terça-feira, 12 de julho de 2016

#652 1994 PELO AMOR E PELA MORTE (Dellamorte Dellamore / Cemetery Man, Itália, França, Alemanha)


Direção: Michele Soavi
Roteiro: Gianni Romoli (Baseado na obra de Tiziano Sclavi)
Produção: Heinz Bibo, Tilde Corsi, Gianni Romoli e Michele Soavi, Conchita Airoldi e Dino Di Dionisio (Co-produtores e Produtores Executivos), Michèle Ray-Gavras (Produtora Executiva)
Elenco: Rupert Everett, François Hadji-Lazaro, Anna Falchi, Mickey Knox

O cinema de terror italiano, depois do ciclo giallo, do ciclo canibal, do ciclo zumbi e do ciclosplatter, havia praticamente desaparecido quando Michele Soavi lança seu clássico tardioPelo Amor e Pela Morte, uma comédia de terror e humor negro de zumbis, que retrata não o medo de morrer, mas sim o medo de viver em um mundo cada vez mais apático, sentimento que dominou os anos 90. E talvez o último grande filme de horror da Itália. Soavi queria fazer uma fábula sobre a geração vazia daqueles tempos, engolida pela rotina e monotonia do dia a dia. E para tal, se inspirou em um popular fumetti (como eram chamadas as histórias em quadrinhos italianas) de meados dos anos 80 chamado Dylan Dog, de Tiziano Sclavi (que depois ganhou também sua versão para os cinemas, que nem vale a pena se dar ao trabalho de comentar) para ambientar o roteiro de Pelo Amor e Pela Morte, onde um improvável Rupert Everett (escolhido por sua semelhança física com o personagem de Sclavi, mesmo sendo um profundo detrator do cinema de horror) interpreta Francesco Dellamorte, o zelador de um cemitério localizado numa cidadezinha italiana, onde todos ali enterrados retornam a vida depois de sete dias. E essa “rotina de trabalho” permeia a vida do coveiro e do seu assistente, Gnaghi, onde tentando restabelecer a ordem natural das coisas, se preparam para matar novamente todos “aqueles que retornam”, como ele os apelida, seja com tiros na cabeça ou golpes certeiros de pás ou picaretas. “Será o começo de uma invasão? Isso acontece em todo cemitério ou será o meu o único? Quem sabe? Enfim, quem se importa? Só estou fazendo o meu trabalho.” Essa frase proferida por Francesco pontua exatamente o tom pessimista e a tal apatia que Soavi quis expressar no filme. Que se danem os grandes feitos. Dellamorte está ali, cumprindo seu papel de forma automática, sem que exija muito que se pensar e pouco se lixando em obter alguma forma de mudar aquilo. Como ele mesmo diz no filme, ele só tem o segundo grau completo e leu dois livros em toda sua vida, sendo que um deles ele não terminou, que é a lista telefônica! A única coisa que traz um pouco de brilho à vida de Dellamorte é quando se vê apaixonado pela viúva de um velho que havia enterrado, que só é conhecida como “ela”, interpretada pela belíssima Anna Falchi. Ao se entregar a Francesco, os dois resolvem fazer sexo em cima do túmulo do marido, que claro, volta à vida e morde a garota, empatando a f... dos dois. Para impedir que “ela” volte perambulando no cemitério, Francesco acerta-a com um tiro na cabeça. Mas depois mesmo assim ela volta, constatando que na verdade ela não havia morrido da primeira vez. Atormentado de vez por seu fracasso e tentando arrumar algum pretexto na vida, o coveiro sai por aí querendo antecipar o trabalho da morte e matando um monte de gente, para evitar a fadiga posterior, sabe? Isso com a mesma frieza que dá cabo dos zumbis de seu cemitério, e se envolvendo com mulheres que são cópias idênticas da viúva que conheceu no cemitério, mas sem conseguir alcançar o final feliz com nenhuma delas e tendo encontros cada vez mais efêmeros. Uma grande dose de crítica social mordaz se aplica a todos os habitantes daquela estranha cidade, desde o prefeito, em seu 15º mandato, que se preocupa apenas em votos e para isso decide explorar sua própria tragédia pessoal (perdeu sua filha em um bizarro acidente onde uma gangue de motoqueiros bate contra um ônibus na estrada, matando todo mundo e dando um trabalhão para Francesco), até seu melhor amigo que rouba a autoria de seus crimes. Apesar do tom deprimente da aceitação de uma vidinha miserável e a inércia que domina os personagens, Pelo Amor e Pela Morte tem seus excelentes momentos cômicos, como a paixão entre Gnaghi e a cabeça da filha morta do prefeito, ou mesmo o próprio acidente que tirou a vida dela e dos escoteiros que estavam em excursão no ônibus que se chocou com os motoqueiros. Ou até então a melhor de todas, quando Francesco encontra uma nova versão de “ela” que tinha uma espécie de repulsa ao sexo e só conseguiria se envolver com um homem impotente, coisa que Francesco se habilita a fazer, primeiro tentando ser capado e depois tomando injeções para perder a virilidade. E a sorte do coveiro é tanta que logo em seguida “ela” é estuprada pelo novo prefeito (o antigo já havia sido morto nessa altura do campeonato) e descobre que na verdade ela adora sexo. O final de Pelo Amor e Pela Morte é extremamente pessimista, e Soavi nos dá um verdadeiro tapa na cara, jogando os personagens em um espiral de desesperança, onde estariam obrigados a viver aquela vida banal e automática para sempre. Mais conformados e menos putos, é verdade. Mas ainda assim presos em seu pequeno mundinho, que para o espectador vai além da metáfora do cemitério, podendo ser um emprego medíocre, um casamento, ou qualquer que seja a sua interpretação.
FONTE: https://101horrormovies.com/2015/05/05/652-pelo-amor-e-pela-morte-1994/

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