2014 08 ASTERIX NO DOMÍNIO DOS DEUSES (LES DOMAINE DES DIEVX, FRANÇA)
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
domingo, 30 de agosto de 2015
#237 1970 O MÁGICO DE GORE (THE WIZARD OF GORE, EUA)
Direção: Herschell
Gordon Lewis
Roteiro: Allen
Kahn
Produção: Herschell
Gordon Lewis, Fred M. Sandy (Produtor Executivo)
Elenco: Ray
Sager, Judy Cler, Wayne Ratay, Phil Laurenson, Jim Rau, Don Alexander
The Wizard
of Gore é mais uma das canastrices sanguinolentas do pai do gore,
Herschell Gordon Lewis. O inventivo e transgressor americano mais uma vez
proporciona um banho de sangue sem limites com uma história das mais absurdas e
escalafobéticas, chutando o pau da barraca, que já havia sido chutado pelo
próprio anteriormente na sua famosa Trilogia de Sangue, que consiste de: Banquete de Sangue, Maníacos e Color Me Blood Red. Sério, é tanta víscera, tripas,
tanto sangue, tanta nojeira, tantos órgãos sendo arrancados, que até mesmo os
mais escolados fãs do horror, como eu, sentem certa repulsa pelo filme. H.G.
Lewis utilizou duas carcaças de ovelhas para seus efeitos especiais gore.
Essas carcaças tinham de ser levadas de um lado para o outro durante duas
semanas, enquanto o filme era rodado, e mergulhadas em Pinho Sol para
conservá-las. Na cena quando a garota é serrada ao meio por uma serra elétrica,
foram utilizadas duas mulheres, uma fazendo “o papel” da parte superior da
vítima, e a outra a parte inferior. A barriga falsa estava cheia de órgãos de
animais, cera e preservativos cheios de sangue falso, que foi colocado entre as
duas. Lewis alegou ter ficado descontente com o resultado final desses efeitos
de maquiagem, devido ao tempo de filmagem e parcos recursos, além de acidentes
imprevistos no set. Mas fato é que impressionam. É podre, tudo fake, mas
causa uma nojeira tremenda. A história gira em torno do mágico Montag, o
Magnífico (Ray Sager) que apresenta um show de ilusão de ótica, onde desmembra,
decapita, eviscera, serra ao meio, esmaga com uma prensa hidráulica e enfia
espadas goela abaixo de jovens garotas da plateia hipnotizadas por ele. Só que
acontece que depois das “voluntárias” saírem ilesas do show, elas acabam
morrendo a caminho de suas casas, com as mesmas máculas físicas provocadas por
Montag. Isso chama a atenção de um casal de jornalistas, Sherry Carson (Judy
Cler) a âncora de um programa de televisão que quer entrevistar Montag em seu
programa, e Jack, repórter esportivo do jornal local, que fica intrigado com a
violenta morte das garotas logo após a apresentação de Montag, acreditando que
há algum psicopata na plateia levando a sério os truques do mágico. Daí o
roteiro dá uma embolada tão absurda, mas tão absurda, que escamba para um final
ridículo, quando finalmente Montag decide aparecer em rede nacional e
hipnotizar o mundo inteiro através do tubo de TV para que um gigantesco suicídio
coletivo em massa aconteça. E as tais ilusões de ótica (ou seriam ilusões
idióticas?) mostrando um vai e vem sem noção das moças estripadas e depois
normais, não consegue causar outra reação, senão riso. E um recurso mequetrefe
de verdade ou ilusão no final do filme coroa a podreira dessa produção e do
roteiro estapafúrdio escrito por Allen Kahn. As atuações, como de praxe nos
filmes de H.G. Lewis, não são o ponto forte, apesar do cínico e sinistro Montag
de Ray Sager (escalado de último minuto para o papel do ilusionista), tirando
seus monólogos estapafúrdios antes de suas performances, estar bem
interessante. Mas se pensarmos em “qualidade técnica”, The
Wizard of Gore é o produto mais interessante da
filmografia gore de H.G. Lewis em sua série de filmes desajeitados, grosseiros
e recheado de não atores. E as sequências elípticas do roteiro (vulgo, as
ilusões idióticas) dão ainda um ar mais mambembe tentando ligar os buracos (ou
crateras lunares) da história, porém, algo que estamos terrivelmente acostumados
nos filmes desse artesão do grindhouse. Em 2007, The
Wizard of Gore ganhou um remake,
estrelado por Crispin Glover, o pai de Marty McFly em De Volta para o Futuro ou o
pobre Willard em A Vingança de Willard (que por
sinal, também é uma refilmagem). E para quem não sabe, esse filme é exatamente
aquele VHS que está passando em Juno, filme cult teen
independente de Jason Reitman, o que fez gerar um certo interesse hypster recente
com relação ao longa.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/08/13/237-the-wizard-of-gore-1970/
domingo, 23 de agosto de 2015
#236 1970 VAMPIROS LESBOS (Vampyros Lesbos, Alemanha Ocidental, Espanha)
Direção: Jesús
Franco
Roteiro: Jaime
Chávarri, Jesús Franco, Anne Settimó
Produção: Artur
Brauner, Karl Heinz Mannchen (Produtor Executivo)
Elenco: Soledad
Miranda, Ewa Stromberg, Dennis Price, Heidrum Kussin, J. Martinez Blanco,
Andrés Monales
Vampiros
Lesbos de Jesús “Jess” Franco só tem uma única razão de ser:
mostrar as protagonistas Soledad Miranda e Ewa Stromberg peladinhas, se
pegando, em várias cenas de nu frontal, a maior parte da película. Esqueça
qualquer tentativa de roteiro, construção de narrativa e esmero técnico por
parte dos seus realizadores.Fato é que Vampiros Lesbos é a obra mais
cultuada do pai do Euro Trash, que tem uma extensa, e completamente díspar,
filmografia no currículo e ainda assim, como todas as limitações de orçamento e
um fiapo de história, este soft porn vampírico, conseguiu imprimir um
estilo único, através da sua genialidade subversiva, trabalhando de forma
escancarada e nunca vista antes, a questão do lesbianismo intrinsecamente
ligado ao vampirismo, tema o qual Sheridan Le Fanu levantou a lebre em seu
livro Carmilla, lá no século XIX, e que foi depois transportado para o cinema
em diversas produções, mas nunca com a dose cavalar de erotismo vista aqui. Franco
era um sujeito apaixonado pelo gênero, e um contador de histórias psicodélicas
como nenhum outro. Para cada pornô que dirigia com seus diversos pseudônimos
(aqui mesmo ele assina a direção como Franco Manera), ele conseguia grana para
uma obra autoral, passeando nos mais diversos subgêneros, como os vampiros (Vampiros
Lesbos e Conde Drácula,
por exemplo), cientistas loucos (O Terrível Dr. Orloff),
mulheres na prisão (99 Mulheres) e até o famigerado personagem Fu Manchu (O
Castelo de Fu Manchu, Fu Manchu e o Beijo da Morte, e por aí vai). Em Vampiros
Lesbos, Franco pega o texto de Bram Stoker, “O Convidado de Drácula”, de forma
não creditada, e traveste a história, com diversos elementos de Drácula em si,
com algumas pitadas de liberdade poética. A Condessa Nadine Carody (vivida pela
estonteante morena Soledad Miranda) é uma vampira que mora em uma ilha da
Turquia, salva pelo próprio Drácula da morte, que a transformou em sua
discípula. Ah, além disso ela também faz um bico em um clube privê em Istambul,
onde faz apresentações sensuais nua com outras garotas, que acabariam por se
