sábado, 29 de novembro de 2014

148 1941 CONTRASTES HUMANOS (SULLIVAN'S TRAVELS, EUA)


Direção: Preston Sturges
Produção: Paul Jones, Buddy G. DeSylva, Preston Sturges
Roteiro: Preston Sturges
Fotografia: John F. Seitz
Musica: Charles Bradshaw, Leo Shuken
Elenco:
Porter Hall …………Mr. Hadrian
Joel McCrea ………John Lloyd Sullivan
Veronica Lake ……A garota
Robert Warwick … Mr. LeBrand
William Demarest ..Mr. Jones
Ainda: Franklin Pangbom, Byron Foulger, Margaret Hayes, Robert Greig, Eric Blore, Torben Meyer, Victor
Potel. Richard Webb, Charles R. Moore, Almira Sessions

Preston Sturges foi um dos primeiros autores do cinema americano e, com sua personalidade claramente moderna (a melhor amiga de sua mãe era Isadora Duncan; ele passou a juventude zlguezagueando pelo Atlântico; um batom "à prova de beijos" e um teletipo estão entre suas invenções patenteadas), ele foi responsável por uma enxurrada de filmes na década de 40, hoje considerados clássicos. Esses filmes são conhecidos por sua sofisticada espirituosidade verbal, comédia física agitada e pela maneira carinhosa como retratam seus excêntricos personagens coadjuvantes, que roubam as cenas. Porém a obra de Sturges faz uma sólida exploração das possibilidades e perspectivas da escalada - e ocasionalmente da derrocada - social. Neste Contrastes humanos, que talvez seja seu melhor e mais complexo filme, Sturges mistura de forma brilhante humor com uma crítica social mordaz, revelando mais uma vez - como em O homem que sevendeu (1940), Natal em julho (1940) e As três noites de Eva (1941) - que a Identidade social é um conceito altamente instável, capaz de passar por transformações hiperbólicas através de métodos prosaicos como disfarces, mal-entendidos e auto-engano. John L. Sullivan (Joel McCrea) é um diretor hollywoodiano infalível que se especializa em entretenimento leve, à maneira de comédias acessíveis como seu filme de 1939 chamado Ants In Your Pants (Formigas nas calças). Ingênuo e amparado por uma equipe solícita que não está interessada em ver seu ganha-pão mudar de gênero ou tornar-se multo ambicioso em suas pretensões cinematográficas, Sully ainda assim pretende dirigir uma crítica social épica sobre os tempos difíceis da Depressão na América, que se chamaria O Brother, Where Art Thou? (um título fictício que seria usado pelos Irmãos Coen em seu filme de 2000 E aí, meu irmão, cadê você?, em uma inteligente homenagem a Sturges). Para pesquisar seu tema, que envolve coisas desagradáveis, como sofrer privações e preconceito racial, Sully insiste em se disfarçar de mendigo e cruzar o país para experimentar "a vida real" na própria pele. Uma vez na estrada, uma série de aventuras, encontros (aquele com a ingênua azarada personagem de Verônica Lake sendo o de maior destaque) e percalços – alguns hilários, outros surpreendentemente pungentes - se dão antes de Sully acabar aceitando sua verdadeira vocação para cineasta popular com um dom para fazer as pessoas rirem. A lição aqui é que a seriedade exagerada e a profundidade forçada são multo menos úteis para as massas do que o bom e velho humor, com seu poder de ajudar as pessoas a esquecerem seus problemas, ainda que momentaneamente. É impossível negar que Contrastes humanos possui um aspecto autobiográfico, com Sturges afirmando o valor daquilo que ele próprio fazia de melhor - comédias inteligentes com o poder de animar seus espectadores ao mesmo tempo que arrasa a pretensão dos cineastas mais sisudos e "socialmente comprometidos" de Hollywood. Comentários pessoais à parte, no entanto, o tour de force em forma de roteiro reúne um fabuloso leque de gêneros, incluindo comédia pastelão, ação, melodrama, documentário social, romance, musical e filme de prisão. Embora não tenha conquistado uma só indicação ao Oscar, Contrastes humanos é o mais extraordinário filme da carreira de um dos maiores cineastas americanos. SJS

(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 148)

147 1941 O ÚLTIMO REFUGIO (HIGH SIERRA, EUA)


Direção: Raoul Walsh
Produção: Mark Hellinger, Hal B. Wallis
Roteiro: John Huston, baseado no livro de W. R. Burnett
Fotografia: Tony Gáudio
Música: Adolph Deutsch
Elenco:
Humphrey Bogart ….Roy Earle
Ida Lupino …………. Marie
Alan Curtis ………… Babe
Arthur Kennedy …… Red
Joan Leslie ………… Velma
Henry Hull …………. .Banton
Henry Traves, Jerome Cowan, Minna Gombell, Barton MacLane, Elisabeth Risdonn, Cornel Wilde, Donald MacBride, Paul Harvey, Isabel Jewell

