Direção: Jaromil Jires
Roteiro: Jaromil Jires,
Ester Krumbachová (baseado na obra de Víezslav Nezval)
Produção: Jirí Becka
Elenco: Jaroslava
Schallerová, Helena Anýzová, Petr Kopriva, Jirí Prýmek, Jan Klusá
Valerie e sua Semana de Deslumbramentos é uma obra surrealista ao
extremo, vinda da Tchecoslováquia (atual República Tcheca) e dirigida por
Jaromil Jires, um dos principais diretores da chamada “New Wave tcheca”. Em uma
metáfora onírica sobre o afloramento de uma garota de 13 anos, a heroína do
filme se vê as voltas de ameaças corruptoras de sua pureza em figuras como um
padre vampiro assustador e um policial pedófilo. Em uma espécie de conto de
fadas abstrato sobre o despertar sexual feminino, a Valerie do título
(interpretada pela ninfeta Jaroslava Schallerová) é cercada por intrigas
familiares e pesadelos oníricos. O filme de Jires passeia em uma tênue linha
entre o horror gótico, o drama, a fantasia e os filmes eróticos soft-cores
europeus do início dos anos 70, porém buscando uma linha artística que desenha
uma espécie de círculo mágico de acontecimentos que segue Valerie tendo como
ponto de partida um par de brincos que ganha logo no início do filme, e que
representa os segredos do sexo. Pois o filme não é nada fácil, e precisa-se
estar realmente no clima para conseguir assisti-lo. Entre várias imagens
lúdicas e carnavalescas entrecortadas como pano de fundo, Valerie é jogada no
meio de uma série de eventos inusitados e estranhíssimos, com personagens
complexos à sua volta, e tão misteriosos quanto insolúveis. Por exemplo, o
padre vampiro (que lembra bastante o visual de Nosferatu – Uma Sinfonia de Horror), que tenta coagi-la sexualmente,
e que fora outrora um bispo e também pode ser possivelmente o pai da garota, e
pode ou não ser seu irmão. O fio condutor que nos faz acompanhar esse peculiar
momento da vida de Valerie é a inveja de sua avó, que também pode ser que
possivelmente seja a mãe da garota, pode ou não ser sua irmã, que há muito
tempo desatinou um drama familiar, e busca pela volta de sua juventude perdida,
não medindo esforços para tal, até barganhar com o sinistro bispo vampírico e
conspirar com o assassinato de Valerie. Como em um sonho, em determinados
eventos os personagens vão mudando tanto de papeis quanto de aparências, sempre
associados com os resultados de causa e efeito. Além disso, o uso de todos
esses simbolismos se justapõe a paisagens rurais, cidades medievais, feras
livres, moinhos e criptas góticas onde nunca nada é realmente o que parece
nesse filme. A única coisa realmente fixa nesse filme é Valerie, e somos os
espectadores, assim como a própria, do baile de máscaras familiar e as diversas
subtramas que cada um desses personagens traz à tona de suas próprias maneiras.
E mediante sua curiosidade em descobrir personagens e locais (tal qual Alice no
País das Maravilhas) e deixar de lado sua inocência para conhecer a volúpia e o
medo, vai envolvendo-se de forma inebriante numa trama de coação sexual,
incesto, pedofilia, infanticídio, bruxaria, vampirismo e hipocrisia religiosa.
E nessa escalada, apenas conforme Valerie vai descobrindo sua própria
sexualidade, e aprende mais sobre seu desejo, quebrando os ignorantes laços que
unem mal e sedução, ela conseguirá prevalecer. Jaromil Jires segue os caminhos
de Bergman, Fellini e Buñuel para contar a sua história sobre a sedução da
monstruosidade, agressividade, sensações voluptuosas e duplicidade que aflige
nossa heroína e sua família disfuncional, embasado nas teorias freudianas e ao
mesmo tempo, deixar implícito os ecos da antiga Tchecoslováquia comunista, onde
as tensões surgem da troca de poderes, de personas e as figuras das autoridades
podem ser lidas, porque não, como a família de Valerie. Além de abraçar o
surrealismo e negar e abandonar o realismo soviético. Fora isso, destaque para
o roteiro de Jires junto com Ester Krumbachová, baseado no livro de Vietslav
Nezval, um dos mais prolíficos escritores vanguardistas tchecos da primeira
metade do século XX e co-fundador do movimento surrealista no país, que dá pano
para manga a horas de discussões de psicanálise, e para a excelente cenografia
e figurino. Conto de fadas ou alegoria política, Valerie e Sua Semana de
Deslumbramentos, que é a semana que representa o período da sua primeira
menstruação, é um retrato do descobrimento da violência sexual que vive à volta
da garota, esperando o final da inocência para mostrar suas presas vampirescas,
conforme a garotinha adentra neste mundo.
FONTE:
http://101horrormovies.com/2013/08/09/235-valerie-e-sua-semana-de-deslumbramentos-1970/
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