terça-feira, 12 de julho de 2016

#656 1995 A CIDADE DOS AMALDIÇOADOS (Village of the Damned, EUA)


Direção: John Carpenter
Roteiro: David Himmelstein; Steven Slebert, Larry Sulkis (não creditados)(baseado no livro de John Wyndham)
Produção: Sandy King, Michael Preger; Davis Chackler (Coprodutor); Sean Daniel, James Jacks, (Coprodutores Executivos); Andre Blay, Shep Gordon, Ted Vernon (Produtores Executivos)
Elenco: Christopher Reeve, Kirstie Alley, Linda Kozlowski, Michael Paré, Meredith Stranger, Mark Hammil

John Carpenter certa vez resolveu fazer a refilmagem de um clássico B do sci-fi dos anos 50 e conseguiu entregar simplesmente um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, que está em meu top cinco: O Enigma de Outro Mundo. Carpenter então resolve refilmar outro clássico B do sci-fi, agora dos anos 60, e consegue pisar na bola feio em A Cidade dos Amaldiçoados. A versão 90’s do sensacional A Aldeia dos Amaldiçoados de Wolf Rilla, baseado no livro “The Midwich Cuckos” de John Wyndham nos mostra um Carpenter nada inspirado, longe de seus melhores momentos no gênero, em uma direção burocrática, que parece no automático, extraindo muito pouco de seus protagonistas (de longe a Kirstie Alley é a pior!) e muito menos ainda das terríveis criancinhas com seus cabelos platinados, olhos brilhantes, ausência de sentimentos e poder de controle mental, que deveria ser de meter um medão absurdo! É pegar uma história sensacional, que já havia gerado um longa interessantíssimo recheado de alegoria da Guerra Fria e paranoia comunista e simplesmente não conseguir aproveitar absolutamente nada, e nem sequer a evolução dos efeitos especiais em comparação com o original que em seu lançamento já datava de mais de trinta anos. Diferentes de outras refilmagens de clássicos da ficção científica da época (e eu nem estou falando dos gráficos, tipo o próprio O Enigma de Outro Mundo ou A Mosca, mas, por exemplo, Os Invasores de Corpos) esta aqui tornou-se insossa e sem acrescentar absolutamente nada. A base da trama é a mesma, trocando a Midwich aldeia rural na Inglaterra para uma cidadezinha pacata do interior dos EUA, quando certo dia todos os moradores desmaiam ao mesmo tempo e depois de algum tempo, descobre-se que todas as mulheres estão grávidas, e nove meses depois, dão a luz a um grupo de poderosas crianças telepatas praticamente idênticas, dotadas de consciência coletiva e sem esboço de qualquer sentimento mundano. Aqui o grande problema da fotografia colorida com relação ao P&B do original são as peruquinhas ridículas do Prof. Raimundo nas meninas e aparência de pequeno Clodovil nos meninos! A ameaça dessas crianças é tão devastadora e imponente, que nem o Superman e nem o Luke Skywalker conseguem dar conta delas! Isso porque o protagonista, o Dr. Alan Chaffee é interpretado por Christopher Reeve, em seu último longa antes do acidente de cavalo que o deixou paralítico, e o Reverendo George é vivido por um coadjuvante Mark Hammil. Da parte do governo-cientistas-miliateres-whatever está a Dra. Susan Verner – quase a esposa do Júlio Cesar – papel da Kirstie Alley, que sabe que tem alguma coisa de errado com as crianças desde o começo (uma vez que em outras duas cidades ocorrera um fenômeno igual), rouba um dos fetos alienígenas que coloca em um daqueles vidros tipo Arquivo X, para teste, mas nunca se preocupa em alertar os moradores e principalmente, os pobres pais. Nem as mortes, em quantidade superior ao original de 1960, consegue fazer o longa valer a pena. Mesmo que o mote aqui seja o terror psicológico, Carpenter não consegue filmar uma morte decente sequer e que dê um mínimo de choque no espectador, salvo a mulher enfiando o braço dentro da panela de água fervendo, induzida por sua filha telepata. A do zelador que se joga do prédio com a vassoura para se “auto-empalar” é motivo de vergonha para o veterano mestre do terror. As cenas de suspense são bem das mais ou menos e a trilha sonora parece sampleado aquele velho toque minimalista de Carpenter de O Enigma de Outro Mundo, A Bruma Assassina e O Príncipe das Sombras. Eu não sei se houve interferência do estúdio (quase sempre há nesses casos, ainda mais se tratando de uma major como a Universal), se Carpenter estava mesmo sem um pingo de inspiração e só precisava pagar as contas, ou se os anos 90 não comportavam mais um tipo de filme como esse que funcionou perfeitamente em um período de tensão geopolítica, medo crescente e zilhões de teorias da conspiração. Eu só sei que foi um fracasso retumbante de público (faturou nove milhões de dólares contra um orçamento de 22), crítica e entrou para a conta dos mais fraquinhos do diretor. Se você assistiu criança lá nos anos 90, tendo alugado o VHS na videolocadora do bairro e sido apresentado pela primeira vez para as icônicas crianças de cabelo branco com seus olhos brilhantes, ou em alguma das centenas de reprises do Intercine da Globo, A Cidade dos Amaldiçoados entrou no seu imaginário cinematográfico do gênero. Agora para quem assistiu (antes ou mesmo depois) A Aldeia dos Amaldiçoados, esse aqui é completamente descartável e esquecível. Uma pena, Sr. Carpenter.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/05/12/656-a-cidade-dos-amaldicoados-1995/

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