transformar em suas futuras vítimas e fonte de alimentos. E é nesse clube que a
advogada Linda Westinghouse (a loira gostosa Ewa Strömberg) fica fascinada pela
morena, quando é levada ao local pelo seu namorado Omar. Linda finalmente cede
aos encantos da vampira quando é obrigada a viajar até a ilha onde a Condessa
vive para resolver algumas questões legais (tal qual Jonathan Harker). E logo
ao se encontrarem, como é a coisa mais comum quando um advogado vai até um
cliente tratar de negócio, as duas resolvem de imediato nadar no mar e tomar
sol peladas na praia. E sim, a Condessa Carody não tem nenhum problema com o
sol e nem se transforma em cinzas, podendo pegar um bronze numa boa. Enfeitiçada
por Carody, Linda começa a viver em cárcere sob os poderes sedutores da
vampira, em uma mistura de desejo, medo, luxúria e ódio, sendo acometida por
terríveis pesadelos e ataques de amnésia. Após ser resgatada da ilha e internada
em uma instituição psiquiátrica sob a observação do Dr. Seward (Dennis Price),
há certa virada de mesa com relação aos sentimentos dos personagens. A
Condessa, antes a figura dominadora, fica perdidamente apaixonada pela humana,
passando a ser dominada pelos seus sentimentos, e não medirá esforços para
poder ficar com a garota, que a repudia mesmo enquanto declara seu amor. Ajuda
a vampira nessa empreitada seu estranhíssimo capanga de óculos escuros, Morpho
(nome que aparentemente Franco adorava dar para capangas, já que também é o
nome do comparsa de crimes do Dr. Orloff). Lógico que tudo isso é pano de fundo
para as duas colocarem as aranhas para brigarem direto, e Franco usar a abusar
dos closes e aproximações de câmera que tanto adora, e extrapolar na tela
peitinhos, bundas, pernas, coxas e vastas quantidades de pelos pubianos
(afinal, estamos nos anos 70). Para não ficar só nas duas também, vira e mexe
tem uma pobre coitada que tem seu sangue sugado nos shows eróticos da Condessa,
e também a pobre Agra, vivida por Heidrum Kussin, vítima anterior da vampira,
que vive em um estado histérico de nervos e internada na ala psiquiátrica do
hospital do Dr. Seward (trocando em miúdos, uma versão feminina de Reinfield). Mas
não adianta. Por mais que Franco tenha tentando colocar certa dose de
simbolismos no filme (o escorpião representando a vampira e a mariposa, Linda,
sua vítima), explorar muito bem a fotografia de Istambul, o jogo de cores,
abusando no uso de cores quentes e do vermelho, excelente trilha sonora da
dupla alemã Manfred Hubler e Siegfried Scwab e ter forçado os temas tabus e
teorias freudianas sobre a natureza sexual humana, o que mais fica marcado em Vampiros
Lesbos é a mulherada pelada, os beijos, a completa entrega de uma
personagem pela outra e a esfregação. É uma bomba de tesão pronta para explodir
a qualquer momento, atacando com tudo a libido de nós, pobres espectadores. Infelizmente
a musa de Franco, Soledad Miranda, morreria pouco tempo depois do lançamento do
filme, em um trágico acidente. A garota que caminhava para sagrar-se com o
título maior de rainha do sexploitation e do euro trash, teve sua carreira
encerrada com apenas 27 anos de idade e Franco nunca mais se recuperou após
esse baque e tampouco conseguiu encontrar outra figura feminina que completasse
seus papeis como Soledad fez. Vampiros Lesbos causa fascinação. Isso é
engraçado se pararmos para analisar friamente que é um filme com atuações
bisonhas (das protagonistas, não obstante), roteiro idiota e direção quase
amadora de Franco (e seus malditos closes). Mas cá entre nós, nunca iremos
procurar na filmografia de Franco, em seus mais de 150 filmes, um roteiro
primoroso e uma direção exemplar, mas sim sua aura onírica, atmosfera
psicodélica e belíssimos exemplares de nudez feminina sem o menor recalque.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/10/236-vampiros-lesbos-1970/
sábado, 22 de agosto de 2015
#235 1970 VALERIE E SUA SEMANA DE DESLUMBRAMENTOS (Valerie a týden divu / Valerie And Her Week Of Wonders, Tchecoslováquia)
Direção: Jaromil Jires
Roteiro: Jaromil Jires,
Ester Krumbachová (baseado na obra de Víezslav Nezval)
Produção: Jirí Becka
Elenco: Jaroslava
Schallerová, Helena Anýzová, Petr Kopriva, Jirí Prýmek, Jan Klusá
Valerie e sua Semana de Deslumbramentos é uma obra surrealista ao
extremo, vinda da Tchecoslováquia (atual República Tcheca) e dirigida por
Jaromil Jires, um dos principais diretores da chamada “New Wave tcheca”. Em uma
metáfora onírica sobre o afloramento de uma garota de 13 anos, a heroína do
filme se vê as voltas de ameaças corruptoras de sua pureza em figuras como um
padre vampiro assustador e um policial pedófilo. Em uma espécie de conto de
fadas abstrato sobre o despertar sexual feminino, a Valerie do título
(interpretada pela ninfeta Jaroslava Schallerová) é cercada por intrigas
familiares e pesadelos oníricos. O filme de Jires passeia em uma tênue linha
entre o horror gótico, o drama, a fantasia e os filmes eróticos soft-cores
europeus do início dos anos 70, porém buscando uma linha artística que desenha
uma espécie de círculo mágico de acontecimentos que segue Valerie tendo como
ponto de partida um par de brincos que ganha logo no início do filme, e que
representa os segredos do sexo. Pois o filme não é nada fácil, e precisa-se
estar realmente no clima para conseguir assisti-lo. Entre várias imagens
lúdicas e carnavalescas entrecortadas como pano de fundo, Valerie é jogada no
meio de uma série de eventos inusitados e estranhíssimos, com personagens
complexos à sua volta, e tão misteriosos quanto insolúveis. Por exemplo, o
padre vampiro (que lembra bastante o visual de Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror), que tenta coagi-la sexualmente,
e que fora outrora um bispo e também pode ser possivelmente o pai da garota, e
pode ou não ser seu irmão. O fio condutor que nos faz acompanhar esse peculiar
momento da vida de Valerie é a inveja de sua avó, que também pode ser que
possivelmente seja a mãe da garota, pode ou não ser sua irmã, que há muito
tempo desatinou um drama familiar, e busca pela volta de sua juventude perdida,
não medindo esforços para tal, até barganhar com o sinistro bispo vampírico e
conspirar com o assassinato de Valerie. Como em um sonho, em determinados
eventos os personagens vão mudando tanto de papeis quanto de aparências, sempre
associados com os resultados de causa e efeito. Além disso, o uso de todos
esses simbolismos se justapõe a paisagens rurais, cidades medievais, feras
livres, moinhos e criptas góticas onde nunca nada é realmente o que parece
nesse filme. A única coisa realmente fixa nesse filme é Valerie, e somos os
espectadores, assim como a própria, do baile de máscaras familiar e as diversas
subtramas que cada um desses personagens traz à tona de suas próprias maneiras.