O último refúgio, de Raoul Walsh, é um marco do gênero gângster, uma virada na carreira de Humphrey Bogart e um exemplo de filme de ação existencialista. Como Herois esquecidos (1939), a obra anterior de Walsh, O último refúgio é um filme de gangster em forma de elegia, atípico dentro desse período dominado pelo Código de Produção por conta do seu retrato compassivo do gângster como um proscrito fora de época. O veterano Roy Earle (Bogart) mostra estar acima dos marginais e hipócritas que encontra  em ambos os lados da lei ao liderar um roubo malfadado a um hotel, cometer a tolice de perseguir uma garota respeitável (Joan Leslie) e encontrar brevemente na personagem também proscrita de Ida Lupino uma melhor companheira. Em contraste com seus contemporâneos John Ford, Howard Hawks, Frank Capra e Michael Curtiz, que frisavam o valor de uma comunidade ou grupo, Walsh deu mais peso ao egoísmo , inconformismo e qualidades anti-sociais dos seus heróis. A visão de O último refúgio de uma sociedade moralmente rígida é de uma mordacidade extraordinária, alcançando seu auge na sequência em que Roy é rejeitado de forma humilhante por sua princesinha insossa de classe média em favor de seu namorado arrogante e conformista. Depois de uma década interpretando quadrados e marginais, Bogart conseguiu seu papel mais substancioso até então em O último refúgio. Em O falcão maltês, seu outro filme importante de 1941, Bogart é expansivo, presunçoso, dominador. Aqui, no universo de Walsh, sua atuação mais sutil cria uma persona claramente diferente: soturno, reservado e tenso, com os ombros encurvados e gestos econômicos, enfatizando a natureza retraída do personagem. Mesmo nas cenas mais íntimas com sua alma-gêmea Marie (Lupino), Walsh coloca objetos e barreiras entre os amantes para frisar seu isolamento fundamental. O último refúgio começa e termina no elevado pico do monte Whitney, que surge em todo o filme, sua presença hipnotizadora conduzindo o herói a o seu destino solitário. Um outro personagem do submundo diz a Roy: "Você se lembra do que Johnny Dillinger falou sobre sujeitos como você e ele? Ele disse que vocês estavam apenas correndo em direção à morte. É, isso mesmo: apenas correndo em direção à morte!" A ótima cena de perseguição de carros na qual os policiais seguem Roy pela montanha fatal acima – um espetacular desfecho para o estilo tenso e movimentado do filme - traduz essas palavras para a linguagem visual dinâmica do cinema de ação em seu auge. MR
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 147)

145 1941 SARGENTO YORK (SERGEANT YORK, EUA)


Direção: Howard Hawks
ProduçSo: Howard Hawks, Jesse L Lasky, Hal B. Wallis
Roteiro: Harry Chandlee, Abem Finkel, John Huston, Howard Koch
Fotografia: Sol Polito
Música: Max Steiner
Elenco:
Gary Cooper, Walter Brennan, Joan Leslie, George Tobias, Stanley Kidges, Margaret Wycherly, Ward Bond, Noah Beery Jr., June Lockhart

Oscar: Gary Cooper (ator), William Holmes (edição)

Indicação ao Oscar: Jesse L Lasky, Hal B. Willis (melhor filme), Howard Hawks (diretor), Harry Chandlee, Abem Finkel, John Huston, Howard Koch (roteiro), Walter Brennan (ator coadjuvante), Margaret Wycherly (atriz coadjuvante), Sol Polito (fotografia), John Hughes, Fred M. MacLean (direção de arte), Max Steiner (música), Nathan Levinson (som)

Sargento York exalta o bom combate da Primeira Guerra Mundial no momento em que os Estados Unidos se preparavam para entrar na Segunda. Um subtexto beligerante fica claro em todo o filme, porém ele é facilmente assimilado pelo conjunto de valores morais do protagonista do título.Alvin York, conforme caracterizado por Gary Cooper, usa gírias caipiras e fala com sotaque do interior. Sua transformação de um fazendeiro cheio de energia do Tennessee em um pacifista cristão e, por fim, em herói de guerra exalta uma série de convenções hollywoodianas, como mães santificadas e líderes bondosos. Clichê? Sem dúvida. Porém a importância desta pérola do cinema está em ter tornado Gary Cooper um astro, se não em rertatar de forma honesta a guerra de trincheiras meses antes de Pearl Harbor. O fato de não haver uma melhor contextualização da Primeira Guerra Mundial faz todo o sentido aqui. Sargento York está interessado apenas na coragem e no sacrifício. Qualquer outra coisa sabotaria sua postulação da defesa da liberdade como o mais nobre dos objetivos. Enaltecendo as virtudes bíblicas ao mesmo tempo que mostra tiroteios extraordinários, o filme mistura, sem cerimônia, camaradagem, romances castos e trocas de socos. Resumindo, temos o mundo de Hawks perfeitamente transposto para uma cinebiografia que capricha nos valores interioranos e economiza no conflito violento que tornou o Alvin York da vida real famoso. GC-Q
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 145)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

144 1941 O FALCÃO MALTÊS (THE MALTESE FALCON, EUA)


Direção: John Huston
Produção: Henry Blanke, Hal B. Wallis
Roteiro: John Huston, baseado no livro de Dashlell Hammett
Fotografia: Arthur Edeson
Música: Adolph Deutsch
Elenco:
Peter Lorre ………… Joel Cairo
Humphrey Bogart …. Sam Spade
Sydney Greenstreet . Kasper Gutman
Mary Astor …………. Brigid O’Shaughnessy
Gladys George ……. Iva Archer
Ward Bond ………… Tom Polhaus
Ainda:, Bllton MacLane, Lee Patrick, Jerome Cowan, Elisha Cook jr., James Burke, Murray Alper, John Hamilton

