras,
eletrochoques e um infanticídio acidental (RIDÍCULO, por sinal) de um
recém-nascido (naquele plot twist da sequência final que praticamente
esculhamba o filme todo de tão improvável, absurdo e tosco – só perdendo em
boçalidade para uma cabeça arrancada fora do seu corpo que consegue falar com
Parsons e dá uma dica do assassino). Mas claro que se tu curte mortes gráficas,
há excelentes momentos, cortesia do mestre Tom Savini, responsável pela
maquiagem. Afinal, estamos falando de um sujeito que curte arrancar a cabeça
dos outros. E quando a coisa não funciona com seu instrumento preferido de
assassinato, ele usa outros métodos nada ortodoxos, como o emblemático momento
em que mete o pobre diabo do Brad Dourif no fosso de um elevador, parcialmente
paralisado após um violento golpe de marreta em sua coluna, para que o elevador
se encarregue de decapitá-lo. Fato é que Argento entrou em uma espiral de
declínio, que nunca mais conseguiu sair, assim como a maioria dos grandes
diretores de terror da sua geração (Tobe Hooper e Wes Craven estão aí que não
me deixam mentir) e Trauma é um medíocre atestado de seu trabalho. É
inspirado em certos e cheio de boas intenções, mas burocrático e sem nada que
acrescente à sua filmografia, faltando a pujança tanto estética quanto
artística, quase artesanal (e muito por ser uma produção americana, diga-se de
passagem) com a qual ele nos deslumbrou em outros tempos.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/04/10/641-trauma-1993/
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