Direção: Preston Sturges
Produção: Paul Jones, Buddy G. DeSylva, Preston
Sturges
Roteiro: Preston Sturges
Fotografia: John F. Seitz
Musica: Charles Bradshaw, Leo Shuken
Elenco:
Porter
Hall …………Mr. Hadrian
Joel
McCrea ………John Lloyd Sullivan
Veronica
Lake ……A garota
Robert
Warwick … Mr. LeBrand
William
Demarest ..Mr. Jones
Ainda:
Franklin Pangbom, Byron Foulger, Margaret Hayes, Robert Greig, Eric Blore,
Torben Meyer, Victor
Potel.
Richard Webb, Charles R. Moore, Almira Sessions
Preston
Sturges foi um dos primeiros autores do cinema americano e, com sua personalidade
claramente moderna (a melhor amiga de sua mãe era Isadora Duncan; ele passou a
juventude zlguezagueando pelo Atlântico; um batom "à prova de beijos"
e um teletipo estão entre suas invenções patenteadas), ele foi responsável por
uma enxurrada de filmes na década de 40, hoje considerados clássicos. Esses
filmes são conhecidos por sua sofisticada espirituosidade verbal, comédia
física agitada e pela maneira carinhosa como retratam seus excêntricos
personagens coadjuvantes, que roubam as cenas. Porém a obra de Sturges faz uma
sólida exploração das possibilidades e perspectivas da escalada - e
ocasionalmente da derrocada - social. Neste Contrastes humanos, que talvez seja
seu melhor e mais complexo filme, Sturges mistura de forma brilhante humor com
uma crítica social mordaz, revelando mais uma vez - como em O homem que sevendeu
(1940), Natal em julho (1940) e As três noites de Eva (1941) - que a Identidade
social é um conceito altamente instável, capaz de passar por transformações
hiperbólicas através de métodos prosaicos como disfarces, mal-entendidos e
auto-engano. John L. Sullivan (Joel McCrea) é um diretor hollywoodiano
infalível que se especializa em entretenimento leve, à maneira de comédias
acessíveis como seu filme de 1939 chamado Ants In Your Pants (Formigas nas
calças). Ingênuo e amparado por uma equipe solícita que não está interessada em
ver seu ganha-pão mudar de gênero ou tornar-se multo ambicioso em suas
pretensões cinematográficas, Sully ainda assim pretende dirigir uma crítica
social épica sobre os tempos difíceis da Depressão na América, que se chamaria
O Brother, Where Art Thou? (um título fictício que seria usado pelos Irmãos Coen
em seu filme de 2000 E aí, meu irmão, cadê você?, em uma inteligente homenagem a
Sturges). Para pesquisar seu tema, que envolve coisas desagradáveis, como sofrer
privações e preconceito racial, Sully insiste em se disfarçar de mendigo e
cruzar o país para experimentar "a vida real" na própria pele. Uma
vez na estrada, uma série de aventuras, encontros (aquele com a ingênua azarada
personagem de Verônica Lake sendo o de maior destaque) e percalços – alguns hilários,
outros surpreendentemente pungentes - se dão antes de Sully acabar aceitando
sua verdadeira vocação para cineasta popular com um dom para fazer as pessoas
rirem. A lição aqui é que a seriedade exagerada e a profundidade forçada são
multo menos úteis para as massas do que o bom e velho humor, com seu poder de
ajudar as pessoas a esquecerem seus problemas, ainda que momentaneamente. É
impossível negar que Contrastes humanos possui um aspecto autobiográfico, com
Sturges afirmando o valor daquilo que ele próprio fazia de melhor - comédias
inteligentes com o poder de animar seus espectadores ao mesmo tempo que arrasa
a pretensão dos cineastas mais sisudos e "socialmente comprometidos"
de Hollywood. Comentários pessoais à parte, no entanto, o tour de force em
forma de roteiro reúne um fabuloso leque de gêneros, incluindo comédia
pastelão, ação, melodrama, documentário social, romance, musical e filme de
prisão. Embora não tenha conquistado uma só indicação ao Oscar, Contrastes
humanos é o mais extraordinário filme da carreira de um dos maiores cineastas
americanos. SJS
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