E mediante sua curiosidade em descobrir personagens e locais (tal qual Alice no
País das Maravilhas) e deixar de lado sua inocência para conhecer a volúpia e o
medo, vai envolvendo-se de forma inebriante numa trama de coação sexual,
incesto, pedofilia, infanticídio, bruxaria, vampirismo e hipocrisia religiosa.
E nessa escalada, apenas conforme Valerie vai descobrindo sua própria
sexualidade, e aprende mais sobre seu desejo, quebrando os ignorantes laços que
unem mal e sedução, ela conseguirá prevalecer. Jaromil Jires segue os caminhos
de Bergman, Fellini e Buñuel para contar a sua história sobre a sedução da
monstruosidade, agressividade, sensações voluptuosas e duplicidade que aflige
nossa heroína e sua família disfuncional, embasado nas teorias freudianas e ao
mesmo tempo, deixar implícito os ecos da antiga Tchecoslováquia comunista, onde
as tensões surgem da troca de poderes, de personas e as figuras das autoridades
podem ser lidas, porque não, como a família de Valerie. Além de abraçar o
surrealismo e negar e abandonar o realismo soviético. Fora isso, destaque para
o roteiro de Jires junto com Ester Krumbachová, baseado no livro de Vietslav
Nezval, um dos mais prolíficos escritores vanguardistas tchecos da primeira
metade do século XX e co-fundador do movimento surrealista no país, que dá pano
para manga a horas de discussões de psicanálise, e para a excelente cenografia
e figurino. Conto de fadas ou alegoria política, Valerie e Sua Semana de
Deslumbramentos, que é a semana que representa o período da sua primeira
menstruação, é um retrato do descobrimento da violência sexual que vive à volta
da garota, esperando o final da inocência para mostrar suas presas vampirescas,
conforme a garotinha adentra neste mundo.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/08/09/235-valerie-e-sua-semana-de-deslumbramentos-1970/
#234 1970 O UIVO DA BRUXA (Cry of the Banshee, Reino Unido)
Direção: Gordon
Hessler
Roteiro: Christopher
Wicking, Tim Kelly (história)
Produção: Samuel
Z. Arkoff, Gordon Hessler, Louis M. Heyward, Clifford Parkes (Produtor
Associado)
Elenco:Vincent
Price, Elisabeth Bergner, Essy Persson, Hugh Griffith, Sally Geeson
Lembra no meu post do primeiro
filme do blog da década de 70, O Altar do Diabo, que eu comecei meu texto falando que a gente tinha saído dos anos 60,
mas os anos 60 não haviam saído de nós? Aqui em O Uivo da Bruxa temos outro exemplo que segue a mesma
estética dos filmes da década anterior, só que mais violento e com mais
peitinhos à mostra. Afinal, a patota envolvida nesta fita, é figurinha
carimbada do cinema gótico de terror que dominou a telona durante todo
os sixties. Gordon Hessler na direção (que dirigiu O Ataúde do Morto Vivo, adaptação de um conto de Edgar
Allan Poe), produção de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson para a incansável
casa de filmes B, American International Pictures, e elenco liderado por
Vincent Price. Também é inevitável a comparação de O Uivo da Bruxa com
outro filme do ator, também coproduzido pela AIP, com a temática extremamente
parecida: O Caçador de Bruxas. Mas não estou desfazendo do
filme não. O Uivo da Bruxa é bem interessante. Um bom filme, que
tenta respirar na sobrevida desse gênero do cinema fantástico pós O Bebê de Rosemary, e antes do cinema de horror pessimista e sádico
invadir as telas no decorrer da década. Com o público sedento por mais sangue e
selvageria, aquele horror implícito gótico subentendido que fazia sucesso
outrora, agora foi substituído por um menu completo de Grand Guignol, e
isso faz com que O Uivo da Bruxa tenha diversas e impactantes cenas
de tortura (para a época, que hoje é nada para a geração torture porn),
com bastante sangue (na medida do possível), violência física, assassinato,
estupro, nudez, sabás de bruxas e por aí vai. Vincent Price vive o magistrado
Lorde Edward Whitman, que na Inglaterra do Século XVI, empenha-se em exterminar
a prática de bruxaria, mandando garotas, ora inocentes, ora não, para a
fogueira, tortura, linchamento público, e todas essas delicadezas. Tudo anda as
mil maravilhas para o Lorde Whitman e sua família, seus filhos Sean (Stephan
Chase), o filho pródigo, preferido, que ajuda o pai na sua caça às bruxas,
Harry (Carl Rigg), o almofadinha que volta para a cidade natal após estudar em
Cambridge e tem que aguentar a preferência do pai pelo irmão mais velho, e
Maureen (Hilary Heath) que tem um caso às escondidas com Roderick (Patrick
Mower), um empregado da família, que vive na casa dos Whitmans por possuir uma
espécie de “capacidade” de conseguir sempre acalmar a alterada (leia-se xarope)
segunda esposa de Edward, a Lady Patricia Whitman (Essy Persson). Até que o
Lorde Whitman resolve se meter com a bruxa Oona e seu círculo de adoradores das
trevas, interrompendo um sabá e matando alguns dos seus seguidores. Pronto, a
bruxa, em busca de vingança, resolve jogar uma pesada maldição na família,
evocando as forças das trevas e das antigas religiões, transformando Roderick
em uma terrível criatura demoníaca mutante ao seu chamado, incumbindo-o de
matar todos os membros da família. Fora Patricia, que aos poucos vai ficando
mais louca e dando vários vexames em público, constrangendo o marido. A
criatura em si está mais para lobisomem, tosquíssima, fruto do baixo orçamento,
padrão registrado da AIP, mas que nunca aparece em sua totalidade, apenas alguns
violentos ataques em POV e cortes rápidos ao mostrar a face do monstro. Decisão
acertada como sempre, para não cair de vez no escárnio. O filme obviamente
recebeu diversos cortes da censura inglesa, como de costume, por conta de seu
conteúdo violento e os temas pesados que aborda, como bruxaria e satanismo. E
nessa toada, claro que nunca foi lançado oficialmente no Brasil. Afinal, anos
70, ditadura militar. Sabe como é. O Uivo da Bruxa é um filme honesto e
cumpre o que promete. Seu final pessimista e assustador também é muito bacana.