Indicação ao Oscar: Hal B. Wallis (melhor filme), John Huston (roteiro), Sydney Greenstreet (ator  coadjuvante)

Em 1941, o grande romance de detetive de Dashiell Hammett já havia rendido duas adaptações passáveis para o cinema. Primeiro com o filme homônimo de 1931, com Ricardo Cortez como Sam Spade, e depois com Satan Met a Lady, de 1935, com Warren William no papel. John Huston, tendo experiência de escritor, escolheu o livro do catálogo de obras compradas pela Warner Brothers e confiava de tal forma na força do material que seu roteiro consiste essencialmente em uma transcrição dos diálogos de Hammett. Ele teve a sorte de ter nas mãos um elenco simplesmente impecável e comedimento suficiente para não cair no exagero. Muitas vezes considerado o fundador do gênero noir, O falcão maltês é contido no uso de sombras simbólicas - que são guardadas para o final, quando a porta do elevador as lança na forma de barras de cela de prisão no rosto da dissimulada heroína – e se passa quase por inteiro em quartos de hotel impessoalmente bem arrumados e escritórios a quilômetros de distância do glamour maltrapilho de À beira do abismo (1946) ou Até a vista, querida (1944). Humphrey Bogart, evoluindo de papéis de vilão para heróis românticos durões, é Sam Spade, um detetive particular de São Francisco. Ele é um homem de negócios bem alinhado que está disposto a encontrar o assassino do seu parceiro e frustrar os planos de um grupo de aventureiros traiçoeiros. Estes se tornaram tão obcecados em sua procura pelo fabuloso pássaro Incrustado de joias do título que cometem o erro fatal de supor que todos são tão corruptos e gananciosos quanto eles. A princípio, Mary Astor pode parecer um pouco matrona demais para uma femme fatale mas, curiosamente, sua estranha elegância de terninhos bem-comportados e penteados mais bem-comportados ainda combina com uma mulher que tem sempre um álibi na manga. O Kaspar Gutman tagarela, obeso e narcisista de Sydney Greenstreet e o Joel Cairo educado, triste, perfumado e resmungão de Peter Lorre – uma espécie de o Gordo e o Magro do crime - são um clássico imortal do cinema, juntamente com o eterno fracassado / bode expiatório Elisha Cook Jr. como Wilmer, o capanga irritadinho que está fadado a sempre ficar fora da jogada. A reputação de Hammett é sustentada pelo fato de ele ter acrescentado um certo realismo social às histórias de mistério americanas, com detetives particulares que são profissionais de verdade em vez de superinvestigadores. Ele também era viciado em tramas tão doentias e bizarras quanto as do teatro jacobiano: o clímax de O falcão maltês possui não só a hilária surpresa de que o pássaro negro - pelo qual todos se dispuseram a matar e conspirar - é, na verdade, uma farsa como também o momento clássico em que o detetive admite amar a assassina, mas ainda assim a deixará ser arrastada para a cadeia. Enquanto outros grandes diretores de Hollywood seguiam suas próprias visões, o melhor de Huston - desde O tesouro de Sierra Madre (1948), passando por O segredo das joias (1950), Cidade das ilusões (1972) e Wise Blood (1979), até Os vivos e os mortos (1987) - está em suas adaptações fiéis de romances clássicos menores. KN
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 144)

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

143 1941 O LOBISOMEM (THE WOLF MAN, EUA)


Direção: George Waggner
Produção: Jack J. Cross, George Waggner
Roteiro: Curt Siodmak
Fotografia: Joseph A. Valentine
Música: Charles Prevln, Hans J. Salt, Frank Skinner
Elenco:
Claude Rains ……Sir John Talbot
Warren William ….Dr. Lloyd
Ralph Bellamy …..Colonel Montford
Patric Knowles …..Frank Andrews
Bela Lugosi ………Bela
Lon Chaney Jr. …..The Wolf Man (as Lon Chaney)
Ainda: Maria Ouspenskaya, Evelyn Ankers, J. M. Kerrigan, Fay Helm, Forrester Harvey

A figura do homem-lobo - a versão cinematográfica bípede do arquétipo do lobisomem, que personifica de forma dramática a dicotomia Jekyll/Hyde (superego/id) que existe em todos nós - assumiu o status de protagonista pela primeira vez em O Lobisomem de Londres (1935), com Henry Hull no papel reprisado décadas depois por Jack Nicholson em Lobo (1994). Logo cm seguida, Curt Siodmak concluiu o roteiro para o que seria o último clássico de terror da Universal Pictures - depois de Drácula (1931), Frankenstein (1931) e A múmia (1932) - O lobisomem, dirigido por George Waggner. Nesta que ainda é a mais reconhecida e estimada versão do mito, Lon Chaney Jr. Interpreta Lowrence Talbot, um galês educado nos Estados Unidos que deseja apenas se curar da sua irreprimível (quando a lua está cheia) licantropia. O rei da maquiagem Jack Pierce desenvolveu para Chaney uma complexa fantasia de pelo de iaque que se tornaria modelo de incontáveis máscaras de Halloween. O que distingue a trama de Siodmak de outras histórias de lobisomem é a ênfase velada na energia sexual reprimida como mola propulsora das transformações de Talbot em noites de lua cheia. Conforme explica a cigana Maleva (Maria Ouspenskaya): "Mesmo um homem puro de coração e que faz suas orações toda noite pode se tornar um lobo quando a mata-lobos desabrocha e a luz de outono brilha no céu." Somente na década de 40, o sucesso do filme de Waggner gerou outros quatro filmes de lobisomem lendo à frente Chaney. Desde então, dezenas de imitações, releituras e paródias se seguiram a ele. SJS
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 143)



