sábado, 1 de agosto de 2015

#213 1968 HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS (Histoires extraordinaires / Spirits of the Dead, França, Itália)


Direção: Roger Vadim, Louis Malle, Frederico Fellini
Roteiro: Roger Vadim, Pascal Cousin, Clement Biddle Wood, Daniel Boulanger, Frederico Fellini, Bernardino Zapponi (baseadas nos contos de Edgar Allan Poe)
Produção: Raymond Eger
Elenco: Jane Fonda, Peter Fonda, Alain Delon, Brigitte Bardot, Terence Stamp, James Robertson Justice, Salvo Randone.

Histórias Extraordinárias é uma produção franco-italiana que traz três segmentos dirigidos por Roger Vadim, Louis Malle e Frederico Fellini, livremente adaptando três contos de Edgar Allan Poe. Ousado, poético, com clima surreal, onírico, psicodélico e sem muita liga de uma história com a outra. Afinal, dos três diretores, apenas Vadim era familiarizado com o universo de horror e do fantástico (como diretor do vampírico Rosas de Sangue, baseado no livro Carmilla de Sheridan Le Fanu). E ele é o mais fraco dos três. Louis Malle era oriundo da Nouvelle Vague francesa e Fellini, dispensa qualquer tipo de apresentação. Então vendo os créditos de Histórias Extraordinárias, tendo estes três diretores no comando, histórias baseadas em Poe e atores como Jane Fonda, Alain Delon, Brigitte Bardot e Terence Stamp no elenco, você logo deve imaginar que é uma obra prima. Não é. Infelizmente, há um filme em potencial completamente desperdiçado pela virtuose. Roger Corman, o tal Rei dos Filmes B, que nesta altura do campeonato já havia dirigidos oito filmes baseado na obra de Poe, a maioria com Vincent Price no elenco, entrega oito trabalhos muito melhores do que essa pretensiosa produção. O que acontece é que o primeiro episódio é um chute nos bagos, o segundo é interessante e o de Fellini, claro, é obra prima. E engraçado que há uma espécie de consenso geral com relação a essa opinião. Não é porque um filme traz Vadim, Malle e Fellini na direção, que ele é um clássico absoluto. Pelo contrário. Histórias Extraordinárias tem episódios desiguais, mantém uma estrutura narrativa admirável apesar disso e extrapola o gênero. Peca por sua pretensão. Exploram a estética macabra do escritor americano de forma que nenhum outro fez, mas não convence como uma obra em conjunto. Metzengerstein, o primeiro segmento dirigido por Vadim requer muita paciência, pois seu ritmo é lento, arrastado, a história é enfadonha e trocando em miúdos, é um saco. Como é de costume do diretor, o filme preocupa-se muito mais nas aparências, no kitsch, no vazio, na superficialidade, e obviamente, em belas mulheres. Uma gatíssima Jane Fonda, no auge de sua beleza (mulher do diretor então, que também já se casou com Brigitte Bardot, Catherine Deneuve… o cara não era fraco) vive a Condessa Frederique de Metzengerstein, moça que vive de acordo com suas próprias regras, em meio a crueldades e bacanais que promove em seu castelo, que se apaixona pelo primo, o Barão Wihelm Berlifitzing (Peter Fonda), que simplesmente lhe dá uma gelada, fazendo com que ela fique puta da vida e busque vingança, queimando o estábulo onde vivia os cavalos do primo, que acaba acidentalmente morrendo tentando salvá-los. Mas eis que um corcel negro sobrevive e aparece nos portões do castelo da libertina. Frederique então fica fascinada, obsessivamente atraída pelo cavalo, e deixa de lado todo convívio social, as festinhas e tudo mais, para cavalgar seminua no equino para cima e para baixo, nos mais esquisitos figurinos possíveis, que vão desde a renascença até modelitos futuristas à lá Barbarella (que Vadim dirigiria mais tarde). Dispensável e sonolento. O que o primeiro segmento tem de lúdico, o segundo é sério e austero, uma perfeita visão da obra de Poe transportada no cinema, mantendo a sobriedade e a integridade artística de Louis Malle com relação ao texto do escritor. Muito melhor que o primeiro, mas tem um sério problema de ritmo, principalmente na cena do jogo de baralho. Bom, William Wilson (Allain Delon) é o personagem que nomeia a história, que desde sua infância, onde era quase um Damien Torrance de tão ruim, vive atormentado por umdoppleganger, um sósia que vivia atrapalhando seus atos de maldade, que se seguiram desde o internato onde amarrava os amiguinhos para mergulhá-lo em um balde cheio de ratos, passando pela escola de medicina onde raptava jovens para praticar vivisseção, até quando trapaceia em um jogo de cartas com a bela Giuseppina (Brigitte Bardot), torturando-a impiedosamente com chicotadas. O confronto final entre Wilson e seu sósia (obsessão que acompanhava Poe e vários outros escritores), personalidade dupla, leva o personagem a um final trágico. Eis que depois de uma hora e vinte de projeção quando você está preste a abandonar o barco, aparece Fellini e zás! Tobby Dammit é a livre adaptação de Fellini e Bernardo Zapponi para “Nunca Aposte sua Cabeça com o Diabo”, trazendo uma aura completamente surreal e psicodélica, com um Terence Stamp impecável, ator decadente, rebelde, viciado em drogas e álcool, que vai da Inglaterra para a Itália para rodar seu novo filme. Com sua infinita pecha de criador, Fellini imprime uma visão delirante contemporânea do texto (que de todos é o que mais foge da essência literária) e sua já famosa exuberância de imagens. No cerne da questão, Dammit foge para o campo, blasfemo do jeito que é, para evocar o demônio por banalidade e fazer uma aposta com o coisa ruim, que aqui é representado por uma doce e inocente garotinha loira com sua bola, tal qual fez Mario Bava em Mata Bebê, Mata, “homenageado” aqui por Fellni. O melhor dos três.
FONTE: http://101horrormovies.com/2013/07/13/213-historias-extraordinarias-1968/

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