Não há mais nada que falar sobre Vincent Price, que eu não tenha discorrido
nesse blog. Ele é simplesmente O MELHOR e pronto. E esse é o último papel de
horror gótico que ele faria na carreira, o qual ficaria tão marcado. E saiba
você que O Uivo da Bruxa foi selecionado para o primeiro Quentin
Tarantino Film Fest em Austin, Texas, que aconteceu em 1996. E quem somos
nós para não assistir um filme indicado por Tarantino?
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/08/08/234-o-uivo-da-bruxa-1970/
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
#032 1933 O MORCEGO VAMPIRO (The Vampire Bat, EUA)
Direção: Frank
R. Strayer
Roteiro: Edward
T. Lowe Jr.
Produção: Phil
Goldstone
Elenco: Lionel
Atwill, Fay Wray, Melvyn Douglas, Dwight Frye, George E. Stone
O Morcego Vampiro é
uma produção B, paupérrima da Majestic Films, criado para aproveitar (mesmo que
um tanto tardio) o sucesso de Drácula da Universal, com uma Fay Wray, a primeira Scream
Queen do cinema, antes de ter se tornado estrela graças a King Kong,
lançado anteriormente no mesmo ano. O filme é curto, tem só 60 minutos de
duração e não se tem muito o que escrever sobre ele, pois tem um roteiro previsível,
personagens nem um pouco cativantes, técnica de filmagem e fotografia pobre,
quase ou nenhum horror e vale mais mesmo por mais uma atuação surpreendente de
Dwight Frye, e claro pela beleza de Fay, aqui morena. O vilarejo alemão de
Klineschloss é assombrado por uma série de assassinatos sem solução, atribuídos
pela ignorante população local a um vampiro, já que todas as vítimas são
encontradas com dois furos no pescoço e com todo seu sangue drenado. O policial
Karl Brettschneider (o duas vezes ganhador do Oscar de melhor ator
coadjuvante, Melvyn Douglas) está disposto a descobrir quem tem cometido esses
terríveis crimes. Cético, ele refuta qualquer teoria sobrenatural e se recusa a
acreditar em vampiros. Ruth Bertin (Fay) é o seu par romântico, que pouquíssimo
acrescenta a trama (além claro, de ser raptada e posta em perigo no final.
Afinal, a coisa que Fay mais fazia nos filmes era ser raptada e gritar, mas
enfim…). O Dr. Otto Van Niemann (Lionel Atwill, que já havia atuado com Fay
em Os Crimes do Museu) é um cientista que não questiona a
presença do tal vampiro mesmo sendo um homem das ciências. A culpa toda cai nas
costas do maluquinho Herman Gleib, interpretado por Frye. A população assustada
e arcaica vai apontar o dedo para o esquisito do vilarejo (e bota esquisito
nisso). Aqui ele faz uma espécie de reprise de Reinfield, seu papel
em Drácula de Tod Browning, muito mais afetado, em uma atuação simplesmente
fantástica, que rouba a cena e mantém nossa atenção no filme, até ele morrer
após ser perseguido inocentemente, pela turba enfurecida. No final, para a
nossa decepção, realmente não há nada de sobrenatural nas mortes, e o Dr. Van
Niemann mostra-se apenas um cientista louco, que suga o sangue (sem caninos
pontiagudos, claro) das suas vítimas apenas para fazer experiências na
tentativa de descobrir a vida eterna, baseando-se na mitologia vampiresca. Seu
parceiro de crime é seu próprio criado, Emil Borst, que sofre de uma certa
influência hipnótica do doutor. O jeito preguiçoso que o roteiro encontrou de
se livrar do vilão, ou vilões, é um desgosto. E é isso. A ambientação é OK, sem
nada demais, cenários funcionais, clima tentando copiar o que a Universal vinha
fazendo, som e fotografia prejudicados pelo tempo e uma historiazinha meia
boca.