#046 1941 O LOBISOMEM (The Wolf Man, EUA)
Direção: Geroge Waggner
Roteiro: Curt Siodmak
Produção: George Waggner, Jack. J. Gross (Produtor Executivo–não creditado)
Elenco: Lon Chaney Jr., Claude Rains, Warren William, Evelyn Ankers

Em 1935, O Homem Lobo (aka O Lobisomem de Londres) foi a primeira incursão do licantropo no cinema. Sem perder muito tempo, Curt Siodmak preparou sua versão da história de O Lobisomem, criatura bípede, metade homem e metade lobo que se transforma nas noites luas cheia. Depois deDráculaFrankenstein e a A Múmia, a Universal apostou no peludo para despontar como o novo ícone do horror, interpretado por Lon Chaney Jr., que resolveu seguir o legado deixado por seu pai, O Homem das Mil Faces. Larry Talbot (Chaney), um sujeito meio loser, retorna para sua terra natal no interior da Inglaterra, logo após a trágica morte do irmão, e resolve junto com seu pai, Sir John Talbot, tocar os negócios da família por lá. Logo Larry se engraça com Gwen Conliffe, que trabalha na loja de antiguidades do pai, e resolve chamá-la para visitar a feira cigana que acabara de se instalar na cidade. Mas não antes de comprar uma bengala com um lobo na ponta feito de prata e ouvir um famoso ditado popular: “Mesmo um homem puro de coração e que faz suas orações toda noite, pode-se tornar um lobo quando a mata-lobos desabrocha e a lua cheia brilha no céu”. Durante a feira, Larry é atacado por um lobisomem (que na verdade é Bela Lugosi fazendo a ponta como um cigano criativamente chamado de… Bela) e pronto, a maldição passa para Larry, que está fadado a se transformar na peluda criatura uivante. Um dos pontos mais interessantes de O Lobisomem é que foi o responsável por criar algumas das regras básicas da licantropia no cinema, como: prata sendo seu ponto fraco; a transformação em noites de lua cheia; a maldição transmitida através da mordida de um lobisomem e o pentagrama como o símbolo do lobo (como discutido anos depois pela dupla de viajantes na taverna O Cordeiro Ensanguentado em uma das clássicas cenas de Um Lobisomem Americano em Londres, de John Landis). E todos esses elementos subentendidos na eterna batalha interna entre o superego e id, sobre o monstro que vive em nossa psique e lutamos para controlar, como explica Sir John Talbot para o filho em determinado momento do filme, dizendo que todo mundo tem um lado bom e ruim dentro de si, e o lado ruim pode assumir a forma de um animal. A maquiagem é uma espetáculo a parte, mais uma vez obra de Jack Pierce, e para a época, o efeito de trucagem de câmera da transformação de homem para lobo, deve ter causado frisson. Prova disso é que a imagem desse lobisomem ficou para sempre no imaginário das pessoas, popularizou mais um monstro da Universal e é uma das fantasias de Halloween mais utilizadas nos EUA desde então. Em 2010, O Lobisomem ganhou um subestimado remake dirigido por Joe Johnston, com Benício Del Toro herdando o papel de Larry Talbot e Anthony Hopkins como Sir John. Versão bastante sangrenta com uma excelente fotografia, ambientação de época e efeitos especiais.
FONTE: http://101horrormovies.com

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

142 1941 AS TRÊS NOITES DE EVA (THE LADY EVE, EUA)


Direção: Preston Sturges
Produção: Paul Jones
Roteiro: Monckton Hoffe, Preston Slurgcs
Fotografla: Victor. Milner
Música: Clara Edwards, Sigmund Krumgold
Elenco:
Barbara Stanwyck …..Jean Harrington
Henry Fonda …………Charles Pike
Charles Coburn …… ‘Coronel’ Harrington
Eugene Pallette ……..Horace Pike
William Demarest ……Muggsy
Melville Cooper ………Gerald

Ainda: Eric Blore, Martha O'Driscoll, Janet Beecher, Robert Greig, Dora Clement, Luis Alberni.

Indicação ao Oscar: Monckton Hoffe (Roteiro)

