Direção: Michele
Soavi
Roteiro: Gianni
Romoli (Baseado na obra de Tiziano Sclavi)
Produção: Heinz
Bibo, Tilde Corsi, Gianni Romoli e Michele Soavi, Conchita Airoldi e Dino Di
Dionisio (Co-produtores e Produtores Executivos), Michèle Ray-Gavras (Produtora
Executiva)
Elenco: Rupert
Everett, François Hadji-Lazaro, Anna Falchi, Mickey Knox
O
cinema de terror italiano, depois do ciclo giallo, do ciclo canibal, do
ciclo zumbi e do ciclosplatter, havia praticamente desaparecido quando Michele
Soavi lança seu clássico tardioPelo Amor e Pela Morte, uma
comédia de terror e humor negro de zumbis, que retrata não o medo de morrer,
mas sim o medo de viver em um mundo cada vez mais apático, sentimento que
dominou os anos 90. E talvez o último grande filme de horror da Itália. Soavi
queria fazer uma fábula sobre a geração vazia daqueles tempos, engolida pela
rotina e monotonia do dia a dia. E para tal, se inspirou em um popular fumetti (como eram chamadas as
histórias em quadrinhos italianas) de meados dos anos 80 chamado Dylan Dog, de
Tiziano Sclavi (que depois ganhou também sua versão para os cinemas, que nem
vale a pena se dar ao trabalho de comentar) para ambientar o roteiro de Pelo
Amor e Pela Morte, onde um improvável Rupert Everett (escolhido por sua
semelhança física com o personagem de Sclavi, mesmo sendo um profundo detrator
do cinema de horror) interpreta Francesco Dellamorte, o zelador de um cemitério
localizado numa cidadezinha italiana, onde todos ali enterrados retornam a vida
depois de sete dias. E essa “rotina de trabalho” permeia a vida do coveiro e do
seu assistente, Gnaghi, onde tentando restabelecer a ordem natural das coisas,
se preparam para matar novamente todos “aqueles que retornam”, como ele os apelida,
seja com tiros na cabeça ou golpes certeiros de pás ou picaretas. “Será o
começo de uma invasão? Isso acontece em todo cemitério ou será o meu o único?
Quem sabe? Enfim, quem se importa? Só estou fazendo o meu trabalho.” Essa frase
proferida por Francesco pontua exatamente o tom pessimista e a tal apatia que
Soavi quis expressar no filme. Que se danem os grandes feitos. Dellamorte está
ali, cumprindo seu papel de forma automática, sem que exija muito que se pensar
e pouco se lixando em obter alguma forma de mudar aquilo. Como ele mesmo diz no
filme, ele só tem o segundo grau completo e leu dois livros em toda sua vida,
sendo que um deles ele não terminou, que é a lista telefônica! A única coisa
que traz um pouco de brilho à vida de Dellamorte é quando se vê apaixonado pela
viúva de um velho que havia enterrado, que só é conhecida como “ela”,
interpretada pela belíssima Anna Falchi. Ao se entregar a Francesco, os dois
resolvem fazer sexo em cima do túmulo do marido, que claro, volta à vida e
morde a garota, empatando a f... dos dois. Para impedir que “ela” volte
perambulando no cemitério, Francesco acerta-a com um tiro na cabeça. Mas depois
mesmo assim ela volta, constatando que na verdade ela não havia morrido da
primeira vez. Atormentado de vez por seu fracasso e tentando arrumar algum
pretexto na vida, o coveiro sai por aí querendo antecipar o trabalho da morte e
matando um monte de gente, para evitar a fadiga posterior, sabe? Isso com a
mesma frieza que dá cabo dos zumbis de seu cemitério, e se envolvendo com
mulheres que são cópias idênticas da viúva que conheceu no cemitério, mas sem
conseguir alcançar o final feliz com nenhuma delas e tendo encontros cada vez
mais efêmeros. Uma grande dose de crítica social mordaz se aplica a todos os
habitantes daquela estranha cidade, desde o prefeito, em seu 15º mandato, que
se preocupa apenas em votos e para isso decide explorar sua própria tragédia
pessoal (perdeu sua filha em um bizarro acidente onde uma gangue de motoqueiros
bate contra um ônibus na estrada, matando todo mundo e dando um trabalhão para
Francesco), até seu melhor amigo que rouba a autoria de seus crimes. Apesar do
tom deprimente da aceitação de uma vidinha miserável e a inércia que domina os
personagens, Pelo Amor e Pela Morte tem seus excelentes momentos
cômicos, como a paixão entre Gnaghi e a cabeça da filha morta do prefeito, ou
mesmo o próprio acidente que tirou a vida dela e dos escoteiros que estavam em
excursão no ônibus que se chocou com os motoqueiros. Ou até então a melhor de
todas, quando Francesco encontra uma nova versão de “ela” que tinha uma espécie
de repulsa ao sexo e só conseguiria se envolver com um homem impotente, coisa
que Francesco se habilita a fazer, primeiro tentando ser capado e depois
tomando injeções para perder a virilidade. E a sorte do coveiro é tanta que
logo em seguida “ela” é estuprada pelo novo prefeito (o antigo já havia sido
morto nessa altura do campeonato) e descobre que na verdade ela adora sexo. O
final de Pelo Amor e Pela Morte é extremamente pessimista, e Soavi
nos dá um verdadeiro tapa na cara, jogando os personagens em um espiral de
desesperança, onde estariam obrigados a viver aquela vida banal e automática
para sempre. Mais conformados e menos putos, é verdade. Mas ainda assim presos
em seu pequeno mundinho, que para o espectador vai além da metáfora do
cemitério, podendo ser um emprego medíocre, um casamento, ou qualquer que seja
a sua interpretação.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/05/05/652-pelo-amor-e-pela-morte-1994/
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