FONTE:
http://101horrormovies.com/
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
#231 1970 O PÁSSARO DAS PLUMAS DE CRISTAL (L’uccello dalle piume di cristallo / The Bird with the Crystal Plumage, Itália, Alemanha Ocidental)
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento
Produção:Salvatore Argento
Elenco: Tony Musante, Suzy
Kenall, Enrico Maria Salerno, Eva Renzi, Umberto Raho
Adaptação não-oficial do romance
de Fredric Brow, “The Screaming Mimi”, Dario Argento, mostra aqui ser o
discípulo mais fiel de Mario Bava, e com O Pássaro das Plumas de Cristal, seu primeiro trabalho como
diretor, cria as diretrizes do que seria um dos mais importantes gêneros, e até
movimentos do cinema de terror e suspense italiano: o giallo. Giallo é
como ficou conhecido os thrillers italianos, caracterizados
por histórias de suspense que em todos os seus casos, praticamente, envolve um
assassino serial que utiliza luvas, capa e chapéu, uma testemunha ocular que se
envolve em uma investigação particular e a morte de várias lindas mulheres, de
forma extremamente violenta, sexual, sádica e com toques de crueldade. O
termo giallo, significa “amarelo” em italiano, foi inspirado graças
aos livros de mistério que eram publicados com capa amarela em toda a Itália
durante a década de 30. Produzido por seu pai, Salvatore Argento, O
Pássaro das Plumas de Cristal, em seus primeiros minutos, na cena de
abertura, onde vemos o assassino misterioso escolhendo sua faca, em uma tomada
escura contrastando com objetos de cor vermelho-vivo que salta aos olhos, já
nos mostra um lampejo de tudo que Argento seria capaz de realizar com uma
tremenda excelência técnica no decorrer dos anos, tanto na sua trilogia dos
animais, que é seguido de O Gato de Nove Caudas e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza (onde os animais do título
dão as pistas finais para a derradeira descoberta dos assassinos), quanto no seu giallo definitivo, Prelúdio Para Matar e sua obra-prima, Suspiria. Sam Dalmas (Tony Musante), um
escritor americano morando na Itália, está tarde da noite passeando por uma
rua, quando lhe chama a atenção uma briga ocorrendo dentro de uma galeria de
arte. Ao se aproximar, ele descobre que o assassino está esfaqueando uma bela
ruiva, porém fica preso entre duas portas de vidro, não a impedindo de ser
apunhalada e o criminoso fugir antes que possa reconhecer seu rosto. Obcecado
em tentar resolver um quebra-cabeças mental, tendo a certeza de que algo que
ele viu na noite não se encaixava e que um detalhe fugia de sua memória, Sam e
sua namorada, Julia (Suzy Kendall), começam a ajudar na investigação do
inspetor Morosini (Enrico Maria Salerno) para tentar descobrir quem era o mal
feitor, na verdade um serial killer que já vinha matando
outras mulheres. Argento dá início aqui a já famosa ambientação barroca em suas
obras, a utilização de flashbacks visto de diversos pontos de
vista e do domínio das cores para criar contraste entre as cenas, auxiliada
pela fotografia de Vittorio Storato (vencedor de três Oscars de melhor
fotografia, entre eles Apocalypse Now e O Último
Imperador), com seu jogo de luz e sombra e manipulação de ambientes para o
uso principalmente das cores quentes, além da riqueza de objetos e detalhes
do misé-en-scène. O ritmo de suspense é muito bem conduzido,
principalmente com a música de Ennio Morricone (que também assina a trilha
sonora do restante da trilogia dos animais), que cria toda a atmosfera de
terror e tensão necessárias para o filme. Mas infelizmente, ainda mais
comparado a superioridade de seus outros trabalhos, O Pássaro das
Plumas de Cristal tem um roteiro com enormes buracos que acabam
explodindo na frente do espectador com a sequência final do filme, que deixa
muito a desejar. Isso aliado a falta de ritmo, que o diretor iria adquirir com
o passar do tempo, atropelando as informações que vão levar ao clímax da
descoberta da identidade do criminoso além de inserir contextos irrelevantes na
trama, como a visita ao pintor de um quadro que o assassino comprou antes de
matar sua primeira vítima. Parece até brincadeira falar, devido ao extremo
conteúdo gráfico e violento que Argento apresentaria em seus próximos
trabalhos, mas sua inabilidade nas cenas de assassinato e utilização do sangue,
utilizando de cortes secos e uma edição rápida, prejudicam e destroem as partes
mais violentas do filme. Desnecessário também um epílogo para explicar as
motivações do assassino, na última sequência do filme. Mas independente destes
deslizes, O Pássaro das Plumas de Cristal é um marco no
efervescente cinema italiano que estava à todo vapor na década de 60 e 70, e
serviu para definir gêneros, além de ter sido um verdadeiro sucesso comercial
dentro e fora da Itália (nos EUA chegou a ficar em primeiro lugar na bilheteria
em seu final de semana de estreia, coisa raríssima para filmes estrangeiros) e
permitiu a Argento continuar sua promissora carreira e criar suas belas obras
subsequentes, reservando seu lugar na calçada da fama como um dos mais
importantes diretores do cinema de horror.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/08/03/231-o-passaro-das-plumas-de-cristal-1970-2/
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER
521 1970 O Pássaro das Plumas de Cristal (L’uccello Dalle Piume di Cristallo) VISTO 1001 TERROR
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
#233 1970 O SANGUE DE DRÁCULA (Taste the Blood of Dracula, Reino Unido)
Direção: Peter
Sasdy
Roteiro: John
Elder
Produção: Ainda
Young
Elenco:Christopher
Lee, Geoffrey Keen, Gwen Watford, Linda Hayden, Peter Sallis, Anthony Corlan,
Isla Blair
O Sangue de
Drácula é a prova cabal do quanto a franquia do vampiro mor da
Hammer, interpretado por Christopher Lee, já estava entrando em franca
decadência. Até então, é o filme mais fraco da série (sem contar As Noivas de
Drácula, onde Lee sequer dá as caras). É aquele mesmo problema que
acomete todas as sequências, sabe? Tem hora que você não aguenta mais ver a
cara de determinado personagem na telona. Isso aconteceu com Frankenstein e a
Múmia na Universal, agora com Drácula e mais para frente, com todos os famosos movie
maniacs, tipo Jason, Freddy, Michael Meyers, Leatherface, Pinhead, Jigsaw, e
por aí vai. Enfim, filme fraquinho, fajuto, com prazo apertado para conclusão
das filmagens e orçamento baixíssimo, que começa exatamente onde termina o
anterior, Drácula, o
Perfil do Diabo, com o morto-vivo morrendo empalado por uma cruz. Um
comerciante perdido no meio da floresta dá de cara com o agonizante vampiro e é
testemunha ocular de sua destruição. Com tino para os negócios, o sujeito
recolhe a capa, anel, medalha e o sangue de Drácula para vendê-lo mais tarde,
para o Lorde Courtley, adorador do oculto, que junto com três distintos