As três noites de Eva é uma comédia escrachada clássica e um perfeito exemplo do cinema de Preston Sturges, refletindo a visão que o roteirista e diretor tem do romance como a maior de todas as trapaças. O roteiro é repleto de falas extraordinárias, os diálogos são rápidos e espirituosos e a trama oferece uma inteligente variação da velha e conhecida guerra dos sexos. O filme começa em um cruzeiro marítimo onde a rica, sofisticada e sedutora Jean Harrington (Barbara Stanwyck) tenta seduzir o Ingênuo especialista em cobras Charles "Hopsie" Pike (Henry Fonda) para lhe roubar a fortuna conquistada com sua cervejaria, a Pike's Ale. Em uma virada na trama altamente Inverossímil mas ao mesmo tempo deliciosa, a ação passa para a mansão de Hopsie em Connecticut, onde Jean reaparece como uma herdeira inglesa, Lady Eve Sidwich. Ela seduz novamente Hopsie e o faz se casar com ela, com a intenção de largá-lo logo em seguida como vingança por ele tê-la abandonado antes. Porém, no fim das contas, o tiro sai pela culatra quando ela se apaixona de fato por ele. Em As três noites de Eva, Sturges consegue driblar boa parte das restrições impostas pela censura. Tecendo inúmeras referências à história bíblica da Queda do Paraíso, ele enfatiza a sexualidade de uma maneira que poucos cineastas da época teriam ousado. As três noites de Eva foi refilmado em 1956 como (o consideravelmente inferior) O otário e a vigarista, com Mitzi Gaynor e David Niven. Rde
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 142)
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domingo, 23 de novembro de 2014

141 1941 CIDADÃO KANE (CITIZEN KANE, EUA)


Direção: Orson Welles
Produção: Orson Welles, Richard Baer, George Schaefer
Roteiro: Herman J. Mankiewicz, Orson Welles
Fotografia: GreggToland
Música: Bernard Herrmann, Charlie Barnet, Pepe Gufzar
Elenco:
Orson Welles …………………Charles Foster Kane
George Coulouris ……………Walter Parks Thatcher
William Alland ……………….Jerry Thompson
Everett Sloane ……………… Sr. Bernstein
Ray Collins …………………..James W. Gettys
Ruth Warrick …………………Emily Monroe Norton Kane
Ainda: Dorothy Comingore, Agnes Moorehead, Ersklne Sanford, Everett Sloane, William Alland, Paul Stewart, George Coulouris, Fortunio Romanova, Gus Schilling, Philip Van Zandt, Georgia Backus, Harry
Shannon

Oscar: Herman J. Mankiewicz, Orson Welles (roteiro)
Indicação ao Oscar: Orson Welles (melhor filme), Orson Welles (diretor), Orson Welles (ator), Perry Ferguson, Van Nest Polglase, A. Roland Fields, Darrell Silvera (direção e arte), Gregg Toland (fotografia) Robert Wise (montagem), John Aalberg (som)

Desde 1962, a frequentemente citada lista dos melhores filmes de todos os tempos feita pelos críticos da revista Sight and Sound coloca Cidadão Kane, a extraordinária estreia no cinema de Orson Welles, em primeiro lugar. Em 1998, o American Film Institute o considerou o melhor filme já produzido. Ele também ganhou prêmios de Melhor Filme do New York Fllm Critics Circle e do National Board of Review, além de ter conquistado o Oscar de Melhor Roteiro. A lenda de Cidadão Kane foi em parte alimentada pelo fato de que Welles tinha apenas 24 anos de idade quando o realizou, mas também pelas óbvias comparações entre o personagem-título e o magnata da imprensa William Randolph Hearst, que moveu mundos e fundos para impedir a produção do filme e, quando não conseguiu evitar que fosse distribuído, tentou difamá-lo. No entanto, desconsiderando a ridícula pretensão de se eleger qualquer filme que seja como "o melhor de todos os tempos", Cidadão Kane uma obra de tremendo interesse e importância por vários motivos. O filme conta uma grande história: Charles Foster Kane (interpretado de forma brilhante pelo próprio Welles) nasce pobre, mas enriquece por conta de uma mina de ouro herdada pela mãe. Na juventude, começa a erguer um império populista jornalístico e radiofônico, casando nesse ínterim com a sobrinha de um presidente americano e concorrendo a governador. No entanto, todas as suas ambições de poder são frustradas e, à medida que este lhe escapa, Kane se torna cada vez mais violento com as mulheres da sua vida; primeiro com sua esposa, depois com sua amante. Ele morre praticamente sozinho em seu castelo reconstruído, porém inacabado, ansiando pela simplicidade da sua infância. Fiel às tradições do populismo do New Deal, Cidadão Kane exalta o ideal americano de que o dinheiro não pode comprar felicidade, mas de uma maneira extremamente prosaica, quase ao estilo de Dlckens. Mais Importante do que o enredo é o fato de o filme começar com a morte de Kane e com sua enigmática última palavra: "Rosebud". Um grupo de intrépidos repórteres tenta descobrir seu significado e entrevista uma série de conhecidos do magnata. O filme não só é contado em flashback, como cada personagem só conhece o homem através de uma determinada perspectiva, que é apresentada consecutivamente. A complexidade narrativa do filme - embora nunca viole a continuidade e a causalidade clássicas de Hollywood - é um extraordinário tour de force, responsável em grande parte pela afirmação de Paulino Kael de que a verdadeira genialidade do filme não está nas mãos do garoto-prodígio Welles, mas nas do roteirista Herman J. Mankiewicz. O verdadeiro poder do filme, no entanto, está na fotografia: Gregg Toland desenvolveu uma técnica de profundidade de campo em que o primeira plano, o central e o último ficam todos em foco ao mesmo tempo, permitindo que o olho do espectador se fixe em qualquer parte da imagem. Essa técnica foi criticada à época por violar as regras da fotografia hollywoodiana clássica, pelas quais a boa fotografia deveria ser invisível. Contudo, a fotografia de Cidadão Kane é impactante e inesquecível. MK
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 141)

