sábado, 29 de novembro de 2014

148 1941 CONTRASTES HUMANOS (SULLIVAN'S TRAVELS, EUA)


Direção: Preston Sturges
Produção: Paul Jones, Buddy G. DeSylva, Preston Sturges
Roteiro: Preston Sturges
Fotografia: John F. Seitz
Musica: Charles Bradshaw, Leo Shuken
Elenco:
Porter Hall …………Mr. Hadrian
Joel McCrea ………John Lloyd Sullivan
Veronica Lake ……A garota
Robert Warwick … Mr. LeBrand
William Demarest ..Mr. Jones
Ainda: Franklin Pangbom, Byron Foulger, Margaret Hayes, Robert Greig, Eric Blore, Torben Meyer, Victor
Potel. Richard Webb, Charles R. Moore, Almira Sessions

Preston Sturges foi um dos primeiros autores do cinema americano e, com sua personalidade claramente moderna (a melhor amiga de sua mãe era Isadora Duncan; ele passou a juventude zlguezagueando pelo Atlântico; um batom "à prova de beijos" e um teletipo estão entre suas invenções patenteadas), ele foi responsável por uma enxurrada de filmes na década de 40, hoje considerados clássicos. Esses filmes são conhecidos por sua sofisticada espirituosidade verbal, comédia física agitada e pela maneira carinhosa como retratam seus excêntricos personagens coadjuvantes, que roubam as cenas. Porém a obra de Sturges faz uma sólida exploração das possibilidades e perspectivas da escalada - e ocasionalmente da derrocada - social. Neste Contrastes humanos, que talvez seja seu melhor e mais complexo filme, Sturges mistura de forma brilhante humor com uma crítica social mordaz, revelando mais uma vez - como em O homem que sevendeu (1940), Natal em julho (1940) e As três noites de Eva (1941) - que a Identidade social é um conceito altamente instável, capaz de passar por transformações hiperbólicas através de métodos prosaicos como disfarces, mal-entendidos e auto-engano. John L. Sullivan (Joel McCrea) é um diretor hollywoodiano infalível que se especializa em entretenimento leve, à maneira de comédias acessíveis como seu filme de 1939 chamado Ants In Your Pants (Formigas nas calças). Ingênuo e amparado por uma equipe solícita que não está interessada em ver seu ganha-pão mudar de gênero ou tornar-se multo ambicioso em suas pretensões cinematográficas, Sully ainda assim pretende dirigir uma crítica social épica sobre os tempos difíceis da Depressão na América, que se chamaria O Brother, Where Art Thou? (um título fictício que seria usado pelos Irmãos Coen em seu filme de 2000 E aí, meu irmão, cadê você?, em uma inteligente homenagem a Sturges). Para pesquisar seu tema, que envolve coisas desagradáveis, como sofrer privações e preconceito racial, Sully insiste em se disfarçar de mendigo e cruzar o país para experimentar "a vida real" na própria pele. Uma vez na estrada, uma série de aventuras, encontros (aquele com a ingênua azarada personagem de Verônica Lake sendo o de maior destaque) e percalços – alguns hilários, outros surpreendentemente pungentes - se dão antes de Sully acabar aceitando sua verdadeira vocação para cineasta popular com um dom para fazer as pessoas rirem. A lição aqui é que a seriedade exagerada e a profundidade forçada são multo menos úteis para as massas do que o bom e velho humor, com seu poder de ajudar as pessoas a esquecerem seus problemas, ainda que momentaneamente. É impossível negar que Contrastes humanos possui um aspecto autobiográfico, com Sturges afirmando o valor daquilo que ele próprio fazia de melhor - comédias inteligentes com o poder de animar seus espectadores ao mesmo tempo que arrasa a pretensão dos cineastas mais sisudos e "socialmente comprometidos" de Hollywood. Comentários pessoais à parte, no entanto, o tour de force em forma de roteiro reúne um fabuloso leque de gêneros, incluindo comédia pastelão, ação, melodrama, documentário social, romance, musical e filme de prisão. Embora não tenha conquistado uma só indicação ao Oscar, Contrastes humanos é o mais extraordinário filme da carreira de um dos maiores cineastas americanos. SJS

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