cavalheiros ingleses, William Hargood (Geoffrey Keen), Samuel Paxton (Peter
Sallis) e Jonathon Secker (John Carson), em busca de aventuras excitantes,
resolvem praticar um ritual de magia negra e ressuscitar o monstro, provando
seu sangue, tal qual fosse um Jesus Cristo de presas. O indigesto sangue
vampiro não cai bem no infame Lorde Courtley e com medo, os três senhores
espancam o pobre diabo e fogem em disparada para suas casas, enquanto o corpo
sem vida de Courtley então dá lugar ao Drácula ressuscitado de sua tumba, com
seus olhos vermelho e tudo, jurando vingança contra aqueles que causaram a
morte de seu servo (ah, tá, desde quando o Drácula se importa com a saúde e bem
estar de seu capangas?). Um por um, e com a ajuda sempre bem vinda das suas
rameiras do inferno da vez, a bela loirinha Alice Hargood (Linda Hayden) e a
morena lasciva Lucy Paxton (Isla Blair) conquistadas por meio de hipnose ou uma
chupadela de sangue na jugular, Drácula vai matando suas três vítimas. Acontece
que naquele vilarejo todo mundo tinha suas ligações. Por exemplo, o filho de
Samuel Paxton, Paul (Anthony Higgins) é namorado de Alice, filha de William
(que era um escroto pai abusivo que repreendia a menina). Já a irmã de Paul,
Lucy, era namorada de Jeremy Secker, filho de Jonathon. Ou seja, está tudo mais
ou menos em família, meio novelão mexicano. Com o desaparecimento de Lucy e de
Alice, Paul, aconselhado por uma carta deixada por Jonathon antes de morrer, se
municia do kit básico para matar vampiros, com estacas, martelos e cruzes, e
vai ao encalço de Drácula, para tentar destrui-lo e salvar a alma da sua amada,
mesmo sendo contrariado pelo inútil e rabugento inspetor Cobb, interpretado por
Michael Ripper, eterno coadjuvante da Hammer, tendo participado de três filmes
da franquia. E é isso. Dentro daquele esquema maniqueísta de todos os filmes de
Drácula, e da Hammer como um todo por bem dizer, o mocinho vence no final, o
vampiro é derrotado mais uma vez, mas prontinho para voltar na próxima
sequência, O Conde
Drácula, lançado no mesmo ano e que é bem melhor do que O
Sangue de Drácula, e também muito mais violento e sanguinário. Christopher Lee
sempre sinistrão com aquela cara carrancuda de Drácula salva o filme, apesar de
mais uma vez, ter pouquíssimas falas por conta de ter ficado descontente com o
roteiro e de resto, mais do mesmo: mulheres bonitas, carruagens, estética
gótica decadente que já está perdendo seu encanto, e por aí vai. E o pior é que
Vincent Price foi cotado para participar do filme, no papel de William Hargood,
mas que foi preterido pela falta de grana para pagar seu cachê.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/07/233-o-sangue-de-dracula-1970/
domingo, 16 de agosto de 2015
#230 1970 O HORROR DE FRANKENSTEIN (The Horror of Frankenstein, Reino Unido)
Direção: Jimmy Sangster
Roteiro: Jimmy Sangster,
Jeremy Burnham
Produção: Jimmy Sangster
Elenco: Ralph
Bates, Kate O’Mara, Veronica Carlson, Dennis Price, Jon Finch, Bernard Archard,
David Prowse
Quem pensa que reboot é um mal
apenas da indústria atual do cinema, está redondamente enganado. Começar a
contar novamente a história de algum personagem ou dar uma nova diretriz para
uma série de filmes já foi utilizado até pela Hammer, o famoso estúdio inglês,
com sua segunda mais famosa franquia de monstro. O Horror de
Frankenstein é uma tentativa do estúdio de renovar as
peripécias científicas do Dr. Victor Frankenstein e dar uma nova cara ao teor
do filme, deixando de lado as características singulares dos anos 60 e trazendo
em seu lugar filmes mais cruéis, violentos e sexuais, porém sem o mesmo
requinte e esmero (e orçamento, diga-se de passagem), que seus antecessores. Uma
das provas disso é a substituição do eterno Barão Frankenstein vivido pelo
distinto Peter Cushing, ator que imortalizou o cientista louco que brinca de
Deus e interpretou-o em todos os filmes até aqui, por Ralph Bates vivendo um
jovem Frankenstein, muito mais perverso e irônico que seu antecessor, desde sua
ida a faculdade de medicina, até sua volta para casa, com seu título,
aprendizado e vontade de fazer experiências mirabolantes para criar a vida a
partir de partes desmembradas de seres humanos, e claro, um cérebro. Ainda
extremamente distante da obra original de Mary Shelley, é muito fácil detestar
Frankenstein neste filme. O cara é um verdadeiro escroto, aproveitador, galinha,
egoísta, não demonstra um pingo de lealdade ou amor por ninguém (nem ao próprio
pai), trata a governanta como uma escrava sexual (se bem que ela gosta), o
melhor amigo e ajudante na pesquisa científica como um peão em seu tabuleiro de
xadrez (e ainda mata o infeliz), trata com o maior desrespeito a apaixonada
Elizabeth (a ponto de contratá-la como governanta da casa quando ela perde tudo
após seu pai ser assassinado – envenenado por Victor, diga-se de passagem – e
ter deixado uma batelada de dívidas) e ainda até sacaneia com o ladrão de
cadáveres que vende os pedaços humanos ao Barão (tais quais os Assassinatos de
Burke e Hare) e sua esposa. Resta-nos torcer pelo monstro, claro (se é isso que
não fazemos sempre). Uma versão mais humana e menos monstruoso da criatura, com
maquiagem da equipe chefiada por Tom Smith, é interpretada por David Prowse, o
mesmo ator que vestiu a roupa de Darth Vader na trilogia clássica Star
Wars (dublado por James Earl Jones, como todos já sabemos). Esqueça o
verde com pinos de Boris Karloff ou a versão pútrida de Christopher Lee. Aqui,
o monstro tem pele humana, algumas cicatrizes de seus remendos, uma cabeçona
exagerada (como todo bom monstro de Frankenstein) e usa inicialmente apenas
bandagens, para depois vestir uma roupa estropiada em seu corpanzil de quase
dois metros de altura. Com um comportamento agressivo, incapacidade de
raciocínio e de formular palavras, por conta de um caco de vidro enfiado no
cérebro do outrora proeminente Prof. Heiss (pai de Elizabeth), o gigante acaba
virando alvo da vingança do Barão Frankenstein, dando cabo de qualquer um que
se meta em seu caminho ou que esteja perto de descobrir a criatura que ele
mantém aprisionada no porão. Claro que com a onda de mortes e desaparecimentos,
é chamada a atenção da polícia, e o Tenente Henry Becker (Jon Finch), que nutre
uma paixão platônica frustrada por Elizabeth (que por sua vez arrasta a asa
para Frankenstein e está morando em sua casa neste momento da trama), começa a
investigar o acontecido e passa a suspeitar do Barão, já que o monstro sempre é
avistado perto de sua propriedade. O final é deliciosamente maquiavélico. Não
pense encontrar o famoso embate entre criador e criatura, marca registrada dos
filmes do monstro desde os tempos de Frankenstein da
Universal. Pelo contrário teremos um desfecho completamente amoral.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e
risco.