ASSIM NA TERRA COMO NO INFERNO (2014)


sábado, 22 de novembro de 2014

140 1940 O GUARDA (THE BANK DICK, EUA)


Direção: Edward F. Cline
Produção: Jack J. Cross
Roteiro: W. C. Fields
Fotografia: Milton R. Krasner
Música: Charles Previn
Elenco:
W.C. Fields ………….. Egbert Sousè
Cora Witherspoon ……Agatha Sousè
Una Merkel ……………Myrtle Sousè
Evelyn Del Rio ………..Elsie Mae Adele Brunch Sousè
Jessie Ralph …………. Sra. Hermisillo Brunch
Franklin Pangborn ……J. Pinkerton Snoopington
Ainda: Shemp Howard, Dick PurcelI, Grady Sutton, Russell Hicks, Pierre Watkin. Al Hill, George Moran, Bill Wolfe, Jack Norton

Escrito por W. C. Fields sob o pseudônimo de "Mahatma Kane Jeeves", o que dá a medida das suas ambições, e dirigido pelo amigável guarda de trânsito Eddie Cllne – cujo trabalho era abrir caminho para Fields ficar à vontade para pôr em prática todas as suas idiossincrasias -, O guarda mostra o astro no habitual papel de um resmungão inofensivo, porém melindrado, que só quer ser deixado em paz, mas que é forçado por um mundo enlouquecido a reagir a vários chatos que acabam com o seu sossego. Egbert Sousè, um rabugento de quem todos tiram vantagem e que só quer passar a vida nos bares enchendo a cara em paz, é importunado por sua pavorosa mulher (Cora Whiterspoon), sua medonha sogra (Jessie Ralph), sua filha adolescente irritante (Una erkel), seu noivo idiota (Grady Sutton) e pelo próprio capeta do seu filho mais novo, que insistem em que ele faça algo de útil. Quando frustra acidentalmente um assalto a banco ao trombar com o ladrão, ele ganha o emprego de segurança uniformizado e o direito de causar problemas em uma sucessão de esquetes absolutamente perfeitos que o levam de encontro a policiais arrogantes (Franklin Pangborn como um inspetor de bancos distraído), bandidos barra-pesada (um suposto ladrão é afugentado em uma sequência de perseguição de carros hilária que rivaliza com qualquer pastelão mudo) e clientes abusados. Como em todos os melhores filmes de Fields It’s a gift (1934) e Never givve a Sucker an Even Rreak (1941), a premissa aqui é apenas uma desculpa para uma sucessão de esquetes em estilo vaudeville nos quais ele é confrontado com parceiros que são excêntricos demais para serem chamados de escadas, mas, ao mesmo tempo cruéis demais para serem vítimas. Algumas das sequências cômicas de O guarda (como, por exemplo, um trecho no qual Sousè de alguma forma se vê sentado na cadeira do diretor enquanto o filme está sendo rodado) se passam muito longe do banco, porém os suntuosos saguões de mármore, com seus ricaços interesseiros que levam o troco quando Sousè fica rico e "se regenera". são o cenário ideal para suas travessuras e anarquia. Fields era um raro comediante que conseguia ser engraçado estrangulando uma criança pequena, e esta pérola de 74 minutos está entre suas obras primas. KN
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 140)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

NECROFOBIA (Argentina, 2014)


BIG DRIVES S King (EUA, 2014)



139 1940 TEMPESTADES D'ALMA (THE MORTAL STORM, EUA)


Direção: Frank Borzage
Produção: Frank Borzage
Roteiro: George Froeschel, Hans Rameau, Claudine West, baseado no livro de Phyllis Bottome
Fotografia: William H. Daniels
Musica: Branislau Kaper, Eugene Zador
Elenco:
Margaret Sullavan ………. Freya Roth
James Stewart ………….. Martin Breitner
Robert Young …………… Fritz Marberg
Frank Morgan …………… Prof. Viktor Roth
Robert Stack …………… Otto von Rohn
Ward Bond ……………… Franz
Ainda: Bonita Granvinvllle, Irene Rieh, William T. Orr, Maria Ouspenskaya, Gene Reynolds, Russell Micks, William Edmunds, Esther Dale, Dan Dailey, Granville Bales

