Direção: Jimmy Sangster
Roteiro: Jimmy Sangster,
Jeremy Burnham
Produção: Jimmy Sangster
Elenco: Ralph
Bates, Kate O’Mara, Veronica Carlson, Dennis Price, Jon Finch, Bernard Archard,
David Prowse
Quem pensa que reboot é um mal
apenas da indústria atual do cinema, está redondamente enganado. Começar a
contar novamente a história de algum personagem ou dar uma nova diretriz para
uma série de filmes já foi utilizado até pela Hammer, o famoso estúdio inglês,
com sua segunda mais famosa franquia de monstro. O Horror de
Frankenstein é uma tentativa do estúdio de renovar as
peripécias científicas do Dr. Victor Frankenstein e dar uma nova cara ao teor
do filme, deixando de lado as características singulares dos anos 60 e trazendo
em seu lugar filmes mais cruéis, violentos e sexuais, porém sem o mesmo
requinte e esmero (e orçamento, diga-se de passagem), que seus antecessores. Uma
das provas disso é a substituição do eterno Barão Frankenstein vivido pelo
distinto Peter Cushing, ator que imortalizou o cientista louco que brinca de
Deus e interpretou-o em todos os filmes até aqui, por Ralph Bates vivendo um
jovem Frankenstein, muito mais perverso e irônico que seu antecessor, desde sua
ida a faculdade de medicina, até sua volta para casa, com seu título,
aprendizado e vontade de fazer experiências mirabolantes para criar a vida a
partir de partes desmembradas de seres humanos, e claro, um cérebro. Ainda
extremamente distante da obra original de Mary Shelley, é muito fácil detestar
Frankenstein neste filme. O cara é um verdadeiro escroto, aproveitador, galinha,
egoísta, não demonstra um pingo de lealdade ou amor por ninguém (nem ao próprio
pai), trata a governanta como uma escrava sexual (se bem que ela gosta), o
melhor amigo e ajudante na pesquisa científica como um peão em seu tabuleiro de
xadrez (e ainda mata o infeliz), trata com o maior desrespeito a apaixonada
Elizabeth (a ponto de contratá-la como governanta da casa quando ela perde tudo
após seu pai ser assassinado – envenenado por Victor, diga-se de passagem – e
ter deixado uma batelada de dívidas) e ainda até sacaneia com o ladrão de
cadáveres que vende os pedaços humanos ao Barão (tais quais os Assassinatos de
Burke e Hare) e sua esposa. Resta-nos torcer pelo monstro, claro (se é isso que
não fazemos sempre). Uma versão mais humana e menos monstruoso da criatura, com
maquiagem da equipe chefiada por Tom Smith, é interpretada por David Prowse, o
mesmo ator que vestiu a roupa de Darth Vader na trilogia clássica Star
Wars (dublado por James Earl Jones, como todos já sabemos). Esqueça o
verde com pinos de Boris Karloff ou a versão pútrida de Christopher Lee. Aqui,
o monstro tem pele humana, algumas cicatrizes de seus remendos, uma cabeçona
exagerada (como todo bom monstro de Frankenstein) e usa inicialmente apenas
bandagens, para depois vestir uma roupa estropiada em seu corpanzil de quase
dois metros de altura. Com um comportamento agressivo, incapacidade de
raciocínio e de formular palavras, por conta de um caco de vidro enfiado no
cérebro do outrora proeminente Prof. Heiss (pai de Elizabeth), o gigante acaba
virando alvo da vingança do Barão Frankenstein, dando cabo de qualquer um que
se meta em seu caminho ou que esteja perto de descobrir a criatura que ele
mantém aprisionada no porão. Claro que com a onda de mortes e desaparecimentos,
é chamada a atenção da polícia, e o Tenente Henry Becker (Jon Finch), que nutre
uma paixão platônica frustrada por Elizabeth (que por sua vez arrasta a asa
para Frankenstein e está morando em sua casa neste momento da trama), começa a
investigar o acontecido e passa a suspeitar do Barão, já que o monstro sempre é
avistado perto de sua propriedade. O final é deliciosamente maquiavélico. Não
pense encontrar o famoso embate entre criador e criatura, marca registrada dos
filmes do monstro desde os tempos de Frankenstein da
Universal. Pelo contrário teremos um desfecho completamente amoral.
ALERTA DE SPOILER. Pule para o próximo parágrafo ou leia por sua conta e
risco.
Encurralado pela polícia e por
dois camponeses, um pai e sua filha como testemunhas, no seu laboratório,
Victor mantém sua cara de pau ao limite e desafia o oficial a vasculhar sua
residência que não encontraria nada por lá, porém não sem um mandado, enquanto
mantém o monstrengão escondido em seu tanque. A pequena camponesa pentelha
começa a mexer em todas as roldanas e alavancas do laboratório, tirando o Barão
do sério, até que acidentalmente libera a comporta que despeja ácido no tanque
e já era. Dessa forma, o Barão com uma cara de tacho vê sua preciosa criação
destruída sem querer por uma inofensiva garotinha. O Horror de Frankenstein não
é um primor de filme, e muito menos o melhor da franquia do cientista louco e
de seu monstro da Hammer. Mas é outra visão de uma história batida que sabemos
de cor e salteada e que se encaixa nos novos padrões de filmes do estúdio
inglês na década de 70, marcando já o começo da decadência da Casa do Horror, com
suas produções mais cruas e com menos requinte do que na década anterior,
quando ela reinava absoluta neste terreno cinematográfico.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/08/02/230-o-horror-de-frankenstein-1970/
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