Encurralado pela polícia e por
dois camponeses, um pai e sua filha como testemunhas, no seu laboratório,
Victor mantém sua cara de pau ao limite e desafia o oficial a vasculhar sua
residência que não encontraria nada por lá, porém não sem um mandado, enquanto
mantém o monstrengão escondido em seu tanque. A pequena camponesa pentelha
começa a mexer em todas as roldanas e alavancas do laboratório, tirando o Barão
do sério, até que acidentalmente libera a comporta que despeja ácido no tanque
e já era. Dessa forma, o Barão com uma cara de tacho vê sua preciosa criação
destruída sem querer por uma inofensiva garotinha. O Horror de Frankenstein não
é um primor de filme, e muito menos o melhor da franquia do cientista louco e
de seu monstro da Hammer. Mas é outra visão de uma história batida que sabemos
de cor e salteada e que se encaixa nos novos padrões de filmes do estúdio
inglês na década de 70, marcando já o começo da decadência da Casa do Horror, com
suas produções mais cruas e com menos requinte do que na década anterior,
quando ela reinava absoluta neste terreno cinematográfico.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/02/230-o-horror-de-frankenstein-1970/
#229 1970 GRITE, GRITE OUTRA VEZ (Scream and Scream Again, Reino Unido)
Direção: Gordon Hessler
Roteiro: Christopher Wicking
(baseado na obra de Peter Saxon)
Produção: Max
J. Rosenberg, Milton Subotski, Louis M. Heyward (Produtor Executivo)
Elenco:Vincent
Price, Christopher Lee, Peter Cushing, Judy Huxtable, Alfred Marks, Michael
Gothard, Peter Sallis
A única coisa boa de Grite, Grite
Outra Vez é a sensação saudosista de você lembrar da capa do
VHS do filme nas prateleiras das locadoras, com essa imagem do pôster aí de
cima, da garota metade humana e metade esqueleto se dissolvendo no tanque de
ácido. Porque de resto, o filme não tem absolutamente NADA que preste. E olhe
que por incrível que pareça, estou falando do primeiro filme que trouxe junto
no elenco, talvez os três maiores atores do cinema de horror de todos os
tempos: Vincent Price, Christopher Lee e Peter Cushing. Tá certo que Cushing
aparece por uns míseros cinco minutos na película, e Lee e Price contracenam
juntos apenas no finalzinho do terceiro ato. Ou seja, é muito mais marketing do
que qualquer outra coisa. Mas eu me paro para pensar: como pode dar errado? Só
a junção dos três era para ser o maior clássico épico motherfucker do
gênero. Deveria ser um deleite. Só que não. Seria se não fosse um baita de um
filme pretensioso, com uma direção nada inspirada de Gordon Hessler, trilha
sonora afoita, e roteiro e narrativa confusa de Christopher Wicking (baseado no
livro “The Desorientated Man” de Peter Saxon, pseudônimo de W. Howard Baker,
que também era usado por Martin Thomas e Stephen Frances, o que dá a entender
que o livro originalmente foi escrito em colaboração entre eles), que envolve
vampiro, super humanos, uma organização militar secreta paródia dos nazistas/
comunistas (cujo símbolo é parecidíssimo com a suástica, mas lembra mais uma
sinalização de trânsito mesmo), teorias da conspiração e cientistas loucos. O
próprio Vincent Price em uma entrevista futura disse não ter entendido
absolutamente nada daquele roteiro confuso e estapafúrdio de Grite, Grite
Outra Vez. Quem dirá então nós, meros espectadores? Pois bem, o filme
começa com um atleta que sofre um colapso enquanto corria pelas ruas de Londres
e é internado em uma clínica, que começa a usá-lo como cobaia em experiências
escusas, acordando em várias cenas para descobrir que seus membros estão sendo
amputados um por um. Enquanto isso, a polícia londrina, na figura do detetive
superintendente Bellaver (Alfred Marks), está investigando o assassinato brutal
de uma jovem. Acontece que essa jovem era assistente do esquisito médico/
cientista Dr. Browning, papel de Vincent Price, que não sabe nada sobre a morte
da moça. Quando mais uma vítima aparece, então a polícia acredita estar lidando
com um psicopata, porém uma peculiaridade irá chamar a atenção de Bellaver e do
Dr. David Sorel (Christopher Matthews), jovem legista que realizou a autópsia
nas duas garotas: ambas além do ataque violento continham uma estranha marca
nos pulsos e todo seu sangue havia sido drenado. Você pode até pensar que é
culpa do personagem de Christopher Lee, mas ele não faz o papel de Drácula
aqui. No meio dessa confusão toda, um tal de Konratz (Marshall Jones),
misterioso oficial de uma país totalitário (comunista ou nazista?) da Europa
descobre uma arma secreta e começa um jogo de manipulação de todos os
envolvidos, como o Major Heinrich Benedeck (papel relâmpago de Cushing, que
levou apenas um dia de filmagem), que acaba sendo morto por Konratz com um
mortal golpe no ombro – ele usará essa arma letal para matar pelo menos mais
uns três no filme desta forma – e como Freemont, um importante político vivido
por Christopher Lee. Confuso? Ainda piora. A polícia londrina descobre
finalmente o assassino usando uma de suas oficiais como isca, para constatar
que ele é uma espécie de super humano que se alimenta de sangue. Depois de uma
extensa perseguição, que deve durar uma meia-hora, juro para vocês, mostrando
toda a ineficácia da polícia de Londres (eles deixam o sujeito escapar por três
vezes) e enchendo a paciência do público, o vilão indestrutível acaba se
suicidando, sobrando apenas uma mão como prova, logo roubada por aquela
enfermeira lá do começo do filme. Com o caso sendo arquivado pelos figurões do
poder para esconder provas, o Dr. Sorel e a oficial Sylvia (Judy Huxtable – a
mesma que tinha ido até a balada em plena manhã para ser usada como isca para
prender o assassino) vão até a casa do Dr. Browning, e desvendam toda a
misteriosa trama, onde ele está desenvolvendo uma pesquisa para criar
super-humanos perfeitos. Só que sua pesquisa está ameaçada por Konratz e toda a
conspiração governamental e militar sem pé nem cabeça, que quer desvirtuá-la,
obviamente e destruir todas as provas de que esse experimento foi realizado com
sucesso, e isso significa, jogar todo mundo em um tanque de ácido para eles
serem dissolvidos e não restar absolutamente nada. Sério, nem tenho mais o que
escrever sobre esse filme depois desta resenha. É muito abacaxi para um filme
só. Chega a dar raiva assistir Grite, Grite Outra Vez. Pegam uma
oportunidade de ouro de juntar três monstros sagrados, trabalhar melhor um
roteiro que poderia resultar algo inteligente, mesmo que seja uma trama
estrambólica (no livro, por exemplo, os vilões eram alienígenas, e não uma
republiqueta comunista/ nazista do leste europeu. Nota do blogueiro: nunca
entendi direito qual das duas ideologias políticas eles queriam transmitir
aqui) e entregar uma fita que seja pelo menos razoável e “assistível”. Ao invés
disso, somos “presenteados” com essa bomba. É para gritar, e gritar outra vez
mesmo.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/01/229-grite-grite-outra-vez-1970/
#228 1970 O DESPERTAR DA BESTA (Brasil)
Direção: José Mojica Marins
Roteiro: Rubens F.