Um dos poucos filmes antinazistas produzidos por Hollywood antes de Pearl Harbor. Tempestades d'alma, de Frank Borzage - uma obra detalhista e apaixonada na sua condenação do regime -, começa no dia em que Adolf Hitler se torna chanceler da Alemanha. O dia também calha de ser o sexagésimo aniversário do professor Viktor Roth (Frank Morgan), um admirado professor de ciências de uma universidade no Sul do país. O filme mostra a consolidação da Alemanha nazista através da destruição do "não ariano" Roth e sua família: sua esposa, seus enteados arianos, que se tornam nazistas fanáticos, e sua filha, Freya (Margaret Sullavan). Borzage retrata o nazismo como uma forma de loucura à qual muitos homens – e apenas uma mulher, pelo que vemos - sucumbem, como se por contágio ou predisposição natural (o filme não analisa as raízes socioeconômicas do regime fascista), mas com o qual, através de alguns indivíduos, a humanidade remanescente entra em conflito. A magnífica cena final situa o conflito dentro do personagem interpretado por Robert Stack. Sozinho na casa do padrasto, ele caminha por seus cômodos vazios. A câmera o ultrapassa, explorando o espaço Imerso em sombras, com uma trilha sonora feita de diálogos de cenas anteriores; ouvimos os passos do jovem à medida que ele sai da casa. Tempestades d'alma é uma das maiores histórias de amor do cinema americano. A abordagem pungente e sutil de Borzage da relação entre Freya e Martin (James Stewart) está de acordo com o compromisso do diretor, que o acompanhou por toda a carreira, com o poder transcendente do amor - um idealismo ao qual as atuações admiráveis de Sullavan e Stewart mantêm-se fiéis. Pouco antes de os amantes seguirem para o desfiladeiro que cruza a fronteira austríaca, a mãe de Martin (Maria Ouspenskaya) os faz celebrar sua união bebendo de uma taça cerimonial de vinho. Essa cena é uma das mais brilhantes de toda a carreira de Borzage. O produtor não creditado Victor Saville afirmou ter dirigido boa parte do filme, uma declaração que foi multo repetida, porém refutada por vários dos principais membros do elenco e da equipe. Sem dúvida alguma. Tempestades d'alma representa plenamente o estilo, a filosofia e as preocupações de Frank Borzage. C f u
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 139)

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

137 1940 A VIDA E UMA DANÇA (DANCE, GIRL, DANCE, EUA)


Direção: Dorothy Arzner
Produção: Harry E. Edlngton, Erich Pommer
Roteiro: Tess Slesinger, Frank Davis, baseado no argumento de Vlcki Baum
Fotografia: Russell Metty, Joseph II. August
Música: Chet Forrest, Edward Waid, Bob Wright
Elenco:
Maureen O’Hara ……Judy O’Brien
Louis Hayward ………James ‘Jimmy’ Harris Jr.
Lucille Ball …………. Bubbles aka Tiger Lily White
Virginia Field ……….. Elinor Harris
Ralph Bellamy ……… Steve Adams
Maria Ouspenskaya …Madame Lydia Basilova
Mary Carlisle, Katharine Alexander, Edward Brophy, Walter Abel, Harold Huber, Ernest Truex, Chester Clute, Lorraine Ktueger, Lola Jensen

Os que conhecem Lucille Ball apenas por conta de sua popular série de tevê da década de 50, deveriam conferir seu trabalho neste A vida é uma dança, o clássico camp de Dorothy Arzner. No papel de "Bubbles" "Tlger" Lily White, Ball praticamente rouba o filme da dedicada bailarina de Maureen O'Hara, que é forçada a trabalhar como dançarina de boate para não passar fome. A vida é uma dança traz a batida história da vida no mundo sórdido das dançarinas através dos olhos de Judy O'Brian (O'Hara), uma aspirante a bailarina incentivada por sua mentora, Madame Basilova (a sempre camp Maria Ouspenskaya), que infelizmente atropelada por um caminhão antes de sua protegida poder revelar seu talento, Bubbles oferece a Judy uma vaga de escada no seu número de dança. Pouco depois, Judy não suporta mais e grita furiosamente para uma plateia só de homens: "Podem olhar, façam valer seus cinquenta centavos!" Muitos consideraram isto uma postura feminista por parte de Arzner, anos-luz antes de esse tipo de atitude virar moda. Não obstante, é de Ball que Arzner retira mais graça e é impossível esquecer Lucy dançando hula hula ou cantando a plenos pulmões "Jitterbug Bite". Se você acha brigas de camarim e uma pitada de mulheres um espetáculo divertido, então não deixe de ver A vida é uma dança. Como diria Bubbles: "Olha só, garota, eu não caio na sarjeta; sempre escolho bem onde cair." Ironicamente, Ball ainda viria a ser a dona do estúdio que produziu este filme: a RKO!
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 137)

ACROSS THE RIVER (Itália, 2014)


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

136 1940 AS VINHAS DA IRA (THE GRAPES OF WRATH, EUA)


Direção: John Ford
Produção: Nunnally Johnson, Darryl F. Zanuck
Roteiro: Nunnally Johnson, baseado no livro de John Steinbeck
Fotografia: Gregg Toland
Elenco:
Henry Fonda ……………………… Tom Joad
O.Z. Whitehead …………………… Al Joad
Russell Simpson …………………. Pa Joad
John Carradine …………………… Casy
Jane Darwell ………………………. Ma Joad
Frank Sully …………………………Noah Joad
Ward Bond ………………………… Policial
Ainda: Charley Grapewin, John Qualen, Eddie Quilan, Zeffie Tilbury, Darryl Hickman, Shirley Mills, Roger Imhof

Oscar: John Ford (diretor), Jane Darwell (atriz coadjuvante)
indicação ao Oscar: Darryl F. Zanuck, Nunnally Johnson (melhor filme), Nunnally Johnson (roteiro), Henry
Fonda (ator), Robert L. Simpson (edição), Edmund H. Hansen (som)

Poucos filmes americanos da década de 30 lidaram com o sofrimento e os transtornos da Depressão. Hollywood, em sua grande maioria, deixou que outras mídias, como o teatro, a literatura e a fotografia, documentassem o desastre nacional. O romance de John Steinbeck As vinhas da ira, publicado em 1939, foi baseado em uma pesquisa rigorosa, em que o autor seguiu famílias agricultoras desalojadas de Oklahoma na sua jornada até as lavouras da Califórnia em busca de trabalho. Apesar das objeções dos conservadores que controlavam o estúdio, Darryl Zanuck comprou os direitos do livro para a 20th Century Fox. Ele sabia que John Ford era o homem certo para dirigir o filme, com sua sensibilidade para com o povo americano e sua história. Ford também se identificava com o que há de mais doloroso no suplício da família Joad - não a pobreza aguda, mas o trauma psicológico de quem é arrancado do seu lar, jogado na estrada, desenraizado. Em uma cena memorável, a Mãe (Jane Darwell) queima os pertences que não pode levar consigo na noite anterior ao dia em que precisam abandonar a fazenda. Para o papel do protagonista Tom Joad, Ford escalou Henry Fonda, que pouco tempo atrás havia estrelado A mocidade de Lincoln (1939) e Ao rufar dos tambores (1939), dois outros filmes sobre a história da América, também dirigidos por Ford. Dentre os outros membros da Sociedade Anônima John Ford presentes aqui estão Russell Simpson como o Pai, John Qualen como o amigo Mulcy e John Carradine como o pastor itinerante. E, para o posto de cinegrafista, Ford fez uma escolha inspirada. Gregg Toland capturou de forma brilhante o olhar documental das fotografias que haviam sido tiradas da tragédia por fotógrafos contratados pelo governo, como Dorothea Lange. Em nenhum momento isso fica mais patente do que na sequência em que a família Joad chega a um acampamento de sem-terra, com a câmera detendo-se nos rostos soturnos dos ocupantes e nos barracos caindo aos pedaços em que eles vivem. Embora As vinhas da ira não deixe de mostrar a enormidade do sofrimento dos seus protagonistas, há uma importante divergência em relação ao livro. No romance de Steinbeck, a família a princípio encontra condições mais favoráveis em um acampamento do governo, porém, no fim, se vê reduzida a salários de fome. No filme, ela chega ao mesmo acampamento mais tarde, de modo que seu progresso se dá em uma curva ascendente, marcada pela última fala da Mãe: "Nós somos o povo... jamais deixaremos de existir." EB
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 136)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

135 1940 NÚPCIAS DE ESCÂNDALO (THE PHILADELPHIA STORY, EUA)


Direção: George Cukor
Produção: Joseph L. Manklewicz
Roteiro: Donald Ogden Stewart, baseado na peça de Philip Barry
Fotografia: Joseph Ruttenberg
Música: Franz Waxman

Elenco:
James Stewart ………………Macaulay Connor
Cary Grant …………………. C. K. Dexter Haven
Katharine Hepburn …………Tracy Lord
Ruth Hussey …………………Elizabeth Imbrie
John Howard …………………George Kittredge
Roland Young ………………. Tio Willie

Ainda: John Halliday, Mary Nash, Virgínia Weldler, Henry Daniell, Lionel Pape, Rex Evans

Oscar: Donald Ogden Stewart (roteiro), James Stewart (ator)

Indicação ao Oscar: Joseph L. Mankiewicz (melhor filme), George Cukor (diretor), Katharine Hepburn (atriz), Ruth Hussey (atriz coadjuvante)

Adaptação de 1940 de George Cukor da farsa teatral de Philip Barry é o clássico incontestável de todas as comédias pastelão sofisticadas. Katharine Hepburn estrelou a peça na Broadway e diz-se que o dramaturgo Philip Barry baseou a protagonista na sua reputação à época. Depois de ela ter deixado a RKO não exatamente em bons termos, o público via Hepburn como mandona e masculinizada, certamente longe do Ideal feminino do fim da década de 30. Na cena de abertura, agora famosa por sua fúria praticamente sem diálogos, a herdeira Tracy Lord (Hepburn) observa seu recém-divorciado marido playboy Dexter Haven (Cary Grant) colocar alguns dos seus pertences no carro e bater com um taco de golfe em sua coxa de raiva. Numa tentativa de provar que ela não é impossível de se amar, Tracy planeja ir com um homem respeitável embora insosso, na mansão da família, quando volta com dois repórteres a reboque, Mike Connor (James Stewart) e Liz Imbrie (Ruth Hussey), especificamente para arruinar o casamento. Mais radiante do que nunca, Hepburn se supera em um papel que exige um timing cômico impecável, assim como vulnerabilidade genuína. Suas cenas com Stewart no jardim à noite, antes do seu fatídico casamento, capturam a essência da atração impetuosa que eles sentem um pelo outro. Hepburn foi a responsável por Núpcias de escândalo ser como é. Ela detinha os direitos do projeto, que então vendeu sabiamente para a MGM sob a condição de que repetisse o papel principal e pudesse escolher o diretor e o elenco. Ela queria Clark Gable como Dexter, SpencerTracy como Mike, porém, por problemas de agenda, nenhum dos dois estava disponível. No lugar deles foram escalados Grant, que já havia sido seu parceiro nas telas em três ocasiões anteriores, e Stewart. O diretor George Cukor conseguiu fazer a imagem pública negativa de Hepburn funcionar a seu favor através da personagem, suscitando paixão por uma mulher tão bonita e tão incompreendida. O filme foi um enorme sucesso, com um roteiro ganhador do Oscar que misturava comédia com crítica social. Em 1956, a peça foi refilmada, com o acréscimo de números musicais, como Alta sociedade. Kl
(1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER 135)