Lucchetti, José Mojica Marins (história)
Produção: Giorgio Attilli,
José Mojica Marins, George Michel Serkeis, Goffredo Telles Neto (Produtor
Associado)
Elenco: José Mojica Marins,
Mario Lima, Ozualdo Candeias, Andréa Bryan, Lurdes Vanucchi Ribas, Sérgio
Hingst
José Mojica Marins já tem a pecha
de cineasta marginal. E O Despertar
da Besta é seu trabalho mais marginal. Filme agressivo,
nonscense, delirante, todo entrecortado e fragmentado, com um fiapo de história
que liga personagens que irão explodir numa sequência tétrica de um pesadelo
visual e sonoro de estilos. O ano de produção era 1969, e o Brasil passava por
um período negro de sua história, durante a ditadura militar. O clima ufanista,
os confrontos com a polícia e exército, Costa e Silva já havia decretado o
infame Ato Institucional 5 (o famoso AI5) e a censura descia o pau no cinema
nacional, e claro que o subversivo O Despertar da Besta, que originalmente
se chamaria Ritual de Sádicos, foi sumariamente proibido de ser exibido e
ordenado que suas cópias fossem queimadas, sendo recuperado apenas na década de
80.Aqueles anos ficaram conhecidos pelo hedonismo inconsequente da contra
cultura hippie, que aos poucos perdiam toda sua ideologia para uma orgia de
drogas e cultos (vide, por exemplo, a ascensão da família Manson e por aí vai),
a explosão da liberação sexual, a selvageria da Guerra do Vietnã, o uso pesado
das drogas psicodélicas e o poder assustador das ditaduras na América do Sul. O
grito de protesto de Mojica contra tudo e contra todos, veio da forma mais
agressiva possível, sempre calcada no eterno conservadorismo do diretor (apesar
dos apesares), e ataque aos costumes da sociedade. O uso das drogas é o alvo da
vez de Mojica. O filme começa com inúmeras cenas de toda sorte de perversões
sexuais e bizarrices que o uso de drogas (ou “tóchicos”) pode levar, degradando
a família, a moral, os bons costumes, para uma orgia de depravação, uma bacanal
de viciados, um ritual de taras. Com cenas fragmentadas, entrecortadas entre
esses absurdos episódios e o depoimento do Dr. Sérgio (interpretado por Sérgio
Hingst) em um programa de televisão, o médico, que acabara de escrever um popular
livro sobre o assunto, questiona o valor “apocalíptico” do uso das substâncias
ilícitas, enquanto exemplifica casos escabrosos, como de uma garota adolescente
que fora morta em uma estranhíssima sessão de fetiche, quando era penetrada por
uma tora gigantesca por uma espécie de sacerdote (!!!???), uma garota que fica
nua para outros quatro homens que tem tesão em vê-la fazer suas necessidades em
um penico, ou outra mulher que durante uma entrevista de emprego, é obrigada a
fazer favores sexuais em um gorducho comendo macarrão escrotamente, enquanto
ela o vê ora como porco, ora como cavalo. Neste mesmo programa, encontram-se
outros entrevistadores, interpretador por Carlos Reichenbach e Maurice
Capovilla, e um silencioso José Mojica Marins, que insiste que Zé do Caixão
ficou no cemitério e ele está ali como cineasta. Nesse andar da carruagem, o
confuso espectador demora em conseguir se habituar à falta de decoro narrativo
naquelas diversas cenas bizarras e absurdas vomitadas em sua frente. Mas na
segunda metade do filme, a narrativa de O Despertar da Besta começa a
se desenvolver, com o obstinado Dr. Sérgio tentando corroborar de vez sua
teoria, pegando quatro voluntários (aqueles mesmos que aparecem nas primeiras
sequências se drogando) para uma experiência com uso de LSD e utilizando a
imagem de Zé do Caixão, já personagem popularesco na época, como catalisador de
suas alucinações.Aí não dá outra. O filme simplesmente vira do avesso, e somos
testemunhas oculares da viagem lisérgica dos quatro indivíduos, em cores (toda
a fotografia até agora era em preto e branco) do pesadelo que a imagem
sepulcral de Zé do Caixão invoca em cada um deles. Mais ou menos parecido com o
que Mojica fez em Esta Noite
Encarnarei no Teu Cadáver, quando explora sua visão particular do
inferno (também em cores, em detrimento do resto do filme P&B). Então
Mojica em cada frame transborda várias imagens desconexas retratando
cemitérios, mulheres seminuas, violência física e psicológica, tortura,
submissão, misoginia e rostos humanos desenhado em bundas (???!!!) com matizes
de cores ora quentes, ora frias, completamente estouradas e trilha sonora
contundente. Um elemento bastante interessante de O Despertar da Besta é
como Mojica trabalha a metalinguagem de seu personagem Zé do Caixão no universo
pop, no cinema, quadrinhos e televisão, e sua apresentação como cineasta em
programas de auditório, separando o joio do trigo do criador e da criatura, e
também mostrando cenas de seus próprios filmes (quando os participantes da
experiência vão assistir Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver) e pôsteres
(de O Estanho
Mundo do Zé do Caixão, objeto que irá inspirar os devaneios das
cobaias do experimento) dentro de outro universo real cinematográfico que ele
retrata por aqui. Ou seja, o mundo fictício do filme, mistura-se com o mundo
real do diretor e de seu personagem. Mojica mais uma vez aposta no
anti-convencional, marca registrada de seu cinema contestador. Cineasta de
gênero, apesar de ser vítima de escárnio em sua pátria, ganhou imensa
popularidade e fama fora do país, até por investir no cinema de terror e de
certa forma, antevê-lo. Pois em pleno final dos anos 60 e começo dos anos 70,
Mojica, autodidata que era, apostou em novas tendências narrativas, se
inspirando no cinema inglês da Hammer e nos quadrinhos de terror e foi
percursor de um tipo de cinema transgressor que ficaria famoso, por exemplo, na
Itália, país absoluto no gênero durante as duas próximas décadas. Ou seja, se
imagens desconexas e sem sentido em preto e branco são feitas por Jean Rollin,
é genial. Se explorações visuais com uso de cores berrantes, sons estridentes e
imagens de forte impacto visual são feitos por Dario Argento, é obra prima.
Mojica utilizando desses artifícios no cinema nacional é depravado e objeto de
chacota. Vai entender… O Despertar da Besta impressiona, pois sendo uma
produção tupiniquim, explora habilmente o zeitgeiste torna-se
escancaradamente um filme maldito e marginal, um grito de desabafo e desespero
de uma sociedade, em forma de cinema. Mojica não tem rabo preso e não se
incomoda nem um pouco de ser chocante e extremista. Nós, brasileiros fãs do
horror, agradecemos imensamente.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/31/228-o-despertar-da-besta-ritual-de-sadicos-1970/
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